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BOLETIM CULTURAL E RECREATIVO - SECUNDÁRIA JOSÉ ESTÊVÃO - AVEIRO


 

Angústia para um Natal

 

Imagens de paz, envoltas em cânticos celestiais, emolduram o meu conceito de Natal. Belos anjos, de asas farfalhudas, esvoaçam pelo meu imaginário piscando o olho, às crianças e aos adultos de coração rico.

Os cânticos que ecoam e emolduram as ruas da cidade levam-me para o silêncio das belas catedrais, onde as teclas de órgãos polifónicos nos transfiguram em meros pontos, aconchegados no mar da infinitude.

É o imaginário, é o sonho... este Natal! É a inocência a querer brotar nas ranhuras do tempo.

Hoje já não tenho Natal!

 

Como todos os outros, percorro agitadamente as novas catedrais do consumo e procuro a novidade mais sofisticada, de preferência ao preço «da China»!

Neste frenesim, compro, compro, caminhando para o niilismo dos objectos. Milhares de pessoas, neste mundo globalizado, repetem exactamente os mesmos gestos, e, também eles como eu, acabam por não saber onde começa o Natal e onde acaba o objecto.

De tanto objecto escolhido, desejado, posto de lado, resta o convívio da troca do objecto e o riso inocente de uma criança que vibra com a desocultação do objecto, que lhe pisca o olho ao abrigo da árvore de Natal!

Atenta ao Natal de todos os Portugueses, constato com angústia:

● Os alunos portugueses continuam nos últimos lugares ao nível dos conhecimentos matemáticos;

● Os portugueses inquiridos sobre corrupção identificam a classe política como a classe mais corrupta, seguida do sistema fiscal e justiça (“Público” de 10/12/2004, — Conclusões do “Barómetro de Corrupção 2004”);

● O desemprego atinge índices nunca antes imaginados (relembre-se o caso dos professores e o seu mirabolante concurso);

● Os portugueses passam fome...

Pergunto-me:

— Que fazer para alterar estes cenários?

— Como ajudar na transformação do mundo se somos meros grãos de areia ao sabor do vento das multinacionais, das leis da oferta e da procura?

— Como fazer entender ao mundo que a terra é “a nossa casa” e que a exploração desenfreada dos recursos minerais, o efeito de estufa e o degelo dos pólos, arrastarão consigo os alicerces desta “casa-terra” de que tanto necessitamos?

— Como fazer entender aos homens que a religião só tem sentido com a paz e a solidariedade e nunca como fonte de guerras fratricidas?

— Como fazer passar a mensagem de que o ser humano tem uma dignidade inalienável e que nunca deve ser usado como um meio para atingir um fim?

Respostas? Não tenho. Só perguntas!

E uma grande angústia neste Natal de 2004.

Isabel Magalhães


1 - Editorial      2 - Contos tradicionais portugueses     3 - Dez milhões de estrelas
4 - A Fonte dos meus Amores    5 - As raízes da Arte Abstracta - 1910 a 1920      6 - Angústia para um Natal
7 - A Torre de Anto na vertigem poética de Mário de Sá-Carneiro     8 - Notícias breves da Escola
9 - Evolução da vida - História por acabar     10 - Escrita da Casa - Poesia     11 - Hora do Recreio


 

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