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Hélder Bandarra, O Percurso do Artista, Aveiro, Novembro 2010, 180 páginas.

2. O artista em 1ª pessoa

INÍCIO DE CARREIRA ARTÍSTICA

Comecei por fazer os meus primeiros desenhos para o Jornal Litoral de Aveiro. Pelo Dr. David Cristo, director e fundador desse semanário, tenho uma grande gratidão pela oportunidade que me deu de poder colaborar nesse jornal e dar a conhecer ao público  os meus primeiros desenhos a tinta-da-china, linóleos e ilustrações de contos.
 
Era para mim uma grande realização interior quando esperava a saída do jornal e via os meus trabalhos publicados.

Ilustração a tinta da China, para conto de Natal, escrito por Idalécio Cação em 1962 – Jornal Litoral de Aveiro - pág. 19

Ilustração a tinta da China, para conto de Natal, escrito por Idalécio Cação em 1962 – Jornal Litoral de Aveiro

Esse tempo enraizou em mim o inicio de uma caminhada artística, que permanece até aos dias de hoje. Ao Dr. David Cristo, advogado, artista e jornalista, pessoa de elevada craveira intelectual, devo o incentivo e a palavra amiga que sempre me dispensou. 
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1963 foi o ano da primeira exposição dos artistas aveirenses que teve lugar no Teatro Aveirense. Foi esta exposição que cumpriu o objectivo de reunir todos aqueles artistas que acalentavam o desejo de mostrar as suas obras, que desejavam criar ou iniciar a  formação de um grupo ou associação que, finalmente, juntasse os amigos mais inovadores e experimentalistas que se interessassem pelas correntes e experiências estéticas contemporâneas que dominavam o panorama das artes na Europa.
 
Foi neste tempo que as portas do teatro se me abriram. Falar do CETA – Circulo Experimental do Teatro de Aveiro – é falar desse notável movimento artístico que desabrochou nessa altura. Foi outra actividade apaixonante na minha relação humana com os amigos da minha terra em espírito de colaboração. Eu estava em Lisboa, mas sempre, aos fins-de-semana, viajava para assistir aos ensaios, ajudar a fazer cartazes e desenhos e colaborar no que era preciso. Fui premiado em Lisboa como cenógrafo com a peça de teatro “O tinteiro”, dirigida pelo saudoso Manuel Lereno.

Catálogo da Exposição - pág. 20

Naquele tempo, o teatro era um aglutinador de talentos e vontades, de amizade entre artistas e intelectuais. Ninguém regateava esforços para cumprir tarefas e alcançar objectivos.
 
Devemos ao Rui Lebre, impulsionador maior nesse movimento que Aveiro viu nascer, os êxitos alcançados a nível nacional. A cidade tem uma dívida de gratidão a este homem que muito fez pelo seu engrandecimento cultural. O teatro da Trindade, em  Lisboa, foi sempre o nosso palco de finais entre grupos de amadores a nível nacional, onde fomos premiados diversas vezes em anos seguidos.
 
O actor e amigo Zeca Fino foi convidado para trabalhar na peça “O Emigrado”, no Teatro Nacional de Lisboa, dirigida por Amélia Rey Colaço. Alojou-se em minha casa durante o tempo de estada em Lisboa. É um amigo e um actor de excepção e um enorme talento que ainda hoje trabalha no teatro amador. 
Dele fiz um desenho-retrato nesse tempo dessa sua representação cénica.

Retrato a tinta da china de Zeca Fino - 1967, jornal "Litoral de Aveiro" - pág. 21
Retrato a tinta da china de Zeca Fino - 1967, jornal "Litoral de Aveiro"

 
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