Comecei por fazer os meus primeiros desenhos para o
Jornal Litoral de Aveiro. Pelo Dr. David Cristo, director e fundador
desse semanário, tenho uma grande gratidão pela oportunidade que me deu
de poder colaborar nesse jornal e dar a conhecer ao público os meus
primeiros desenhos a tinta-da-china, linóleos e ilustrações de contos.
Era para mim uma grande realização interior quando esperava a saída do
jornal e via os meus trabalhos publicados. |
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Ilustração a tinta da China, para conto de Natal,
escrito por Idalécio Cação em 1962 – Jornal Litoral de Aveiro |
Esse tempo enraizou em mim o inicio de uma caminhada artística, que
permanece até aos dias de hoje. Ao Dr. David Cristo, advogado, artista e
jornalista, pessoa de elevada craveira intelectual, devo o incentivo e a
palavra amiga que sempre me dispensou.
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1963 foi o ano da primeira exposição dos artistas aveirenses que teve
lugar no Teatro Aveirense. Foi esta exposição que cumpriu o objectivo de
reunir todos aqueles artistas que acalentavam o desejo de mostrar as
suas obras, que desejavam criar ou iniciar a formação de um grupo ou
associação que, finalmente, juntasse os amigos mais inovadores e
experimentalistas que se interessassem pelas correntes e experiências
estéticas contemporâneas que dominavam o panorama das artes na Europa.
Foi neste tempo que as portas do teatro se me abriram. Falar do CETA –
Circulo Experimental do Teatro de Aveiro – é falar desse notável
movimento artístico que desabrochou nessa altura. Foi outra actividade
apaixonante na minha relação humana com os amigos da minha terra em
espírito de colaboração. Eu estava em Lisboa, mas sempre, aos
fins-de-semana, viajava para assistir aos ensaios, ajudar a fazer
cartazes e desenhos e colaborar no que era preciso. Fui premiado em
Lisboa como cenógrafo com a peça de teatro “O tinteiro”, dirigida pelo
saudoso Manuel Lereno.
Naquele tempo, o teatro era um aglutinador de talentos e vontades, de
amizade entre artistas e intelectuais. Ninguém regateava esforços para
cumprir tarefas e alcançar objectivos.
Devemos ao Rui Lebre, impulsionador maior nesse movimento que Aveiro viu
nascer, os êxitos alcançados a nível nacional. A cidade tem uma dívida
de gratidão a este homem que muito fez pelo seu engrandecimento
cultural. O teatro da Trindade, em Lisboa, foi sempre o nosso palco de
finais entre grupos de amadores a nível nacional, onde fomos premiados
diversas vezes em anos seguidos.
O actor e amigo Zeca Fino foi convidado para trabalhar na peça “O
Emigrado”, no Teatro Nacional de Lisboa, dirigida por Amélia Rey Colaço.
Alojou-se em minha casa durante o tempo de estada em Lisboa. É um amigo
e um actor de excepção e um enorme talento que ainda hoje trabalha no
teatro amador.
Dele
fiz um desenho-retrato nesse tempo dessa sua representação
cénica.
Retrato
a tinta da china de Zeca Fino - 1967, jornal "Litoral de Aveiro" |