NÍVEIS OU REGISTOS DE
LÍNGUA
Vimos já que
na língua portuguesa se verificam diferenças a nível do espaço geográfico
─ as chamadas
variações
diatópicas[1]. Além destas
variações, que ocorrem de região para região ou até mesmo de continente para
continente, dissemos também que o saber linguístico varia de indivíduo para
indivíduo, de acordo com a sua formação cultural e com o meio em que está
inserido. A competência linguística de cada um de nós apresenta diferenças
resultantes do nível sócio-cultural em que estamos inseridos e da região
onde vivemos. No entanto, a nível individual, um mesmo sujeito falante pode
utilizar a língua que fala de múltiplas maneiras, de acordo com a situação de
comunicação em que se encontra.
À
adequação da língua às diferentes situações de comunicação dá-se
usualmente a designação de
níveis de
língua ou, como
outros linguistas preferem,
lregistos
de íngua[2],
tipos de
discurso ou, até
mesmo, a designação de
estilos[3].
Cada
sujeito falante tem em conta, na realização do acto de fala, um conjunto
de factores extra-linguísticos, que o levam a usar este ou aquele
vocábulo em vez de outro com o mesmo ou sentido afim, esta ou aquela construção
sintáctica, em vez de outra talvez até mais simples que lhe permitiria dizer
praticamente a mesma coisa. É a este conjunto de factores ou condições extra-linguísticas,
que condicionam a expressão do sujeito falante, que damos o nome de situação
ou situação de
comunicação.
Segundo René
Richterich, num trabalho
publicado em Le Français dans le Monde, nº 121, de Maio/Junho de
1976, intitulado Les
situations de
communication et les types de
discours (As situações
de comunicação e os tipos de discurso), a expressão do sujeito falante é
condicionada por diversos factores:
• a distância física entre o
emissor e o receptor: próxima ou afastada;
• a
identidade do receptor: o sexo, a idade, o estado civil, a profissão;
• o
grau de conhecimento ou de familiaridade entre emissor e receptor: conhecido ou
desconhecido; grande, reduzida ou nula intimidade;
• a
relação hierárquica: superior, igual ou inferior;
• o
local onde se estabelece a comunicação, que poderá condicionar os outros
factores: na igreja, no café, em casa, na rua, no emprego, numa cerimónia
pública, etc..
A
partir de um esquema proposto por Colette
Stourdzé, num artigo
intitulado Os
níveis de
Língua[4],
elaborámos o
quadro da figura 50, relativo aos níveis ou registos de língua, que passaremos
a analisar. Este quadro procura dar-nos uma ideia da globalidade da
língua, no plano diacrónico e sincrónico[5], embora seja
este último o que é posto em destaque e o que efectivamente tem para nós mais
interesse relativamente ao problema em estudo.
No plano
diacrónico, permite-nos
lembrar que, além da língua contemporânea, da língua actualmente utilizada por
todos os falantes de uma dada comunidade linguística, há todo um vasto
património linguístico criado e desenvolvido ao longo dos anos, desde as suas
origens mais remotas até ao seu estádio actual. Assim sendo, temos ao lado da língua
contemporânea a designada
língua clássica. A designação
normalmente utilizada poderá tornar-se ambígua, se nos lembrarmos da
evolução semântica sofrida pelo adjectivo "clássico" ao longo
dos séculos. No entanto, neste caso concreto, a expressão língua clássica
designará todo o vasto património escrito legado pelos nossos antepassados,
presente não apenas nos textos literários, mas também em todos os géneros de
textos produzidos e conservados até hoje. Através de todo esse vastíssimo
material escrito é possível conhecer toda a evolução sofrida por um idioma,
desde as suas formas arcaicas até ao momento actual. Estamos, pois, a englobar,
como é lógico, um período mais vasto do que aquele que normalmente é entendido
pelo vocábulo clássico. Abrangemos um período em que o idioma apresenta vocábulos
e estruturas diferentes das actuais. No entanto, não constitui um compartimento
estanque. Tal como sucede com os diferentes níveis de língua, não há
compartimentos estanques, tornando-se frequentemente bastante difícil
determinar o que pertence a um ou a outro nível. Além do mais, há influências
de uns nos outros, facto que procuramos pôr em destaque por meio das flechas,
cujo sentido tende em regra para uma aproximação do registo intermédio. Frequentemente,
encontramos em textos literários actuais reminiscências de textos clássicos,
tais como vocabulário arcaizante ou de feição clássica, com utilização de
palavras ou expressões próprias de épocas mais recuadas, correntes na Idade
Média, ou expressões e vocábulos da época clássica, com latinismos e grecismos
e estruturas de nítida feição clássica.
|
|
|
|
Figura
50: Quadro com os diferentes
níveis ou registos de língua. |
|
Relativamente
à língua contemporânea, o esquema apresenta-nos, nos extremos, a linguagem
regional e a linguagem
literária. Ao centro,
um conjunto de registos, normalmente comuns à grande maioria dos sujeitos
falantes, que vai desde o nível popular até ao nível cuidado. As linhas
oblíquas, apresentadas na parte inferior do esquema, indicam-nos o grau
de espontaneidade ou de reflexão no momento do acto de fala. A linha vertical
tracejada, no meio do esquema, separa-nos o domínio da oralidade do
domínio do escrito, o que não significa que não possamos ter textos orais em
nível cuidado ou a presença de outros níveis, próprios do domínio da oralidade,
em textos escritos. Convém não esquecer que, frequentemente, há interferências
de uns níveis nos outros. Os textos literários procuram reproduzir, através das
personagens do universo romanesco, os registos de língua correspondentes a
personagens populares ou a personagens de determinadas regiões, procurando
espelhar, da maneira o mais verosímil possível, o mundo real. A língua falada
é, em princípio, mais espontânea do que a escrita. Quanto mais elevado é o
nível de língua, maior é o grau de reflexão e, inversamente, menor a
espontaneidade; pelo contrário, à medida que vamos "descendo" no
nível de língua, maior o grau de espontaneidade e menor o de reflexão.
