Acesso à hierarquia superior.

Henrique J. C. de Oliveira, Gramática da Comunicação, Col. Textos ISCIA, Aveiro, FEDRAVE, Vol. I, 1993, 311 pp., Vol. II, 1995, 328 pp.


II

A Informação: base da comunicação

 

Onde obter a informação: serviços de documentação; meios de comunicação social; livros técnicos, obras de vulgarização e manuais escolares; bibliotecas públicas e privadas; dicionários e enciclopédias; meios informáticos. Algumas regras para pesquisa da informação. Como organizar/arquivar a informação. Saber ouvir e tomar notas. A leitura e sua classificação tipológica. Condições para uma boa leitura. A leitura rápida. A leitura em  voz alta. O plano ou estrutura dos textos. O resumo.

 


A LEITURA E SUA CLASSIFICAÇÃO TIPOLÓGICA

Apesar de grande  número de informações ser actualmente veiculado através dos meios de comunicação social, pela televisão, pelo cinema e pela rádio, ou seja, através da imagem e da palavra oral, a verdade é que a leitura continua o grande meio de obtenção de informações. Se o acontecimento televisionado é mais cativante e a ele prestamos mais facilmente atenção, o facto é que a leitura do mesmo acontecimento através dos jornais constitui um complemento importante e permite uma maior informação. A notícia apresentada através do pequeno ecrã é irreversivelmente fugaz e, ao mais pequeno imprevisto, arriscamo-nos a perder pormenores importantes sobre o assunto.  Uma pessoa ao lado que nos interrompa, um ruído súbito, e lá se vão aqueles pormenores importantes aos quais deveríamos ter prestado atenção, sem a possibilidade de os revermos. A menos que tenhamos o cuidado de gravar a informação em vídeo. Mas se a mesma notícia está presente no jornal, além de geralmente mais completa, de um maior desenvolvimento até ao pormenor quando o acontecimento é de elevada importância, o risco de perdermos pormenores, importantes ou não, praticamente não existe. Poderemos ler e reler a notícia quantas vezes quisermos ou forem precisas, captando tudo até ao mais ínfimo detalhe, se isso nos interessar.   E se, por qualquer motivo, somos interrompidos, ou se algum aspecto nos escapa motivado por alguma dificuldade de compreensão do código linguístico, poderemos interromper a leitura, consultar alguém ou o dicionário e retomá-la mais tarde.

A informação escrita não é fugaz. Ela está ali permanentemente, à nossa disposição, fixa no suporte material de que é feito o jornal ou revista, sempre disponível para a leitura.  E se é de grande interesse, poderemos mesmo  destacá-la, recortá-la e guardá-la no nosso sistema de arquivo, para, em qualquer altura, sempre que necessário, poder voltar a prestar-nos os seus serviços.

De tudo isto se conclui, quer queiramos quer não, que a leitura é ainda dos melhores meios, senão o melhor, de aumentarmos a nossa cultura. Daí que leituras numerosas e regulares se tornem indispensáveis para um enriquecimento da nossa cultura e da nossa personalidade, além de que, nas nossas actividades profissionais, continuam ainda a ser a única e melhor maneira de recebermos informações.

De acordo com trabalhos especializados, a leitura é a prática de maior importância no estudo, preenchendo em determinadas áreas do conhecimento cerca de 90 % do tempo de estudo privado. É o que acontece, por exemplo, com a Literatura e a História. [1]

Ainda segundo esses  mesmos trabalhos, existem diferentes  espécies de leitura. Embora seja discutível e possivelmente incompleta, poderemos elaborar uma classificação tipológica das leituras, tendo em conta dois aspectos:

1º - o meio fisiológico predominantemente utilizado; 

2º - a intencionalidade da leitura.

Tendo em conta a intervenção fisiológica predominante, poderemos considerar três tipos de leitura:  leitura vocal, em voz alta;  leitura subvocal ou subvocalizada, em voz baixa;  leitura visual.

Estes três tipos dividem-se, por sua vez, em subtipos, presentes no quadro da figura 5.

