Sugestão de trabalho 18 (Parte II)
Na primeira
parte das sugestões de trabalho, as actividades incidiram na análise de textos
ligados à descrição de paisagens, de localidades ou de edifícios, ou seja, à
descrição topográfica e, no caso do texto acerca da Ria de Aveiro, à descrição
cronográfica. Nesta parte, as sugestões de trabalho vão essencialmente incidir
na criação pessoal de textos, para o que lhe serão propostos esquemas práticos
de trabalho, que poderá utilizar ou adaptar de acordo com os seus próprios objectivos.
São esquemas que visam fundamentalmente uma descrição de tipo objectivo e que
lhe permitirão ajudar a
descrever um
objecto, uma sala, uma casa ou um edifício, um monumento, uma localidade, uma
paisagem, etc.
As questões formuladas nos planos
deverão ser utilizadas por si tendo em conta o tema que vai desenvolver. Servem
apenas, repetimos, para o ajudar a organizar as suas ideias, facilitando-lhe
o trabalho. Em alguns casos, competir-lhe-á a si formular as
questões mais adequadas.
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QUADRO COM VOCABULÁRIO DESCRITIVO
─ PARTE I
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DISPO-
SIÇÃO
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disperso disseminado compacto glomerado amontoado sobreposto encastrado empilhado concentrado desordenado ao fundo à volta de à esquerda em frente à direita ao lado perto longe à distância atrás em primeiro plano mais
adiante ao longe em cima em baixo
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DIMEN-
SÃO
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fino
estreito
grosso largo grande pequeno minúsculo exíguo reduzido espesso volumoso amplo enorme gigantesco colossal
vasto imenso alto médio baixo profundo elevado longo desmesurado interminável indefinido
enorme exagerado extenso
curto infindável
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FORMA
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quadrado rectangular triangular poligonal arredondado circular regular irregular rectilíneo oval esférico cilíndrico piramidal cúbico plano vertical
horizontal oblíquo achatado oblongo amarrotado curvo ondulado serpenteante sinuoso côncavo convexo abaulado
proeminente saído raiado
estriado com veios marmóreo
liso rugoso anguloso uniforme
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COR
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claro
escuro eve carregado deslavado esbatido matizado discreto
berrante multicolor bariolado policromo pigmentado tingido garrido suave mesclado
florescente
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BRILHO
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brilhante faiscante rutilante
polido luminoso ofuscante
deslumbrante estonteante vidrado
vítreo baço mate fraco polido apagado cintilante
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Figura
59: Vocabulário
usado normalmente em textos descritivos (1ª parte).
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QUADRO COM VOCABULÁRIO DESCRITIVO
- PARTE II
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ESTADO
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fresco novo
robusto intacto sólido
líquido gasoso atrasado
velho envelhecido desconjuntado partido
desfeito carunchoso gasto deteriorado avariado arrasado impecável
perfeito imperfeito defeituoso
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SOM
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suave agradável
irritante forte fraco estridente grave agudo alto baixo harmonioso ritmado
murmurante rumorejante ensurdecedor metálico melodioso ruidoso barulhento
cristalino rouco cavo cantante medonho horripilante calmante repousante relaxante gritante distante próximo gaguejante plangente retumbante ribombante estonteante
esfuziante
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CON-
TACTO
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liso aveludado acetinado sedoso agradável
desagradável rugoso áspero
peludo felpudo pegajoso
escorregadio macio frio
cálido morno gélido
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CONSIS-
TÊNCIA
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sólido líquido viscoso espesso fluido aglutinante
cremoso pastoso gelatinoso
flácido duro mole
molengão consistente
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ODOR
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aromático perfumado
cheiroso estonteante pesado
acre capitoso agradável
excitante calmante nauseabundo
agoniante execrável fétido
pestilento fedorento
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GOSTO
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agradável
desagradável doce adocicado azedo amargo picante apimentado avinagrado saboroso gostoso salgado agridoce ácido acidulado ensosso
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Figura 60: Vocabulário
usado normalmente em textos descritivos (2ª parte).
Deverá também escolher e seguir as
alíneas em função daquilo que pretende fazer, o que significa que a ordem não
tem obrigatoriamente de
ser aquela em que
lhe são sugeridas, muito embora a sua ordenação tenha sido feita segundo uma
sequência lógica.
Para a realização dos trabalhos, há
todo um conjunto de vocabulário próprio das descrições. Os quadros das figuras
59 e 60 apresentam alguns exemplos, que poderá utilizar e que deverá mesmo
procurar completar com outros vocábulos. Para o efeito, cada quadro apresenta
uma zona em branco, onde os poderá acrescentar.
Uma
localidade: aldeia, cidade, rua, etc.
Efectue a descrição de uma localidade ─ aldeia, vila
ou cidade ─ ao seu gosto ou de um aspecto dessa localidade que tenha merecido a
sua atenção. Para sua ajuda, poderá recorrer ao plano de desenvolvimento que lhe
é sugerido. As questões formuladas servem apenas para o ajudar a reflectir sobre
os diferentes aspectos. Antes de iniciar o seu trabalho, releia o texto de Júlio
Dinis e recorde a estrutura seguida por ele na descrição da cidade do Porto.
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I - INTRODUÇÃO
a) Situação.
b) Razões da escolha Vivi lá? Quando?
