Acesso à hierarquia superior.

Henrique J. C. de Oliveira, Gramática da Comunicação, Col. Textos ISCIA, Aveiro, FEDRAVE, Vol. I, 1993, 311 pp., Vol. II, 1995, 328 pp.


II

A Informação: base da comunicação

 

Onde obter a informação: serviços de documentação; meios de comunicação social; livros técnicos, obras de vulgarização e manuais escolares; bibliotecas públicas e privadas; dicionários e enciclopédias; meios informáticos. Algumas regras para pesquisa da informação. Como organizar/arquivar a informação. Saber ouvir e tomar notas. A leitura e sua classificação tipológica. Condições para uma boa leitura. A leitura rápida. A leitura em  voz alta. O plano ou estrutura dos textos. O resumo.

 


O PLANO OU ESTRUTURA DOS TEXTOS

Quer tenhamos de ler  os textos, quer tomemos conhecimento deles através da comunicação oral, é condição importante para uma boa compreensão saber distinguir o plano estabelecido pelo autor, a partir do qual foram desenvolvidas as ideias.

Do mesmo modo que o nosso corpo, constituído pelos diferentes membros e órgãos, necessita de um suporte ósseo devidamente estruturado e articulado, envolvido pelos músculos, para bem nos exprimirmos, oralmente ou por escrito, necessitamos de estabelecer previamente o esqueleto do texto, ou seja, torna-se necessário um plano de desenvolvimento, que deveremos estabelecer e respeitar.  Todo o enunciado produzido que apresente uma certa importância deve seguir um plano, quer se trate de uma modesta intervenção, quer de uma conferência, de um trabalho ou de um relatório de grande importância.  Até mesmo uma simples conversa, desde que se proponha um objectivo mais sério, apesar da maior liberdade de expressão inerente à situação de diálogo, deverá obedecer a um plano prévio, sem o que a sua progressão se fará de maneira desarticulada.

Elaborar um plano de desenvolvimento, embora necessário, torna-se por vezes difícil de realizar. Se há pessoas que, com relativa facilidade, conseguem elaborar um plano harmonioso e coerente, outras acabam por sair frustradas ao procurarem concebê-lo. Uma das melhores maneiras de vencer este obstáculo consistirá em procurar descobrir os planos de desenvolvimento a partir de textos já existentes. É esta, aliás, a mesma técnica que usa, por exemplo, um principiante nas Belas-Artes, ou um pintor que deseja desenvolver as suas técnicas. É a partir de trabalhos de artistas consagrados, pela análise das suas técnicas, que as nossas próprias capacidades poderão ser desenvolvidas e aperfeiçoadas.  Será, pois, extremamente útil, quando assistimos a uma palestra, a uma conferência ou a um discurso, ou quando lemos um texto, procurarmos prestar atenção, não apenas aos conteúdos ideológicos, mas a todo o conjunto de técnicas utilizadas para exposição dessas mesmas ideias.

Vejamos o caso concreto da situação do discurso ou da conferência. Mesmo tratando-se da apresentação de uma breve mensagem, se lhe prestarmos a devida atenção, constataremos que apresenta uma determinada estrutura. Geralmente, notaremos a existência de uma ideia principal ou tema, apoiada e complementada por um conjunto de ideias secundárias, que convergem para a principal, confirmando-a ou refutando-a, enriquecendo-a negativa ou positivamente, de acordo com a intencionalidade do orador.  E na base das ideias, verificaremos que existe uma determinada sequência ou estrutura de desenvolvimento, que permite uma harmonia e coerência de todo o conjunto.

Vejamos, de maneira ainda mais concreta, por que motivo afirmamos que a ideia principal pode ser enriquecida com ideias secundárias com carga negativa ou positiva. Suponhamos que o orador pretende abordar o tema da poluição, procurando acentuar-lhe os perigos. Após uma primeira chamada de atenção, de uma maneira geral, para o perigo da poluição, o orador passa a aspectos mais particulares, enriquecendo a afirmação geral a partir de vários exemplos concretos, todos eles de valor negativo, que reforçarão a ideia-chave.

Contrariamente, se pretende mostrar as virtudes ou as vantagens de determinado produto, ideia ou princípio, irá utilizar uma estratégia idêntica à anterior, mas de sinal contrário. Os casos particulares que irá apresentar terão todos uma carga positiva, valorizando a ideia-chave.

Além do recurso às palavras, no caso da situação da comunicação oral, o orador recorre a outros elementos extra-verbais, aos quais deveremos igualmente prestar atenção: a mímica, o gesto, e a voz, mais ou menos rápida, com maior ou menor intensidade, com determinadas entoações, com pausas expressivas  e, sobretudo, com o recurso a certas palavras ou articuladores do discurso, tais como fórmulas de introdução, fórmulas de enumeração, apresentação de exemplos, etc.

Do mesmo modo que podemos detectar todas as características anteriormente apontadas em situações de comunicação oral, também nos textos escritos ─ e nestes de maneira ainda mais fácil, porque permitem uma análise mais pormenorizada ─ as poderemos destacar.

De uma maneira geral, em todos os textos encontramos uma estrutura mais ou menos de acordo com o esquema: 

I - INTRODUÇÃO - parte inicial do texto, que apresenta o tema ou a ideia principal, que irá ser desenvolvida na sequência do texto. Por vezes, além da ideia principal, enumera antecipadamente todos os pontos ou aspectos que irão ser desenvolvidos.

