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Hélder Bandarra
é, sem sombra de duvida, um artista que em toda a obra produzida ao
longo da sua já extensa e brilhante carreira, sempre exigiu a si mesmo
que os seus trabalhos, sejam eles da área do design, da cenografia, da
ilustração, do desenho, da escultura ou da pintura, resultem em obras de
apurado sentido estético, a que não falta nunca o cunho pessoalíssimo e
a capacidade criativa adequada a cada caso especifico, sem descurar a
manutenção de uma notável coerência. Dai não se estranhar a sua postura
inequívoca de não cedência a quaisquer situações de facilitismo ou a
concessões mais ou menos ambíguas. |
Com um domínio
perfeito das volumetrias e das proporções, das estruturas, do equilíbrio
e da cor, Hélder Bandarra tem marcado impressivamente a sua matriz numa
obra que é a sua, toda ela impregnada de considerável conceptualidade
espiritual.
Mantendo um
propósito de rumo consistente, substancial e qualitativo, numa
construção persistente, sem alienar o respeito devido a parâmetros da
mais estrita honestidade intelectual, ele sempre nos habituou a olhar as
suas produções com um misto surpreso e encantamento. Assim, esta mostra
que não devemos, a nenhum pretexto, deixar de visitar, é disso exemplo
incontestável.
De uma
realidade que Hélder Bandarra não ignora, onde os elementos pictóricos
são susceptíveis de descreverem ou identificarem, sobrepõe-se a sua
obra, sobretudo a actual, que claramente vai no sentido da formulação da
autonomia da forma, isto é, atinge um estágio em que, libertando-se do
conteúdo, a forma se consagra no seu próprio conteúdo – revelando-se,
ela mesma, forma e conteúdo num contexto único.
Neste conjunto
de trabalhos, agora à disposição da nossa leitura, veremos como,
apelando às suas faculdades perceptivas, o artista nos propõe – pela
apresentação de um cromatismo controlado mas simultaneamente de elevada
vibração luminosa – uma visão expressiva de rara beleza, ainda que (e,
muito acertadamente, com conotação interventiva), uma certa “violência”
cromática, intencional, possa remeter o espectador para uma provável
interpretação metafórica dessa “violência”.
Uma colecção,
pois, em que a abstracção expressionista do conjunto transcende a maior
parte de obras similares de outros autores; e, atrevemo-nos a afirmar,
constitui algo de elevadíssima e extremada factura.
Artur Fino
Artista
Plástico
Exposição de
pintura
Galeria
Municipal de Barcelos, 2007 |