A partir do séc.
X, encontramos escritos que referem Aveiro como... "terras
in Alavarium e salinas...", o que está
descrito na doação que Mumadona Dias fez ao Mosteiro
de Guimarães em 959. Esta primeira referência
relaciona Aveiro com a exploração de salinas. A origem
do nome Aveiro tem sido muito discutida e tem sido
defendida de várias formas por diferentes autores.
Defendemos que Aveiro foi construída pelos Romanos, que
lhe terão chamado Avaricum ou Avarico nome
que os Romanos deram também à cidade da Gália, com
canais semelhantes aos de Aveiro, a actual Bruges. Foi
construída depois da destruição de Talábriga pelos
Mauritanos, que assolaram e destruíram as povoações
costeiras abaixo do rio Douro. Em memória, figura nas
armas de Aveiro uma águia parda com a coroa imperial,
emblema que os imperadores romanos usavam no seu
estandarte. No séc. XI aparecem as formas de Aaveiro
e Aavero, sendo Aveiro definida como vila neste
mesmo século.
Todo o labor em
torno do sal adquiriu enorme importância na zona, o que
se deduz do interesse que havia por parte dos senhores
empenhados na sua exploração e aproveitamento (Silva,
1991: 96 - 104).
A exploração do
sal e do barro deve ter sido factor determinante no
povoamento da região, assim como a sua situação junto
à foz do rio "Vácua" e ao mar. Columella (60
d. C.) dizia que para que uma «villa» tivesse
condições ideais devia situar-se junto ao mar ou a rio
navegável. A verdade é que houve um interesse sentido,
desde muito cedo, pelos iniciadores das dinastias
condais, que aqui tiveram propriedades. Nos princípios
do séc. XII, existem alienações de propriedades nos
arredores de Aveiro, levadas a cabo por dona Teresa e D.
Henrique, o que indica que a região de Aveiro era
domínio dos Condes Portucalenses (Azevedo, 1958). Em
1187, o rei D. Sancho I fez doação da "villa
que vocatur Aaveiro" a sua irmã dona Urraca
Afonso (T.T., Chancelaria de D. Dinis, livro 5: 69-69
v.). Saiu depois a vila do património régio, mas D.
Dinis fez com que a ele voltasse por a ter readquirido
quando se encontrava na posse do Mosteiro do Lorvão
(Silva, 1991: 66 - 69).
No tempo ainda de
D. Dinis, fins do séc. XIII, é criado em Aveiro um
banco de comércio destinado a apoiar as relações
mercantis. D. Afonso IV decretou reformas de carácter
administrativo e judicial, que tinham por objectivo
fortalecer o poder real e combater os grandes senhorios.
Com o objectivo de controlar o poder senhorial, ordenou
a reorganização geral da administração. A lei
pragmática, promulgada por este monarca, visava
limitar os gastos, definindo o número de trajos que
cada um podia fazer por ano, de forma a tabelar e
estabilizar os preços dos bens de luxo. Em meados do
séc. XIV, a peste negra assolou a região de Aveiro,
mas a recessão então sentida foi anulada com
directivas para povoar as terras abandonadas,
seguindo-se uma grande vitalidade económica e o sucesso
da política de fomento depois da crise.
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Canal
Central de Aveiro, nos meados do século XX. |
Aveiro vive com o
senhorio régio do séc. XIV uma época de fomento, de
produção de sal e de comércio do mesmo, assim como de
objectos de barro e outros produtos, servida por
estradas e pelo mar, pelo que foi um centro quase que
exclusivamente comercial, pouco dedicado à vida
agrícola e à pastorícia. Assim, via-se obrigada a
recorrer à importação dos bens essenciais,
tornando-se numa vila poderosa e assim continuando no
séc. XV.
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Aveiro
na década de 1950, vendo-se a zona central da
cidade. |
Aveiro tem ainda
hoje, na sua parte central, estrutura de vila da idade
média com a rua direita, que ia então, da porta da
vila à porta da ribeira, passando ao lado da Praça do
Município, onde ficava a Igreja de S. Miguel, no local
onde se encontra hoje a estátua de José Estevão, e em
frente da qual estava e ainda se encontra o edifício do
Município, que então era também cadeia. Em 1423, D.
João I possuía umas casas na rua Direita, tendo então
passado carta de aforamento em relação a algumas (T.
T. Chancelaria de D. João I, livro 4: 79). Quer os reis
da 1ª dinastia, quer os reis da 2ª dinastia estiveram
sempre ligados a Aveiro, por si ou através de
familiares, não permitindo que os senhores aqui
tivessem poder. Aveiro só teve Conventos a partir do
séc. XV, tendo sido autorizada a fundação do
primeiro, o Convento Dominicano de Nossa Senhora da
Misericórdia, em 1423, tendo sido D. Pedro, filho de D.