Figura 5: Quadro com os tipos de leitura, tendo em conta a intervenção fisiológica (a voz e o olhar ou apenas o olhar).

Tendo em conta a intencionalidade que preside à leitura, podemos encontrar diferentes classificações. 

Harry Maddox, na obra já citada, página 106, apresenta-nos sete tipos diferentes, que passamos a apresentar:

- leitura para dominar a informação e o conteúdo, que se caracteriza por ser cuidadosa, lenta e repetida;

- leitura para explorar, folheando atentamente um livro para obtenção de uma visão geral;

- leitura de revisão, para recordar ou consolidar informações ou conhecimentos já adquiridos;

- leitura de pesquisa, para procurar determinadas informações ou respostas a perguntas específicas;

- leitura crítica, para formulação de juízos de valor sobre um livro, um artigo, etc.;

- leitura de distracção;

- leitura de revisão linguística, tendo em conta a correcção de deficiências na exposição das ideias: pontuação, ortografia, estilo, redacção das frases, etc.

No trabalho já citado de João David Pinto Correia, página 69, é-nos apresentada outra classificação da leitura, tendo em conta a intencionalidade da leitura realizada, dividida em apenas quatro aspectos:

- Leitura de intenção artística, como é o caso, por exemplo, da declamação de um poema;

- Leitura de apreciação estético-literária;

- Leitura de análise ou de estudo, que se pode socorrer dos tipos de leitura indicados no quadro da figura 5;

- Leitura de compreensão informativa, que pode ser, segundo o Autor, predominantemente rápida mas, em certos passos do texto, semi-selectiva ou mesmo integral.

Dos quatro últimos tipos de leitura, aquele que é aplicado com mais frequência é o de compreensão informativa. É o que sucede quando temos de tomar conhecimento de relatos, artigos, ensaios, relatórios, notícias, etc.

 

CONDIÇÕES PARA UMA BOA LEITURA

Apesar dos vários tipos de  leitura apresentados nas páginas anteriores, limitaremos a nossa análise a dois tipos apenas:   à leitura rápida e à leitura em voz alta.

Para qualquer um destes tipos de leitura, como aliás para todos os restantes, há um conjunto de condições indispensáveis sem as quais a pesquisa e a descodificação da informação não poderá verificar-se. Essas condições têm a ver com os aspectos fisiológicos, psicológicos e psicolinguísticos.

Fisiologicamente, uma boa leitura dependerá, em primeiro lugar, das condições de visão da pessoa que lê, mas poderá também depender das boas condições do aparelho fonador, bem como do domínio de técnicas específicas para o caso da leitura em voz alta para outras pessoas, tendo em vista a modalidade e os objectivos a alcançar.

Psicologicamente, a leitura dependerá essencialmente de quatro factores: da motivação ou interesse por ela suscitado, da atenção, geralmente relacionada com o interesse, da sensibilidade e da capacidade de memorização.

Mas para uma boa leitura, com uma adequada descodificação e registo dos conteúdos, torna-se necessário um conjunto de requisitos de ordem psicolinguística: conhecimento do sistema linguístico utilizado, sensibilização para o conjunto de elementos auxiliares da língua (por exemplo, conhecimento dos sinais de pontuação), conhecimento do vocabulário empregue e capacidade de apreensão da globalidade da mensagem.

 

A LEITURA RÁPIDA

Actualmente, face à elevada quantidade de meios de   informação e ao reduzido tempo de que dispomos,  torna-se cada vez mais necessária a aquisição  da capacidade de leitura rápida, competência cada vez mais necessária na actividade profissional dos tempos modernos. Este tipo de leitura é essencialmente útil quando se torna necessário apreender uma elevada quantidade de informação em pouco tempo. Pressupõe, como é lógico, boas condições de natureza fisiológica, psicolinguística e psicológica, bem como o domínio de algumas técnicas, variáveis de acordo com o tipo de leitura que se pretende fazer.

Embora ultrapasse um pouco o âmbito deste trabalho e apesar de haver um razoável número de obras especializadas sobre este tipo de leitura[2], convirá reflectir um pouco sobre o assunto.