Explicado
o esquema, vejamos como definir cada um dos diferentes níveis de
língua[6]. Por
linguagem
corrente,
também
conhecida pelas expressões
linguagem
falada ou
linguagem
coloquial[7], entende-se
a «linguagem normalmente correcta entre pessoas da classe média dotadas de
certa instrução, quer adquirida directamente nos livros, quer assimilada pelo
convívio»[8] ou «toda a
forma linguística conhecida e usada habitual e frequentemente (...) nas
situações da vida em comum»[9]. Constitui,
portanto, o tipo de linguagem que permite a comunicação entre os sujeitos
falantes de uma comunidade linguística, independentemente do seu nível social e
cultural, constituindo aquela faixa de conhecimentos linguísticos comum a todos
os sujeitos falantes. Constitui o nível de língua que encontramos nos
diferentes meios de comunicação social, desde a imprensa à rádio e televisão. Permite
a compreensão pela grande maioria da comunidade de um país e situa-se num
nível intermédio, sem vocábulos ou estruturas próprias dos níveis imediatamente
contíguos, quer familiar, quer cuidado.
A
linguagem
familiar, que alguns
linguistas consideram como uma subdivisão da linguagem corrente, é mais
espontânea e instintiva, utilizando um vocabulário de cunho mais familiar, que
nunca utilizaríamos em certas situações, caracterizado por um reduzido rigor a
nível das estruturas sintácticas. Distingue-se do nível corrente pela
utilização de expressões que, «na linguagem corrente, repugnariam ao sentido
estético e à sensibilidade de certas camadas sociais.»(In PAIVA BOLÉO, Op. cit.,
pág. 272.) Caracteriza-se também por apresentar frequentemente
construções que ofendem as normas gramaticais. É uma língua «utilizada em
família, com os amigos, na intimidade, uma língua muito espontânea, pouco
reflectida, influenciada pela língua popular». É, no dizer de Colette
STOURDZÉ, uma «espécie
de língua popular "filtrada" graças a hábitos adquiridos pela
educação[10]».
A
linguagem
popular constitui o
registo próprio do povo iletrado, sobretudo das aldeias, caracterizando-se
pelo uso da língua infringindo as regras gramaticais, com reduzido rigor a
nível sintáctico e lexical, deturpando frequentemente as palavras. Com um grau
praticamente nulo de reflexão e um predomínio da espontaneidade e do instinto,
a lei do menor esforço faz com que as palavras sofram frequentes fenómenos de
transformação fonética, com a troca de sílabas, a elisão ou o acrescentamento
de fonemas alterando os vocábulos («a gente semos todos munto amigos da
nossa terra», «o ti Manel Melro azubiava quando lebaba o carro de bois;
bai daí puseram-lhe o nome de ti Melro»), a troca do v pelo b, etc.. É
normal encontrarmos na linguagem popular expressões com carácter proverbial e
recurso a comparações bastante sugestivas.
É
frequente a confusão entre a linguagem
popular e a linguagem
regional. Embora por
vezes se torne difícil demarcar limites entre uma e outra, a verdade é que a
linguagem
regional é a linguagem utilizada por todo o conjunto de pessoas de uma
determinada região com características linguísticas homogéneas. Podemos dizer
que a linguagem regional constitui aquilo que habitualmente designamos por
falares ou, como
outros pretendem, dialectos. Convirá a este respeito notar que determinados
fenómenos fonéticos, como por exemplo o caso da troca do v pelo b,
não se podem considerar no momento actual como marcas da linguagem popular, mas
antes como traços regionais, influenciando todas as pessoas de uma determinada
região, independentemente do seu grau de cultura. A título de exemplo, lembremo-nos
da pronúncia da fricativa s, na região de Viseu, ou da pronúncia de uma
vasta zona, na região do Porto.
No
lado oposto ao da linguagem popular, encontramos a
linguagem
cuidada. É um nível
de língua que se caracteriza por uma maior reflexão e rigor no uso das
estruturas gramaticais e do vocabulário. Podendo ocorrer quer no domínio da
oralidade, quer do escrito, é o nível adequado a determinadas situações de
comunicação como, por exemplo, a uma aula, a um discurso, a uma conferência, a
um artigo cultural publicado num livro ou numa revista ou jornal, etc.. Tal
como acontece relativamente às linguagens popular e regional, não deveremos
confundir a linguagem cuidada, seja ela escrita ou oral, com a linguagem
literária, na medida em que nesta última, como já referimos, existem
preocupações de natureza artística, estética, além de que, numa obra literária,
podem estar patentes diversos registos de língua.
No sector da
linguagem popular, indicámos a
gíria e o
calão, do mesmo
modo que no da linguagem cuidada indicámos as
linguagens
técnicas. Embora
passível de crítica, parece-nos que, dentro do esquema apresentado no
quadro da figura 50, a localização destes três tipos de linguagem será talvez a
mais correcta. Estes três tipos podem ser englobados dentro da designação mais
ampla de
linguagens
especiais, embora se
encontrem em campos diametralmente opostos.
Segundo
alguns linguistas, as gírias incluem o
calão e habitualmente confundem-se, chegando-se mesmo a considerar
gíria e calão como vocábulos sinónimos. Mas, de uma maneira geral, o segundo
termo tem uma carga negativa que o primeiro pode não ter[11].
Entre
certos grupos profissionais, geralmente em classes profissionais à margem da
lei, como entre ladrões, contrabandistas, seitas secretas, é criada pelos seus
membros uma espécie de linguagem secreta, elaborada a partir do vocabulário
corrente, mas de difícil compreensão por quem esteja fora do grupo. Deste modo,
é criado um sistema de comunicação restrito, só compreendido pelos elementos do
grupo, que o mantém ao abrigo de ouvidos indiscretos. Trata-se da chamada
gíria, de que
existem (ou existiram) alguns exemplos com características bastante peculiares.