Quanto tempo? Ainda lá vivo? Quando é que deixei de lá viver? Quando é que a
visitei? Em que circunstâncias lá fui? Que motivos me levaram a ir (ou a
passar) por lá? Que motivos me levaram a
falar de...?
II - DESENVOLVIMENTO
a) Aspecto
geral Qual o aspecto geral? Qual a sua extensão? Qual a sua forma? Quais as
suas dimensões? De que maneira os elementos (casas, objectos, seres, etc.)
estão agrupados? Existem muitos? Poucos? Ordenados? Desordenados?
b) Carácter da povoação
(casa; construção; etc.) É antiga? Recente? (Indicar datas, caso se saiba ou
se possam arranjar elementos) É reconstruída? Tem interesse? (Histórico?
Turístico? Cultural? Mera curiosidade?) Porquê?
c) As
ruas São estreitas?
Largas? Rectilíneas? Às curvas? Bem pavimentadas? Como? Bastante
frequentadas? Em que ocasiões? Muito/pouco movimento? Em que altura?
d) As
casas São
características? (típicas? antigas? modernas? etc.) Qual o tipo de casa
predominante? Qual o material de construção predominante? Qual/quais o(s) edifício(s) mais importante(s)? Porquê?
e) Os
monumentos Quais são? Quais
os mais importantes? Que evocam? Quais as suas características? etc.
f) Os
ruídos Fábricas? Comboios?
Outros? Quais? Naturais? De pessoas? De animais? Agradáveis/desagradáveis?
Que impressões geram em quem os ouve?
g) Os
odores Agradáveis?
Desagradáveis? Suas proveniências?
h) Aspectos
cromáticos Que cores
predominam? Que sensações provocam? Etc.
i) Outros
aspectos que acho com interesse.
III - CONCLUSÃO
Gosto
(gostava/gostei) do elemento que descrevi? Porquê? Gostaria (ou não) de lá
viver? Gostaria de viver noutro local em vez deste? Porquê? O que penso de...
comparando com outro/a ... conhecido/a?
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Nota:
Sempre que possível, ilustrar o trabalho com imagens,
desenhos, fotos, etc.
Um objecto
Certo dia, ao passear nas ruas de
certa cidade, viu na
montra de um antiquário um objecto exótico, que atraiu irresistivelmente a sua
atenção. Além do facto de desconhecer a sua função, fez-lhe evocar outros
objectos que, em tempos idos, possuiu. Entrou no antiquário e analisou-o
nos seus mais ínfimos aspectos. Imagine que se encontrou perante uma situação
destas ou que tem de efectuar a descrição de
determinado objecto. Descreva-o,
então, procurando dar dele uma ideia rigorosa. Para sua ajuda, poderá utilizar
o plano que a seguir lhe é sugerido.
I - INTRODUÇÃO
a) - Onde se encontra o objecto que vou
descrever;
b) - Quando e em que circunstâncias o
encontrei.
II - DESENVOLVIMENTO
a) Aspecto Qual o aspecto, a forma e as
dimensões?
b) Material de que é
feito
c) Antiguidade É um objecto recente? É antigo?
Pertence a uma época determinada? Qual?
d) A função É um objecto
útil? Tem valor? É meramente decorativo? Para que serve?
e) O estilo Tem algum estilo
particular? Qual?
f) Elementos de que se compõe Descrição
pormenorizada dos diferentes aspectos
III - CONCLUSÃO
O objecto tem
valor para mim? Qual? Apenas monetário? Sentimental? Porquê? Gosto (ou gostaria) de o possuir? Porquê?
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Como exemplo de descrição de
um objecto, leia o
pequeno texto, extraído da obra de Eça de Queirós, Os Maias, cap. XIII:
─ ... Olhe o
armário, veja que centro!
Que beleza! Enchendo quase a parede
do fundo, o famoso armário, o «móvel divino» do Craft, obra de talha do tempo
da Liga Hanseática, luxuoso e sombrio, tinha uma majestade arquitectural: na
base quatro guerreiros, armados como Marte, flanqueavam as portas,
mostrando cada um em baixo-relevo o assalto de uma cidade ou as tendas de
um acampamento; a peça superior era guardada aos quatro cantos
pelos quatro evangelistas, João, Marcos, Lucas e Mateus, imagens rígidas,
envolvidas nessas roupagens violentas que um vento de profecia parece agitar;
depois, na cornija, erguia-se um troféu agrícola com molhos de
espigas, foices, cachos de uvas e rabiças de arados; e, à sombra destas
coisas de labor e fartura, dois faunos, recostados em simetria,
indiferentes aos heróis e aos santos, tocavam, num desafio bucólico, a frauta
de quatro tubos.
Um
edifício / uma casa
Antes
de efectuar a descrição de um edifício ou de uma casa que considere
merecer o seu trabalho, quer pela antiguidade ou estilo, quer pela sua
estrutura e características invulgares ou, muito simplesmente, pelo valor
sentimental que tem para si, releia os textos transcritos, respectivamente de
Eça de Queirós, em que ele descreve o Ramalhete, e de Júlio Dinis, em que se
descreve uma agradável vivenda no Minho. Se os planos seguidos por estes
autores não se adequarem ao que pretende, utilize ou adapte o esquema que a
seguir lhe é apresentado.