A primeira etapa, antes de efectuarmos a leitura rápida, consistirá em fazer um inventário dos tipos de leitura e objectivos inerentes a cada um. Se temos de aprofundar os nossos conhecimentos sobre determinada matéria, não será pela leitura rápida que conseguiremos fazê-lo. Mas através dela, numa primeira fase ─ a fase de pesquisa ─,  poderemos seleccionar e classificar aquilo que apresenta maior ou menor interesse para os objectivos em vista.

A leitura rápida torna-se particularmente útil quando pretendemos abranger um leque amplo de informações como ponto de partida para um eventual aprofundamento das mesmas.

Suponhamos que pretendemos saber o que os jornais do dia apresentam sobre determinado acontecimento que tem para nós uma certa importância. Relativamente aos jornais, poderemos considerar três fases de leitura importante.

Na primeira fase, folheamos cada jornal, prestando atenção apenas aos títulos e imagens, de modo a verificarmos até que ponto apresentam informação com eventual interesse. Nesta primeira fase, haverá já uma primeira triagem, separando-se os jornais com alguma informação eventualmente útil daqueles que nada apresentam com interesse.

Na segunda fase, iremos prestar uma maior atenção aos jornais seleccionados. A nossa atenção  irá centrar-se com maior profundidade nos títulos e no "lead", havendo uma nova selecção, mais rigorosa, dos artigos com interesse.

A terceira e última fase será destinada à leitura completa das notícias ou artigos que merecem  a nossa leitura atenta e reflectida.  E se se dá mesmo o caso de determinados artigos apresentarem  para nós interesse em termos de futuro, deveremos destacá-los e arquivá-los no ficheiro respectivo.

Tendo em conta a leitura do jornal, François Richaudeau, na obra anteriormente citada, apresenta-nos um plano com diferentes etapas para a sua leitura:

                      Primeira fase:

1 - Relance rápido por todo o jornal, tendo em conta os títulos - 2 minutos.

2 - Leitura da notícia mais importante - 2 minutos.

3 - Leitura do editorial - 1 minuto.

                      Segunda fase interesses gerais:

4 - Leitura das páginas interiores: 3 artigos no máximo - 3 minutos.

5 - Selecção de outros 5 artigos - 2 minutos.

                      Terceira fase interesses particulares:

6 - Leitura do essencial das informações financeiras - 3 minutos.

7 - Leitura rápida dos resultados desportivos - 2 minutos

O total da leitura de um jornal, seguindo este esquema, não ocupa mais do que 15 minutos.

Poder-se-á dizer que este esquema não é o mais adequado a todos nós, tendo em conta os interesses individuais; mas a verdade é que é um modelo, a partir do qual poderemos elaborar o nosso próprio esquema de leitura, adequando-o aos interesses inerentes à actividade de cada um.

Se se trata de tomar um rápido conhecimento do conteúdo de um livro, poderemos adoptar a mesma técnica de leitura rápida para uma apreensão global do seu conteúdo, tendo em vista uma selecção em função dos nossos interesses. A primeira leitura que deveremos fazer será, logicamente, a do sumário ou do índice, o que irá permitir-nos obter uma ideia do conteúdo de cada capítulo, facilitando-nos a selecção. Será conveniente efectuar também uma leitura do prefácio ou da introdução, bem como da conclusão.

Se a obra consultada se nos afigura apresentar informações com interesse, então convirá, na fase seguinte, efectuar a leitura rápida do capítulo ou capítulos seleccionados, podendo, a partir daqui, adoptar-se uma leitura integral lenta ou semi-selectiva, em função do grau de interesse.

Tendo em vista facilitar a prática deste tipo de leitura, que consideramos vantajosa como meio de selecção da informação (aquilo que nos livros especializados sobre o assunto é designado por «skimming» ou «écremage»), apresentamos algumas regras práticas. No entanto, antes de passarmos a transcrever essas regras, convirá frisar que a leitura rápida nunca poderá dispensar uma leitura atenta, completa e reflectida de certos textos. Vejamos então algumas regras conducentes a melhorar a leitura rápida:

1 - Evitar a leitura palavra a palavra - está provado que a nossa vista não se desloca linearmente, mas vai dando pequenos saltos, captando de cada vez blocos completos de texto.

