A
palavra diaporama é relativamente moderna. Não sabemos se será ou não mais
velha do que nós. Cremos ter chocado com ela por meados da década de 1970.
Antes disso, nem suspeitávamos da sua existência, apesar de vivermos, talvez
desde os tempos em que ainda andávamos no seio uterino, num ambiente propício
à fotografia e às tecnologias audiovisuais.
Mas
o verdadeiro embrião que esteve na origem do nosso gosto pela utilização do
diaporama deverá ter surgido em Novembro de 1972, na cidade de Luanda, dois ou
três dias antes de sermos destacados para a mata, no nordeste de Angola. Num serão
em casa do Excelentíssimo Comandante da Polícia, com quem tivemos o
prazer de conviver durante uma curtíssima estadia na cidade, foram-nos
projectados diapositivos do interior de Angola. O simpático anfitrião tinha o
hábito de registar, em diapositivo, os lugares por onde passava. Claro que, na
altura, o que foi projectado não se tratou de nenhum
diaporama. Nem o anfitrião deveria saber o que isso era! Naquele serão, após
uma boa mariscada num restaurante da Ilha de Luanda, o que houve foi uma projecção
de diapositivos (ou slides, se quiserem a palavra inglesa) num ecrã adequado
com locução ao vivo pelo próprio autor das imagens.
Nós,
que, desde miúdo, estávamos habituados a brincar com a fotografia, que desde
cedo nos habituáramos a revelar as imagens no laboratório paterno, ficámos
impressionados com a beleza daquelas imagens a cores, imagens brilhantes e de
grandes dimensões, bem destacadas sobre o branco perlado do ecrã, às quais só
faltava o movimento, para nos dar a sensação de estarmos numa sala de cinema.
E a impressão terá sido tão forte que, a partir de então, começámos a pôr
de lado a fotografia impressa em papel. Em breve, tínhamo-nos habituado aos
diapositivos. E, no curto e fugaz espaço de dois anos de guerra forçada em
Angola, acabámos por obter uma colecção de cerca de quatro mil diapositivos,
alguns dos quais mostrando sequências de episódios que, actualmente,
constituem documentos de uma realidade desaparecida. Na
falta de uma câmara de filmar, porque o cinema era exorbitantemente caro e as câmaras
de vídeo ainda não tinham sido inventadas, fomos procurando reunir um espólio
sequencial de imagens documentais que, projectadas numa certa cadência, à
semelhança do que se passa com a banda desenhada, nos permitem recriar momentos
vividos.
Foi
já em Portugal, em Novembro de 1974, num período de descanso antes do início
de um estágio pedagógico, que adquirimos todo o material para a criação de
diaporamas: um bom projector com zoom e entrada para sincronização, um bom ecrã
e o aparelho de cassetes para gravação, montagem e projecção de diaporamas.
E o primeiro material projectável consistiu no resumo, numa exagerada sessão
de quase três horas, com locução, ruídos e música de fundo, das vivências
de dois anos de guerra. E lá continuam arrumadas na prateleira as dez bobinas
de cem imagens cada, com as três cassetes de 90 minutos, à espera de voltar a
iluminar o ecrã com imagens de lugares hoje completamente alterados. Foi o
primeiro diaporama de uma colecção de muitos outros, de carácter didáctico,
feitos individualmente ou em grupo, com a colaboração dos estagiários
com quem trabalhámos durante cerca de 15 anos.
Feita
esta introdução, um tanto romanesca, ao diaporama, é altura de formularmos
aquelas perguntas de retórica tão úteis para nos ajudar a reflectir e a
encontrar as respostas para os problemas:
- O
que são diaporamas? Que tipos existem? Qual a evolução trazida pelas novas
tecnologias? Quais os recursos indispensáveis para a criação de diaporamas,
nas duas vertentes: tradicional e informatizada? Quais os requisitos indispensáveis?
Poderíamos
recorrer a várias fontes bibliográficas para darmos a definição de diaporama.
E, se quiséssemos ser «chiques a valer», eruditos, até poderíamos dizer «slideshow».
Mas não o vamos fazer. Qual o interesse de estar a recorrer a palavrões
esquisitos, quando podemos utilizar vocabulário nacional? E qual o interesse de
estarmos a recorrer ao que os outros dizem, quando eles não dizem nada que não
estejamos já fartos de saber? Se
estivéssemos a fazer uma tese de mestrado ou algo similar, teríamos de abdicar
das nossas próprias palavras para enchermos páginas e páginas com hábeis
transcrições de A ou B, com as respectivas indicações bibliográficas em
notas de rodapé ou no final de cada capítulo, consoante o gosto de quem
orientasse o trabalho. Mas como
não estamos em tal situação, vamos limitar-nos àquilo que está armazenado nos neurónios, àquilo que a
experiência foi ensinando. Entremos no assunto, na esperança de que este preâmbulo
tenha servido para facilitar a abordagem de assuntos mais técnicos.
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