II - DESENVOLVIMENTO - todo o conjunto de ideias ou aspectos que vão sendo sucessivamente expostos, de maneira lógica e coerente, a fim de comprovar ou explicar convincentemente a ideia-chave.

III - CONCLUSÃO - parte final de toda a exposição ou texto, que resume tudo quanto foi exposto ou demonstrado, podendo levar a uma resposta ou a uma solução.

Deveremos desde já fazer notar que, frequentemente, quando se trata da análise de excertos de capítulos ou de textos mais longos, é por vezes difícil encontrar uma estrutura que esteja de acordo com o esquema atrás referido.

Antes de abordarmos um texto, seja ele qual for, e de procurarmos a sua estrutura e ideias, há uma primeira etapa que importa respeitar: não se pode entender a globalidade da mensagem se não eliminarmos previamente as dificuldades inerentes à linguagem. Assim, a primeira preocupação, após a leitura global do texto, deverá ser a de reflectirmos sobre os problemas da linguagem. Deveremos efectuar o levantamento de todo o vocabulário difícil e procurar descodificá-lo com a ajuda de um dicionário. Do mesmo modo, quando deparamos com expressões cujo sentido nos escapa plenamente, deveremos efectuar uma pausa para reflectirmos mais profundamente sobre elas.

Desbravadas todas as dificuldades linguísticas, estaremos aptos a passar à etapa seguinte: descobrir a ideia fundamental.

A ideia fundamental vem frequentemente expressa no começo ou no fim do texto. Por vezes encontra-se condensada no próprio título. No entanto, convirá adoptar uma atitude de desconfiança perante os títulos pois, frequentemente, para atrair a atenção do leitor, especialmente nos  meios jornalísticos, são centrados sobre aspectos secundários ou parciais. Ao mesmo tempo que procuramos destacar a ideia fundamental ou ideia-chave, é vantajoso sublinhar as expressões relativas às ideias secundárias.

À medida que efectuamos o levantamento da ideia-chave e das ideias secundárias, poderemos começar a distinguir e a anotar no texto os diferentes momentos. Para facilitar a «releitura» do texto, podemos ir dando subtítulos a essas partes ou momentos, que podem ir desde uma frase curta até uma simples palavra que resuma o conteúdo dessa parte.

Convirá igualmente, para desenvolvimento da nossa técnica expositiva, prestar atenção às articulações lógicas que se podem utilizar ao longo da exposição das ideias, quer dentro dos parágrafos, quer sobretudo na ligação entre eles. Estes articuladores do discurso, além de estabelecerem a ligação entre as diferentes ideias, ajudam a descobrir as etapas no desenvolvimento da exposição.

Podemos considerar quatro grandes classes de articuladores do discurso: de enunciação, que anunciam ou sublinham que aquilo que vai ser dito é apenas um momento na exposição das ideias; de ligação, que permitem ligar o que foi com o que vai ser dito; de chamada ou de lembrança, que reenviam para aquilo que já foi dito; de conclusão, que indicam o termo de um desenvolvimento, o fim de uma enumeração, a conclusão. Estes articuladores são vários e encontram-se indicados no quadro da figura 6, juntamente com alguns exemplos. Convirá notar que, para além dos exemplos indicados, poderemos encontrar muitas outras formas de articulação do discurso. No quadro da figura 6 apenas foram indicadas as mais importantes e frequentes. Encontramos diferentes articuladores, quer a nível das conjunções, quer dos advérbios.


Figura 6: Diferentes classes de articuladores do discurso. Apresentação de alguns exemplos.

Sugestão de trabalho 4

Leia atentamente o texto a seguir  transcrito, procurando:

1 - Destacar a sua estrutura;

2 - Dar um título a cada uma das partes e sintetizar as ideias;

3 - Registar os articuladores do discurso nele presentes. (Verifique se já estão indicados no quadro da figura 6; caso contrário, acrescente-os).
 

Observação: Poderá ampliar os três recortes do jornal «clicando» sobre eles.

 

Clicar para ampliação do texto.

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Dissemos já que um texto correctamente elaborado deverá obedecer a uma estrutura organizada, a um plano previamente estabelecido, constituído normalmente por três partes: uma introdução, um desenvolvimento e uma conclusão. Vimos também que, para o desenvolvimento das ideias, as diferentes partes se encontram ligadas por meio de diferentes tipos de articuladores do discurso.

Será agora conveniente analisarmos as técnicas de elaboração de planos, ou seja, reflectirmos um pouco sobre as diferentes estruturas de que nos podemos servir para a elaboração de um plano de desenvolvimento.

 

A estrutura mais simples e mais primitiva consiste na técnica da adição. É a técnica que, numa primeira fase, todos temos tendência a utilizar. Até mesmo uma criança a utiliza espontaneamente para contar, por exemplo, o que fez quando brincou com os colegas: «Fizemos isto, depois aquilo, em seguida... e depois...»

Consiste em enumerar ou inventariar factos, colocando-os uns após os outros segundo uma determinada sequência: cronológica; crescente; decrescente; de causa-efeito; etc.

