|
Entre o onírico e o real se constrói o mundo pictórico de Hélder
Bandarra, às vezes vigoroso até à violência, quase sempre sensível, numa
dança de metamorfoses que vai recriando o seu, o nosso olhar, num
espelho mágico, reflexo do mítico e do prosaico, do lírico e do real.
Intuição, inspiração e mistério percorrem o tom, a cor e a linha, com a
alegria calma da tristeza transfigurada em sonho, em movimento de cor
impensada e inacessível, vigorosa, às vezes brutal, espelhando assim
este nosso tempo, onde a imagem é preponderante e incontornável.
|
Um
universo lúdico, constante em H. B., a presença do fantástico, do
imaginário na festa, a liberdade narrativa circular, onde habitam os
símbolos populares, os sons e os gestos cobertos de tempo, a memória
caleidoscópica e reinventada da infância, os heróis circenses, a festa,
a romaria, a dança, o namoro, o divino e o profano que dão ali as mãos,
num amplo entendimento, contrastando com a hipocrisia urbana, patente
nas
sucessivas máscaras, com que exprime, quer o jogo de sedução, quer a
ocultação dos afectos, até na criação artística.
A
figura humana, sempre presente, em movimento de alegria ou de labor, dá
destaque à mulher, quando mãe, numa veneração.
Tons raros e audaciosos, a perfeição dos contornos, a pincelada
vigorosa, o excelente desenho, a garra, as certezas, a ânsia de
equilíbrio, a multiplicação dos planos, a fusão do rigor em liberdade.
Clara Sacramento
1990 |