2 - Evitar articular enquanto se lê - a nossa vista é muito mais rápida que os nossos órgãos articulatórios. Podemos ler utilizando apenas a mente e dispensando totalmente a articulação.

3 - Reduzir o número de pontos de fixação - embora a vista se desloque seguindo a linha escrita, da esquerda para a direita e de cima para baixo, o seu movimento não é linear, mas vai dando, como acima dissemos, pequenos saltos. Assim, para acelerar a leitura, é vantajoso reduzir o número de pontos de fixação.

4 - Como regra importante, há que ter em conta o seguinte: se ler depressa é vantajoso, mais importante é compreender e reter o essencial da informação. Daí que será este último aspecto que deveremos considerar como importante e com o qual nos deveremos preocupar. Por outro lado, a velocidade da leitura depende de múltiplos factores, tais como a extensão das linhas de  escrita, a dimensão dos caracteres, o espaçamento das linhas, o estilo em que o texto está escrito, o nível de língua utilizado, o cansaço, o interesse suscitado pela leitura, etc.

 

Sugestão de trabalho 2

1- Antes de começar a ler os textos transcritos, extraídos da página de um jornal diário, consulte o seu relógio e registe a hora numa folha de papel. Para facilidade de leitura, amplie os recortes do jornal clicando sobre eles.

2 - Inicie a leitura e, uma vez concluída, consulte novamente o relógio, registe a hora e veja quanto tempo demorou.

3 - Procure após a leitura responder às questões, de preferência por escrito e sem olhar para o texto, a fim de verificar se conseguiu captar as informações nele contidas. 

As questões encontram-se imediatamente a seguir ao texto. Apesar de algumas serem extremamente simples, mesmo assim não deixe de procurar  dar-lhes resposta.

Clicar para ampliar.

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QUESTÕES
:

Sem consultar o texto, procure responder às seguintes questões:

1 -   O que motivou a primeira notícia?

2 -   A que região diz respeito?

3 -   De que modo é iniciada a notícia?

4 -   Poder-se-á estabelecer uma relação de afectividade entre o sujeito enunciador do discurso e o objecto que o motivou?

5 -   Que elemento do texto permitiu chegar à conclusão da pergunta anterior?

6 -   Como considera o Autor da notícia a linha a que faz referência?

7 -   Qual a sua situação actual?

8 -   Como se mostram os ferroviários perante essa situação?

9 -   Que pedem os ferroviários?

10 -  De que modo se realizou o convívio?

11 -  Quantos ferroviários estiveram presentes?

12 -  Como se chama o orador?

13 -  Preste atenção ao fragmento: «é (...) necessário que olhem para nós, não como velhos do Restelo, mas sim como pedras básicas e importantes de todo um passado que importa continue a ser tomado como básico e indispensável para a construção do futuro que se avizinha.»  

13.1- O excerto revelará alguma cultura por parte do orador?

13.2- Qual o elemento que nos permite chegar a uma conclusão sobre o assunto?

13.3- Onde foi ele buscar a referência?

13.4- Qual a sua significação?

14 -  No recorte do jornal transcrito haverá outras notícias?

14.1- Quantas?

15 -  Que factos são nelas referidos?

16 -  De entre as restantes notícias menores, qual deverá ter maior interesse para a maioria dos leitores?

4 -   Retome o texto e as respostas que deu às questões. Procure verificar qual a percentagem de respostas que acertou e consulte a tabela:

0 ─ 24 % - Excessivamente fraco. Necessita de fazer vários exercícios deste género, de modo a treinar a sua capacidade de leitura e retenção da informação.

25 ─ 49 % - Fraco. Consegue captar algumas ideias, mas o seu nível é ainda insuficiente. Siga os conselhos da alínea anterior.

50 ─ 74 % - Apresenta um nível médio. Pode melhorar as suas capacidades com algum treino.

75 ─ 94 % - A sua capacidade de leitura e retenção é bastante boa e tanto melhor quanto mais reduzido for o tempo em que o consiga fazer.