O plano por adição é por vezes posto de maneira mais evidente através de diversos processos: através da apresentação de uma fórmula introdutória, que anuncia cada um dos elementos da enumeração; pela numeração seguida dos diferentes elementos; pelo emprego de expressões que indicam a justaposição dos elementos ou das acções (primeiro ou em primeiro lugar, ... depois...  em seguida ...  finalmente.)

Este tipo de plano apresenta a grande vantagem de permitir uma exposição clara, bem ordenada e de fácil elaboração. É a técnica que ultimamente é mais utilizada pelos meios de comunicação social e também em certos discursos políticos. No primeiro momento, na introdução, apresentam-se dois ou três factos; no momento seguinte, no desenvolvimento, retoma-se e desenvolve-se adequadamente cada um dos aspectos apresentados na introdução; na conclusão, faz-se a síntese de tudo quanto foi apresentado, indicando-se a solução ou a conclusão final a que se chegou.

Quando acontece que um número de elementos a abordar é bastante elevado, pode-se utilizar uma técnica mais elaborada mas decorrente da primeira. Utiliza-se como que uma adição de segundo grau. Agrupam-se os diferentes elementos por categorias, procedendo-se depois à análise de cada uma delas.

Além da técnica mais elementar, intuitiva e espontânea, como é a da adição, poderemos utilizar outras: o movimento linear; a oposição ou contraste; o raciocínio; o silogismo.

O movimento linear é também uma técnica bastante fácil de seguir e corresponde às duas dimensões do universo humano: o espaço e o tempo. É a técnica que encontramos com frequência, quer quando elaboramos, por exemplo, uma descrição, quer quando narramos acontecimentos segundo a sua ordem cronológica.

No caso de uma descrição, utilizamos normalmente uma sequência de tipo espacial, começando num determinado ponto e seguindo um movimento linear até ao ponto extremo. A partir desta técnica do movimento linear, torna-se fácil introduzir pequenas variações na apresentação daquilo  que se pretende descrever[1]. Quando apresentamos a narração de acontecimentos, recorre-se geralmente à ordem temporal ou cronológica. O tempo flui sempre linearmente, as horas e os minutos sucedem-se regularmente às horas e aos minutos, os dias aos dias, os anos aos anos, e assim sucessivamente. Deste modo, poderemos utilizar um plano linear, com base no fluir cronológico, apresentando os factos de acordo com o seu desenrolar temporal. É este esquema o mais habitual no desenvolvimento de factos subordinados ao decurso temporal. É o que encontramos, por exemplo, na apresentação de textos de carácter histórico. No domínio da ficção literária, embora seja este o esquema mais usual,  poderemos encontrar variações a esta estrutura.  Por exemplo, em algumas obras, a acção começa na parte final; a certa altura, dá-se um recuo no tempo e todos os acontecimentos são apresentados linearmente até se voltar a alcançar o ponto de partida. No entanto, outros esquemas são passíveis de ser encontrados.

 

A oposição por contraste ou, como também é designada, a estrutura por simetria ou antonímia, é um tipo de estrutura frequentemente utilizado.  Tal como o nome permite deduzir, é um processo que recorre à colocação lado a lado de termos ou elementos antitéticos, tais como os ricos e os pobres, a cidade e o campo, a noite e o dia, o magro e o gordo, o masculino e o feminino, o bem  e o mal, o forte e o fraco, a guerra e a paz, as vantagens e os inconvenientes, etc.

Um plano de desenvolvimento pode ser elaborado tendo por base um determinado tipo de raciocínio, partindo da apresentação de um facto  e procurando, a partir dele, as relações de causalidade e as consequências, estabelecendo-se uma sequência do tipo: I - Apresentação da situação; II - As causas dessa situação e as respectivas consequências; III - As conclusões finais.

Mas ainda com base no raciocínio, poderemos elaborar um plano de desenvolvimento tomando como ponto de partida um conjunto de hipóteses. Por exemplo, suponhamos que pretendemos  realizar um determinado projecto. No primeiro momento, apresentamos aquilo que iremos analisar, ou seja, o tema; no segundo, no desenvolvimento do plano, apresentamos um conjunto de hipóteses prováveis, prevendo-se as possíveis consequências, caso as condições previstas se concretizem. Como é lógico, a cada hipótese corresponderá um sub-momento, podendo estas serem analisadas sequencialmente, segundo um critério decrescente de probabilidades de se verificarem as condições previstas. Na terceira e última parte, a conclusão, será feito o balanço de tudo quanto foi analisado,  apresentando-se, em síntese, as conclusões a que se chegou.

 

Outro tipo de raciocínio que poderá ser utilizado na elaboração de um plano de desenvolvimento é o silogismo. É este um tipo de raciocínio  formal, que permite chegar a uma conclusão a partir de duas afirmações, a que se dá o nome de premissas, respectivamente a premissa maior e a premissa menor. Como ficará um plano tendo em conta esta forma de raciocínio? Na primeira parte, começa-se por apresentar a premissa maior, a afirmação que vai procurar demonstrar-se. Por exemplo, «a evolução das modernas sociedades está condicionada pelo progresso técnico». Em seguida, é apresentada a premissa menor: «a progressão técnica evolui de maneira uniforme». A partir destas duas premissas, poder-se-á então concluir que a evolução das sociedades terá logicamente de ser também uniforme.  Apresentados os dados do problema e a respectiva conclusão, na segunda parte proceder-se-ia à apresentação de factos históricos que viessem comprovar a conclusão.

