Hélder Bandarra, O Percurso do
Artista, Aveiro, Novembro 2010, 180 páginas. |
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Para Virgílio
Ferreira “o mundo da arte não é apenas o das suas obras. Porque a obra
de arte é somente o instrumento de revelação desse mundo”.
Acrescento que o
mundo da obra de arte é o da representação do mundo; é o mundo como
Representação que nos é dado pelo artista, pelo fingidor demiurgo que se
interpõe entre nós e o mundo. O mundo da obra de arte é tudo aquilo que
nela nos dá voz.
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E um quadro é um
quadro, não se explica, é. Um quadro é o que é, na aparente pregnância
do espaço que delimita. Diferentes, isso sim, são os olhares que se lhe
dirigem: Representação e Interpretação – eis as premissas do círculo
dessa relação.
E eu quis inventar
nos quadros de Hélder Bandarra, um segredo de caleidoscópio.
Um rugido, um grito,
uma carícia, um afago, uma dor, um sorriso. E quis ver o azul da pomba
que sonhei, o silêncio do negro que bebi em Goya ou Kafka, o vermelho da
revolta incontida, o branco – remissão da animalidade indómita, da
bestialidade demencial que habita, diferentemente, o nosso quotidiano,
as ruas de Sarajevo ou os campos de Angola.
Manuel Rodrigues
Historiador,
1982 |