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Onde obter a informação: serviços de documentação; meios de
comunicação social; livros técnicos, obras de vulgarização e
manuais escolares; bibliotecas públicas e privadas; dicionários
e enciclopédias; meios informáticos. Algumas regras para
pesquisa da informação. Como organizar/arquivar a informação.
Saber ouvir e tomar notas. A leitura e sua classificação
tipológica. Condições para uma boa leitura. A leitura rápida. A
leitura em voz alta. O plano ou estrutura dos textos. O resumo. |
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|
A
LEITURA E SUA CLASSIFICAÇÃO TIPOLÓGICA
Apesar de grande número de informações ser actualmente veiculado
através dos meios de comunicação social, pela televisão, pelo cinema e
pela rádio, ou seja, através da imagem e da palavra oral, a verdade é
que a leitura continua o grande meio de obtenção de informações. Se o
acontecimento televisionado é mais cativante e a ele prestamos mais
facilmente atenção, o facto é que a leitura do mesmo acontecimento
através dos jornais constitui um complemento importante e permite uma
maior informação. A notícia apresentada através do pequeno ecrã é
irreversivelmente fugaz e, ao mais pequeno imprevisto, arriscamo-nos a
perder pormenores importantes sobre o assunto. Uma pessoa ao lado que
nos interrompa, um ruído súbito, e lá se vão aqueles pormenores
importantes aos quais deveríamos ter prestado atenção, sem a
possibilidade de os revermos. A menos que tenhamos o cuidado de gravar a
informação em vídeo. Mas se a mesma notícia está presente no jornal,
além de geralmente mais completa, de um maior desenvolvimento até ao
pormenor quando o acontecimento é de elevada importância, o risco de
perdermos pormenores, importantes ou não, praticamente não existe.
Poderemos ler e reler a notícia quantas vezes quisermos ou forem
precisas, captando tudo até ao mais ínfimo detalhe, se isso nos
interessar. E se, por qualquer motivo, somos interrompidos, ou se
algum aspecto nos escapa motivado por alguma dificuldade de compreensão
do código linguístico, poderemos interromper a leitura, consultar alguém
ou o dicionário e retomá-la mais tarde.
A
informação escrita não é fugaz. Ela está ali permanentemente, à nossa
disposição, fixa no suporte material de que é feito o jornal ou revista,
sempre disponível para a leitura. E se é de grande interesse, poderemos
mesmo destacá-la, recortá-la e guardá-la no nosso sistema de arquivo,
para, em qualquer altura, sempre que necessário, poder voltar a prestar-nos
os seus serviços.
De
tudo isto se conclui, quer queiramos quer não, que a leitura é ainda dos
melhores meios, senão o melhor, de aumentarmos a nossa cultura. Daí que
leituras numerosas e regulares se tornem indispensáveis para um
enriquecimento da nossa cultura e da nossa personalidade, além de que,
nas nossas actividades profissionais, continuam ainda a ser a única e
melhor maneira de recebermos informações.
De
acordo com trabalhos especializados, a leitura é a prática de maior
importância no estudo, preenchendo em determinadas áreas do conhecimento
cerca de 90 % do tempo de estudo privado. É o que acontece, por exemplo,
com a Literatura e a História.
[1]
Ainda
segundo esses mesmos trabalhos, existem diferentes espécies de leitura.
Embora seja discutível e possivelmente incompleta, poderemos elaborar
uma classificação tipológica das leituras, tendo em conta dois
aspectos:
●
1º - o meio fisiológico predominantemente utilizado;
●
2º - a intencionalidade da leitura.
Tendo
em conta a intervenção fisiológica predominante, poderemos considerar
três tipos de leitura: leitura vocal, em voz alta; leitura subvocal ou
subvocalizada, em voz baixa; leitura visual.
Estes
três tipos dividem-se, por sua vez, em subtipos, presentes no quadro da
figura 5.
|
Figura 5:
Quadro com os tipos de leitura, tendo em conta a intervenção
fisiológica (a voz e o olhar ou apenas o olhar). |
Tendo
em conta a intencionalidade que preside à leitura, podemos encontrar
diferentes classificações.
