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BOLETIM CULTURAL E RECREATIVO - SECUNDÁRIA JOSÉ ESTÊVÃO - AVEIRO


 


Dez Milhões de Estrelas
 


Embora com substancial atraso e desfasamento no tempo, sai este exemplar do boletim “Alternativas”. Deveria ter conhecido a luz das estrelas, especialmente da maior que nos ilumina e aquece, por altura dos finais do primeiro período. Mas... Nem sempre aquilo que desejamos é o que nos sucede!

Neste momento já várias semanas estão passadas sobre a iniciativa ocorrida na nossa escola, iniciativa não original daqui e que terá abrangido, não apenas esta, mas todas as escolas portuguesas e também as europeias.

De acordo com o texto que pode ainda ser lido, se quisermos consultar as páginas incluídas no projecto «Aveiro e Cultura», a iniciativa DEZ MILHÕES DE ESTRELAS, no âmbito da disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica e do Departamento de Ciências Sociais e Humanas, foi «uma actividade sugerida pelo Secretariado Nacional da Educação Cristã e Cáritas Portuguesa, desenvolvida a nível europeu, cujo objectivo foi o de promover a Paz e a Solidariedade entre os povos». Como tal, foi realizado um conjunto de acções dirigidas à comunidade escolar, no sentido de a sensibilizar para a referida temática.

No dia 16 de Dezembro, pelas catorze horas, foi levado a cabo um cordão humano em forma de estrela, no qual tivemos oportunidade de participar, tendo ao mesmo tempo sido disponibilizado, em vários locais da escola, um poema de autoria desconhecida.

Para que as estrelas brilhassem melhor, alcançando o maior número possível de leitores, na mesma altura foi colocado o texto no espaço colectivo que é o projecto «Aveiro e Cultura», juntamente com o postal de Boas-festas da nossa escola para toda a comunidade planetária, muito especialmente para todos quantos têm como pátria a Língua Portuguesa.

As estrelas brilharam, e ainda lá continuam à espera que as vejamos, se soubermos pesquisar, na esperança de que possam produzir algum efeito a mais longo prazo. Para já, podemos afirmar e comprovar que deram resultados. E resultados que nos surpreenderam, não apenas pela qualidade, mas sobretudo porque não estávamos à espera da repercussão do brilho destas estrelas.

Colocada a nossa mensagem de Paz e Boa Vontade entre os homens, em breve, nesse curto espaço de tempo de pouco mais de uma semana, começaram a chegar à escola, através do e-mail, algumas estrelas brilhantes, em verso e também em prosa, que permitiram esta pequena antologia alusiva ao Natal.

Só foi pena que, após o dia de Natal, sabe Deus por que razão, as estrelas tivessem sido ofuscadas por um acontecimento tão brutal, que varreu literalmente da superfície desta pequena bola azulada em que vivemos tantos milhares de vidas, ensombrando a quadra natalícia de toda a Humanidade.

É necessário que a luz da Esperança continue a brilhar. É necessário que as estrelas não deixem de cintilar para todos nós, porque a vida não pode parar. E porque nada na vida pode nem deve parar, é altura de vos deixarmos com os textos que constituem a parte inicial deste boletim. É uma pequena colecção que aqui ficará para o nosso prazer de leitura e também para alguma reflexão. E, já agora, que esta reflexão não se limite a esta antologia, carregada de esperança e poesia, porque também o conto inicial, inserido na segunda página, merece a nossa leitura reflectida. E teremos de deixar aqui um pequeno aparte: a sua inclusão não foi intencional. Ao longo da existência deste boletim cultural, o livro de Teófilo Braga tem sido para nós a melhor fonte de pesquisa. Tem sido ele que nos vem permitindo manter a rubrica «Contos Tradicionais Portugueses». Podemos dizer que é uma das secções que habitualmente nos faz perder algum tempo, porque, perante tamanha variedade de textos, torna-se difícil a escolha.

Desta vez, não tivemos a mesma dificuldade. Quando pegámos no livro, o primeiro texto que se nos deparou foi o que agora incluímos. Achámos estranho ele ter-se quase espontaneamente aberto nas páginas em questão. Lemos o texto e verificámos que a sua escolha estava feita. E é agora, neste preciso instante em que estamos a escrever estas linhas, que verificamos que o tema não podia ser mais adequado para o presente momento.

Que cada um retire as ilações que quiser. Quanto a nós, deixamo-vos agora com a leitura dos textos, renovando os nossos votos de um ano de 2005 bem melhor que o anterior.

Henrique J. C. de Oliveira


DEZ MILHÕES DE ESTRELAS

Não estás sozinho
Somos milhões
Em multidões!
Vem, que és capaz
De ser semente!
Vem partilhar,
Multiplicar...
Gestos de Paz.

Mostra essa luz
Que vai brilhar
Para quem passar
No teu portal.
Nasceu Jesus!
Foi em Belém
E em ti, também...
Neste Natal.

Mais uma estrela.
10 milhões
Vou acender
De estrelas a brilhar
Para aquecer
E no mundo ter
A Paz a despontar.

Mais uma estrela.
10 milhões
Vou acender
De estrelas a brilhar.
Abre-lhe a porta
Do coração,
Terás o mundo em Paz!

