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Henrique J. C. de Oliveira, Gramática da Comunicação, Col. Textos ISCIA, Aveiro, FEDRAVE, Vol. I, 1993, 311 pp., Vol. II, 1995, 328 pp.


II

A Informação: base da comunicação

 

Onde obter a informação: serviços de documentação; meios de comunicação social; livros técnicos, obras de vulgarização e manuais escolares; bibliotecas públicas e privadas; dicionários e enciclopédias; meios informáticos. Algumas regras para pesquisa da informação. Como organizar/arquivar a informação. Saber ouvir e tomar notas. A leitura e sua classificação tipológica. Condições para uma boa leitura. A leitura rápida. A leitura em  voz alta. O plano ou estrutura dos textos. O resumo.

 

 

SABER OUVIR E TOMAR NOTAS

Para a realização de qualquer tipo de trabalho expositivo, saber captar a informação constitui uma etapa importante. No começo deste capítulo utilizámos como título:  "A informação:  base da comunicação".  Este título é passível de discussão. Será a informação a base da comunicação ou, pelo contrário, a comunicação a base da informação?

Qualquer que seja a resposta, a verdade é que uma pressupõe obrigatoriamente a  outra. E para obtenção da informação, teremos de recolher, através do processo da comunicação, seja oralmente ou através da leitura, todos os elementos referentes aos conteúdos pretendidos. Assim, para o processo de aquisição de conhecimentos, torna-se indispensável não só saber escutar, quando se trata de situações de comunicação oral, mas também saber ler, quando recorremos às fontes de informação escrita.

De acordo com determinadas obras que se ocupam dos problemas da comunicação e expressão, a reflexão sobre o saber escutar e o saber ler apenas surge após o estudo das teorias sobre a comunicação. Parece-nos, no entanto, que deveremos seguir um caminho inverso: primeiro, reflectir sobre a audição e a leitura e só depois sobre os problemas da comunicação, a fim de aprendermos a analisar, tirar notas e resumir os conteúdos a partir de textos orais e escritos.

Tendo em conta alguns trabalhos de pesquisa já elaborados por diversos autores, na nossa actividade profissional, 45 % do tempo é ocupado a «escutar» o telefone, os colegas, os clientes, os superiores, os subordinados, os meios de comunicação social (rádio, televisão), etc.;  30 % é consagrado à fala;  16 % são ocupados a ler;  para a escrita apenas restam 9 %.

Figura 3: Percentagens de tempo ocupadas a escutar, falar, ler e escrever.

Apesar da elevada percentagem de tempo consagrado a escutar, uma boa parte dos conteúdos acaba por se perder.  Acontece que o acto de escutar depende de um conjunto de aspectos de ordem fisiológica, psicolinguística e psicológica, bem como do tipo de situações de comunicação oral em que nos encontramos. Se não ouvirmos bem, à partida as nossas condições de recepção estarão reduzidas. Mas a deficiência na audição pode não ser devida às nossas deficientes condições fisiológicas. Outros aspectos podem levar a que parte da informação se perca: ruído na sala, uma ideia súbita que nos salta à mente desviando-nos a atenção do que está a ser dito, uma pessoa ao lado que se nos dirige quebrando a nossa atenção, uma expressão ou frase que não entendemos, etc., tudo isto são factores que nos impedem de captar a totalidade ou o máximo da informação. Para que isto não aconteça, convirá:

detectar e eliminar possíveis factores de distracção: ruído, por exemplo;

escolher uma sala com adequadas condições acústicas;

adoptar  uma atitude activa  durante a audição,  procurando acompanhar e reter o que é dito;

registar os aspectos que consideramos importantes, transcrevendo passagens, resumindo ideias, etc.[1].

 

Relativamente ao registo da informação, há meios auxiliares que poderemos classificar em três grupos: meios mecânicos; meios semimecânicos; meios pessoais.

O primeiro ─ meios mecânicos ─ consiste na utilização do gravador. Embora a informação fique toda registada, acaba quase sempre por se revelar insuficiente. Torna-se indispensável a sua audição e, sobretudo, a transcrição para o papel, tarefa morosa e difícil que pode levar horas, mesmo tratando-se de um registo relativamente curto.

Os meios semimecânicos consistem no uso da estenografia.

Os meios pessoais são normalmente aqueles que mais utilizamos e consistem em tomar notas registando passagens que consideramos importantes, palavras-chave, esquemas, resumos das ideias, etc.

Saber escutar e reter informações por meio de apontamentos pessoais é uma capacidade que se pode adquirir e desenvolver com a prática. Há técnicas facilmente utilizáveis para registo das informações.  Um processo bastante corrente consiste na aquisição de automatismos individuais:   emprego de abreviaturas, escrever resumindo o que vai sendo dito, etc.

Relativamente às abreviaturas, convirá criar um código pessoal que deveremos registar e manter permanentemente, para que mais tarde não suceda depararmos com anotações que nem nós próprios consigamos decifrar.  Assim, dão-se algumas sugestões de abreviaturas correntemente utilizadas no quadro da figura 4. O espaço em branco, após aquelas por nós indicadas, tem como finalidade permitir-lhe acrescentar outras que já utilize ou venha a utilizar, possibilitando-lhe assim criar um bloco mais completo.

Nunca nos deveremos esquecer que o sistema de abreviaturas só deverá ser utilizado em apontamentos pessoais. Utilizar abreviaturas em textos normais, para serem lidos por outras pessoas, deve ser considerado como erro grave.

 


Figura 4: Quadro com algumas das abreviaturas mais usadas.

Como sugestão de trabalho, para treino e desenvolvimento da capacidade de escrita rápida na tomada de notas de informações essencialmente orais, desenvolva a seguinte actividade:

1 - Grave em cassete ou em vídeo um bloco informativo - um noticiário, por exemplo, um poema, parte de um discurso, etc.

2 - Pegue num bloco de apontamentos e caneta;

3 - Rebobine e ouça a gravação, procurando registar o máximo de informação;

4 - faça um balanço daquilo que conseguiu registar.

Como regras que deverá ter em conta, poderá registar as seguintes:

Nunca se esqueça de ir numerando as páginas no canto superior direito. Não o fazendo, arrisca-se a nunca mais encontrar a ordem da sequência.

Nunca escreva nas costas da folha. Essa parte poderá ser-lhe útil para mais tarde acrescentar sugestões, alterações, etc.

Nunca se esqueça de identificar aquilo que for registando: pessoa que falou, data, local, hora, e o título para posterior arquivo.

Se lhe for fornecida bibliografia, textos complementares, fotocópias, deverá numerá-los e juntá-los às suas notas.


[1]  Acerca dos problemas relativos à audição, espécies de comunicação oral, dificuldades de escutar e causas dessas dificuldades, veja-se o trabalho de João David Pinto Correia, Introdução às Técnicas de Comunicação e de Expressão,  Lisboa, Livraria Novidades Pedagógicas, col. Biblioteca Prática do Professor, 1978, pp. 51-58.

 

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