Harry Maddox, na obra já citada, página 106,
apresenta-nos sete tipos diferentes, que passamos a apresentar:
1º
- leitura para dominar a informação e o conteúdo, que se
caracteriza por ser cuidadosa, lenta e repetida;
2º
- leitura para explorar, folheando atentamente um livro para
obtenção de uma visão geral;
3º
- leitura de revisão, para recordar ou consolidar informações ou
conhecimentos já adquiridos;
4º
- leitura de pesquisa, para procurar determinadas informações ou
respostas a perguntas específicas;
5º
- leitura crítica, para formulação de juízos de valor sobre um
livro, um artigo, etc.;
6º
- leitura de distracção;
7º
- leitura de revisão linguística, tendo em conta a correcção de
deficiências na exposição das ideias: pontuação, ortografia, estilo,
redacção das frases, etc.
No
trabalho já citado de João David Pinto Correia, página 69, é-nos
apresentada outra classificação da leitura, tendo em conta a
intencionalidade da leitura realizada, dividida em apenas quatro
aspectos:
1º
- Leitura de intenção artística, como é o caso, por exemplo, da
declamação de um poema;
2º
- Leitura de apreciação estético-literária;
3º
- Leitura de análise ou de estudo, que se pode socorrer dos tipos
de leitura indicados no quadro da figura 5;
4º
- Leitura de compreensão informativa, que pode ser, segundo o
Autor, predominantemente rápida mas, em certos passos do texto, semi-selectiva
ou mesmo integral.
Dos
quatro últimos tipos de leitura, aquele que é aplicado com mais
frequência é o de compreensão informativa. É o que sucede quando temos
de tomar conhecimento de relatos, artigos, ensaios, relatórios, notícias,
etc.
CONDIÇÕES PARA UMA BOA LEITURA
Apesar dos vários tipos de leitura
apresentados nas páginas anteriores, limitaremos a nossa análise a dois
tipos apenas: à leitura rápida e à leitura em voz alta.
Para
qualquer um destes tipos de leitura, como aliás para todos os restantes,
há um conjunto de condições indispensáveis sem as quais a pesquisa e a
descodificação da informação não poderá verificar-se. Essas condições
têm a ver com os aspectos fisiológicos, psicológicos e
psicolinguísticos.
Fisiologicamente,
uma boa leitura dependerá, em primeiro lugar, das condições de visão da
pessoa que lê, mas poderá também depender das boas condições do aparelho
fonador, bem como do domínio de técnicas específicas para o caso da
leitura em voz alta para outras pessoas, tendo em vista a modalidade e
os objectivos a alcançar.
Psicologicamente,
a leitura dependerá essencialmente de quatro factores: da motivação ou
interesse por ela suscitado, da atenção, geralmente relacionada com o
interesse, da sensibilidade e da capacidade de memorização.
Mas
para uma boa leitura, com uma adequada descodificação e registo dos
conteúdos, torna-se necessário um conjunto de requisitos de ordem
psicolinguística: conhecimento do sistema linguístico utilizado,
sensibilização para o conjunto de elementos auxiliares da língua (por
exemplo, conhecimento dos sinais de pontuação), conhecimento do
vocabulário empregue e capacidade de apreensão da globalidade da
mensagem.
A
LEITURA RÁPIDA
Actualmente, face à elevada quantidade de meios de informação e ao
reduzido tempo de que dispomos, torna-se cada vez mais necessária a
aquisição da capacidade de leitura rápida, competência cada vez mais
necessária na actividade profissional dos tempos modernos. Este tipo de
leitura é essencialmente útil quando se torna necessário apreender uma
elevada quantidade de informação em pouco tempo. Pressupõe, como é
lógico, boas condições de natureza fisiológica, psicolinguística e
psicológica, bem como o domínio de algumas técnicas, variáveis de acordo
com o tipo de leitura que se pretende fazer.
Embora ultrapasse um pouco o âmbito deste trabalho e
apesar de haver um razoável número de obras especializadas sobre este
tipo de leitura[2],
convirá reflectir um pouco sobre o assunto.
A
primeira etapa, antes de efectuarmos a leitura rápida, consistirá em
fazer um inventário dos tipos de leitura e objectivos inerentes a cada
um. Se temos de aprofundar os nossos conhecimentos sobre determinada
matéria, não será pela leitura rápida que conseguiremos fazê-lo. Mas
através dela, numa primeira fase
─
a fase de pesquisa
─,
poderemos seleccionar e classificar aquilo que apresenta maior ou menor
interesse para os objectivos em vista.