Na região fronteiriça do Sabugal (distrito da
Guarda), mais precisamente na aldeia de Quadrazais, entre a serra da
Malcata e a fronteira
com Espanha, era ainda há poucas décadas atrás utilizada, entre os homens da
povoação que se dedicavam ao contrabando, uma gíria de dificílima compreensão,
da qual chegou até nós um reduzido excerto, transcrito por Nuno de Montemor no
romance
Maria Mim[12]: «Amatriz meia choina
maquinamos
tótios
Retra
Francha. De galhal leva cada
cinquenta chulos, artife, chaira, fugantes e baril
chingato para andante».
Nem
sempre as gírias surgem entre
grupos que se dedicam a negócios ilícitos. São também frequentemente utilizadas
por vendedores ou profissionais ambulantes, quando querem manter a comunicação
entre si sem o perigo de serem entendidos por concorrentes ou por quem não deva
estar ao corrente dos negócios.
O
calão, embora seja
por alguns linguistas considerado como uma forma mais típica da gíria, é
considerado por outros como uma variante da língua
equivalente ao que, na língua
francesa, se designa por «argot
populaire»[13]. O
calão consistirá
numa linguagem que poderemos situar num nível mais baixo que a gíria,
susceptível de chocar ouvintes mais sensíveis. Torna-se, no entanto,
bastante difícil precisar com rigor absoluto as diferenças entre gíria e calão,
podendo mesmo existir entre as pessoas grandes diferenças na maneira de
encararem estes dois conceitos. A delimitação entre gíria e calão torna-se
portanto bastante difícil e subjectiva, muito embora nos inclinemos para a
maneira de encarar estes dois conceitos proposta por Paiva Boléo, o que tem,
além do mais, a grande vantagem de facilitar a destrinça entre os dois
conceitos. De qualquer modo, independentemente da maneira como os consideremos,
a verdade é que uma e outra se distanciam bastante do nível corrente. Situam-se
numa faixa de nível popular e são decorrentes de uma necessidade de se tornarem
de difícil compreensão a quem não esteja integrado no grupo ou de transmitirem
novas cargas expressivas, diferentes da linguagem corrente, como ocorre por
vezes entre certos grupos de jovens.
No
extremo oposto e ligado a actividades profissionais específicas, de cariz
técnico e científico, podendo também apresentar certo grau de dificuldade de
compreensão, encontram-se as
linguagens
técnicas e científicas. O limite
entre estas linguagens e a linguagem comum é muito impreciso e variável de
acordo com a formação individual. Seja como for, situar-se-ão
dentro de um campo culturalmente elevado, donde a sua situação no esquema do
quadro da figura 11. Apresentam, tal como nos é indicado por Charles Bally, um
«conjunto de termos estranhos à língua comum», permitindo distinguir os
factos ou as coisas de um modo «impessoal e objectivo, com exactidão e
precisão»[14]. É o tipo de
linguagem que encontramos, por exemplo, a nível da medicina, da electrónica, da
informática, da astronáutica, da biologia e de tantos outros domínios das
modernas ciências.
Apesar de, em
nota anterior, termos afirmado que não abordaríamos
aqui a
linguagem
literária, já que será
necessária uma reflexão mais profunda sobre o assunto, convirá desde já referir
que, embora incluída no esquema do quadro da figura 50, não a podemos
considerar verdadeiramente como um nível de língua. A linguagem literária
constitui um domínio específico da língua, uma área da expressão artística, que
transcende a escrita corrente. Caracteriza-se pelo seu apragmatismo, na
medida em que a literatura pode recriar qualquer tipo de linguagem. Podendo
recriar todas as situações da vida real, podemos encontrar num texto literário
qualquer registo de língua, desde o mais "baixo" até ao mais
"elevado", desde a linguagem mais prosaica, mais coloquial, até ao
domínio da reflexão e da efusão lírica. Recorde-se, a este propósito,
aquilo que nos diz Nelly Novaes
Coelho, no texto
anteriormente transcrito em nota.
Concluindo
estas breves reflexões acerca dos níveis de
língua, convirá
chamar a atenção para o erro frequentemente cometido, resultante de um
desfasamento entre o nível utilizado e aquele que deveria estar efectivamente
presente. Se nos encontramos perante a necessidade de produzir um texto escrito
que, pelos objectivos que lhe estão inerentes, exige uma linguagem entre o
corrente e o cuidado, e nele utilizamos um nível familiar ou, mais grave ainda,
um nível popular, estaremos a incorrer em erro grave. Igualmente grave será,
como é lógico, a presença de desvios às normas gramaticais ou às normas
relativas à pontuação. Assim, por exemplo, num teste, numa prova de frequência
ou de exame, numa resposta a um pedido de emprego, num currículo, num relatório
de empresa, num comunicado ou ofício, em suma, em várias situações de
comunicação similares, o nível de língua utilizado terá de ser devidamente
adequado e quem produz o enunciado deverá ter uma noção correcta dos níveis de
língua e da sua adequação aos objectivos em vista. Há, no entanto, casos em que o sujeito falante poderá intencionalmente passar de um
nível para outro sem que isso possa ser considerado como erro. Há situações em
que essa mudança intencional poderá permitir um enunciado ou uma resposta mais
agradável e com novas cargas e capacidades expressivas. Acerca deste problema
da interferência
de níveis em situações
de comunicação, bem como da necessidade de uma correcta adequação do nível
utilizado, convirá efectuar a leitura dos excertos que se transcrevem em nota,
extraídos de uma colecção de textos pré-universitários sobre Língua
Portuguesa[15].