 

Além das técnicas apresentadas para a elaboração e desenvolvimento de um plano de trabalho, poderemos criar outras que resultem da  combinação destas. Poderemos criar um tipo de plano que parta do geral para o particular ou do particular para o geral. Poderemos criar planos diferentes e mais complexos, tudo dependendo dos objectivos, da maior ou menor complexidade do problema a analisar e, sobretudo, da capacidade de raciocínio e do maior ou menor domínio da  língua que se utiliza. Quer tenhamos de fazer um trabalho simples, quer bastante elaborado, para todos eles se impõe a elaboração prévia de um plano de desenvolvimento claro e lógico, que nos forneça um caminho seguro a seguir. De uma maneira geral, toda a gente utiliza mais ou menos, com maior ou menor destreza, as mesmas estruturas de raciocínio. E com um pouco de reflexão a partir de textos já existentes e da prática pela criação dos nossos próprios textos, todos poderemos vir a criar trabalhos devidamente planificados e redigidos, quer para uma intervenção escrita, quer oral[2]

  .

Sugestão de trabalho 5

Leia os textos a seguir apresentados e procure efectuar as seguintes actividades:

1 - Desmontar o plano ou estrutura de desenvolvimento seguido pelos autores;

2 - Procurar subdividir as diferentes partes em momentos;

3 - Sintetizar numa frase ou num simples título o conteúdo de cada  momento;

4 - Procurar dar um título sugestivo para cada texto;

5 - Procurar ver qual a técnica utilizada: adição; linear; oposição; raciocínio; mista.
 

 

Texto 1

 

Aos bebés americanos ausentes, o semanário «Time» ─ quatro milhões de exemplares vendidos ─ dedicou a capa; aos germânicos, o chanceler alemão Helmut Schmidt, uma sessão de trabalho perturbante: nascerão este ano menos alemães do que morrerão. A Holanda, fatalista, fechou várias maternidades; a Suécia, preocupada, deseja reabrir as suas. Nas águas cinzentas do Tamisa, o recém-nascido inglês apresenta-se como um reflexo do país: anémico. Se dar a vida mede a fé de uma civilização, o Ocidente atravessa hoje uma das mais graves crises de confiança da sua história.

Preservada até agora, a França inclina-se, por sua vez, sobre os seus berços vazios. Desde o começo do ano, este país, com 52,5 milhões de habitantes, situado na 15ª posição mundial, regista uma queda espectacular na taxa de natalidade.  Um estudo, incidindo nas cento e dez cidade mais importantes, permitiu constatar uma descida inquietante dos nascimentos, no decurso dos sete primeiros meses do ano. Se esta tendência se mantiver - e há todos os motivos para acreditar nela - o país conhecerá, este ano, um défice nítido de noventa mil nascimentos. Em 1972 nasciam ainda oitocentos e setenta e cinco mil jovens franceses. Não serão mais do que setecentos e setenta mil este ano.

Mais grave ainda: os demógrafos situam em 2,1 crianças por mulher o nível de crescimento demográfico zero de uma população. Até ao último ano, cada Francesa punha neste mundo, em média, 2,36 crianças. Este ano, a taxa de fecundidade cai para 2,05. Excluídos os períodos de guerra, a nossa história não conheceu senão um precedente: 1935, ano negro da natalidade francesa.

Os fenómenos de população escapam às explicações sumárias. Nenhum demógrafo consegue explicar por que motivo, de repente, no Outono passado, os Franceses desejaram menos crianças. Evidentemente, é possível discernir as componentes do fenómeno. A mortalidade infantil diminui. No começo do século XIX, um recém-nascido sobre cinco morria no primeiro ano. Um bebé apenas em sessenta desaparece hoje com tenra idade.

A vida moderna prolonga os estudos, retarda a entrada na vida activa, diminui o período  de fertilidade da mulher.

Estas fornecem hoje à França o terço da população activa. Esta proporção vai aumentando sucessivamente. Em cem mães, trinta e quatro trabalhavam em 1953. Hoje elas são mais de quarenta. «As mulheres não crêem mais que vieram ao mundo com o único objectivo de fazer filhos», explica um psiquiatra americano, o doutor John Blitzer.

A excessiva população urbana, a asfixia das cidades, a crise de matérias primas, os problemas do crescimento sensibilizaram uma população que vive diariamente, no metro, nos engarrafamentos ou nas cidades dormitórios, as agressões do excesso de habitantes.

O mundo moderno é, em suma, hostil às grandes famílias. O automóvel foi concebido para quatro pessoas, um «seis lugares»  torna-se já difícil de encontrar.

Os peritos debatem-se com as responsabilidades do aborto. Os seus partidários fazem simplesmente notar que a descida de natalidade atingirá a França mesmo antes da lei ter sido votada.

Um sonho desfaz-se, o dos cem milhões de Franceses pretendidos pelo general de Gaulle. Tudo faz prever que a França navegará ao longo do século XXI com uma equipagem pouco mais numerosa que actualmente. Consequências:  uma mutação profunda da sociedade francesa e, mais genericamente, ocidental. Na França contemporânea, duas pessoas trabalham para três inactivas. A descida da natalidade reduzirá ainda o peso dos elementos mais dinâmicos, ao mesmo tempo que crescerá o número de pessoas idosas. Revelar-se-á talvez necessário manter em actividade uma parte crescente dos batalhões da terceira idade. Contrariamente às campanhas sindicais, a idade da reforma deverá ser elevada e não reduzida. Na Suécia, acaba recentemente de passar de sessenta e cinco para sessenta e sete anos.