A
leitura rápida torna-se particularmente útil quando pretendemos abranger
um leque amplo de informações como ponto de partida para um eventual
aprofundamento das mesmas.
Suponhamos que pretendemos saber o que os jornais do dia apresentam
sobre determinado acontecimento que tem para nós uma certa importância.
Relativamente aos jornais, poderemos considerar três fases de leitura
importante.
●
Na primeira fase, folheamos cada jornal, prestando
atenção apenas aos títulos e imagens, de modo a verificarmos até que
ponto apresentam informação com eventual interesse. Nesta primeira fase,
haverá já uma primeira triagem, separando-se os jornais com alguma
informação eventualmente útil daqueles que nada apresentam com
interesse.
●
Na segunda fase, iremos prestar uma maior atenção aos jornais
seleccionados. A nossa atenção irá centrar-se com maior profundidade
nos títulos e no "lead", havendo uma nova selecção, mais rigorosa, dos
artigos com interesse.
●
A terceira e última fase será destinada à leitura completa das notícias
ou artigos que merecem a nossa leitura atenta e reflectida. E se se dá
mesmo o caso de determinados artigos apresentarem para nós interesse em
termos de futuro, deveremos destacá-los e arquivá-los no ficheiro
respectivo.
Tendo
em conta a leitura do jornal, François Richaudeau, na obra anteriormente
citada, apresenta-nos um plano com diferentes etapas para a sua leitura:
Primeira fase:
●
1 - Relance rápido por todo o jornal, tendo em conta os
títulos - 2 minutos.
●
2 - Leitura da notícia mais importante - 2 minutos.
●
3 - Leitura do editorial - 1 minuto.
Segunda fase
─
interesses gerais:
●
4 - Leitura das páginas interiores: 3 artigos no máximo -
3 minutos.
●
5 - Selecção de outros 5 artigos - 2 minutos.
Terceira fase
─
interesses particulares:
●
6 - Leitura do essencial das informações financeiras - 3
minutos.
●
7 - Leitura rápida dos resultados desportivos - 2 minutos
O
total da leitura de um jornal, seguindo este esquema, não ocupa mais do
que 15 minutos.
Poder-se-á
dizer que este esquema não é o mais adequado a todos nós, tendo em conta
os interesses individuais; mas a verdade é que é um modelo, a partir do
qual poderemos elaborar o nosso próprio esquema de leitura, adequando-o
aos interesses inerentes à actividade de cada um.
Se se
trata de tomar um rápido conhecimento do conteúdo de um livro, poderemos
adoptar a mesma técnica de leitura rápida para uma apreensão global do
seu conteúdo, tendo em vista uma selecção em função dos nossos
interesses. A primeira leitura que deveremos fazer será, logicamente, a
do sumário ou do índice, o que irá permitir-nos obter uma ideia do
conteúdo de cada capítulo, facilitando-nos a selecção. Será conveniente
efectuar também uma leitura do prefácio ou da introdução, bem como da
conclusão.
Se a
obra consultada se nos afigura apresentar informações com interesse,
então convirá, na fase seguinte, efectuar a leitura rápida do capítulo
ou capítulos seleccionados, podendo, a partir daqui, adoptar-se uma
leitura integral lenta ou semi-selectiva, em função do grau de interesse.
Tendo
em vista facilitar a prática deste tipo de leitura, que consideramos
vantajosa como meio de selecção da informação (aquilo que nos livros
especializados sobre o assunto é designado por «skimming» ou «écremage»),
apresentamos algumas regras práticas. No entanto, antes de
passarmos a transcrever essas regras, convirá frisar que a leitura
rápida nunca poderá dispensar uma leitura atenta, completa e reflectida
de certos textos. Vejamos então algumas regras conducentes a melhorar a
leitura rápida:
1 -
Evitar a leitura palavra a palavra - está provado que a nossa
vista não se desloca linearmente, mas vai dando pequenos saltos,
captando de cada vez blocos completos de texto.
2 - Evitar articular enquanto se lê - a nossa vista é muito mais
rápida que os nossos órgãos articulatórios. Podemos ler utilizando
apenas a mente e dispensando totalmente a articulação.
3 -
Reduzir o número de pontos de fixação - embora a vista se
desloque seguindo a linha escrita, da esquerda para a direita e de cima
para baixo, o seu movimento não é linear, mas vai dando, como acima
dissemos, pequenos saltos. Assim, para acelerar a leitura, é vantajoso
reduzir o número de pontos de fixação.