|
|
|
|
Figura
51: Quadro com outra proposta de
níveis de língua[16]. |
|
Para
encerrarmos todo o conjunto de noções relacionadas com a matéria que acabámos
de analisar, apresentamos o quadro da figura 51, que constitui uma outra
maneira de representar os níveis de língua. Esse quadro é uma representação
esquemática de uma proposta elaborada por João David
Pinto Correia[16] acerca das
diferenciações verificadas na língua portuguesa. Após referir as diferenciações
que podem ocorrer a nível territorial, as variações
diatópicas (língua-padrão, dialectos e falares), a nível
sócio-cultural, as variações
diastráticas (linguagem
descuidada popular, linguagem
cuidada vulgar e cuidada
culta ou cerimoniosa) e a nível estilístico (estilos prático-vulgar, de
uso prático e de uso estético) propõe e submete à apreciação do leitor um
esquema simples de classificação
dos níveis de língua. Embora
discutível, é mais uma proposta de classificação a juntar a tudo quanto
apresentámos, com a vantagem de possuir um carácter bastante prático e ser de
fácil leitura. Atendendo às duas formas de realização da língua, os níveis são
classificados segundo a sua forma de registo
─ oral e
escrito
─ e subdivididos em prático e estético. O nível
oral prático é caracterizado, segundo o Autor, pela sua espontaneidade e emprego
de vocábulos próximos do calão familiar, da gíria, etc., sendo muito expressivo
e característico, por exemplo, da conversação quotidiana.
Sugestão de
trabalho 14
Apresentamos,
a seguir, uma sequência
de 12 textos, que documentam os diferentes níveis de língua. Leia-os
atentamente e procure determinar quais os níveis de língua neles presentes,
tendo o cuidado de justificar a sua opção e de destacar dos textos as marcas
linguísticas que o levaram a atribuir esses níveis.
Texto 1
Marchas populares terminaram em desordem
Centenas
de pessoas envolveram-se em desordem, ontem de madrugada, em Setúbal,
após a divulgação das classificações do concurso das Marchas Populares/90.
Cerca
de 30 mil pessoas, que entraram gratuitamente no Estádio do Bonfim, assistiram,
desde sexta-feira à noite, ao desfile final das doze marchas populares de
Setúbal, que haviam já desfilado nos dias 22 e 23 na praça de touros. Divulgada
a classificação, foi declarada como vencedora a marcha do Núcleo Recreativo e
Cultural "Ídolos da Praça", ficando em segundo lugar a marcha do
Bairro Santos Nicolau, precisamente a mesma classificação que aquelas marchas
receberam no ano passado. Após o conhecimento destes resultados, elementos de
outras marchas envolveram-se em disputas físicas e verbais com os
elementos das duas marchas vencedoras, o que provocou a entrada no recinto de
elementos da PSP, que fizeram segurança aos autarcas e aos elementos do júri.
Os protestos
contra a classificação foram prolongados e, devido a síncope cardíaca, um
indivíduo teve de ser transportado para o Hospital de Setúbal, onde foi
assistido.
O
Presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Mata Cáceres, disse que
"foram atitudes lamentáveis mas normais num concurso. Estou convicto de
que os ânimos vão serenar e que a cidade já ganhou com a participação das
pessoas".
Por sua vez, a
vereadora Paula Costa, do pelouro de Turismo, que organizou o concurso, disse
que "o júri está acima de qualquer suspeita e o facto de serem as mesmas marchas
que venceram em 1989 é pura coincidência". O presidente do júri, Libório
Gonçalves, afirmou que a classificação foi dada em consciência.
In:
O PRIMEIRO DE JANEIRO, 1 de Julho de 1990, p. 10
Texto 2
Morreu o escritor Irving Wallace
O
escritor Irving Wallace, 74 anos, um dos mais lidos em todo o mundo, morreu
sexta-feira (dia 29) numa clínica de Los Angeles, vítima de cancro no
pâncreas, disse uma fonte do hospital.
Wallace
era um dos cinco autores contemporâneos mais lidos do mundo, segundo a revista
"Saturday". Escreveu 35 livros, muitos dos quais foram adaptados ao cinema.
Entre
as suas obras mais conhecidas, destacam-se "O Prémio","As Três Sereias" e "O Milagre". Segundo
o seu agente, Frank Liebermann, Wallace começou a sofrer de cancro pancreático
há seis meses, tendo sido hospitalizado quarta-feira.
A
mulher, Sílvia, o filho, David, e a filha, Amy, estavam junto dele quando
morreu.
Wallace
era amigo do antigo presidente Ronald Reagan, que conheceu quando ambos estavam
no exército, durante a II Guerra Mundial.
In:
O PRIMEIRO DE JANEIRO, 1 de Julho de 1990, pág. 20
Texto 3
Exmo
Senhor[17]:
Acabo
de ler um escrito de V. Exª., onde, a propósito de faltas de bom senso e de bom
gosto, se fala com áspera censura da chamada escola literária de Coimbra, e
entre dois nomes ilustres se cita o meu, quase desconhecido e sobretudo
desambicioso.
Esta minha
obscuridade faz com que a parte que me cabe seja sobremaneira diminuta; enquanto
que, por outro lado, a minha despreocupação de fama literária, os meus hábitos
de espírito e o meu modo de vida, me tornam essa mesma pequena parte que me
resta tão indiferente, que é como que se a nada a reduzíssemos.
Estas
circunstâncias pareceriam suficientes para me imporem um silêncio, ou modesto
ou desdenhoso. Não o são, todavia. Eu tenho para falar dois fortes motivos. Um
é a liberdade absoluta que a minha posição independentíssima de homem sem
pretensões literárias me dá para julgar desassombradamente, com justiça, com
frieza, com boa fé. Como não pretendo lugar algum, mesmo ínfimo, na brilhante
falange das reputações contemporâneas, é por isso que, estando de fora, posso
como ninguém avaliar a figura, a destreza e o garbo ainda dos mais luzidos
chefes do glorioso esquadrão. Posso também falar livremente. (...)