Anónimo


às vezes digo quero ser melhor
e então procuro um lugar
nos teus olhos

mas tu deixaste no mundo um deserto
e uma ferida para cada um percorrer
até que possa caminhar sobre o mar.

e então digo deixa-me ser
o teu lugar naquela cruz
encontrar na dor um sentido

mas cada um já tem da rosa o espinho
uma porta e uma casa
para tudo o que é feliz ou triste

e então procuro os sítios altos e os abismos
para escutar ainda a tua voz
neste lado da vida

e só então entendo que ser melhor
é nunca ter de precisar de ti

Carlos Lopes Pires
Coimbra, 20 de Dezembro de 2004


Natal

Foi Natal naquela noite!
Na escola, no mundo, na cidade:
luzes,
música,
cores,
risos, partilha, amizade...

Mas... porque não é Natal,
hoje,
aqui, acolá, além...
e a cada minuto o Homem esquece
a mensagem de Belém?!
                            
Lourdes Rosa


Outros Natais

Um som fraterno de quissange dolente envelhece em notas silenciosas, eternas como as pedras, para sempre eternas… ecos de indeléveis melodias …

Acácias e cassuarinas emolduram o caminho de regresso ao passado. Eis-nos de novo, neste difícil e frio Dezembro europeu. Tão frio. São outros os rastos das estrelas nos céus diferentes de agora…

Junto ao regato, por trilhos de areia ladeados de pedrinhas e trevos de quatro folhas, nos angolanos presépios da nossa infância, crescia livre a vida, embrulhada em sonhos de criança. Da árvore de Natal - que era sempre um cedro e não um pinheiro - exalava um perfume vegetal, intenso e cheiroso como a candura da meninice pendurada em balões e chocolates, tão quente, tão doce, como as redondas laranjas e as saborosas tangerinas, inseparáveis das macias memórias desses natais distantes… Acontecia isto quando a realidade era o que a fantasia permitia que ela fosse. Lá longe, tão longe, no tempo em que Dezembro se vestia de quentura e dispensava agasalhos…

Hoje somos a grande ilha de saudade onde sobram enfeites e prendas na árvore de Natal que já não é um cedro oloroso. Mas o sol insiste em tecer outonos e invernos mesmo quando as festas são menos mudas. Fazemos tréguas com o passado, ainda que haja o peso de um bloco de saudade no lugar do coração. E resistimos, re-inventando afectos.

Nos sorrisos desenhados de ternura, fica sempre um pedaço de mundo por contar…

Alice Pinho, Aveiro, 22-Dez.-2004


Car@ Amig@:

Desejo um Natal de permanente sorriso e um 2005 cheio de desejos e vontades encontradas.
Aceite uma prenda em forma deste, aparentemente simples, poema de E. E. Cummings:

Arvorezinha
silenciosa arvorezinha de Natal
és tão pequena
pareces mais uma flor
quem te achou na floresta verde
de onde saíste com pena?
deixa... eu consolo-te
porque tens um doce aroma
beijo-te a tua casca fria
e afago-te
tal como uma mãe o faria
desde que não tenhas medo

repara nas decorações de Natal
elas dormem todo o ano
na escuridão de uma caixa
sonhando que serão tiradas dali
e as deixem brilhar
as bolas, as grinaldas em vermelho e ouro,
o fofo algodão
levanta os teus pequenos braços
e eu entrego-tas para que nelas segures
cada dedo deve ter o seu anel
e não haverá em ti um único espaço
escuro ou triste
depois, quando estiveres arranjada,
vou pôr-te à janela
para que toda a gente te veja
e como todos vão olhar para ti!
oh! como vais sentir-te vaidosa

então, eu e a minha irmãzinha,
vamos dar as mãos
olhando para cima
para a nossa linda árvore
e cantaremos e dançaremos:
“Natal, Natal”


E. E. Cummings (Trad. Teixeira Moita, 22/12/2004)

Para quê Natal?

Já há luzes de Natal na cidade.
Parece que ainda ontem se apagaram,
Ao terminar a grande festividade.
Mas um ano inteiro,
Sorrateiro,
Já passou.
Sem darmos conta
Passou veloz.

E eu que fiz?
O que fizemos nós
Para espalhar no mundo
O amor, a paz?

Vivemos na abundância,
No bem-estar.
Vivemos no erro
Na injustiça.
Calámos...
Ninguém sequer
Ouviu a nossa voz.

Por entre o egoísmo,
O comodismo,
O consumismo,
Em que vivemos;
Por entre a fome,
A guerra, a solidão,
Sem O olharmos
Passa Jesus.

P'ra quê Natal
Com tanta luz,
Se é falso o brilho
Que nos seduz?
Se ao nosso lado
Em nosso irmão,
Morre Jesus?!...

Aida Viegas, 2004

 

1 - Editorial      2 - Contos tradicionais portugueses     3 - Dez milhões de estrelas
4 - A Fonte dos meus Amores    5 - As raízes da Arte Abstracta - 1910 a 1920      6 - Angústia para um Natal
7 - A Torre de Anto na vertigem poética de Mário de Sá-Carneiro     8 - Notícias breves da Escola
9 - Evolução da vida - História por acabar     10 - Escrita da Casa - Poesia     11 - Hora do Recreio


 

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