4 -
Como regra importante, há que ter em conta o seguinte: se ler
depressa é vantajoso, mais importante é compreender e reter o essencial
da informação. Daí que será este último aspecto que deveremos considerar
como importante e com o qual nos deveremos preocupar. Por outro lado, a
velocidade da leitura depende de múltiplos factores, tais como a
extensão das linhas de escrita, a dimensão dos caracteres, o
espaçamento das linhas, o estilo em que o texto está escrito, o nível de
língua utilizado, o cansaço, o interesse suscitado pela leitura, etc.
Sugestão de trabalho 2
1-
Antes de começar a ler os textos transcritos,
extraídos da página de um jornal diário, consulte o seu relógio e
registe a hora numa folha de papel. Para facilidade de leitura, amplie
os recortes do jornal clicando sobre eles.
2 -
Inicie a leitura e, uma vez concluída, consulte novamente o relógio,
registe a hora e veja quanto tempo demorou.
3 -
Procure após a leitura responder às questões, de preferência por escrito
e sem olhar para o texto, a fim de verificar se conseguiu captar as
informações nele contidas.
As
questões encontram-se imediatamente a seguir ao texto. Apesar de algumas
serem extremamente simples, mesmo assim não deixe de procurar dar-lhes
resposta.
QUESTÕES:
Sem
consultar o texto, procure responder às seguintes questões:
1 -
O que motivou a primeira notícia?
2 -
A que região diz respeito?
3 -
De que modo é iniciada a notícia?
4 -
Poder-se-á estabelecer uma relação de afectividade entre o sujeito
enunciador do discurso e o objecto que o motivou?
5 -
Que elemento do texto permitiu chegar à conclusão da pergunta anterior?
6 -
Como considera o Autor da notícia a linha a que faz referência?
7 -
Qual a sua situação actual?
8 -
Como se mostram os ferroviários perante essa situação?
9 -
Que pedem os ferroviários?
10 -
De que modo se realizou o convívio?
11 -
Quantos ferroviários estiveram presentes?
12 -
Como se chama o orador?
13 -
Preste atenção ao fragmento: «é (...) necessário que olhem para nós, não
como velhos do Restelo, mas sim como pedras básicas e importantes de
todo um passado que importa continue a ser tomado como básico e
indispensável para a construção do futuro que se avizinha.»
13.1-
O excerto revelará alguma cultura por parte do orador?
13.2-
Qual o elemento que nos permite chegar a uma conclusão sobre o assunto?
13.3-
Onde foi ele buscar a referência?
13.4-
Qual a sua significação?
14 -
No recorte do jornal transcrito haverá outras notícias?
14.1-
Quantas?
15 -
Que factos são nelas referidos?
16 -
De entre as restantes notícias menores, qual deverá ter maior interesse
para a maioria dos leitores?
4 -
Retome o texto e as respostas que deu às questões. Procure verificar
qual a percentagem de respostas que acertou e consulte a tabela:
0
─
24 %
- Excessivamente fraco. Necessita de fazer vários exercícios deste
género, de modo a treinar a sua capacidade de leitura e retenção da
informação.
25
─
49 %
- Fraco. Consegue captar algumas ideias, mas o seu nível é ainda
insuficiente. Siga os conselhos da alínea anterior.
50
─
74 %
- Apresenta um nível médio. Pode melhorar as suas capacidades com algum
treino.
75
─
94 %
- A sua capacidade de leitura e retenção é bastante boa e tanto melhor
quanto mais reduzido for o tempo em que o consiga fazer.
95
─
100 %
- A sua capacidade de leitura e retenção é excepcional, especialmente se
o consegue com reduzido tempo de leitura.
Se
quiser desenvolver a sua capacidade de leitura rápida, procure dedicar
todos os dias 10 a 20 minutos a actividades deste género. Comece por
artigos curtos, por exemplo, artigos jornalísticos, de preferência
daqueles que aparecem em semanários e revistas. Sobretudo, lembre-se
que a velocidade de leitura é variável: livros técnicos exigem uma
leitura mais lenta; textos literários ou histórias de leitura agradável
lêem-se mais depressa. Há actualmente programas informáticos concebidos
especialmente para o treino e desenvolvimento da capacidade de leitura
rápida.