95 ─ 100 % - A sua capacidade de leitura e retenção é excepcional, especialmente se o consegue com  reduzido tempo de leitura.

 

Se quiser desenvolver a sua capacidade de leitura rápida, procure dedicar todos os dias 10 a 20 minutos a actividades deste género.  Comece por artigos curtos, por exemplo, artigos jornalísticos, de preferência  daqueles que aparecem em semanários e revistas.   Sobretudo, lembre-se que a velocidade de leitura é variável: livros técnicos exigem uma leitura mais lenta; textos literários ou histórias de leitura agradável lêem-se mais depressa. Há actualmente programas informáticos concebidos especialmente para o treino e desenvolvimento da capacidade de leitura rápida.

  

A LEITURA EM VOZ ALTA

Em várias ocasiões e, por vezes,   quando menos o esperamos, somos obrigados a enfrentar uma audiência para expormos determinado tema, para animarmos uma reunião de confraternização, um convívio, para divulgarmos um novo produto, etc. Na nossa mente surge de imediato uma, se não várias preocupações:  conseguirei expor aquilo que pretendo? Irão aceitar ou compreender as minhas ideias? Serei devidamente escutado? E que irão pensar de mim?

São estas preocupações lógicas e comuns a todos quantos passam por uma situação deste género. Se tal não sucede, o que será difícil verificar-se, ou é porque já se tem muita experiência em situações similares, um bom conhecimento e domínio das suas próprias competências comunicativas, ou, o que será lamentável, uma grande dose de inconsciência.

Antes de enfrentarmos uma situação de comunicação perante uma audiência, há que reflectir sobre diferentes aspectos. Trata-se de uma situação com carácter artístico, da declamação de um poema, da leitura de um texto literário, sendo o objectivo o de entreter e cultivar um público assistente? Trata-se de uma situação de comunicação com carácter profissional, da apresentação de um relato, de uma demonstração, de uma exposição didáctica? Trata-se de um discurso de carácter político, de uma palestra, de um debate? E quem são os receptores, que tipo de audiência iremos ter de enfrentar? E o local e os meios de que dispomos para a apresentação do tema?

Há, pois, toda uma série de problemas importantes que teremos de equacionar, começando por uma planificação e uma preparação e reflexão cuidada sobre todos os aspectos.

De uma maneira geral, podemos considerar quatro etapas importantes até ao momento da apresentação, com a leitura em voz alta do trabalho realizado:

1ª etapa - escolha do tema e registo de língua adaptado à natureza da mensagem, do auditor e dos objectivos[3].

2ª etapa - planificação e realização da mensagem, com momentos vários e sucessivos, respectivamente: recolha das informações e elaboração do plano ou esquema de desenvolvimento.

3ª etapa - codificação da mensagem, ou seja, elaboração de todo o texto de acordo com o plano previamente estabelecido e tendo em conta as normas da competência linguística, as técnicas de argumentação, o nível da audiência, os meios materiais disponíveis (condições acústicas da sala, meios audiovisuais disponíveis, etc.) e os objectivos.

4ª etapa - Revisão e prática de leitura.

5ª etapa - apresentação perante um auditório de todo o trabalho realizado.

 Embora todas as etapas sejam importantes, é na última que vai culminar todo o trabalho. Para que ele alcance o pleno sucesso, há que ter em conta, nesta última etapa, três imperativos fundamentais:  a audibilidade,  a clareza e a vivacidade da exposição. Para que estes três requisitos se verifiquem, é necessário articular correctamente as palavras, falando num ritmo adequado àquilo que se está a transmitir, evitando um tom monocórdico, procurando imprimir ao discurso vivacidade e expressividade.  Torna-se indispensável ter uma noção correcta do valor dos sinais de pontuação, que constituem valioso auxiliar durante a leitura. Além de nos indicarem as pausas, permitem-nos identificar os diferentes tipos de frase, aos quais correspondem entoações específicas[4].