A este primeiro
motivo, que é um direito, uma faculdade só, acresce um outro, e mais grave e
mais obrigatório, porque é um dever, uma necessidade moral. É esta força
desconhecida que nos leva muitas vezes, ainda contra a vontade, ainda contra o
interesse, a erguer a voz pelo que julgamos a verdade, a erguer a mão pelo que
acreditamos a justiça. É ela que me manda falar. Não que a justiça e a verdade
se ofendessem com V. Ex.ª ou com as suas aproximações. Verdade e justiça estão
tão altas, que não têm olhos com que vejam as pequenas coisas e os pequenos
homens das ínfimas questiúnculas literárias. (...)
O
que se ataca na escola de Coimbra (talvez mesmo V. Ex.ª o ignore, porque há
malévolos inocentes e inconscientes), o que se ataca, não é uma opinião
literária menos provada, uma concepção poética mais atrevida, um estilo ou uma
ideia. Isso é o pretexto, apenas. Mas a guerra faz-se à independência
irreverente de escritores, que entendem fazer por si o seu caminho, sem pedirem
licença aos mestres, mas consultando só o seu trabalho e a sua consciência. A
guerra faz-se ao escândalo inaudito duma literatura desaforada, que
cuidou poder correr mundo sem o selo e o visto da chancelaria dos grãos-mestres
oficiais. A guerra faz-se à impiedade destes hereges das letras, que se
revoltam contra a autoridade dos papas e pontífices, porque ao que parece,
ainda a luz de cima lhes não escreveu nas fontes o sinal da infalibilidade. Faz-se
contra quem entende pensar por si e ser só responsável por seus actos e
palavras...
(...)
ANTERO DE
QUENTAL, Coimbra, 2 de
Novembro de 1865
Texto 4
Senhores
Presidente do Conselho Directivo
e Presidente do Conselho Científico da Faculdade de
Letras
Senhores Professores e Assistentes
Caros
Estudantes
Minhas Senhoras
e meus Senhores:
Aqui estamos
reunidos para evocar meio século de vida literária de um dos maiores vultos das
nossas Letras, da nossa Cultura e da nossa Terra. Para dizermos a Miguel Torga do nosso
louvor pela sua obra de impressionante grandeza, da nossa admiração pela sua
pessoa, da nossa compreensão e respeito pela sua humanidade. Cabe ao Conselho
Científico da Faculdade de Letras o mérito da iniciativa desta homenagem a
tantos títulos devida, e por tal lhe devemos estar agradecidos.
Mas é a
Universidade inteira, são os doutores e assistentes de todas as faculdades, os
estudantes, os funcionários, que pela minha voz querem exprimir ao Poeta o mais
alto apreço pela sua obra, a par de uma profunda gratidão por tê-la escrito. Por
ter guardado, ao longo de uma vida plena, inquebrantável fidelidade a valores
que nos são caros. Porque nessa obra sempre pulsou o amor da Terra e das gentes,
o amor da liberdade, o sentimento da fraternidade
─ "Não me dói nada meu particular / Peno cilícios da
comunidade"
─ , a crença no Homem.
O telurismo e o humanismo me parecem ser duas características primordiais do
pensamento do Autor.
A ligação do
Artista com a terra, com a forças telúricas, é uma constante da obra de Miguel
Torga. Mas a terra, para o grande escritor, não é apenas, nem sequer
principalmente, uma entidade geológica ou uma abstracção da paisagem. Para
Miguel Torga, a terra é uma grandeza a um tempo física e moral, uma realidade
elementar a que não é estranha a história e o destino do povo. Como o gigante
indomável da mitologia, recobrava forças cada vez que tocava o solo
─ "Filho da Terra, minha mãe amada, / É ela que
levanta o lutador caído"
─ assim em Torga
o amor da terra e do seu povo se reanima no estreitar do contacto com as pedras
e as gentes da sua província natal.
FERRER CORREIA, Homenagem a
Miguel Torga, Palavras de
Abertura da Sessão Solene. In BIBLOS, suplementos, Nº 10, Coimbra, 1979.
Texto 5
Sabugal, 1 de
Setembro de 1990
Querido Netinho:
Antes
de mais, quero agradecer-te a tua cartinha de 25 do mês passado e desejar-te
que a presente te encontre de boa saúde, na companhia de teus pais e irmã.
Gostei muito da
tua descrição da terrinha onde estás a passar férias. Deve de ser muito linda, a
julgar por tudo o que me contas.
Hoje,
realizou-se cá a Feira Nova. Como sei que gostas tanto desta feira, que é
das coisas boas que na nossa terra se fazem, aproveito para te falar dela em
algumas palavritas.
Sabes, o dia
esteve maravilhoso! Um solzinho abençoado que Deus nos deu este ano! E havia
tanta gentinha por cá, que até parecia uma romaria. A feira foi muito grande e
muito concorrida de gentinha a vender os seus produtos. Pela alameda do
cemitério, onde ultimamente tu e a pequenada cá do sítio costumam brincar com
essas coisas com rodas que escorregam, quase não se podia romper. Um mar de
gente, que até metia impressão! Muitos vendedores! Muita coisinha boa para
comprar, houvesse ele dinheiro!
Junto
do largo da câmara, comprei-te um queijinho da serra, daqueles de que
tanto gostas de comer à merenda. Para a tua irmã, comprei-lhe uma linda
boneca com tranças loiras e uma blusinha de chita encarnada.
Como vês,
querido neto, a tua avó velhinha não se esquece dos seus netinhos.
Vou
agora despedir-me com um grande abraço de saudade para todos vós e, em
especial para ti, uma grande beijoca.
Tua avó, que já
sente tantas saudades vossas,
Aninhas
Texto 6
Na sexta-feira, no Banco, a meio da tarde, um colega passou-lhe o
telefone.
