PRENSAS HIDRÁULICAS
Dentro deste grupo, iremos analisar de maneira muito sumária alguns dos
elementos que pudemos recolher em visitas a vários lagares, fazendo
incidir a nossa atenção sobretudo no aspecto terminológico.
A prensa hidráulica é o
resultado da aplicação prática do princípio de Pascal e, sem dúvida, um
dos factores que mais contribuíram para o desenvolvimento e progresso da
indústria olivícola. A sua vantagem e superioridade sobre as restantes
prensas é notória; além de permitir pressões mais elevadas com um mínimo
de energia, a perda de forças devido ao atrito foi bastante reduzida,
como reduzido se tornou o espaço por ela ocupado.
Tecnicamente, uma prensa
hidráulica compõe-se de um corpo de bomba de elevada resistência, que
constitui a prensa propriamente dita, e de um sistema de accionamento
que, através de um cano de reduzida secção, permite a injecção de água
no corpo da bomba, fazendo elevar o êmbolo.
Analisemos, primeiro, o sistema de accionamento. Este é formado
por uma caixa de ferro de dimensões variáveis, contendo água no seu
interior, e uma bomba aspirante-premente accionada manual ou
mecanicamente. É este conjunto que constitui a chamada bateria,
nome que se generalizou, embora muitas vezes pronunciado bataria
pelo povo, como pudemos ouvir em Bragança, P. 100, Coimbra, P. 245b,
257, 288, 304, e Guarda, P. 229.
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As baterias podem
apresentar uma ou mais bombas aspirantes-prementes, conforme o
número de prensas existentes no lagar. No caso da apresentada na
figura 93, o número de bombas é de apenas duas, como podemos
observar na parte superior da caixa, onde se encontram dois
manómetros. São accionadas por motor eléctrico, assente num plano
inclinado de pedra, parcialmente visível no lado esquerdo da
gravura. O movimento do motor é transmitido ao volante metálico por
meio de uma correia. Para maior segurança, todas as modernas
baterias apresentam um manómetro por cada prensa. |
Figura 93: Bateria
de dois elementos de uma prensa hidráulica (Quinta da Costa, P. 238,
freg. Nogueira do Cravo, conc. Oliveira do Hospital, dist. Coimbra). |
No lagar de Alvares, no concelho de Góis, distrito de Coimbra,
encontrámos uma prensa manual, cuja bateria foi
adaptada para também poder funcionar mecanicamente.
Colocada
a um canto do lagar, possui uma caixa de água de pequenas dimensões,
sobre a qual trabalha a bomba,
accionada por comprida alavanca de tipo inter-resistente, tal como se
documenta na figura 95
►. Por cima da bateria e assente sobre um suporte
foi colocado um volante, cujo movimento faz accionar uma biela por meio
de um excêntrico. Quando querem que a prensa seja accionada
mecanicamente, engatam a extremidade da biela num dos orifícios
visíveis no braço da alavanca e põem o volante a trabalhar por meio de
comprida correia de cabedal. Com a rotação do excêntrico, a biela
transmite à alavanca um movimento vertical de vaivém, fazendo deste modo
funcionar a bomba e, consequentemente, a prensa.
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Figura 94: Prensas hidráulicas de um moderno lagar (Castelo Viegas,
P. 288, conc. e dist. de Coimbra). |
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É interessante notar que, à parte a roda volante apresentada na figura
95, as restantes rodas de transmissão de energia são construídas de
madeira. A força motriz é produzida por uma moderna turbina, que fazia
trabalhar, outrora, a vasta fábrica de tecelagem actualmente abandonada
e à qual se encontra acoplado o lagar de azeite e um moinho primitivo de
trigo, em muito mau estado de conservação.
Além do corpo de bomba, a
prensa hidráulica é formada por vários elementos, cujos nomes passaremos
a indicar, servindo-nos para tal da figura 96.
Além do êmbolo de ferro de elevado diâmetro (nº 2), designado por
pistão ou piston, apresenta normalmente quatro colunas
verticais(36) (nº 1), que suportam uma pesada e resistente
placa de ferro (nº 5), conhecida por cabeça da prensa ou, mais
raramente, prato forte.
Algumas prensas apresentam à volta do disco inferior da
cabeça da prensa
um cano circular com orifícios pelo lado interno. É o chamado
esguicho (Coimbra, P. 280b), por onde saem vários jactos de água
quente para lavagem do enseiramento (observe-se a figura 94).
Outras apresentam um orifício circular no centro da cabeça, por
onde passa uma agulha, existente no carro, e na qual são enfiados
capachos apropriados, também furados no centro. Este eixo central ou
agulha, como é vulgarmente conhecido, é crivado e formado por três
ou quatro secções, que encaixam perfeitamente umas nas outras,
terminando na parte superior por um cone. Além de permitir melhor
escoamento do azeite que ressuma da superfície interna dos capachos,
evita o uso de enormes pancas, isto é, de alavancas de madeira ou
de ferro durante o aperto e, consequentemente, a danificação das colunas
da prensa. Em lagares onde esta agulha não existe, as prensas
apresentam com frequência as colunas empenadas e completamente torcidas.
A figura 96 mostra-nos ainda um prato metálico de formato quadrado e com
rodas (nº 3). Trata-se do chamado
carro,
mais vulgarmente designado pelo diminutivo carrinho, sobre o qual
é transportada a coluna de seiras ou capachos (nº 6), a fim de ser
comprimida pela prensa.
O azeite escorre para dentro do carro e sai por uma torneira, caindo num
recipiente de lata (nº 7). Para evitar que ele salpique e se perca,
ligam à torneira do carro um tubo de pano (nº 4), a que dão o nome de
manga
ou mangueira.
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Figura 97: O bagaço é acamado dentro dos cinchos, antes de ir
para a prensa (Fornos do Pinhal, P. 78, conc. Valpaços, dist. Vila
Real). |
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Além das prensas para seiras e capachos, existe uma de tipo especial,
usada para aperto do bagaço. É a chamada
prensa de cinchos,
de que encontrámos um exemplar em Fornos do Pinhal, P. 78, no distrito
de Vila Real.
O nome provém-lhe do facto de trabalhar com os chamados
cinchos,
isto é, aros metálicos com múltiplos orifícios, que se sobrepõem uns nos
outros em cima de um carro metálico, diferentes dos habituais e
designado pela expressão carruagem de cincho.
Retirado o bagaço dos capachos ou das seiras, vai sendo introduzido nos
cinchos, à medida que um homem o acama, calcando-o para tal com um
enorme e pesado
maço
de madeira, tal como se vê na figura 97.
Uma vez cheios todos os
cribos
ou cinchos, colocam sobre o bagaço uma seira velha e levam a
carruagem com a sua carga para a prensa, onde, mediante elevado aperto,
é extraído ainda algum azeite de qualidade inferior.
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