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A habitação (1)

A casa da Beira interior, erguida numa zona de afloramentos graníticos ou de xisto, participa em geral das características das construções da metade norte do País. No estudo da habitação, temos sempre aliás de extremar a que, fruto das / 31 / exigências geológicas, nos dá uma fácies sóbria, por vezes severa, da que se esteia na intervenção erudita, pela aclimação dos estilos importados, e cabe mais frequentemente ao solar citadino ou rural. Fora desta intervenção, nota-se uma flagrante diferenciação imposta pela variedade das condições geológicas, climáticas e agrárias, desde os palheiros do litoral e a casa de xisto, cosida à encosta da montanha e parecendo brotar dela como um seu produto natural, as cabanas ou choças primitivas de certas regiões da Beira Litoral e da Beira Alta, às rudes casas pelásgicas, construídas na anfractuosidade dos rochedos, nas ásperas regiões do granito.

A maior frequência típica da casa beiroa, próxima parenta da trasmontana ou minhota, é aquela que se limita a um só andar de pedra, aparelhada sem cimento, de polígonos irregulares, à maneira proto-histórica, ou então de cutelo, constituindo perpianho, que não é a pedra de travação, o bloco que atravessa toda a espessura duma parede e é visível nas suas duas faces ou paramentos (como o francês parpaing), mas o sistema da aparelhagem em que as pedras são colocadas de cutelo, com uma espessura aproximada de 25 centímetros. No rés-do-chão são os compartimentos para a alfaia agrícola, o celeiro, o lagar com a casa da lenha, quando esta se não acumula no vasto pátio, coberta por um alpendre. A escada é quase sempre exterior, dada a facilidade de ocupação de terreno, e ora se encosta à fachada, ora cai sobre ela perpendicularmente, frequentemente alpendrada no alto. A varanda é um elemento característico das casas rurais, larga e soalheira, com telhado assente sobre prumos de madeira / 32 / terminados em cima por cachorros duplos, constituindo uma espécie de capitel. Em casas mais ricas e onde a pedra abunda, a coluna dórica do tipo popular português, de delicado fuste, alinha-se esbeltamente, formando galeria, o que dá uma linda cor às fachadas. Todavia, o alpendre, citado muitas vezes como a forma mais característica da casa portuguesa, não é, evidentemente, um privilégio nacional: constituem, por exemplo, formas bem típicas do alpendre as balconadas cubicatas da região asturiana.

Nas Beiras, como no resto do Norte português, é frequente o portão nobre de entrada para o vasto pátio ou terreiro, quase sempre ao lado da frontaria, mas também precedendo-a com nobre aspecto, umas vezes simples, coberto de um tejadilho de pedra, onde no Outono se seca a fruta, outras com mais plena preocupação arquitectónica, com cimalha saliente encimada por uma cruz ou um brasão de armas flanqueado por dois vasos heráldicos.

O pátio, zagão, como lhe chamam em alguns pontos da Beira (cfr. o zaguán espanhol) (2) para onde dão os estábulos, tem a um canto o forno, redondo e de tecto cónico, cruzado por dois tijolos sobre a boca, postos para a protecção da fornada. A larga varanda citada dá quase sempre para o pátio, e muitas vezes, nas noites estivais, serve de leito para se fugir à canícula, e porque é soalheira, serve também de sequeiro do milho ou madureiro de fruta. A cobertura é frequentemente de telha-vã, quase sempre sem o perfil das chaminés, que dão uma graça tão íntima às empenas das casas algarvias.

(Continua pág. 33 após anexo com 4 imagens. ►►►)

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(1) – Por JOÃO BARREIRA.

(2) – O termo deriva, segundo o PROF. DAVID LOPES. do árabe peninsular eçtenán que costuma escrever-se também istnán ou istinán e que deu o nosso saguão.

 

 

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