A
LEITURA EM VOZ ALTA
Em várias ocasiões e, por vezes, quando menos o
esperamos, somos obrigados a enfrentar uma audiência para expormos
determinado tema, para animarmos uma reunião de confraternização, um
convívio, para divulgarmos um novo produto, etc. Na nossa mente surge de
imediato uma, se não várias preocupações: conseguirei expor aquilo
que pretendo? Irão aceitar ou compreender as minhas ideias? Serei
devidamente escutado? E que irão pensar de mim?
São
estas preocupações lógicas e comuns a todos quantos passam por uma
situação deste género. Se tal não sucede, o que será difícil verificar-se,
ou é porque já se tem muita experiência em situações similares, um bom
conhecimento e domínio das suas próprias competências comunicativas, ou,
o que será lamentável, uma grande dose de inconsciência.
Antes
de enfrentarmos uma situação de comunicação perante uma audiência, há
que reflectir sobre diferentes aspectos. Trata-se de uma situação com
carácter artístico, da declamação de um poema, da leitura de um texto
literário, sendo o objectivo o de entreter e cultivar um público
assistente? Trata-se de uma situação de comunicação com carácter
profissional, da apresentação de um relato, de uma demonstração, de uma
exposição didáctica? Trata-se de um discurso de carácter político, de
uma palestra, de um debate? E quem são os receptores, que tipo de
audiência iremos ter de enfrentar? E o local e os meios de que dispomos
para a apresentação do tema?
Há,
pois, toda uma série de problemas importantes que teremos de equacionar,
começando por uma planificação e uma preparação e reflexão cuidada sobre
todos os aspectos.
De
uma maneira geral, podemos considerar quatro etapas importantes até ao
momento da apresentação, com a leitura em voz alta do trabalho realizado:
●
1ª etapa - escolha do tema e registo de língua adaptado à
natureza da mensagem, do auditor e dos objectivos[3].
●
2ª etapa - planificação e realização da mensagem, com
momentos vários e sucessivos, respectivamente: recolha das informações e
elaboração do plano ou esquema de desenvolvimento.
●
3ª etapa - codificação da mensagem, ou seja, elaboração
de todo o texto de acordo com o plano previamente estabelecido e tendo
em conta as normas da competência linguística, as técnicas de
argumentação, o nível da audiência, os meios materiais disponíveis
(condições acústicas da sala, meios audiovisuais disponíveis, etc.) e os
objectivos.
●
4ª etapa - Revisão e prática de leitura.
●
5ª etapa - apresentação perante um auditório de todo o
trabalho realizado.
Embora
todas as etapas sejam importantes, é na última que vai culminar todo o
trabalho. Para que ele alcance o pleno sucesso, há que ter em conta,
nesta última etapa, três imperativos fundamentais: a audibilidade,
a clareza e a vivacidade da exposição. Para que estes três
requisitos se verifiquem, é necessário articular correctamente as
palavras, falando num ritmo adequado àquilo que se está a transmitir,
evitando um tom monocórdico, procurando imprimir ao discurso vivacidade
e expressividade. Torna-se indispensável ter uma noção correcta do
valor dos sinais de pontuação, que constituem valioso auxiliar durante a
leitura. Além de nos indicarem as pausas, permitem-nos identificar os
diferentes tipos de frase, aos quais correspondem entoações específicas[4].
Há
igualmente toda a vantagem em ir prestando atenção ao público. Olhar
fixamente para o ar ou para qualquer lugar da sala, como quem procura
algures a inspiração, é muito pouco vantajoso e impossibilita o orador
de prestar atenção às reacções daqueles que o escutam.
Importante, e necessário também, é variar o ritmo e a entoação, de
acordo com o tipo de texto que se lê e de acordo com os conteúdos. Nas
situações normais de comunicação, ora falamos mais depressa, ora mais
lentamente e, por vezes mesmo, com hesitações. Quando queremos destacar
uma ideia importante, destacamos uma palavra ou uma frase pronunciando-a
com mais intensidade ou mais pausadamente e, por vezes até, chegamos a pô-la em evidência destacando as sílabas.
A
comunicação nas situações normais caracteriza-se pela grande variedade
de ritmos, entoações e pausas, de acordo com as funções da linguagem.