O peso das velhas gerações reduzirá as possibilidades de promoção social. Os quadros subalternos de quarenta e cinco anos serão uma legião. Sem que por isso surjam falhados. Simplesmente, o êxito social  não poderá mais ser o critério decisivo do desabrochamento pessoal.

Os conflitos de geração arriscam-se a aumentar em vez de se atenuarem.  Os idosos são tradicionalmente mais conservadores. Quais as formas que tomará a impaciência das gerações ascendentes? Ninguém pode hoje responder a esta questão. A democracia é a lei do número. A juventude acomodar-se-á facilmente se ela lhe for contrária?

J.-C. H., in "Paris-Match" nº 326 de 5 de Outubro de 1974, pág. 69.
 

 

Texto 2

 

A França  tem, ao que parece, três vertentes que correspondem a três caracteres diferentes. Há em França uma vertente ocidental, uma vertente europeia e uma vertente mediterrânica.

Pela sua vertente ocidental, a França tem um fundo atlântico: ela pertence ao Oceano, ela olha para o Ocidente, ela olha para o exterior, ela está aberta às influências extra-continentais; significa isto que ela está dotada, em certa medida, de um espírito de expansão e de aventura; e, pelo facto de olhar para o Ocidente, ela pertence ao grupo ocidental, ou seja, aos países liberais, que são a Inglaterra ou ainda os Estados Unidos. Uma civilização franco-anglo-americana, tendo o seu eixo no Atlântico, responde a todo um aspecto da França; mas não é este mais do que um dos aspectos.

O segundo aspecto é a vertente continental europeia. A França, geograficamente, pertence ao continente europeu por um laço carnal do qual é inseparável. Este elo carnal, não o possui a Inglaterra e muito menos a Escandinávia. Todo o nosso lado  oriental, em França, pertence já à Europa central, quer se trate da Flandres, da Lorena, da Alsácia, da Franche-Comté, quase, numa certa medida, da Borgonha e da Sabóia.  Quando nos encontramos nesta zona oriental da França, encontramo-nos já na atmosfera da Europa central. Uma cidade como Lyon, como Nancy, como Estrasburgo, como Mulhouse, e ainda outras, são cidades da Europa central. E nós somos de tal modo inseparáveis do continente europeu que é inconcebível formar uma Europa sem a França e bem difícil conceber uma França tendo uma existência independente fora do continente europeu.

Terceiro aspecto, de todos o mais curioso, é o nosso aspecto mediterrânico. Pela sua frente mediterrânica, a França está em contacto directo com a Ásia, com a África, com o Oriente, com o Extremo-Oriente, ou seja, não apenas com um mundo extra-europeu, mas com o passado ilustre da humanidade. Um mediterrânico tem atrás de si dois ou três mil anos de história. Ele não é  estrangeiro nem na Argélia, nem no Egipto, nem mesmo na Ásia Ocidental. Ele está à vontade no mundo romano, no mundo grego. Numa palavra, a nossa tradição clássica, para o Mediterrâneo, é uma perfeita realidade. E, nestas condições, nós pertencemos a civilizações muito antigas, a formas de cultura tradicionais com as quais o Ocidente perdeu o contacto. A Inglaterra perdeu este contacto, a América igualmente, enquanto nós, devido a isto, temos relações familiares com tipos de civilizações que o Ocidente não conhece.

Estes três aspectos, tão diferentes, unamo-los numa personalidade comum e temos a França, uma França muito unida mas muito contraditória.

  ANDRÉ SIEGFRIED, Aspects de la Société Française, Introdução, pp. 7-9, Livraria geral de direito e de jurisprudência, 1954.  (tradução livre)
 

 

Texto 3
 

Desde há séculos que nos perguntamos sem encontrar respostas: a infelicidade tornar-nos-á fisicamente doentes? Durante longo tempo foi necessário escolher um campo, na ausência da menor prova: admitir o facto sem o compreendermos ou, pelo contrário, negá-lo, por falta de justificação científica. Hoje, as coisas mudam de aspecto. Os progressos espectaculares da biologia e sobretudo de duas das suas filhas, a neuro-endocrinologia e a imunologia, permitem conciliar o inconciliável, e começa-se a pensar que um stress ou uma depressão podem não engendrar mas desencadear uma doença infecciosa, até mesmo um cancro. Começa-se a demonstrar que um optimista tem mais probabilidades "de se safar" do que um pessimista, tudo isto porque entre o sistema nervoso central e o sistema imunológico se descobrem ligações extremamente estreitas e sistemas de informação plenamente notórios. Não são mais os rumores populares e as fórmulas dos curandeiros que ditam esta lei, são biologistas moleculares que estudam péptidos cerebrais, endomorfinas, hormonas, linfoquinas e interleuquinas.