I - INTRODUÇÃO
a)Situação Onde fica? É a minha casa? Onde a
vi? Quais as circunstâncias que me permitiram conhecê-la?
II - DESENVOLVIMENTO
a) Aspecto geral Trata-se de um
edifício? Um pavilhão? Um palacete? Uma moradia?...
Qual o seu enquadramento? Quais as dimensões?
b) Estilo Apresenta um
estilo particular? Trata-se de um edifício moderno? Construção
tradicional? Casa típica de aldeia? Como é a chaminé? O telhado? etc.
c) Os materiais Qual o tipo de
material utilizado na construção? É característico da região? Como são as
paredes? E a cobertura do telhado?
d) Diferentes partes da casa
─ A planta Descrição das
diferentes partes da casa, seguindo uma ordem rigorosa e insistindo sobretudo
no que é característico. Recorde o plano seguido por Eça de Queirós, em texto
anteriormente transcrito. O pátio de entrada; o rés do chão;
a sua estrutura; os compartimentos e sua descrição; o primeiro andar; os
compartimentos e sua descrição; etc.
e) O
jardim Situação;
características e funções; etc.
III - CONCLUSÃO
a) Observações pessoais O que penso
desta casa: quais os sentimentos que desperta em mim? Estou-lhe ligado
sentimentalmente? Gostaria de aí viver? Porquê? Que alterações lhe
introduziria? etc.
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Um
compartimento
Embora
ligado à descrição de
um edifício ou de uma casa, apresenta um
aspecto mais particularizado, constituindo como que um complemento ao plano
anterior, pelo que poderá tornar-se vantajosa a utilização de um plano no
estilo do sugerido. Por vezes, numa casa, que poderá ser a nossa ou outra
qualquer onde já tenhamos ido ou estado, há uma sala onde gostámos de entrar,
onde gostaríamos de passar parte do nosso tempo. E quem diz uma sala, diz uma
loja, um escritório, uma oficina, um café, etc.
Descreva, pois, uma sala, uma loja,
uma oficina ou um lugar do género à sua escolha. Poderá utilizar o esquema a seguir
proposto ou, a partir deste, criar um mais adequado ao tipo de descrição que
vai fazer.
I - INTRODUÇÃO
a) Situação Onde fica este
compartimento/sala/oficina, etc? Para que serve? Que motivo me levou a
escolhê-lo?
II - DESENVOLVIMENTO
a) Aspecto geral Qual a impressão
produzida? Agradável? Desagradável? Quente? Frio? Gélido? Bem iluminado? Mal
iluminado? Confortável? etc.
b) Mobiliário e sua disposição (à esquerda...
ao centro... à direita... no meio... num extremo... no outro... ao fundo... à
volta... etc.)
c) O estilo Indicar o que é
característico
d) Sensações transmitidas Quais os sons? Quais os odores?
e) O que se vê através da janela
III - CONCLUSÃO
a) O que sinto/penso Gosto deste
compartimento? sala? etc.
Gosto de aqui vir? Gosto de aqui permanecer? Porquê?
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Um monumento
Quando se fala de monumento, a
descrição poderá ir
desde uma obra de arte com dimensões relativamente reduzidas, como uma estátua,
por exemplo, até uma edificação de grandes dimensões, tal como um castelo, um
forte, um mosteiro, uma igreja, ou seja, uma edificação arquitectónica. Neste
caso, aquele que descreve deverá ter uma noção exacta do tipo de edificação,
bem como do vocabulário relacionado com a sua arquitectura. Para aquisição
desse vocabulário, poderá servir como ponto de partida a consulta de um
dicionário enciclopédico e, para um trabalho mais profundo, a consulta de obra
específica sobre arte.
Recorrendo a um monumento que
conheça, na sua localidade, ou a uma imagem, postal ou fotografia, efectue a
sua descrição. Se desejar, poderá utilizar um esquema idêntico ao que a seguir
lhe é sugerido.
I - INTRODUÇÃO
a)Breve apresentação Onde fica? Onde o
vi? Em que circunstâncias?
II - DESENVOLVIMENTO
a) Aspecto Proporções: grande? pequeno? alto? Qual o estado de
conservação? Qual o plano? (Veja os quadros das figura 20 e 21. Deverá, caso
isso seja possível, dar uma ideia exacta das dimensões)
b) O estilo Qual a época de
construção? Quem foi o autor? Qual o estilo? (Para determinar o estilo,
deverá recorrer a uma enciclopédia ou livro de arte.)
c)Os materiais De que é feito?
Qual o material de construção predominante? É característico da região?
d) As
diferentes partes Descrevê-lo em pormenor,
segundo uma sequência lógica e acentuando sobretudo o que é característico.
Utilizar terminologia adequada.
e) Funções Para que servia/serve? Ainda é utilizado? Por que motivo foi
construído?
III - CONCLUSÃO
a)O que penso
ou sinto Indicar as impressões
produzidas, algumas reflexões pessoais sobre ele
─ um juízo
crítico: agrada-me? Porquê? Considero-o importante? Porquê? Qual
o estado de conservação? Deverá ser preservado? Porquê? Qual a opinião
pública acerca dele? Concordo com
ela? Justificar.