─ É para você, Fonseca.
─ Estou.
─ És tu, pá? Fonseca?
─ Sou, sim. Quem fala?
─ Não me conheces a voz, pá? O Joaquim Ribeiro.
─ Olá, viva!
─ Olha, pá. Queria falar contigo. Onde é que costumas
jantar?
─ Geralmente vou ao Lisboeta, na Conceição da Glória.
─ Óptimo! Se não tens qualquer compromisso, meu garanhão,
queres jantar comigo?
─ Pode ser. Quando? Hoje?
─ Às oito em ponto à porta do Lisboeta. Está combinado?
─ Combinado.
Foi
só depois do caldo verde que o Joaquim Ribeiro tocou no assunto.
─ Queria falar-te por causa daquela coisa de ontem. Foi
uma chatice, pá. Não sei o que é que ficaste a pensar de mim mas, caramba,
somos velhos amigos e apesar de não nos vermos há tantos anos, sinto-me
obrigado a dar-te uma satisfação.
─ Ó homem! Não tens que me dar satisfações. Somos amigos,
está bem, mas nem tu tens que dar contas das tuas aventuras amorosas nem eu das
minhas, com certeza. Das minhas, pá, das minhas. Estás a perceber?
─ É certo, pá, mas vamos lá a ver se nos entendemos. Por
acaso, por mero acaso, sim, repara bem, por mero acaso, isto é, por acaso,
estavas ao corrente da minha saída de Lisboa, em serviço e, por outro acaso,
outro mero acaso, vais topar comigo em Lisboa e logo por chatice agarrado a uma
gaja dentro do carro. (...)
ANTÓNIO GEDEÃO, Mulher
comendo frango, in: A poltrona e outras novelas, Coimbra, Atlântida
Editora, 1973, pág. 132.
Texto 7
Perto de Âncora fica a
povoação de Gontinhães, de pescadores
e de pedreiros, os pescadores ao pé do mar, os outros lá em cima no Calvário,
unidos pelo caminho da Lagarteira, torto e lajeado. É uma aldeia pobre e
humilde, pobre e doirada. Do escadório descobre-se o panorama, a amplidão
do vale, o morro compacto que entra pelo mar e o fio manso do rio...
(...)
A parte dos pescadores no areal difere completamente nos tipos, nos costumes e
nas casas, naturalmente noutros tempos barracas de madeira construídas sobre
estacas. Há quatrocentos pescadores, pouco mais ou menos, e cento e trinta e
dois barcos varados na praia, todos pintados de vermelho. São maceiras,
de fundo chato, tripuladas por dois homens, volanteiras ou lanchas de
pescada por doze homens, e barcos de sardinha, que levam cinco ou seis peças de
sessenta braças cada uma, e quatro homens. As redes têm estes nomes: peças
as da sardinha, volantes as da pescada. Chama-se galricho a
uma espécie de nassa com que se apanha a faneca; rastão ao
camaroeiro; patelo à rede que colhe o caranguejo ou mexoalho; e rasco
à da lagosta. As redes da sardinha são do mestre e as da pescada dos
pescadores. Os quinhões dividem-se conforme o peixe. (...)
RAUL BRANDÃO, Os
Pescadores, 2ª ed., Biblioteca Ulisseia de autores portugueses, 1988, págs.
49-50.
Texto 8
UMA ENTREVISTA NA GAFANHA DO CARMO
Tendo-me
deslocado em tempos à Gafanha do
Carmo para, junto
dos seus habitantes, procurar conhecer um pouco da sua vida, dos seus costumes
e da sua linguagem, conheci o Ti Manel Melro. Com toda a paciência, forneceu-me
uma boa série de interessantes informações não só acerca dos produtos
agrícolas, como foi o caso do milho, mas também da construção e calafetagem dos
barcos moliceiros.
Vejamos alguns
fragmentos dessa entrevista:
INQUIRIDOR
─ Quando é que se semeia o milho e quais os cuidados que é
preciso ter com ele?
INFORMADOR
─ O milho, home, semeia-se à volta de 13 ou 15 de
Março. Depois do milho estar de palmo, é mondado e sachado. Depois de já estar
a querer butar a bandeira, bota-lh' a gente adube e rega para ele criar
espiga. Tem de se partir depois a bandeira pró milho não ficar tão alto e o
bento não balançar tanto com ele.
INQ.
─ Um momento, Ti Melro, há bocadinho falou em bandeira. O que é isso?
INF.
─ A bandeira, home, é a cana do milho.
INQ.
─ O Ti Melro tinha dito que era necessário partir a
bandeira para o milho não crescer muito. E depois disso o que é que se tem de
fazer?
INF.
─ Depois, espera-se qu'amadure e apanha-se com
uma foicinha. Bota-se no tendal às carradas. Depois esmanta-se e
traz-se a espiga prà eira.
INQ.
─ Mas se chove o milho fica todo encharcado, Ti Melro.
INF.
─ Não, home, quando chove põem-lhe por riba umas
esteiras.
INQ.
─ E depois de seco? O que é que lhe fazem?
INF.
─ Vem então uma desbulhadeira para desbulhar.
(...
...)
INQ.
─ Ouça lá, ó Ti Melro, por aqui há muitos pinheiros?
INF.
─ Não, home, aqui não há pinheiros.
INQ.
─ Sabe qual é a utilidade deles?
INF.
─ Sei, sim senhor. Onde os há, fazem uma sarruscadela no
pinheiro pràprobeitar a razina qu'o pinheiro sangra. E essa razina òpois atão é
pra fazer breu.
INQ.
─ E para que serve o breu, Ti Melro?
INF.
─ Intigamente, home, cumpraba duas arrobas de breu,
chamava-se um escalufate...
INQ.
─ O que é um escalufate?
INF.