  Há igualmente toda a vantagem em ir prestando atenção ao público. Olhar fixamente para o ar ou para qualquer lugar da sala, como quem procura algures a inspiração, é muito pouco vantajoso e impossibilita o orador de prestar atenção às reacções daqueles que o escutam.

Importante, e necessário também, é variar o ritmo e a entoação, de acordo com o tipo de texto que se lê e de acordo com os conteúdos. Nas situações normais de comunicação, ora falamos mais depressa, ora mais lentamente e, por vezes mesmo, com hesitações. Quando queremos destacar uma ideia importante, destacamos uma palavra ou uma frase pronunciando-a com mais intensidade ou mais pausadamente e, por vezes até, chegamos a pô-la em evidência destacando as sílabas.

A comunicação nas situações normais caracteriza-se pela grande variedade de ritmos, entoações e pausas, de acordo com as funções da linguagem. Ora, se efectuamos a leitura de um texto, seja ele nosso ou de autor alheio, e sobretudo se se trata de um texto com carácter literário, deveremos prestar atenção às intenções do Autor, aos momentos de ironia, aos momentos de humor, às descrições, à efusão lírica[5], aos diálogos.

 

Sugestão de trabalho 3

1 - Procure alguns textos de géneros  diferentes:  um poema, um excerto de um discurso,  uma notícia de um jornal, uma pequena narrativa.

2 - Leia-os em silêncio, procurando captar-lhes as ideias.

3 - Procure lê-los em voz alta, pensando na situação de quem ouve. Procure tornar a sua leitura clara, audível e interessante. Se possível, procure efectuar esta actividade em grupo, com pessoas da sua confiança, pedindo-lhes que o escutem e, sinceramente, efectuem a respectiva crítica.

NOTA: Como alternativa, poderá utilizar um gravador. Leia os textos ao microfone, rebobine e escute aquilo que leu com "ouvidos críticos". Procure descobrir onde falhou, e encontrar a respectiva causa.

Se tem dificuldade em encontrar textos, efectue a leitura dos três exemplares que a seguir lhe apresentamos.

Texto 1:

Piloto sofre acidente

O PILOTO irlandês Martin Donnelly sofreu ontem fractura da perna esquerda e comoção cerebral, em consequência do despiste do seu Lotus-Lamborghini na primeira sessão de treinos do Grande Prémio de Espanha, em Jerez de la Frontera. O porta-voz da equipa anglo-italiana, James Penrose, garantiu que Donnelly não corre perigo de vida. Três semanas depois do violento acidente do Lotus de Derek Warwick, no Grande Prémio de Itália, também o carro de Donnelly se partiu em duas partes, depois de embater nos "railes" de protecção da curva Enzo Ferrari, a cerca de 250 quilómetros horários.

O brasileiro Ayrton Senna, em McLaren-Honda, obteve o melhor tempo dos treinos, quase um décimo de segundo menos que o seu colega de equipa Gerhard Berger.

Extraído do jornal Expresso nº 935, de 29 de Setembro de 1990.

 

texto 2:

Apelo do general de Gaulle - 18 de Junho de 1940[6]

Os chefes que, desde há bastantes anos, estão à frente dos exércitos franceses, formaram um governo.

Este governo, alegando a derrota dos nossos exércitos, estabeleceu relações com o inimigo para cessar o combate.

De facto, nós fomos, nós estamos esmagados pela força mecânica, terrestre e aérea do inimigo.

Infinitamente mais do que o seu número, são os carros de  assalto, os aviões, a táctica dos Alemães que nos fazem recuar. Foram os carros de assalto, os aviões, a táctica dos Alemães que surpreenderam  os nossos chefes ao ponto de os levar à situação em que hoje se encontram.

Mas está dita a última palavra? A esperança deve desaparecer? A derrota é definitiva? Não!

Acreditai-me, a mim que vos falo com conhecimento de causa e vos digo que nada está perdido para a França. Os mesmos meios que nos venceram poderão um dia dar a  vitória.

Porque a França não está só!  Ela não está só! Ela não está só! Ela tem um vasto Império atrás de si. Ela pode fazer um bloco com o Império britânico que domina o mar e continua a luta. Ela pode, tal como a Inglaterra, utilizar sem limites a imensa indústria dos Estados Unidos.