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Uma paisagem
Antes de efectuar a
descrição de uma paisagem que conheça
bem ou que tenha perante si, recorrendo à sua observação no próprio local ou
através de uma gravura (pintura, fotografia, postal, etc.), leia os textos
anteriormente apresentados, em especial o de Garrett, no qual se descreve o
vale de Santarém, e os textos 3 e 4, nas sugestões de trabalho - parte I.
Poder-lhe-á ser útil o vocabulário presente nos quadros das figuras 59 e 60 (páginas 155-156), relativamente à disposição, à cor, ao brilho, ao som
e ao odor.
Siga uma ordem lógica de acordo com
as indicações fornecidas na rubrica "condições prévias para a elaboração
de uma descrição".
Poderá
utilizar a proposta de plano a seguir apresentada.
I - NTRODUÇÃO
a) Apresentação Em que circunstâncias a
observei? É uma paisagem familiar? Onde a vi? Quando? Em que época? (estação)
do ano? Em que momento do dia? Ao amanhecer? Em pleno dia? Ao entardecer? Num
momento de tempestade? Etc.
II - DESENVOLVIMENTO
a) O que vejo Impressão geral: o
relevo; as formas; a vegetação; as cores; o céu; marcas da presença humana:
culturas, quintas, povoações, construções (indicar aquilo que é marcante e a
impressão em nós produzida).
b) O que ouço
Intensidade dos ruídos; suas características;
citar os mais marcantes
─ ruídos da
natureza: água que corre; os sons das aves ou dos insectos; sons humanos;
etc.
c) O que sinto Odores
que chegam até nós e sensação produzida: prazer, calma, angústia; mal-estar; etc; respectiva justificação.
III - CONCLUSÃO
a) O que penso
da paisagem Gosto dela?
Porquê? Gosto de lá estar? Gostaria de lá permanecer? Porquê Se me desagrada,
quais os motivos? O que preferiria então?
Como gostaria que ela
fosse?
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Certo dia, o escritor e moralista
francês Jean de La
Bruyère
(1645-1696)
afirmou: «Há lugares que admiramos, há outros que
nos tocam mais profundamente e onde gostaríamos de viver». Descreva um
lugar que admire ao qual esteja sentimentalmente ligado.
Descrição
técnica
Casos há em que temos necessidade de descrever com o máximo rigor
um objecto, de modo a dar ao leitor uma ideia exacta, rigorosa, não só sobre as
suas características, mas inclusivamente acerca do seu modo de funcionamento.
Procure efectuar uma
descrição
rigorosa de um aparelho ou máquina (uma
aparelhagem de alta fidelidade, uma câmara de vídeo, um electrodoméstico, uma
máquina fotográfica, etc.), tendo o cuidado de indicar os seus constituintes e
de explicar o seu funcionamento, de maneira que qualquer pessoa, por muito
pouco conhecimento que possua dele, fique suficiente e claramente esclarecida
para dele se poder servir.
Eis um esquema possível de trabalho:
I - INTRODUÇÃO
a) Breve referência Para que serve
o/a aparelho/máquina; Qual o fabricante; Breve apreciação crítica
II - DESENVOLVIMENTO
a) Aspecto Qual o aspecto, a forma e as
dimensões. Materiais de que é feito.
b) Constituintes Elementos de que se
compõe
─ sua
descrição pormenorizada e respectivas funções (se relevantes)
c) Funcionamento Instruções claras,
precisas e sequenciais de modo que qualquer um, lendo-as, fique a saber
trabalhar minimamente com ele.
III - CONCLUSÃO
a) Breve síntese Síntese de tudo
quanto foi abordado e seja fundamental, de modo a permitir uma rápida revisão
e verificação das informações fornecidas.
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Lembre-se de que deverá usar
uma linguagem objectiva, um registo de língua corrente, se destinado a
utilizadores, técnico, se destinado a especialistas, e um discurso de terceira
pessoa. Utilize de preferência frases curtas e completas. Poderá ter de
recorrer por vezes à metalinguagem. O esquema acima transcrito poderá mesmo nem
ser o mais adequado, se pensarmos no caso em que se torna necessário fornecer a
potenciais compradores as instruções acerca do funcionamento de um aparelho.
Numa situação destas, a descrição ficará reduzida a pequenos textos, em
linguagem clara e objectiva, introduzidos por um pequeno título, e apresentados
segundo uma determinada sequência, constituindo no seu conjunto um pequeno
livro de instruções. Estes textos deverão ser completados com imagens ou esquemas
explicativos do aparelho.
Sugestão
de trabalho
19 (Parte III)
Os textos que a seguir se transcrevem estão
relacionados com a descrição de seres vivos, humanos, animais ou vegetais. Leia-os atentamente e procure, em seguida,
responder às questões formuladas.
Texto 6:
À ruidosa exclamação com que José
Urbano saudou a cavalgada, rompeu desta um coro unânime de brados, que em uns
desafiava o conhecimento que tinham do jovial negociante, e em outros o
estranho costume de jornada de que ele vinha revestido.
José Urbano montava uma égua
corpulenta, mas não de raça apurada. Um chapéu de palha de amplíssimas abas,
preso por uma fita por baixo da barba, um barrete preto subjacente que lhe
defendia as orelhas de um leste em perspectiva, que a sua ciência meteorológica
prognosticava iminente; óculos verdes, baluarte contra a invasão da poeira;
guarda-sol minhoto, com honras de barraca, mas o único que tem razão de
ser; um capote de camelão, verdadeiro epigrama ao sol da Primavera; galochas
capazes de arrostar com o dilúvio ao lado da arca; alforges repletos, uma
cabaça a tiracolo, diante de si uma trouxa e na garupa uma pequena mala; tal o
conjunto de acessórios que concorriam para o efeito prodigiosamente cómico do
recém-chegado.
