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        Embora com substancial atraso e desfasamento no tempo, sai este exemplar 
        do boletim “Alternativas”. Deveria ter conhecido a luz das estrelas, 
        especialmente da maior que nos ilumina e aquece, por altura dos finais 
        do primeiro período. Mas... Nem sempre aquilo que desejamos é o que nos 
        sucede! 
        Neste momento já várias semanas estão passadas sobre 
        a iniciativa ocorrida na nossa escola, iniciativa não original daqui e 
        que terá abrangido, não apenas esta, mas todas as escolas portuguesas e 
        também as europeias. 
        De acordo com o texto que pode ainda ser lido, se 
        quisermos consultar as páginas incluídas no projecto «Aveiro e Cultura», 
        a iniciativa DEZ MILHÕES DE ESTRELAS, no âmbito da disciplina de 
        Educação Moral e Religiosa Católica e do Departamento de Ciências 
        Sociais e Humanas, foi «uma actividade sugerida pelo Secretariado 
        Nacional da Educação Cristã e Cáritas Portuguesa, desenvolvida a nível 
        europeu, cujo objectivo foi o de promover a Paz e a Solidariedade entre 
        os povos». Como tal, foi realizado um conjunto de acções dirigidas à 
        comunidade escolar, no sentido de a sensibilizar para a referida 
        temática. 
        No dia 16 de Dezembro, pelas catorze horas, foi 
        levado a cabo um cordão humano em forma de estrela, no qual 
        tivemos oportunidade de participar, tendo ao mesmo tempo sido 
        disponibilizado, em vários locais da escola, um poema de autoria 
        desconhecida. 
        Para que as estrelas brilhassem melhor, alcançando o 
        maior número possível de leitores, na mesma altura foi colocado o texto 
        no espaço colectivo que é o projecto «Aveiro e Cultura», juntamente com 
        o postal de Boas-festas da nossa escola para toda a comunidade 
        planetária, muito especialmente para todos quantos têm como pátria a 
        Língua Portuguesa. 
        As estrelas brilharam, e ainda lá continuam à espera 
        que as vejamos, se soubermos pesquisar, na esperança de que possam 
        produzir algum efeito a mais longo prazo. Para já, podemos afirmar e 
        comprovar que deram resultados. E resultados que nos surpreenderam, não 
        apenas pela qualidade, mas sobretudo porque não estávamos à espera da 
        repercussão do brilho destas estrelas. 
        Colocada a nossa mensagem de Paz e Boa Vontade entre 
        os homens, em breve, nesse curto espaço de tempo de pouco mais de uma 
        semana, começaram a chegar à escola, através do e-mail, algumas estrelas 
        brilhantes, em verso e também em prosa, que permitiram esta pequena 
        antologia alusiva ao Natal. 
        Só foi pena que, após o dia de Natal, sabe Deus por 
        que razão, as estrelas tivessem sido ofuscadas por um acontecimento tão 
        brutal, que varreu literalmente da superfície desta pequena bola azulada 
        em que vivemos tantos milhares de vidas, ensombrando a quadra natalícia 
        de toda a Humanidade. 
        É necessário que a luz da Esperança continue a 
        brilhar. É necessário que as estrelas não deixem de cintilar para todos 
        nós, porque a vida não pode parar. E porque nada na vida pode nem deve 
        parar, é altura de vos deixarmos com os textos que constituem a parte 
        inicial deste boletim. É uma pequena colecção que aqui ficará para o 
        nosso prazer de leitura e também para alguma reflexão. E, já agora, que 
        esta reflexão não se limite a esta antologia, carregada de esperança e 
        poesia, porque também o conto inicial, inserido na segunda página, 
        merece a nossa leitura reflectida. E teremos de deixar aqui um pequeno 
        aparte: a sua inclusão não foi intencional. Ao longo da existência deste 
        boletim cultural, o livro de Teófilo Braga tem sido para nós a melhor 
        fonte de pesquisa. Tem sido ele que nos vem permitindo manter a rubrica 
        «Contos Tradicionais Portugueses». Podemos dizer que é uma das secções 
        que habitualmente nos faz perder algum tempo, porque, perante tamanha 
        variedade de textos, torna-se difícil a escolha. 
        Desta vez, não tivemos a mesma dificuldade. Quando 
        pegámos no livro, o primeiro texto que se nos deparou foi o que agora 
        incluímos. Achámos estranho ele ter-se quase espontaneamente aberto nas 
        páginas em questão. Lemos o texto e verificámos que a sua escolha estava 
        feita. E é agora, neste preciso instante em que estamos a escrever estas 
        linhas, que verificamos que o tema não podia ser mais adequado para o 
        presente momento. 
        Que cada um retire as ilações que quiser. Quanto a 
        nós, deixamo-vos agora com a leitura dos textos, renovando os nossos 
        votos de um ano de 2005 bem melhor que o anterior. 
        Henrique J. C. de Oliveira 
         
        
        DEZ MILHÕES DE ESTRELAS 
        
              Não estás sozinho 
              Somos milhões 
              Em multidões! 
              Vem, que és capaz 
              De ser semente! 
              Vem partilhar, 
              Multiplicar... 
              Gestos de Paz. 
              Mostra essa luz 
              Que vai brilhar 
              Para quem passar 
              No teu portal. 
              Nasceu Jesus! 
              Foi em Belém 
              E em ti, também... 
              Neste Natal. 
              Mais uma estrela. 
              10 milhões 
              Vou acender 
              De estrelas a brilhar 
              Para aquecer 
              E no mundo ter 
              A Paz a despontar.   
              Mais uma estrela. 
              10 milhões 
              Vou acender 
              De estrelas a brilhar.  
              Abre-lhe a porta 
              Do coração, 
              Terás o mundo em Paz! 
        Anónimo 
         