Esta guerra não está limitada ao território infeliz do nosso País. Esta guerra não está limitada pela batalha da França. Esta guerra é uma guerra mundial. Todas as faltas, todos os atrasos, todos os sofrimentos, não impedem que haja, no universo, todos os meios necessários para esmagar um dia os nossos inimigos. Fulminados hoje pela força mecânica, poderemos vencer amanhã por uma força mecânica superior. O destino do mundo está aí.

Eu, general De Gaulle, actualmente em Londres, convido os oficiais e os soldados franceses que se encontram em território britânico ou que aí vierem a encontrar-se, com armas ou sem armas, convido os engenheiros e os operários especializados das indústrias de armamento que se encontrem em território britânico ou que aí vierem a encontrar-se, a porem-se em contacto comigo.

Aconteça o que acontecer, a chama da resistência francesa não deve extinguir-se e nem se extinguirá.

Amanhã, como hoje, falarei na Rádio de Londres.

CHARLES DE GAULLE, Discours et messages, tomo 1, Livraria Plon, 1970, pp. 3-4.

 

 

Texto 3:

Sermão de Santo António

Vos estis sal terrae

 Mat. V, 13

Vós, diz Cristo, Senhor Nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhe sal da terra porque quer que façam na terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção; mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que tem ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhe dão, a não querem receber. Ou é porque o sal não salga e os pregadores dizem uma coisa e fazem outra; ou porque a terra se não deixa salgar e os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem que fazer o que dizem; ou é porque o sal não salga e os pregadores se pregam a si e não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar e os ouvintes, em vez de servir a Cristo, servem a seus apetites. Não é tudo isto verdade? Ainda mal.

Suposto, pois, que, ou o sal não salgue ou a terra se não deixe salgar, que se há-de fazer a este sal e que se há-de fazer a esta terra? O que se há-de fazer ao sal que não salga, Cristo o disse logo: Quod si sal evanuerit, in quo salietur? Ad nihilum valet ultra, nisi ut mittatur foras et conculcetur ab hominibus. «Se o sal perder a substância e a virtude e o pregador faltar à doutrina e ao exemplo, o que se lhe há-de fazer é lançá-lo fora como inútil para que seja pisado de todos». Quem se atrevera a dizer tal cousa se o mesmo Cristo a não pronunciara? Assi como não há quem seja mais digno de reverência e de ser posto sobre a cabeça que o pregador que ensina e faz o que deve; assi é merecedor de todo o desprezo e de ser metido debaixo dos pés o que com a palavra ou com a vida prega o contrário.

Isto é o que se deve fazer ao sal que não salga. E à terra que se não deixa salgar, que se lhe há-de fazer? Este ponto não resolveu Cristo Senhor Nosso, no Evangelho; mas temos sobre ele a resolução do nosso grande português Santo António, que hoje celebramos, e a mais galharda e gloriosa resolução que nenhum santo tomou.

Pregava Santo António em Itália, na cidade de Arimino, contra os hereges, que nela eram muitos; e como erros de entendimento são dificultosos de arrancar, não só não fazia fruto o santo, mas chegou o povo a se levantar contra ele, e faltou pouco para que lhe não tirassem a vida. Que faria neste caso o ânimo generoso do grande António? Sacudiria o pó dos sapatos como Cristo aconselha em outro lugar? Mas António com os pés descalços não podia fazer esta protestação; e uns pés a que se não pegou nada da terra, não tinham que sacudir. Que faria logo? Retirar-se-ia? Calar-se-ia? Dissimularia? Daria tempo ao tempo? Isso ensinaria por ventura a prudência ou a covardia humana; mas o zelo da glória divina, que ardia naquele peito, não se rendeu a semelhantes partidos. Pois que fez? Mudou somente o púlpito e o auditório mas não desistiu da doutrina. Deixa as praças e vai-se às praias; deixa a terra, vai-se ao mar e começa a dizer a altas vozes: «Já que me não querem ouvir os homens, ouçam-me os peixes». Oh maravilhas do Altíssimo! Oh poderes do que criou o mar e a terra! Começam a ferver as ondas, começam a concorrer os peixes, os grandes, os maiores, os pequenos, e postos todos por sua ordem com as cabeças de fora da água, António pregava e eles ouviam.