Ora, se efectuamos a leitura de um texto, seja ele nosso ou de autor
alheio, e sobretudo se se trata de um texto com carácter literário,
deveremos prestar atenção às intenções do Autor, aos momentos de ironia,
aos momentos de humor, às descrições, à efusão lírica[5],
aos diálogos.
Sugestão de trabalho 3
1 -
Procure alguns textos de géneros diferentes: um poema, um excerto
de um discurso, uma notícia de um jornal, uma pequena narrativa.
2
-
Leia-os em silêncio, procurando captar-lhes as ideias.
3
- Procure lê-los em voz alta, pensando na situação de quem ouve. Procure
tornar a sua leitura clara, audível e interessante. Se possível, procure
efectuar esta actividade em grupo, com pessoas da sua confiança, pedindo-lhes
que o escutem e, sinceramente, efectuem a respectiva crítica.
NOTA:
Como alternativa, poderá utilizar um gravador. Leia os textos ao
microfone, rebobine e escute aquilo que leu com "ouvidos críticos".
Procure descobrir onde falhou, e encontrar a respectiva causa.
Se
tem dificuldade em encontrar textos, efectue a leitura dos três
exemplares que a seguir lhe apresentamos.
Texto
1:
Piloto sofre acidente
O PILOTO irlandês Martin Donnelly sofreu ontem fractura da perna
esquerda e comoção cerebral, em consequência do despiste do seu
Lotus-Lamborghini na primeira sessão de treinos do Grande Prémio de
Espanha, em Jerez de la Frontera. O porta-voz da equipa anglo-italiana, James Penrose, garantiu que Donnelly não corre perigo de vida. Três
semanas depois do violento acidente do Lotus de Derek Warwick, no Grande
Prémio de Itália, também o carro de Donnelly se partiu em duas partes,
depois de embater nos "railes" de protecção da curva Enzo Ferrari, a
cerca de 250 quilómetros horários.
O brasileiro Ayrton Senna, em McLaren-Honda, obteve o melhor tempo dos
treinos, quase um décimo de segundo menos que o seu colega de equipa
Gerhard Berger.
Extraído do jornal Expresso nº 935, de 29 de Setembro de 1990.
texto
2:
Apelo do general de Gaulle
- 18 de Junho de 1940[6]
Os chefes que, desde há bastantes anos, estão à frente dos exércitos
franceses, formaram um governo.
Este governo, alegando a derrota dos nossos exércitos, estabeleceu
relações com o inimigo para cessar o combate.
De facto, nós fomos, nós estamos esmagados pela força mecânica,
terrestre e aérea do inimigo.
Infinitamente mais do que o seu número, são os carros de assalto, os
aviões, a táctica dos Alemães que nos fazem recuar. Foram os carros de
assalto, os aviões, a táctica dos Alemães que surpreenderam os nossos
chefes ao ponto de os levar à situação em que hoje se encontram.
Mas está dita a última palavra? A esperança deve desaparecer? A derrota
é definitiva? Não!
Acreditai-me, a mim que vos falo com conhecimento de causa e vos digo
que nada está perdido para a França. Os mesmos meios que nos venceram
poderão um dia dar a vitória.
Porque a França não está só! Ela não está só! Ela não está só! Ela tem
um vasto Império atrás de si. Ela pode fazer um bloco com o Império
britânico que domina o mar e continua a luta. Ela pode, tal como a
Inglaterra, utilizar sem limites a imensa indústria dos Estados Unidos.
Esta guerra não está limitada ao território infeliz do nosso País. Esta
guerra não está limitada pela batalha da França. Esta guerra é uma
guerra mundial. Todas as faltas, todos os atrasos, todos os sofrimentos,
não impedem que haja, no universo, todos os meios necessários para
esmagar um dia os nossos inimigos. Fulminados hoje pela força mecânica,
poderemos vencer amanhã por uma força mecânica superior. O destino do
mundo está aí.
Eu, general De Gaulle, actualmente em Londres, convido os oficiais e os
soldados franceses que se encontram em território britânico ou que aí
vierem a encontrar-se, com armas ou sem armas, convido os engenheiros e
os operários especializados das indústrias de armamento que se encontrem
em território britânico ou que aí vierem a encontrar-se, a porem-se em
contacto comigo.
Aconteça o que acontecer, a chama da resistência francesa não deve
extinguir-se e nem se extinguirá.