Sabia-se que o corpo possuía duas linguagens essenciais para viver e adaptar-se a um meio ambiente simultaneamente hostil e mutável: a linguagem nervosa e a linguagem imunológica. Duas maneiras muito diferentes de apreender situações infinitamente variáveis. Havia de certa maneira uma partilha do trabalho:  de um lado o cérebro, espécie de poder executivo que vê, que ouve, que apalpa, que saboreia, que sente, que toma decisões e organiza a adaptação;  do outro, o sistema imunitário, espécie de exército, de polícia, que está permanentemente de sentinela para impedir que os intrusos, vírus, bactérias, enxertos, células anormais, venham ameaçar a integridade do território humano.

Até ao presente, tinha-se um pouco a impressão de que se tratava de dois sistemas independentes, executando cada um um trabalho distinto. Pois bem, não é mais o caso;  se no corpo social o poder político dirige o exército e a polícia e não pode viver sem contar com a sua fidelidade, do mesmo modo o corpo humano não vive com um sistema imunitário independente do sistema nervoso, mas com um cérebro que orquestra tudo, inclusive as nossas defesas, sabendo que em contrapartida a nossa polícia o informa permanentemente da situação e da segurança nas fronteiras, nos pontos quentes. Há uma espécie de diálogo permanente entre as duas linguagens do corpo com predominância do cérebro. Hoje, começa-se a comprová-lo. Se o cérebro não puder influir sobre as causas do mal, a sua maneira de reagir intervém, para bem ou para mal, sobre a maneira como o corpo se vai defender quando em dificuldades. À nossa volta circulam permanentemente agressores perigosos, células tumorais. O que pode mudar, em função do nosso tónus cerebral, é a maneira mais ou menos forte com que os mantemos em respeito. A moral de aço, pulso de ferro, poder-se-ia dizer. Quando o moral está excelente, tudo vai bem e a resistência é máxima. Quando o moral baixa, as defesas diminuem e os vírus, as bactérias e  os tumores podem facilmente atacar.

MARTINE ALLAIN-REGNAULT, In: "Sciences et Avenir", Janeiro, 1986, p. 24

 

 

Texto 4

 

Quando há um século o leitor se sentava ao canto do lume, com os pés enfiados nas pantufas, podia dispor do seu tempo e bastava-lhe ver no jornal no começo de uma coluna: «Na Câmara dos Deputados...» ou «No Palácio...», para ler o artigo de um extremo ao outro e saber o que acontecera de importante na Câmara dos Deputados ou no Palácio. A arte dos títulos ainda não existia. Hoje não nos encontramos mais nessa situação: o leitor tem as suas exigências sobre as quais somos informados pelas sondagens dos Institutos de opinião pública. Nos Estados Unidos e na Inglaterra, muito mais do que no nosso país, os grandes quotidianos mandam fazer inquéritos para conhecerem os tipos de artigos, de notícias ou de colaboradores que os leitores mais apreciam.  Eis, em algumas palavras, quais  os resultados.

A massa dos leitores ─ é necessário falar de massa uma vez que sabemos agora que não há imprensa sem grande tiragem ─ lê com o maior agrado, por ordem de preferência, primeiro as notícias relativas a grandes sinistros (inundações, terramotos, etc.); vêm imediatamente a seguir aquilo que nós designaremos de grandes acontecimentos ou "faits divers" (acidentes de aviação, acidentes de comboios, etc.); em seguida, ou no mesmo plano, os crimes e os divórcios (nos países anglo-saxónicos, os divórcios tomam muitas vezes o lugar dado em França aos relatos de processos judiciais).  Noutros termos, o sangue e o sexo, eis o que procura o leitor. Vêm em seguida os desportos. Têm-se visto certos jornais, cuja tiragem é medíocre, decidir fazer uma página desportiva e felicitarem-se por esse motivo. É somente depois que vêm as notícias políticas, excepção feita, evidentemente, a acontecimentos de primeira ordem como, por exemplo, a morte de Staline. Na maior parte das vezes não se lê mais do que os títulos.  Quanto às notícias científicas, nem vale a pena falar!

   Por outras palavras, estamos numa época em que a curiosidade  do público se encontra ainda num estádio primário. Parece que os leitores exigem do seu quotidiano uma leitura fácil; é-lhes indispensável títulos e subtítulos para saberem rapidamente o que se passou, e ilustrações fotográficas e desenhos. A primeira página de certos jornais limita-se a apresentar títulos e imagens.

Estamos chegados a uma questão terrível: a imprensa popular será necessariamente vulgar? Teremos de abandonar a esperança de vir a ter uma imprensa com certo nível intelectual e moral? É difícil responder com um sim ou com um não a esta questão, porque a imprensa é o reflexo da sociedade onde ela aparece. Não gostaria de aqui minimizar a responsabilidade dos jornalistas; ela é grande e mesmo maior. Os directores de jornais não são vulgares comerciantes. Os jornais não são apenas veículos de informações, são também veículos de opiniões; eles têm uma importância social que nenhuma outra mercadoria possui. Neste sentido, a responsabilidade de todo o jornalista que se preze deve levá-lo a tentar educar o seu público; sem dúvida, ele dar-lhe-á, numa  certa medida e num certo tom, com que satisfazer-lhe a curiosidade, mas deverá além disto procurar educá-lo, porque a imprensa é também um meio de educação.

Todavia, muitos jornalistas a quem tem sido feita a censura de estupidificar o público respondem: «Dêem-nos outra clientela! É culpa nossa se as pessoas se precipitam para os jornais que lhes apresentam crimes, sangue, etc.? Por que é que as escolas, de onde saem os leitores de jornais, não formam leitores com outra mentalidade?»

