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Etimologia de «Beira» e «Beirão» (1)

Estão longe de acertar as opiniões relativas à origem destas palavras. Segundo alguns, a designação beirão viria, possivelmente do nome por que eram conhecidos os remotos habitantes do norte hispânico, os berones, aos quais, vagamente, se refere, na sua relação geográfica, Estrabão. Porventura / 19 / deslocados do Ocidente, da vizinhança dos lusitanos, a raiz do nome dessa tribo teria ficado ligada à terra herminiense, Para outros, barões seria simplesmente a corrupção da palavra medieval barones, derivada do germânico ber, bar, var (= senhor, guerreiro, homem esforçado e cioso da vida livre), epíteto, no caso presente – argumentam – justificado pelas virtudes de intrepidez e gosto da independência, peculiares tanto dos habitantes primitivos desta região (no dizer de Políbio e Diodoro), como dos invasores bárbaros, como dos homens rudes da reconquista cristã.

Relativamente à palavra Beira, os que não acedem em explicá-la pelas duas hipóteses anteriores, divergem ainda. Alguns intentam fundamentar a sua origem na circunstância desta região ter sido durante cerca de dois séculos (sécs. X e Xl) a faixa confinante, na vertente atlântica peninsular, entre as duas inconciliáveis forças: a cristã e a islamita. Beira seria assim chamada como significando zona fronteiriça ou estremenha. [Em consequência da deslocação para o sul, para a linha do Tejo, dos campos de combate, a Beira teria cedido o seu papel e o sentido do seu nome à Estremadura]. Mas, já para outros, tal explicação militar e política não persuade. A palavra Beira viria essencialmente de uma simples Intuição geográfica popular. A expressão – «Somos das beiras» – não seria, no fundo, senão uma referência oculta à serra da Estrela, sendo o equivalente elíptico da expressão: – «Somos das proximidades e pendores da grande Serra» ou «Somos das abas ou beiras da Serra». Finalmente, tem-se sustentado a presunção de que a palavra Beira nasceu possivelmente na época do domínio agareno, sob a forma arábica de Berryah ou Berriah, nome por que era designado uma região particularmente inóspita da Arábia. O aspecto, tornado escalvado pelas guerras, desta região peninsular teria sugerido, por analogia, ao invasor a aplicação desse nome. De facto, como Herculano acentua, na fase crítica da formação do pequeno reino de Oviedo, o expediente digamos táctico a que os reis asturianos recorreram, a partir de D. Afonso I, para se defenderem do poderoso moiro, foi o de criar em torno dos seus precários limites, uma zona desabitada e hostil. Propositadamente destruíam, incendiavam o que tinha valor, levando a bem ou a mal, diante de si, para fora das regiões calcadas pelo invasor africano, as populações resignadas ao seu domínio. As províncias que são hoje o Minho, Trás-os-Montes e Beira sofreram particularmente a acção destruidora dessa necessidade defensiva. A desoladora fisionomia que tomariam as terras tornadas ermas pelo arrebanhamento das populações godas levadas para as montanhas do Norte, e por virtude ainda das razias periódicas que exterminavam a pouca população persistente, teria, no parecer de alguns, justificado a similitude que o maometano descobria entre esta feição desértica e a da sua oriental Berryah, Por corrupção verosímil, desta palavra viriam as formas medievais Bera, Beyra, Berya (designativas do Julgado, e depois Comarca da Beira), inscritas em forais e outros documentos. Dessa mesma palavra, vinda do Oriente, teria resultado, além do nome próprio da província, o substantivo comum de significação afim, breia, composto precisamente (acentua jubilosamente um proponente) das mesmas letras que constituem o discutido toponímico.

A opção entre as debatidas soluções é notoriamente embaraçante, podendo bem dizer-se que esta pequena vexata quaestio é, no seu género, um assunto adequado a alimentar, até à fadiga, os vagares da erudição. Dentre os nomes tradicionais das províncias portuguesas, o nome Beira é o único que se tem de considerar um dado irredutível a uma satisfatória justificação de origem. Ainda nisso, por assim dizer, a autoctonia do beirão se traduz.

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(1) – Por SANT'ANNA DIONÍSIO.

 

 

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