 ..   ...   ...  ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...  ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...

 

Quero hoje, à imitação de Santo António, voltar-me da terra ao mar, e já que os homens se não aproveitam, pregar aos peixes. O mar está tão perto que bem me ouvirão. Os demais podem deixar o sermão, pois não é para eles. Maria, quer dizer, Domina maris: Senhora do mar. E posto que o assunto seja tão desusado, espero que me não falte a costumada graça. Avé Maria.

Padre António Vieira, Sermão de Santo António. Pregado em S. Luís do Maranhão, em 1654, três dias antes de se embarcar ocultamente para Lisboa, a solicitar protecção para os índios.

 


[1] - Leia-se o capítulo V, páginas 105 a 135, do livro de Harry Maddox, Como estudar, dedicado essencialmente ao problema da leitura. Embora tratando-se de um obra essencialmente destinada àqueles que estudam, a verdade é que a sua leitura nos fornece conhecimentos importantes. A seguir se transcreve o resumo final do capítulo, págs. 134-135:

«A leitura é a parte mais importante no estudo. Os bons leitores aprendem a variar a rapidez da leitura de acordo com os seus propósitos.

A leitura implica que se faça um tipo de movimentos oculares complicados, assim como a compreensão do que se lê. Deveríamos observar os movimentos que fazemos com os olhos quando estamos a ler: os saltos, fixações, regressões e olhadelas rápidas.

As dificuldades na leitura podem resultar de movimentos oculares deficientes, de um vocabulário pobre ou de falta de compreensão. Se consideramos lenta a nossa leitura em matérias fáceis em prosa, podemos acelerar o tempo requerido mediante períodos regulares de prática cronometrada, apontando os nossos progressos num gráfico. Este método é tão bom como os métodos mecânicos para acelerar a leitura.

O aperfeiçoamento pode também fazer-se aumentando o nosso vocabulário. O melhor modo de o fazer é ler ou escrever mais, mas também pode ajudar-nos a sistematização dos nossos conhecimentos das palavras gregas e latinas. Devemos também utilizar um bom dicionário. Aprendamos a ler de um modo inteligente e crítico.  Certifiquemo-nos do plano geral do que estamos a ler e distingamos as ideias principais dos pormenores.

Asseguremo-nos de que estamos inteiramente familiarizados com a nossa biblioteca, particularmente com o ficheiro e o sistema de referências. Não confiemos na biblioteca para os livros de texto básicos. É um enorme disparate não possuir os livros necessários para as nossas disciplinas.» 

Harry MADDOX, Como estudar, 6ª edição, Porto, Livraria Civilização, 1988, pp. 134-135.

[2] - Se pretende desenvolver os seus conhecimentos acerca da leitura rápida, tem à sua disposição um razoável número de obras publicadas sobre o assunto. Entre outras, poderá consultar:

- Lionel BELLENGER, Les méthodes de lecture, Paris, P.U.F., Col. "Que sais-je?", 1978.

- François RICHAUDEAU, Michel et Françoise GAUQUELIN, Lecture rapide,  Verviers, C.E.P.L., Col. Marabout Service, Nº 102, 1969.

- Denis BARIL e Jean GUILLET, Techniques de l'expression écrite et orale, tome 1, 7ª ed., Paris, Éditions Sirey, 1988, cap. 2, pp. 41-59.

[3] - Acerca do problema dos registos ou níveis de língua, consulte-se o capítulo respectivo.

[4] - Leia-se atentamente o capítulo sobre ortografia, onde são analisados os diferentes sinais de pontuação.

[5] - Veja-se o capítulo acerca dos modos de expressão literária.

[6] - Discurso pronunciado por Charles de Gaulle na Rádio de Londres após o apelo do Marechal Pétain convidando os franceses a deporem as armas em virtude de ter assinado o armistício com os alemães.

 

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