─ Um escalufate, home, é o mestre que amanha o barco. Depois
corriam-se as costuras todas do barco, butavam-se estopas nas
costuras qu'o barco tinha com um maço de ferro, depois aquecia-se o breu
ò lume numa panela de ferro e òpois atão o mesmo escalufate qu'andaba a amanhar
o barco fazia um escupêro de pele de carneiro.
INQ.
─ O que é um escupêro, Ti Melro?
INF.
─ Um escupêro, home, é pele de carneiro enrolhada num pau
de madeira e pregada com pregos ao pau prà pele não cair. E com ele molhava na
panela de breu e òpois atão corria todas as costuras a botar o breu por riba
pra não deixar cair a estopa. (... ...)
Conversa
extraída de um inquérito linguístico efectuado na região da Gafanha do Carmo
(Aveiro) em 1967.
Texto 9
Depois
da ceia, os pais foram-se deitar e a velha Mariana, sentada ao pé da
chaminé, começou a falar como quem fala sozinha:
─ Q'ando o tê pai foi a premêra vez ao banco da Griolanda,
sequê-me a rezar à Senhora da Nazaré. Dos "verdes" foi o
melhor. No outro ano, os capitães todos o q'riam. Foi com o Lourenço de Ílhavo,
e nunca mais dêxou de ser um premêra linha, até que, c'os irmãos, fez sociedade
pra comprar a trainêra, que chegámos a ter tudo empenhadinho. Havia as fábricas
de sardinha e o pêxe nã andava falhio como agora... À Griolanda... q'antos vão
e nã voltam. Vão tamém à Terra Nova... É uma vida triste... O Emílio, que Deus
o tenha na Sua santa paz, só lh'encontraram, ao outro dia, o dório virado, inda
ancorado ò fundo do mar... Pode ter sido qualquer cachão, q'ando ia a levantar
o ferro, que tivesse caído a borda...
─ Santinha, vá prà cama.
─ E tu?
─ Tás à espera d'alguém? Podes ir falar, qu'eu fico aqui.
Ouviu-se
o som repicado de uma harmónica que passava na rua, e a velha, na sua voz
vagarosa, como quem sabe, mas ainda assim experimenta a pergunta, interrogou:
─ Quem é o farsola que passa aqui todas as noites a tocar
gaita?
─ Prègunta-me a mim? Quer que vá esprêtar?...
─ Nã t'ofendas cum tam pouco... 'Tava a conversar. O João
Caboz é bom moço e tem de seu, nã o desprezes. Vá's ò teu gosto e dos tês
pais...
─ 'Tá bem, 'tá bem...
─ disse com
enfado, querendo pôr termo ao assunto. Mas a avó continuava:
─ Nã há muntos c'm'a ele, pra escolher... A minha
obrigação é dar-te conselhos. Olha q'o Diabo sabe munto, mas nã é só por
ser Diabo, é tamém por ser velho. Nã julgues que me ponho a adevinhar o
tempo... Digo só o que sei. E bem vejo q'andas desassossegada. Mas olha q'o
João é um rapaz como há poucos e só te vê a ti.
─ Atão vê pouco... Tem d'arranjar uns ocles prò nariz.
─ Compara com os outros, que viram com o vento...
─ Com o vento é que se navega...
─ 'Teja 'escansada q'há-de ser minha madrinha, pra
me dar o enxoval e uma libra d'oiro...
─ disse Inês,
levantando-se com decisão.
E saiu.
(...)
BRANQUINHO DA
FONSECA, Mar Santo[18], Lisboa,
Portugália Editora, 1971, pp. 167-170.
Texto 10
O QUE O MS-DOS FAZ
Pode-se
imaginar o MS-DOS da mesma forma
que a cabina de um avião. Sem ela, há potencial suficiente, mas não se pode
fazer com que o avião voe. O sistema operacional permite que você (o piloto)
controle o seu computador dizendo a ele "para onde ir" e "o que
fazer". Como os controles da cabina de um avião, o sistema operacional
coordena as partes de um computador e proporciona um método fácil para controlá-las.
Neste capítulo, você começará a aprender como o MS-DOS executa este
papel.
MS-DOS
é uma acrossemia de MicroSoft Disk Operating System (sistema operacional em
disco da Microsoft); é um nome genérico do sistema operacional licenciado pela
Microsoft Corporation para uso em vários microcomputadores de diferentes
fabricantes. (Alguns destes fabricantes de computador têm alterado o MS-DOS
para melhor adaptá-lo a seus computadores dando-lhe novos nomes,
como PC-DOS ou Z-DOS.) (...)
(...)
A CPU de seu computador não pode funcionar bem sem um sistema operacional; ela
precisa de uma espécie de guarda de trânsito eficiente para coordenar todas as
informações obtidas do teclado, dos acionadores de disco e de outras partes de
hardware de seu computador. O MS-DOS coordena o hardware e permite que a CPU comunique-se com quase todas as partes de seu computador. Por
exemplo, sem o sistema operacional, a CPU não tem nenhuma forma de encontrar os
dados e os programas que se encontram nos discos.
Após
carregar o sistema operacional (geralmente logo após o computador ter sido
ligado), ele é mantido na memória de acesso aleatório do computador (RAM). A RAM funciona como
um imenso bloco de anotações preenchido com números e instruções; à medida que
o programa roda, ela interpreta parte de seu conteúdo e muda algumas
informações aí contidas. A memória RAM é temporária, isto é, ela só é mantida
pela força elétrica de seu computador. Quando você desliga o computador, todas
as informações contidas em RAM são esquecidas (por esta razão uma queda de
energia pode ser desastrosa quando se está utilizando o computador). (...)
Embora
a CPU não precise de ajuda do sistema operacional para se comunicar com a RAM,
é importante conhecer um pouco sobre esta memória, já que ela é o local onde
todos os seus programas permanecem enquanto estão sendo executados. Você pode
imaginar a RAM como sendo um conjunto de várias caixas chamadas bytes. Cada
byte é igual à quantidade de memória necessária para armazenar um único
caractere do teclado (como o Q ou um @). A quantidade de RAM que você tem em
seu computador é medida em K, ou kilobytes. Um kilobyte é igual a 1 024 bytes.