Não se podem censurar exclusivamente os jornalistas e os directores de jornais. O esforço tendo em vista melhorar a mentalidade do público deve ser pedido a todos, às escolas, às igrejas, a todas as organizações agrupando elites, do mesmo modo que aos jornalistas.

Parece-me que dois pontos devem ser postos em relevo. O primeiro, é que os leitores deveriam consagrar um pouco mais do seu tempo à leitura dos jornais. As sondagens revelam-nos que muitos deles não lêem mais do que os títulos.  Como familiarizar-se com as questões importantes da nossa época  se não se lê o que diz respeito à vida política, nacional ou internacional? Importa, pois, saber dar um mínimo do seu tempo à leitura do quotidiano na vida de todos os dias.

O segundo ponto, é o de obter jornais que tenham uma maior preocupação com a dignidade do seu público, e em particular com a verdade. Todo o leitor tem o direito e o dever de escrever a um director de um jornal se  entender poder censurá-lo por não ter respeitado a verdade. Certos jornais vendidos às centenas de milhares de exemplares parecem ter um desprezo absoluto pela verdade. Quer se trate de questões políticas ou de assuntos privados, sobretudo se são explosivos, borrifam-se plenamente para a verdade quando a história lhes parece divertida de contar. Isto é inadmissível. O poder dos leitores a este respeito é muito maior do que geralmente se pensa. As suas cartas dirigidas à direcção de um jornal têm muitas vezes um resultado sério.

Para concluir, gostaria de responder claramente à questão que há pouco punha a mim mesmo. Sim, penso que se pode, mesmo com grandes tiragens, ter uma imprensa de qualidade, nas condições que indiquei. Em todo o caso é necessário desejá-lo.  Seríamos culpados de abandonar como um caso desesperado esta imprensa, muitas vezes bastante vulgar porque o público que a compra se resigna; está na possibilidade de cada um de nós fazer um esforço para remediar esta situação, de tal modo que uma imprensa de qualidade permita tirar o homem de preocupações demasiado estreitas, para o fazer participar um pouco mais na vida do mundo.

P. DENOYER, Ce que réclame le lecteur d'aujourd'hui, in: "Aspects de la Société Française", pp. 215-218.

 

 

Texto 5
 

A electrónica e a informática trouxeram novos meios ao escritório, tornando a comunicação, a informação e a eficiência administrativas mais rápidas e completas. Vários são os produtos e serviços que estas duas tecnologias colocaram ao dispor da gestão empresarial.

O audifone permite a uma empresa ou a qualquer serviço, a partir de uma linha telefónica única, difundir informações a um grande número de pessoas que a chamam simultaneamente.

Basicamente, o audifone funciona da seguinte maneira:  as telecomunicações colocam, nas centrais telefónicas, difusores que se adaptam de maneira muito flexível ao volume das chamadas.

Cada caixa difusora possui um ou dois circuitos de recepção da modulação sonora (quatro por circuito) e de um a oito circuitos de modulação para os auditores.  O aparelho permite todo o tipo de configurações até à transmissão de uma mesma modulação para 32 canais. É possível reunirem-se vários dispositivos de 32 canais no mesmo número. As aplicações do audifone consideradas mais comuns são as de promoção de um produto ou de um serviço (preço, características, postos de venda), informações úteis e recreativas ou de referência (farmácias, táxis, aviões, espectáculos, edições).

A telescrita é outro produto recente. Permite a dois interlocutores afastados trocarem simultaneamente e a grande distância informações gráficas. O sistema permite trabalhar-se em conjunto e trocar impressões e comunicações. Consiste esquematicamente numa placa electrónica ─ prancheta, dotada de teclas que permitem seleccionar cores, designar um ponto qualquer no ecrã do televisor de recepção através de um «spot» luminoso, safar parte de um desenho ou palavras, memorizar dados gráficos. A esta placa está associado um processador que assegura a gestão do sistema, particularmente a codificação das informações gráficas, a sua emissão e recepção.  O ecrã de recepção é constituído por um vulgar monitor de TV. A telescrita pode funcionar conjuntamente com a teleconferência e tem-se revelado muito útil para as empresas gráficas, para os criadores gráficos e, também, para as pessoas com deficiências auditivas. Uma característica interessante é a dos terminais de telescrita e videotex poderem ser integrados, para receberem e indicarem visualmente e de uma maneira simultânea páginas de informações do tipo videotex.

A teleconferência vai tornar-se, num mundo muito denso de transportes e cada vez com uma maior exigência de celeridade e poupança de tempo, numa ferramenta de comunicação para a empresa.

A comunicação entre grupos e equipas, indispensável à vida económica moderna, apresenta alguns factos contraditórios como a necessidade de, trabalhando-se em grupo, se multiplicarem contactos e reuniões e, por outro lado, a necessidade de dividir e descentralizar a gestão, o que obriga a que haja sempre contacto entre grupos e pessoas.  Portanto,  a necessidade de contacto é cada vez mais premente. Perante estas dificuldades só há duas maneiras de resolvê-las: ou da forma tradicional, que é a deslocação de pessoas e grupos, comportando isso perdas de tempo e gastos continuados com transportes ou, para reuniões mais frequentes, utilizar a teleconferência.

