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Fabrico Tradicional do Azeite em Portugal (Estudo Linguístico-Etnográfico), Aveiro, 2014, XIV+504 pp. ©

 

VII

ENSEIRAMENTO E PRENSAGEM

b) Nos lagares semi-modernos

O que se passa nestes lagares, relativamente ao enseiramento e prensagem, assemelha-se em quase todos os aspectos ao que vimos em relação aos lagares antigos. A única diferença reside no facto de encontrarmos, em vez das tradicionais prensas de vara, um tipo de prensa mais evoluído tecnicamente e com maior capacidade de trabalho – a chamada prensa de parafuso.

A nossa atenção irá incidir apenas sobre dois lagares, dos muitos que tivemos oportunidade de visitar em plena laboração dentro deste tipo; são eles o de Anterronde, no distrito de Aveiro, P. 120, e o de Sequeiros, no distrito do Porto, P. 52.

 

 

 
 

Figura 105: A massa conservada na caixa é deitada dentro de masseiros (Anterronde, P. 120, freg. Santa Eulália, conc. Arouca, dist. Aveiro).

 
 

No lagar de Anterronde, a azeitona reduzida a pasta e conservada na caixa, recipiente rectangular de madeira colocado à saída da porta da vasa, é deitada por um empregado em pequenas gamelas de madeira – os chamados masseiros, de que se pode observar um exemplar na figura 105, no momento em que é enchido por um empregado –, que um ajudante ou lagareiro vai transportando e brocando, isto é, vazando no interior das seiras, colocadas em pilha na zona circular de pedra, debaixo da prensa, e a que na terra dão o nome impróprio de pio (veja-se a figura 106). Cheias todas as seiras, colocam por cima uma placa circular de madeira – a chamada porta – e cinco a seis tabuões.

Figura 106: A massa é trazida por um lagareiro dentro de masseiros e brocada no interior das seiras (Anterronde, P. 120, freg. Stª Eulália, conc. Arouca, dist. Aveiro).

 

Quatro lagareiros, dois em cada extremidade da prensa, vão fazendo rodar lentamente os raios (veja-se a figura 107), longos varões de ferro num total de seis, o que obriga o corpo central da prensa a descer ao longo de dois parafusos verticais de ferro, efectuando-se a pouco e pouco o aperto.

 

 
  Figura 107: Aspecto da prensa de parafuso do lagar de Anterronde (P. 120, freg. Santa Eulália, conc. Arouca, dist. Aveiro).  

No lagar de Sequeiros, encontrámos idêntica operação. A grande diferença entre um e outro lagar reside no facto de, no primeiro, a prensa ser construída integralmente de ferro e o corpo central ser elevado ou descido por meio de um sistema de parafuso sem-fim, ao passo que neste segundo lagar vamos encontrar uma prensa formada por dois parafusos verticais de ferro, nos quais trabalham independentemente duas prensas (restricto sensu) de tipo Mabille, bem visíveis na figura 108, e sobre as quais já tivemos oportunidade de falar e, inclusive, apresentar um desenho esquemático. Recorde-se o que se disse no capítulo VI e vejam-se as figuras 87 a 92. São estas que, descidas por meio do movimento de vaivém das alavancas, obrigam o enorme feixe horizontal de madeira a comprimir o enseiramento, colocado dentro da sertã e constituído por três seiras. A ligar as extremidades dos parafusos verticais, foi colocado um arame de aço, cujo objectivo é o de evitar que as duas hastes se afastem para o lado, em virtude de, com o excesso de pressão, a vara horizontal ficar, por vezes, completamente curvada.

 

 
  Figura 108: Prensa de parafuso do lagar de Sequeiros, em pleno funcionamento (P. 52, freg. Ancede, conc. Baião, dist. Porto).  

Efectuado o primeiro aperto, são dadas a calda e a rescalda, mediante os mesmos processos que já descrevemos em relação ao antigo lagar de vara.

No lagar de Sequeiros, a baganha é ainda espremida uma última vez numa prensa de cincho, já apresentada na figura 87 do capítulo anterior, situada em sala própria e representada na figura 1 do capítulo I.

 

 

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