JÚLIO
DINIS, Justiça
de Sua Majestade, ob. cit.
1 - Após a leitura atenta do
texto, distinga a parte correspondente à descrição.
2 - Classifique o tipo de
descrição recorrendo ao quadro da figura 20.
3 - Utilizando um lápis,
encerre dentro de um rectângulo os diferentes elementos referentes à
caracterização da personagem:
chapéu de palha
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barrete preto ...
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3.1 - Diga qual a sequência
seguida pelo Autor na caracterização da personagem.
4 - No pequeno parágrafo
correspondente à descrição, podemos afirmar que há três momentos distintos, que
poderemos fazer corresponder ao esquema: introdução, desenvolvimento e
conclusão;
4.1 - Delimite-os;
4.2 - Indique qual a sua função.
5 - Efectue o levantamento, a
três colunas, das seguintes classes gramaticais presentes no segundo parágrafo:
verbos; nomes; adjectivos.
5.1 - Contabilize-os de
modo a determinar a frequência de utilização destas três classes gramaticais;
5.2 - Verificou que há uma
classe predominante, uma que vem imediatamente a seguir e cujo valor numérico é
também elevado e uma que está em número reduzido. Explique o porquê destes
valores.
6 - Hoje em dia, quando
falamos da descrição de uma personagem, utilizamos preferentemente as
designações «retrato físico» e «retrato psicológico» em vez das indicadas no
quadro da figura 17.
6.1 - Classifique então o tipo
de retrato tendo em conta os aspectos predominantes;
6.2 - Verifique se, através dele, é
possível obter alguns elementos respeitantes ao aspecto psicológico da
personagem e registe-os.
Texto 7:
Não sei de maior dificuldade que a
de descrever
a heroína de um romance. Tão
pouca coisa basta para a desconceituarmos aos olhos da leitora!... Eu, porém,
sacrificarei à verdade algumas simpatias que poderia angariar a maior, se a
menosprezasse. Descrevo-a tal qual ela era. Em primeiro lugar, começarei
por dizer que o modo por que ela trajava realçava-lhe tudo que eram dotes
naturais.
Maria Clementina, sobrinha de José
Urbano, era de uma configuração elegante, na qual se observavam as regulares
proporções que a arte não teria decerto a corrigir. De um porte
desafectadamente majestoso, inexplicavelmente combinado a uma expressão de
bondade insinuante e atractiva, havia no andar, nas feições, na maneira de
olhar, um ar de dignidade e de nobreza, que intimidava os mais ousados. Um
singelo vestido de riscado escocês, adornado apenas por um colarinho liso, e
por uns punhos apertados por duas coralinas, deixava-lhe sobressair todo
o correcto contorno daquelas gentis formas femininas, de uma flexibilidade
admirável. No rosto não havia aquela combinação de rosas e neve, que para muita
gente constitui o supremo grau de beleza, e contudo não era trigueira, nem de
uma alvura desmaiada dos tipos alemães, que tão frequentemente se combinam com
cabelos ruivos, antipática combinação; mas para lhes dar uma ideia daquele
colorido encontro-me gravemente embaraçado; a natureza concedeu àquelas
tintas uma singular influência sobre a fantasia do coração, empregou-as
apenas em alguns rostos de mulher, que exercem então um poder verdadeiramente
magnetizador. Um romancista português, e outros franceses, comparou uma dessas
cores à da pérola; e tem um pouco disto efectivamente, mas excede-a
em beleza. Quanto a
mim considero-as as mais perigosas. Imaginem um rosto assim, animado pelo
cintilar de uns olhos negros, orlado por uma moldura de cabelos também pretos,
cujas ondulações naturais semelhavam elegantes ornatos; concebam a mais bem
modelada boca, cujos lábios, convenientemente grossos, agitava incessante um
mal perceptível tremor, sinal evidente de uma exaltada sensibilidade; suponham
agora toda esta simpática cabeça, graciosamente coberta por um largo chapéu de
palha, que a assombrava de uma penumbra de efeitos ópticos e fascinadores, e
terão explicada a razão pela qual o major não se fartava de fixar esta rapariga
com os mais inequívocos sinais de uma sincera admiração e decidida simpatia.
JÚLIO
DINIS, Justiça
de Sua Majestade, op. cit.
1 - Leia o texto anteriormente
transcrito e preste atenção às propostas de títulos que lhe são apresentadas:
A -
Retrato de Ricardina
B - Caricatura de Maria
Clementina
C -
Retrato de Maria Clementina
|
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D - Uma
figura cativante de mulher
E - Uma rapariga de sonho
F -
Uma figura cativante
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1.1 - Elimine aqueles que acha
que nunca poderão ser seleccionados e justifique;
1.2 - Dos restantes, seleccione
apenas três títulos de entre aqueles que considera mais significativos;
1.3 - Indique aquele que,
embora correcto, considera menos significativo. Justifique.
1.4 - Dos três seleccionados
qual escolheria? Justifique.