Com efeito, este meio permite que se efectuem reuniões de trabalho entre dois grupos afastados mesmo que longinquamente, ou mesmo três ou quatro grupos. Os participantes sentam-se em redor de uma mesa dotada de microfones e altifalantes e dialogam livremente entre si como se estivessem numa reunião convencional.  Para trocar documentos escritos podem dispor de telecópia e, para executarem grafismos, dispõem ainda de telescrita.

Empresa que queira dotar-se de um sistema de teleconferência terá de dispor de um espaço próprio para este tipo de reuniões. Trata-se de um estúdio que, no seu tamanho "standard", terá 2 m2 e algum tratamento acústico. Os gastos com a instalação deste sistema rapidamente são pagos pelas poupanças em todo o género de deslocações. A rentabilidade da teleconferência é ainda mais evidente se se levar em conta a contabilização de custos em tempo de deslocações das pessoas.

Se a teleconferência permite a troca verbal e o intercâmbio de documentos escritos ou grafismos, a videoconferência (ou vídeo-reunião) juntar-lhe-á a imagem dos intervenientes. Cada participante não só ouve como vê os outros. O sistema está adequado a reuniões de quatro a seis pessoas e não há necessidade de operador de imagens, já que o sistema é automático e funciona por simples digitação  da pessoa que está a falar. O equipamento consta de dois monitores de TV, câmaras até ao máximo de seis, microfones, centro de controlo e comutação automática de imagens ─ pode eventualmente ser manual ─, podendo juntar-se uma câmara vertical para leitura de documentos, câmaras panorâmicas, telecopiador. Este sistema está em fase de lançamento, tendo obtido por parte de grandes empresas boa aceitação. Prevê-se que até ao final desta presente década a videoconferência esteja implantada por toda a Europa, América do Norte e Japão.

Sendo estas as formas mais avançadas de comunicação à distância, não se podem esquecer as formas mais convencionadas, as quais têm sido sujeitas a uma enorme evolução tecnológica e continuam a prestar muitos e bons serviços. Graças ao conjunto da informática e das telecomunicações, a transmissão tele-electrónica de documentos está em pleno auge com o desenvolvimento de novos serviços de comunicação e transmissão de textos.

Neste contexto, o telex continua, apesar da sua «antiguidade», a prestar óptimos serviços. Entre o telex tradicional e o novo telex a distância é grande. Em virtude da sua grande difusão e standardização, o desenvolvimento e o futuro do telex estão assegurados. As novas possibilidades introduzidas pela tecnologia permitem integrar no telex uma caixa de accionamento de terminal, um teclado maior e mais versátil, poligrafismo, maior velocidade de batida, diminuição de ruído, maior simplificação técnica, incorporação de ecrã de visualização de texto, grande capacidade de memorização, inter-relação com computador tornando-se num periférico para a transmissão à distância.

A telecópia é outro procedimento que podemos considerar como tradicional, nascido pouco depois do telex. Depois dos aparelhos de transmissão analógica, chegaram os de transmissão através de codificação binária, permitindo um serviço mais rápido e de melhor qualidade. A impressão e transmissão são feitas através das técnicas numéricas e a telecópia inclui funções de resposta automática como a identificação do transmissor.

Outro produto telemático é o teletex, uma máquina de tratamento de texto que elabora documentos e faz o tratamento de texto e os transmite à distância através de redes de telecomunicações. O teletex permite a compatibilidade entre máquinas - mesmo internacionalmente ─ assegurando a transmissão de textos e documentos de memória a memória.

Alguns deste produtos e serviços ainda não estão implantados em Portugal mas não tardarão a surgir. A receptividade das empresas aos meios telemáticos é apreciável, tanto mais que se conclui pela sua grande importância não só em termos de rapidez, como de economia de meios.

Haja em vista o que ocorreu com o telefax, uma telecópia prática e expedita que permite, com bastante fidelidade, o envio de mensagens e grafismos. A rede de telefax é já apreciável, após cerca de cinco anos de existência entre nós.

O futuro do escritório como centro principal de gestão e dos negócios passa necessariamente pela Telemática.

A «Escritório '90» e «Informática '90» procuram mostrar a todos os interessados aquilo que é reflexo da mudança, desde o processador de texto ao mobiliário mais moderno e ergonómico, passando pelo sempre presente computador, cada dia mais utilizado e mais potente.

Extraído do destacável produzido por Publimédia e publicado no jornal EXPRESSO de 29-Set.-1990.

 



[1] - Vejam-se textos exemplificativos no capítulo onde é abordada a descrição.

 

[2] - Acerca dos problemas da codificação estrutural da mensagem escrita e das condições para a sua perfeita prática, veja-se, por exemplo, a sugestão fornecida por J. D. Pinto Correia, na obra já citada, pp. 104-109. Segundo ele, a codificação estrutural da mensagem poderá fazer-se de acordo com diferentes fases, que sinteticamente transcrevemos:  1) - tema - Assunto; 2) - Várias ideias - criatividade; 3) - Natureza da mensagem (intenção, nível de língua, doseamento da lógica/expressividade); 4) - Plano  (de acordo com os objectivos); 5) - Redacção da mensagem; 6) - 1ª revisão (coerência interna); 7) - 2ª revisão (aperfeiçoamento); 8) - 3ª revisão (pormenores); 9) - Publicação ou apresentação do trabalho.

 

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