João I, a colocar por sua mão a primeira pedra que deu
início à construção (Arquivo da Misericórdia). Em
1456, os religiosos deste convento foram isentos do
pagamento de sisa, dízima ou portagem de bestas,
madeiras e outras coisas. Outros conventos foram
surgindo: Convento Franciscano da Madre de Deus,
Convento de Jesus, Convento Franciscano de Santo
António, Convento do Carmo, Convento das Carmelitas,
cuja cerca foi construída no espaço que tinha sido
ocupado até ao séc. XV por dezassete casas da Comuna
dos Judeus de Aveiro. De todos estes conventos somente
continua a existir o do Carmo. No Convento de Jesus
está hoje implantado o Museu Nacional de Aveiro. O
Convento da Misericórdia existe hoje como Casa da
Misericórdia, ao lado da qual está a igreja do mesmo
nome. Dos restantes ficaram as igrejas.
Protecção
especial de D. Afonso V e de D. João II teve o Convento
de Jesus, onde viveu a Infanta D. Joana com seus
escravos e seu sobrinho D. Jorge de Lencastre.
Sempre sob
protecção real, Aveiro foi crescendo. Se até 1572
teve como Igreja Matriz a de S. Miguel e uma única
freguesia, nesse ano de 1572, com 11.365 pessoas de
comunhão, foi dividida em quatro freguesias, a de S.
Miguel, as de Vera-Cruz e S. Gonçalo, na Vila Nova,
zona de pescadores e marnotos, e a do Espírito Santo,
para cimo de vila, já fora das muralhas. A freguesia de
S. Miguel compreendia a parte mais nobre da vila, quase
toda muralhada, a mais rica e a mais distinta. Dentro
desta freguesia ficavam as casas dos Sousas, dos
Távoras, Pizarros, Amarais e outras. Dentro desta
freguesia ficavam ainda o recolhimento de S. Bernardino,
a Igreja da Misericórdia, a Albergaria de S. Brás, a
Capela dos Santos Mártires, a do Passo, a de Sto.
António, o Tribunal e outras repartições
administrativas (Quadros, Apontamentos Históricos).
D. Sebastião, em
1577, ordenou ao provedor da comarca de Coimbra que se
deslocasse a Aveiro e verificasse como os pescadores
pagavam o dízimo do pescado a Francisco Tavares, e se
informasse se recebiam por isso algum vexame ou se
pagavam mais do que o que deviam. O clero, aqui em
Aveiro, também não teve poder. Os conventos aqui
existentes eram quase todos de ordens mendicantes. O
facto de o poder senhorial e o poder clerical não se
terem feito sentir em Aveiro, de o sal e a sua
exploração ter forma contratual especial e ter sido
fonte de riqueza, de a agricultura não ter tido em
Aveiro um primeiro lugar na economia da vila e depois na
economia da cidade, conduziram a que os habitantes de
Aveiro adquirissem uma postura de liberdade, que
souberam manter mesmo em momentos difíceis da nossa
história.
Em 1759, por
alvará de 11 de Abril, D. José I "considerando
a situação natural da povoação e circunstâncias que
concorriam na vila de Aveiro e nos seus habitantes, e
folgando pelos ditos respeitos, e por outros que
inclinaram a sua real benignidade, houve por bem elevar
a dita vila de Aveiro, notável por mercê filipina, à
dignificante categoria de cidade" (Arquivo
C.M.A., I: 25).
Em 1807 a
Procissão de Santa Joana, Padroeira da cidade de
Aveiro, foi considerada real; e passou a participar nela
o Senado da Câmara (T. T. Chancelaria de D. João VI,
11: 9). A Câmara ainda hoje participa nesta procissão,
com outras instituições da terra, nomeadamente a
Universidade.
Em 25 de Julho de
1835, foi nomeado primeiro governador civil de Aveiro o
oficial da marinha, José Joaquim Lopes de Lima
(Arquivo, XXXV, : 53), que, em 11 de Outubro do mesmo
ano, mandou publicar um alvará, reduzindo a duas as
quatro freguesias da cidade: a freguesia da Vera Cruz e
a freguesia de Nossa Senhora da Glória (Quadros,
Apontamentos Históricos) tendo, neste mesmo ano, sido
demolida a Igreja de S. Miguel.
Com a extinção
dos concelhos de Esgueira e Aradas, ambos em Novembro de
1836 (Arquivo, XXXV: 56), aquelas povoações foram
incorporadas no Município de Aveiro: a primeira, na
freguesia da Vera Cruz; e a segunda, na freguesia de
Nossa Senhora da Glória.
O Concelho de
Aveiro tem hoje uma população residente elevada, que
está dividida pelas freguesias de Aradas, Cacia , Eirol
, Eixo, Esgueira, Nossa Senhora da Glória, Nariz, Nossa
Senhora de Fátima, Oliveirinha, Requeixo, Santa Joana,
S. Bernardo, S. Jacinto e Vera Cruz. Destas freguesias
só duas são consideradas urbanas: Vera Cruz e Glória,
não sendo nenhuma delas a que tem mais população
residente. Para além da população residente, Aveiro
tem uma população migratória que tem vindo a aumentar
pelas seguintes razões: o crescimento industrial, a
Universidade e, mais recentemente, a área de serviços.
Claudette Albino