1.5 - Se nenhum dos títulos
indicados lhe agrada, proponha um que ache mais significativo e sugestivo.
2 - Efectue o levantamento dos
traços físicos e psicológicos de Maria Clementina.
3 - Procure determinar a
estratégia seguida pelo Autor na caracterização da figura feminina.
4 - Embora no texto predomine
o discurso de terceira pessoa, há nele um momento em que o narrador recorre ao
discurso de segunda pessoa:
4.1 - Identifique esse
momento:
4.2 - Diga qual a função da
linguagem que lhe está inerente;
4.3 - Que pretendeu ele?
5 - Com base no texto,
demonstre ou infirme a seguinte afirmação: «Júlio Dinis, ao escrever o conto,
procurou dar um retrato o mais exacto possível da heroína».
Texto 8:
AUTO-RETRATO
Magro,
de olhos azuis, carão moreno,
Bem
servido de pés, meão na altura,
Triste
de facha, o mesmo de figura,
Nariz
alto no meio, e não pequeno;
Incapaz
de assistir num só terreno,
Mais
propenso ao furor do que à ternura,
Bebendo
em níveas mãos por taça escura
De zelos
infernais letal veneno;
Devoto
incensador de mil deidades
(Digo,
de moças mil) num só momento,
E
somente no altar amando os frades;
Eis
Bocage, em quem luz algum talento;
Saíram
dele mesmo estas verdades
Num dia
em que se achou mais pachorrento.
BOCAGE, Opera Omnia
|
1 - Leia atentamente o soneto
de Bocage acima transcrito.
2 - Efectue o levantamento dos
traços caracterizadores, físicos e psicológicos.
3 - Determine a estrutura
utilizada pelo Autor na elaboração da sua autocaracterização.
Texto 9:
Pata-ao-Léu, o cachorro
com que me brindara o Sr. Chinoca, era-me solícito como um escudeiro. Ao
desandar a chave da fechadura, já o ouvia gemebundo de prazer, prestes a saltar-me
ao peito, num desaforo prolixo de saudades.
Tinha os cabelos pretos, a tez
morena, maciça, quase cómica pelo movediço e rasgado dos olhos, todo negro,
afora uma das patas que era branca de neve. Por isso era o parecer dele
pitoresco, figurando-se que trazia a mão enluvada, ou que de todo o corpo
trajado de beca somente a mão punha a nu.
As sombras das grandes alas desertas
não lhe causavam medo; espírito forte, só cria nas ratazanas, que sarabandeavam
pelos escanos do soalho, e nas aves nocturnas, que se esganiçavam nos forros.
Nos olhos e nos jeitos lia-se-lhe um sentimento muito materialista
por aquela mansão dolente, tão populosa em espectros.
AQUILINO
RIBEIRO
1 - Leia atentamente o pequeno
texto acima transcrito.
2 - Verifique como até de um
animal é possível elaborar um retrato, no qual, pelas suas características, que
revelam certa inteligência, sensibilidade e afabilidade, que o tornam
simpático, é possível apresentar, ao lado dos aspectos físicos, o aspecto
psicológico, tal como se se tratasse de um ser humano.
2.1 - Efectue o levantamento
desses aspectos: físicos e psicológicos;
2.2 - Identifique os traços
que poderiam ser inerentes a um ser humano.
Texto 10:
Quando Afonso da Maia, Vilaça e o
abade recolheram do seu passeio pela freguesia, escurecera, havia luzes pelas
salas, e tinham chegado já as Silveiras, senhoras ricas da Quinta da Lagoaça.
D. Ana Silveira, a solteira e mais
velha, passava pela talentosa da família, e era em pontos de doutrina e de
etiqueta uma grande autoridade
em
Resende. A viúva, D. Eugénia, limitava-se a ser uma
excelente e pachorrenta senhora, de agradável nutrição, trigueirota e
pestanuda; tinha dois filhos, a Teresinha, a «noiva» de Carlos, uma
rapariguinha magra e viva com cabelos negros como tinta, e o morgadinho, o
Eusebiozinho, uma maravilha muito falada naqueles sítios.
Quase desde o berço este notável
menino revelara um edificante amor por alfarrábios e por todas as coisas do
saber. Ainda gatinhava e já a sua alegria era estar a um canto, sobre uma
esteira, embrulhado num cobertor, folheando in-fólios, com o craniozinho
calvo de sábio curvado sobre as letras garrafais da boa doutrina; e depois de
crescidinho tinha tal propósito que permanecia horas imóvel numa cadeira, de
perninhas bambas, esfuracando o nariz: nunca apetecera um tambor ou uma arma:
mas cosiam-lhe cadernos de papel, onde o precoce letrado, entre o pasmo
da mamã e da titi, passava dias a traçar algarismos, com a linguazinha de fora.
Assim na família tinha a sua
carreira destinada: era rico, havia de ser primeiro bacharel, e depois
desembargador. Quando vinha a Santa Olávia, a tia Anica instalava-o logo
à mesa, ao pé do candeeiro, a admirar as pinturas de um enorme e rico volume,
Os Costumes de Todos os Povos do Universo. Já lá estava nessa noite, vestido
como sempre de escocês, com o plaid de flamejante xadrez vermelho e negro posto
a tiracolo e preso ao ombro por uma dragona; para que conservasse o ar nobre de
um Stuart, de um valoroso cavaleiro de Walter Scott, nunca lhe tiravam o boné
onde se arqueava com heroísmo uma rutilante pena de galo; e nada havia mais
melancólico que a sua facezinha trombuda, a que o excesso de lombrigas dava uma
moleza e uma amarelidão de manteiga, os seus olhinhos vagos e azulados, sem
pestanas como se a ciência lhas tivesse já consumido, pasmando com sisudez para
as camponesas da Sicília, e para os guerreiros ferozes de Montenegro apoiados a
escopetas, em píncaros de serranias.