        
        
          
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           às vezes digo quero ser melhor  
          e então procuro um lugar  
          nos teus olhos  
           
          mas tu deixaste no mundo um deserto  
          e uma ferida para cada um percorrer  
          até que possa caminhar sobre o mar.  
           
          e então digo deixa-me ser  
          o teu lugar naquela cruz  
          encontrar na dor um sentido  
           
          mas cada um já tem da rosa o espinho  
          uma porta e uma casa  
          para tudo o que é feliz ou triste  
           
          e então procuro os sítios altos e os abismos  
          para escutar ainda a tua voz  
          neste lado da vida  
           
          e só então entendo que ser melhor  
          é nunca ter de precisar de ti 
          
          Carlos Lopes Pires 
        Coimbra, 20 de Dezembro de 2004 
        
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        Natal 
        
            Foi Natal naquela noite! 
            Na escola, no mundo, na cidade: 
            luzes, 
            música, 
            cores, 
            risos, partilha, amizade... 
            Mas... porque não é Natal, 
            hoje, 
            aqui, acolá, além... 
            e a cada minuto o Homem esquece 
            a mensagem de Belém?! 
                            
         
        
            Lourdes Rosa
        
         
        
        Outros Natais 
        
        Um som fraterno de quissange dolente envelhece em 
        notas silenciosas, eternas como as pedras, para sempre eternas… ecos de 
        indeléveis melodias … 
        Acácias e cassuarinas emolduram o caminho de regresso 
        ao passado. Eis-nos de novo, neste difícil e frio Dezembro europeu. Tão 
        frio. São outros os rastos das estrelas nos céus diferentes de agora… 
        Junto ao regato, por trilhos de areia ladeados de 
        pedrinhas e trevos de quatro folhas, nos angolanos presépios da nossa 
        infância, crescia livre a vida, embrulhada em sonhos de criança. Da 
        árvore de Natal - que era sempre um cedro e não um pinheiro - exalava um 
        perfume vegetal, intenso e cheiroso como a candura da meninice pendurada 
        em balões e chocolates, tão quente, tão doce, como as redondas laranjas 
        e as saborosas tangerinas, inseparáveis das macias memórias desses 
        natais distantes… Acontecia isto quando a realidade era o que a fantasia 
        permitia que ela fosse. Lá longe, tão longe, no tempo em que Dezembro se 
        vestia de quentura e dispensava agasalhos… 
        Hoje somos a grande ilha de saudade onde sobram 
        enfeites e prendas na árvore de Natal que já não é um cedro oloroso. Mas 
        o sol insiste em tecer outonos e invernos mesmo quando as festas são 
        menos mudas. Fazemos tréguas com o passado, ainda que haja o peso de um 
        bloco de saudade no lugar do coração. E resistimos, re-inventando 
        afectos. 
        Nos sorrisos desenhados de ternura, fica sempre um 
        pedaço de mundo por contar… 
        Alice Pinho, Aveiro, 22-Dez.-2004 
         
        
        
          
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         Car@ Amig@: 
        Desejo um Natal de permanente sorriso e um 2005 cheio 
        de desejos e vontades encontradas. 
        Aceite uma prenda em forma deste, aparentemente 
        simples, poema de E. E. Cummings: 
        
        
          
          Arvorezinha 
          silenciosa arvorezinha de Natal 
          és tão pequena 
          pareces mais uma flor 
          quem te achou na floresta verde 
          de onde saíste com pena? 
          deixa... eu consolo-te 
          porque tens um doce aroma 
          beijo-te a tua casca fria 
          e afago-te 
          tal como uma mãe o faria 
          desde que não tenhas medo 
           
          repara nas decorações de Natal 
          elas dormem todo o ano 
          na escuridão de uma caixa 
          sonhando que serão tiradas dali 
          e as deixem brilhar 
          as bolas, as grinaldas em vermelho e ouro, 
          o fofo algodão 
          levanta os teus pequenos braços 
          e eu entrego-tas para que nelas segures 
          cada dedo deve ter o seu anel 
          e não haverá em ti um único espaço 
          escuro ou triste 
          depois, quando estiveres arranjada, 
          vou pôr-te à janela 
          para que toda a gente te veja 
          e como todos vão olhar para ti! 
          oh! como vais sentir-te vaidosa 
           
          então, eu e a minha irmãzinha, 
          vamos dar as mãos 
          olhando para cima 
          para a nossa linda árvore 
          e cantaremos e dançaremos: 
          “Natal, Natal” 
           
          E. E. Cummings (Trad. Teixeira Moita, 22/12/2004) 
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         Para quê Natal? 
            
        
          
          Já há luzes de Natal na cidade. 
          Parece que ainda ontem se apagaram, 
          Ao terminar a grande festividade. 
          Mas um ano inteiro, 
          Sorrateiro, 
          Já passou. 
          Sem darmos conta 
          Passou veloz.   
          E eu que fiz? 
          O que fizemos nós 
          Para espalhar no mundo 
          O amor, a paz? 
          Vivemos na abundância, 
          No bem-estar. 
          Vivemos no erro 
          Na injustiça. 
          Calámos... 
          Ninguém sequer 
          Ouviu a nossa voz. 
          Por entre o egoísmo, 
          O comodismo, 
          O consumismo, 
          Em que vivemos; 
          Por entre a fome, 
          A guerra, a solidão, 
          Sem O olharmos 
          Passa Jesus.   
          P'ra quê Natal 
          Com tanta luz, 
          Se é falso o brilho 
          Que nos seduz? 
          Se ao nosso lado 
          Em nosso irmão, 
          Morre Jesus?!... 
           
          Aida Viegas, 2004 
          
        
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