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A apanha do moliço

O moliço é formado por plantas aquáticas, tipo algas, que se formam no leito submerso da Ria de Aveiro e se utilizam como fertilizante de terras agrícolas.

Noutros tempos, a apanha do moliço era uma actividade paralela à agricultura, que adquiriu uma dinâmica própria com grande importância no início do século XIX, chegando a estabelecer uma economia agrícola próspera, que chegou ao declínio em pleno século XX.

Moliceiro na faina do moliço. Reprodução de uma pintura a óleo existente num café da cidade de Aveiro.

Em tempos, era vulgar encontrar-se na Ria de Aveiro barcos moliceiros que navegavam para apanha do moliço. Esta actividade foi progressivamente decaindo, devido fundamentalmente a três factos:

          - Alterações sócio-económicas;
          - Diminuição da área de distribuição do moliço;

          - Aparecimento dos adubos químicos.

Toda esta evolução veio pôr em risco a existência daqueles barcos a que nos havíamos habituado. Além disso, a falta da apanha do moliço começou a transformar-se numa catástrofe ecológica. Muitos canais da ria começaram a asfixiar, verificando-se  uma diminuição da velocidade das correntes com a consequente aceleração dos fenómenos de deposição dos aluviões transportados pelas águas, originando o assoreamento da Ria.

O gráfico seguinte mostra-nos o decréscimo não só no número de barcos moliceiros como também na apanha do moliço entre 1883 e 1994.

Estaleiros reactivados

Artes decorativas nos moliceiros

Era necessário atribuir um novo desempenho aos moliceiros, para que continuassem a apanha do moliço e, ao mesmo tempo, fizessem parte da paisagem da Ria de Aveiro. Várias Câmaras Municipais desta região passaram a subsidiar a apanha do moliço. Surgiu também a ideia de utilizar estes barcos como atracção turística. Neste sentido, reactivaram-se os antigos estaleiros da ria e recuperaram-se antigas técnicas de construção de barcos. Foi ainda nestes estaleiros que recomeçaram as artes decorativas nos moliceiros.

Estes eram pintados, na proa e popa, com desenhos característicos de cores garridas, com figuras contornadas a preto, que são uma verdadeira arte popular. A temática destes desenhos era, umas vezes, humorística; outras, crítica social, recordava factos históricos ou apresentava cenas de devoção religiosa. 

Há alguns incentivos à continuação desta arte de construção e decoração dos moliceiros: a realização da regata anual entre a Torreira e Aveiro e as festividades do São Paio da Torreira, que constituem sempre motivo para a presença insubstituível destes barcos.


Aveiro

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2001