Amanhã, como hoje, falarei na Rádio de Londres.
CHARLES DE GAULLE, Discours et messages, tomo 1, Livraria Plon,
1970, pp. 3-4.
Texto
3:
Sermão de Santo António
Vos estis sal terrae
Mat. V, 13
Vós, diz Cristo, Senhor Nosso, falando com os pregadores, sois o sal da
terra: e chama-lhe sal da terra porque quer que façam na terra o que faz
o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção; mas quando a terra se vê
tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que tem ofício de
sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o
sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é porque o sal
não salga, e os pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou porque a
terra se não deixa salgar, e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina
que lhe dão, a não querem receber. Ou é porque o sal não salga e os
pregadores dizem uma coisa e fazem outra; ou porque a terra se não deixa
salgar e os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem que fazer o
que dizem; ou é porque o sal não salga e os pregadores se pregam a si e
não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar e os ouvintes, em
vez de servir a Cristo, servem a seus apetites. Não é tudo isto verdade?
Ainda mal.
Suposto, pois, que, ou o sal não salgue ou a terra se não deixe salgar,
que se há-de fazer a este sal e que se há-de fazer a esta terra? O que
se há-de fazer ao sal que não salga, Cristo o disse logo: Quod si sal
evanuerit, in quo salietur? Ad nihilum valet ultra, nisi ut mittatur
foras et conculcetur ab hominibus. «Se o sal perder a substância e a
virtude e o pregador faltar à doutrina e ao exemplo, o que se lhe há-de
fazer é lançá-lo fora como inútil para que seja pisado de todos». Quem
se atrevera a dizer tal cousa se o mesmo Cristo a não pronunciara? Assi
como não há quem seja mais digno de reverência e de ser posto sobre a
cabeça que o pregador que ensina e faz o que deve; assi é merecedor de
todo o desprezo e de ser metido debaixo dos pés o que com a palavra ou
com a vida prega o contrário.
Isto é o que se deve fazer ao sal que não salga. E à terra que se não
deixa salgar, que se lhe há-de fazer? Este ponto não resolveu Cristo
Senhor Nosso, no Evangelho; mas temos sobre ele a resolução do nosso
grande português Santo António, que hoje celebramos, e a mais galharda e
gloriosa resolução que nenhum santo tomou.
Pregava Santo António em Itália, na cidade de Arimino, contra os
hereges, que nela eram muitos; e como erros de entendimento são
dificultosos de arrancar, não só não fazia fruto o santo, mas chegou o
povo a se levantar contra ele, e faltou pouco para que lhe não tirassem
a vida. Que faria neste caso o ânimo generoso do grande António?
Sacudiria o pó dos sapatos como Cristo aconselha em outro lugar? Mas
António com os pés descalços não podia fazer esta protestação; e uns pés
a que se não pegou nada da terra, não tinham que sacudir. Que faria
logo? Retirar-se-ia? Calar-se-ia? Dissimularia? Daria tempo ao tempo?
Isso ensinaria por ventura a prudência ou a covardia humana; mas o zelo
da glória divina, que ardia naquele peito, não se rendeu a semelhantes
partidos. Pois que fez? Mudou somente o púlpito e o auditório mas não
desistiu da doutrina. Deixa as praças e vai-se às praias; deixa a terra,
vai-se ao mar e começa a dizer a altas vozes: «Já que me não querem
ouvir os homens, ouçam-me os peixes». Oh maravilhas do Altíssimo! Oh
poderes do que criou o mar e a terra! Começam a ferver as ondas, começam
a concorrer os peixes, os grandes, os maiores, os pequenos, e postos
todos por sua ordem com as cabeças de fora da água, António pregava e
eles ouviam.
.. ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
... ... ... ... ... ... ... ... ...
Quero hoje, à
imitação de Santo António, voltar-me da terra ao mar, e já que os homens
se não aproveitam, pregar aos peixes. O mar está tão perto que bem me
ouvirão. Os demais podem deixar o sermão, pois não é para eles. Maria,
quer dizer, Domina maris: Senhora do mar. E posto que o assunto
seja tão desusado, espero que me não falte a costumada graça. Avé
Maria.
Padre António Vieira,
Sermão de Santo António. Pregado em S. Luís do Maranhão, em 1654,
três dias antes de se embarcar ocultamente para Lisboa, a solicitar
protecção para os índios.
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