“A função da arte não
é a de passar por portas abertas, é antes a de abrir portas fechadas.”
In “A Necessidade da
Arte”, de Emst Fischer
Por debaixo do hábil
“designer”, o anseio da polivalência cromática de telas ideais, o sonho
multifacetado onde os ângulos se adoçam e o caminho rígido volve curva
delicada.
As cores deixaram,
finalmente, de soçobrar em mar de protocolos exigidos pelas siglas ou
logotipos de carácter profissional e obedecem agora à exigência do gosto
do artista que sempre viveu em latência. Belíssimo desenhador, com o
traço fino e seguro que o aproxima dos mestres da Renascença (já o tem
deixado ver em muitíssimas mostras), adivinha-se nele a luta dolorosa,
mas tenaz, entre as matrizes vindas da adolescência
e o paradigma elegido
que procura, avidamente, para as suas obras. A sua factura é sempre de
um acabamento próximo do perfeito e há muito que superou o problema do
enquadramento pictórico. Mas inconformado (o verdadeira artista é-o
sempre) procura o tal paradigma, ideal aliás bem patente nas diferenças,
às vezes subtis, que se adivinham no conjunto de obras que sempre tem
como percurso necessário. A sua figuração abandonou o supérfluo e
cinge-se, portanto, a um mínimo. Frequentemente, a cor completa a ideia
da forma e a sugestão do clima. Hélder Bandarra, que ainda desejamos
mais solto, isto é, mais próximo do seu - nosso paradigma, é um
incontestável artista com mãos e cabeça que um dia - espero - irá tão
longe quanto o deseja.
Mas o Hélder Bandarra
desconheceu sempre as receitas e nunca se agarrou, mais ou menos
convulsivamente, à obra feita que sempre considera esgotada. E não
necessita de impor moliceiros ou pedaços lagunares para lermos a sua
cidade natal em qualquer das suas telas, tal como se adivinha a
Catalunha nas abstracções de Miró ou mesmo dos informalistas ali
nascidos ou criados.
Não fora um homem
dividido e há muito que os gritos vindos do cerne teriam sido aplacados
e a fome do inatingível, se mitigaria com as obras que ainda considera
percurso.
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Todos os grandes
artistas se alimentam desta, talvez paradoxal, mentalidade.
Vasco Branco
Escritor,
Pintor e Cineasta, 1980 |