EÇA DE
QUEIRÓS, Os Maias, cap. I
1 - Leia atentamente o texto
transcrito e dê-lhe um título sugestivo.
2 - Divida-o em partes e
estas, por sua vez, em momentos, sintetizando numa simples frase os respectivos
conteúdos (Nota: possivelmente, não
encontrará uma estrutura regular, com conclusão.)
3 - Defina o retrato físico e
psicológico de todos os elementos femininos da família Silveira.
3.1 - Que traços predominam?
4 - Efectue o levantamento dos
traços físicos e psicológicos de Eusebiozinho.
5 - Na caracterização da
personagem, o Autor recorreu ao uso dos diminutivos:
5.1 - Sublinhe-os a
lápis;
5.2 - Indique qual o seu valor
estilístico e semântico.
6 - Certamente que quando leu
o texto, se não riu, pelo menos sorriu perante a imagem que Eça de Queirós nos
deu de Eusebiozinho.
6.1 - Destaque os recursos
utilizados pelo Autor para obter esse efeito cómico;
6.2 - Diga se se poderá
considerar o retrato de Eusébio como uma caricatura. Justifique.
Texto 11:
(...) Um dia ela julgara perceber
que, por trás das suas lunetas escuras, o conselheiro lhe deitava de revés um
olhar apreciador para a abundância do seio; fora mais clara, mais urgente,
falara em paixão, disse-lhe baixo: Acácio!... Mas ele com um gesto gelou-a
─ e de pé,
grave:
─ Minha
senhora,
As neves que na fronte se acumulam
Terminaram por cair no coração...
É inútil, minha senhora! (...)
[O conselheiro] Era alto, magro,
vestido todo de preto, com o pescoço entalado num colarinho direito.
O rosto aguçado no queixo ia-se
alargando até à calva, vasta e polida, um pouco amolgada no alto; tingia os
cabelos que duma orelha à outra lhe faziam colar por trás da nuca
─ e aquele
preto lustroso dava, pelo contraste, mais brilho à calva; mas não tingia o
bigode; tinha-o grisalho, farto, caído aos cantos da boca. Era muito
pálido; nunca tirava as lunetas escuras. Tinha uma covinha no queixo, e as
orelhas grandes muito despegadas do crânio.
Fora, outrora, director-geral
do Ministério do Reino, e sempre que dizia
─ el-rei!
erguia-se um pouco na cadeira. Os seus gestos eram medidos, mesmo a tomar
rapé. Nunca usava palavras triviais; não dizia vomitar, fazia o gesto
indicativo e empregava restituir. Dizia sempre «o nosso Garrett, o nosso
Herculano». Citava muito. Era autor. E sem família, num terceiro andar da Rua
do Ferregial, amancebado com a criada, ocupava-se de economia política:
tinha composto os ELEMENTOS GENÉRICOS DA CIÊNCIA DA RIQUEZA E SUA DISTRIBUIÇÃO,
segundo os melhores autores e como subtítulo: Leituras do Serão! Havia apenas
meses publicara a RELAÇÃO DE TODOS OS MINISTROS DE ESTADO DESDE O GRANDE
MARQUÊS DE POMBAL ATÉ NOSSOS DIAS, COM DATAS CUIDADOSAMENTE AVERIGUADAS DE SEUS
NASCIMENTOS E ÓBITOS.
─ Já esteve
no Alentejo, Conselheiro?
─ perguntou-lhe
Luísa.
─ Nunca,
minha senhora
─ e curvou-se.
─ Nunca! E
tenho pena! sempre desejei lá ir, porque me dizem que as suas curiosidades são
de primeira ordem.
Tomou uma pitada duma caixa dourada,
entre os dedos, delicadamente, e acrescentou com pompa:
─ De resto,
país de grande riqueza suína!
EÇA DE
QUEIRÓS, O primo
Basílio, cap. II.
1 - Leia atentamente o texto
transcrito procurando demarcar a parte estritamente descritiva.
1.1 - Diga se considera
importante a parte restante do texto para a caracterização da personagem e
justifique.
2 - Efectue o levantamento dos
traços físicos e psicológicos da personagem.
3 - Ponha em destaque os
aspectos que nos permitem afirmar que estamos na presença de uma caricatura.
Sugestão de
trabalho
20 (Parte IV)
À semelhança da parte II das sugestões
de trabalho, deverá procurar redigir os seus próprios textos de acordo com o
tema pedido e utilizando ou adaptando as sugestões fornecidas. Na parte III
encontram‑se textos em que se faz o retrato ou a caricatura de
personagens. Se já não se recorda deles, releia‑os e procure colher
algumas sugestões de trabalho.
Uma planta
Descreva uma
planta que tenha
perante si e que, pela
sua beleza, merece a sua simpatia ou admiração. Poderá ser uma simples flor, um
ramo de flores, uma planta selvagem ou até mesmo uma árvore.
