Henrique J. C. de Oliveira, Computador e Ensino, Viseu, 2003. |
||
|
||
5 – Entrada do computador no ensino |
||
O
Sistema LOGO constitui uma linguagem de programação para crianças, criada por
Feuerzeug e Papert, para o ensino da Matemática. Como
é que funcionava o sistema LOGO? Este era constituído por um terminal (o
teclado), um computador e tartarugas cibernéticas, que podiam ser de dois
tipos: reais e simuladas. A tartaruga real era um pequeno veículo ligado ao
computador, que obedecia aos comandos digitados no computador. A simulada (ou
virtual) era representada no ecrã por meio de um triângulo que, no seu avanço
passo a passo, permitia obter diversas figuras geométricas. Com uma linguagem
de programação de fácil aprendizagem, simples e intuitiva, as crianças
aprendiam os vários conceitos referentes à geometria, ao mesmo tempo que se
habituavam a desenvolver um raciocínio lógico sequencial devidamente
estruturado, cujo grau de complexidade ia aumentando progressivamente. Deixando
de lado o que se passou noutros países, de entre os quais se destaca a França,
a partir da década de 1970, interessa-nos mais referir as conclusões tiradas
das experiências noutros países e o que se fez entre nós. Um
trabalho publicado em finais da década de 1980, que nos refere os problemas
inerentes à utilização pedagógica do computador, é o de Alex MUCCHIELLI.
Diz-nos este autor[2]
que o computador é um poderoso recurso educativo, cujas potencialidades estão
dependentes da conjugação de diversas
variáveis:
● 1) - o contexto global da utilização do computador: em casa,
no local de trabalho, no meio escolar, nos seminários especializados...; ● 2) - as finalidades da sua utilização; sensibilização, aquisição de conhecimentos, aquisição de procedimentos, aptidões profissionais, treino, exercícios de aperfeiçoamento, verificação de conhecimentos ou aptidões...; ●
3) - o sistema informático utilizado: computador individual e autónomo,
terminal de computador ligado a um sistema central...; ●
4) - o papel e as funções pedagógicas e informáticas do responsável da
formação; ● 5) - as práticas e os hábitos do computador do indivíduo ou do grupo em formação...; ●
6) - e, por último, a variável à qual damos muita atenção: o programa pedagógico
utilizado, as suas qualidades, as suas performances, a sua adaptação às
finalidades da aprendizagem. Será
da conjugação destas variáveis enunciadas que poderemos criar numerosas situações
de utilização pedagógica. Em Portugal, a informática e a utilização do computador no ensino começam a constituir preocupação educativa a partir de 1984. De acordo com o Despacho 68/SEAM/84 de 19 de Outubro, 2ª série do Diário da República, as novas tecnologias não podem ficar à margem do ensino, donde resultou a criação de um grupo de estudo ao qual competiu, «numa primeira análise, proceder ao estudo aprofundado do processo e propor um conjunto de medidas» susceptíveis de permitir «uma opção concreta para o futuro». Desse
grupo de trabalho surgiu um documento-programa de natureza pedagógica sobre a
introdução das novas tecnologias da informação (NTI) no sistema educativo. E
o projecto deveria concretizar-se em três fases, entre 1985/86 e 1991/92. Salvo
algumas excepções, onde já decorriam experiências com computadores, este
começam a entrar nas escolas portuguesas a partir de 1986/87, graças ao
despacho 206/ME/85, tendo em vista o início do projecto MINERVA (Meios
Informáticos No Ensino:
Racionalização-Valorização-Actualização).
O projecto arrancou inicialmente em cinco distritos, tendo como núcleos
coordenadores apenas os pólos centrados em Coimbra, Braga, Porto, Aveiro e
Lisboa. Quando
o projecto arrancou, quem foram os elementos das escolas destacados para o
projecto MINERVA? Precisamente aqueles professores que já estavam
familiarizados com o novo recurso, que o tinham começado a introduzir nas suas
aulas e o começavam a dar a conhecer aos outros colegas. Os
computadores então utilizados tinham uma reduzida capacidade de memória. Eram
os famosos SPECTRUM 48 K lançados por Clive SINCLAIR. Apesar de reduzida
capacidade de memória, permitiam criar programas interessantes, utilizando uma
linguagem acessível, o chamado Basic Sinclair. Esses
programas ainda hoje funcionam perfeitamente, se continuarmos a utilizar o
Windows na versão 98, graças a programas de emulação que permitem que eles
corram normalmente, mesmo em máquinas com processadores de alta velocidade.
Para aqueles que tenham passado para o Windows XP estão irremediavelmente
perdidos, porque os senhores da Microsoft puseram completamente de parte o
sistema MS-DOS, apesar de terem sido eles os criadores. Fizeram deste modo com
que grande parte do património cultural das gerações de 1980 a 1990 fique
irremediavelmente perdido, a menos que tenhamos vários sistemas operativos no
mesmo computador. Isto será viável para quem tenha computadores com discos
duros de alta capacidade. Mas torna-se inviável se os discos não forem além
dos 6 gigabytes. Como eram esses programas didácticos iniciais em basic? Será que ainda poderão ter algum interesse pedagógico? |
||
|
||
|
||