(...)
PAUL HOFFMAN e TAMARA NICOLOFF, MS-DOS,
Guia do Usuário, São Paulo, McGraw-Hill, 1986, pp. 1-3
Texto 11
OSSOS DOS MEMBROS SUPERIORES
Já
vimos que cada um dos membros superiores está ligado ao tórax por dois ossos, a
omoplata e a clavícula, que no seu conjunto formam a espádua.
Poderemos agora verificar que, perto da junção da omoplata com a clavícula se
insere o osso que forma o braço, chamado úmero.
A
maneira como o úmero está inserido permite-lhe mover-se em todas as
direcções, pois a sua extremidade superior, arredondada, é móvel numa cavidade
correspondente da omoplata.
Ao
braço segue-se o antebraço, formado por dois ossos. Um, o cúbito,
forma, na extremidade que se articula com o úmero, o cotovelo. O outro, que
está situado do lado do dedo polegar, chama-se rádio, e pode girar
em volta do primeiro, acompanhando a rotação da mão.
A
seguir ao braço encontra-se a mão, que compreende três partes: o carpo
ou punho, o metacarpo e os dedos. O carpo é formado por oito
pequenos ossos irregulares, dispostos em duas fiadas. O metacarpo é
formado por cinco ossos alongados, dispostos paralelamente, que correspondem à
palma da mão, e cujos intervalos estão cheios, na mão completa, por músculos e
pele. Os dedos são formados, cada um, por três ossículos alongados e dispostos
em série, com excepção do polegar, que só tem dois. Estes três ossículos têm,
de dentro para fora, respectivamente os nomes de falange, falanginha
e falangeta.
AUGUSTO C. G.
SOEIRO, Noções de
Zoologia, Porto, 1929, pp. 37-42.
Texto 12
JAGUAR E-TYPE 4.2
Cabriolet
ou coupé com motor de 4,2 litros, caixa de 4 velocidades, todas sincronizadas e
diferencial auto-blocante. Apresentado em Londres no ano de 1964.
Suspensão
dianteira por braços triangulares e barras de torção longitudinais; traseira,
de rodas independentes com braços transversais inferiores e eixo superior de
duplo cardan, actuando como alavanca de suporte. Suspensão dupla por molas
helicoidais, estabilizador lateral e amortecedores telescópicos Girling.
In:
Suplemento anual do Mundo Motorizado.
[1] – Recorde-se o excerto transcrito da gramática de Celso Cunha e Lindley
Cintra, apresentado em nota anterior, nas páginas 26-27.
[2] –
O Dictionnaire
de Didactique des Langues define registo como as «variações do uso
linguístico que podem depender da natureza das relações entre os
interlocutores, das suas intenções, dos temas abordados, do grau de formalidade
ou de familiaridade escolhido». R. GALISSON e DANIEL COSTE, Dictionnaire de
Didactique des Langues, Paris, Hachette, 1976.
[3] –
Herculano de Carvalho apresenta a designação de estilo para a «adequação
das formas que constituem o saber linguístico de um sujeito falante às
finalidades específicas de cada um dos seus actos de fala...» - Vd.
HERCULANO DE CARVALHO, Teoria da Linguagem, Coimbra, Atlântida Editora,
1967, p. 302.
[4] –
COLETTE STOURDZÉ, Les niveaux de langue, In: Guide Pédagogique pour
le professeur de français langue étrangère sous la direction d'André Reboullet,
Paris, Hachette, 1971, pp. 37-44.
[5] –
No
estudo de uma língua, podemos considerar dois planos: o sincrónico e o
diacrónico. No diacrónico (do grego dia - 'através de' e khronos
'tempo' mais o sufixo -ia), é estudada a evolução de uma língua através dos
tempos e sob diversos aspectos: fónico, morfológico, sintáctico e até mesmo
estilístico. Quando, nos capítulos anteriores, falámos nas origens e evolução
da língua portuguesa, ainda que o tenhamos feito de maneira bastante
simplificada, efectuámos um estudo diacrónico. No plano sincrónico (do
grego syn- 'simultâneo, o mesmo' e khronos 'tempo', mais o
sufixo -ia), uma língua é analisada tendo em conta as mudanças que, numa
mesma época, nela ocorrem tendo em conta o espaço geográfico, a cultura e a
situação dos sujeitos falantes. Quando analisámos as variantes ocorridas na
língua portuguesa de região para região e de continente para continente
ocorridas no mesmo período de tempo ou época, ou quando analisamos as variantes
que se podem verificar na língua de acordo com a situação de comunicação vivida
no momento por cada sujeito falante, estamos na presença de um estudo no plano
sincrónico.
[6] –
Deixaremos de fora a linguagem literária, já que esta constitui um
domínio específico da linguagem escrita, que traduz um estilo pessoal e,
sobretudo, preocupações de natureza artística, com recurso a técnicas de
expressão elaboradas e com elevado grau de reflexão.
[7] –
Estas duas últimas expressões não nos parecem as mais adequadas, já que falados
são também os níveis familiar e popular. Igualmente a designação corrente
poderá ser contestada, dadas as múltiplas significações deste vocábulo. Talvez
mais rigorosa fosse a designação de nível intermédio ou nível padrão. No
entanto, de entre as diferentes expressões utilizadas, talvez a melhor seja
ainda a primeira.
[8] –
Veja M. PAIVA BOLÉO, Unidade e variedade da língua portuguesa, In: Estudos
de linguística portuguesa e românica, Coimbra, vol. I, tomo I, 1974, pág.
343.
[9] –
Veja-se HERCULANO DE CARVALHO, Teoria da Linguagem, op. cit., pág.
343.
|