Poderá recorrer ao esquema a
seguir apresentado.
I ‑ INTRODUÇÃO
a) Apresentação Qual o nome? É
uma planta selvagem? Cultivada? Onde a vi? Onde pode ser encontrada? Em que
época?
II ‑ DESENVOLVIMENTO
a) Aspecto Qual a forma? As
dimensões? As cores predominantes?
b) Diferentes
partes Pôr em destaque
aquilo que é característico, tal como o tronco, as folhas, a forma, os
frutos, etc.
c) Os odores Sendo caso disso,
procurar indicá‑los.
d) Os
ruídos Havendo‑os, referir o
barulho das folhas, dos insectos, dos pássaros.
e) Impressões Trata‑se de uma planta
imponente? Vigorosa? Raquítica? Pequena? Bela? etc.
III ‑ CONCLUSÃO
a) Síntese Indicar apenas os
aspectos mais importantes.
b) Reflexão
pessoal Gosto desta planta?
Sim/não?
Porquê? Como a considero: útil? agradável? valiosa? etc. Porquê?
|
Um retrato
(físico/moral)
Efectue
o
retrato físico
e moral de uma pessoa sua conhecida,
familiar ou amigo, ou de uma pessoa que, pela sua importância para a comunidade
em que está inserida, considera como tendo algum valor e merecer a sua atenção.
Antes de efectuar o trabalho, procure observá‑la, registando os aspectos
físicos e psicológicos que considera mais importantes. Em caso de dificuldade
na realização do seu trabalho, releia os textos exemplificativos apresentados
na parte III das sugestões de trabalho, quer de Júlio Dinis, quer de Eça de
Queirós (textos 6, 7, 10 e 11).
Para sua ajuda, poderá utilizar o
esquema de trabalho a seguir indicado ou, a partir dele, criar o seu próprio
plano.
I ‑ INTRODUÇÃO
a) Apresentação Quem é? Onde a
conheceu, encontrou ou viu pela primeira vez? Por que razão decidiu falar
dela? Qual a sua importância para si ou para a comunidade?
II ‑ DESENVOLVIMENTO
a) Aspecto Apresentação geral.
Silhueta: alta; baixa; gorda; magra; morena; loira; bem/mal vestida; etc.
b) Diferentes partes do corpo (Não é
possível descrever tudo, pelo que apenas se deve reter o que é
característico. Deve‑se seguir uma
ordem pré‑estabelecida)
o rosto: como é?
(oval; arredondado; bochechudo; mirrado; chupado)
a cor da pele
os cabelos: (louros;
pretos; castanhos; brancos; ruivos; lisos; ondulados; sedosos; gordurosos;
raros; bastos; bem tratados; lavados; sujos; etc.)
a boca A forma; os
lábios; os dentes; etc.
o
tronco e os membros; etc.
c) Vestuário A forma.
Dentro da moda? Antiquado? Invulgar? Extravagante? Usado? O tecido. As cores.
O grau de limpeza. Os sapatos.
d) Atitudes e gestos A voz
(baixa, alta; cava; clara; rouca; agradável; melodiosa; irritante; etc.) Os
tiques (verbais/gestuais)
e) Hábitos
e ocupações
III ‑ CONCLUSÃO
a) Sentimentos produzidos em nós por essa
pessoa. Porquê.
b) Reflexões
várias sobre ela
|
NOTA: À medida que se efectua a descrição
física, poder‑se‑ão
apresentar aspectos que
revelem as características psicológicas, morais e sociais da pessoa retratada.
Lembremo‑nos que, frequentemente, os aspectos físicos constituem indícios
dos aspectos morais. Recordem‑se os textos apresentados como exemplo na
parte III.
Um animal
Recorde o pequeno texto
transcrito na parte III, no qual
se faz a
descrição de
um animal. Efectue
também a descrição de um animal à sua escolha, doméstico ou selvagem. Antes de
o descrever, procure observá‑lo bem, de modo a registar as suas
características e aspectos mais significativos. Utilize o esquema a seguir
proposto ou, a partir dele, elabore o seu próprio plano de trabalho.
I ‑ INTRODUÇÃO
a) Apresentação Que animal é?
Doméstico ou selvagem? Onde o encontrei ou vi? Que facto me levou a falar
dele?
II ‑ DESENVOLVIMENTO
a) Aspecto Pelagem/plumagem
Cor/cores Forma do corpo Tamanho
b) Diferentes
partes do corpo A cabeça, as
patas, etc. Referir o que é característico.
c) Habitat Onde vive: ninho;
toca; etc. Descrição (tão rigorosa quanto possível e se tiver interesse)
d) Hábitos
e atitudes Onde e como
dorme. Como procura alimento. De que se alimenta. Etc.
e) A
"voz"
Tipo de som que emite (indicar o nome, se existente:
latido; uivo; mio; etc.)
f) Características
comportamentais Qual o seu nível
de inteligência? Quais as suas reacções? Parece compreender o homem? É
afável? Esquivo? Gosta da companhia do homem? É afeiçoado ao dono, se
doméstico? Quais as suas qualidades e defeitos?
III ‑ CONCLUSÃO
a) Serviços
prestados
b) Sua
utilidade ou não e porquê
c) O
que pensamos/sentimos por ele
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