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        B) TAREFAS DE BARRO 
          
            |  | 
              
                | 
                
                
                DISTRITO
 | 
                
                 
                TIPO DE 
                PRENSA | 
                
                DESIGNAÇÃO
 |  
                | 
                
                Vara | 
                
                Parafuso | 
                
                Misto | 
                
                Hidráulica |  
                | 
                
                AVEIRO | 
                
                - | 
                
                1 | 
                
                - | 
                
                - | 
                
                talha |  
                | 
                
                COIMBRA | 
                
                13 | 
                
                3 | 
                
                - | 
                
                3 | 
                
                tarefa=12 talha=7 |  
                | 
                
                TOTAL | 
                
                13 | 
                
                4 | 
                
                - | 
                
                3 | 
                
                talha=8x  tarefa=12x |  |  |  
            |  | Figura 127: 
            Distribuição das tarefas de barro encontradas em 20 lagares, tipos 
            de prensa e designações dadas pelos informadores. |  |  
        
        A análise do quadro da figura 127 e seu confronto com o elaborado para 
        as tarefas de granito permite-nos tirar algumas conclusões. Enquanto as 
        tarefas de granito surgem apenas em lagares tradicionais e mistos, 
        verificamos que as tarefas de barro surgem já em alguns lagares mais 
        modernos, dotados de prensas hidráulicas, muito embora a predominância 
        se verifique relativamente aos lagares tradicionais. Isto será devido 
        provavelmente ao facto da tarefa de barro apresentar melhores condições 
        de laboração que as tarefas de granito, acrescido pelo facto do barro, 
        geralmente vidrado na face interior, permitir uma maior higiene do que 
        as de granito. 
        
        A análise dos dois quadros parece também indicar que o material de que 
        são feitas as tarefas, tal como já vimos em relação à construção dos 
        lagares, estará relacionado com a matéria-prima mais abundante na 
        região. As tarefas de granito existem em regiões onde este material é 
        abundante, ao passo que as de barro se encontram essencialmente numa 
        região onde predomina a argila. 
        
         Dos vinte lagares visitados em que encontrámos tarefas de barro(24), 
        o de Anterronde, P. 120, no concelho de Arouca, apresenta tarefas com 
        características diferentes. É o único lagar em que as tarefas possuem 
        uma boca estreita, evocando-nos o modelo referido por Jaime Lopes Dias(25), 
        cujo desenho reproduzimos na figura 
        
        
        ◄ 
        
        
        128. O modelo reproduzido 
        corresponde, segundo o Autor, à tarefa usada na Sertã na década de 1940, 
        a qual tinha um estrangulamento que formava a cabeça de onde saía a 
        amufeira e cujas espichas eram «manobradas pelo 
        sangradouro que comunica com o exterior do lagar por um alvanel ou 
        aqueduto». Ao contrário do que nos diz J. Lopes Dias, todas as 
        tarefas que nós observámos e, na maior parte das vezes, fotografámos, 
        não estão «soterradas a alguns centímetros abaixo do nível da sertã 
        ou alguer». Encontram-se, de facto, todas abaixo do nível da 
        sertã, mas acima do nível do solo, embutidas numa caixa de tijolo e 
        cimento, para a qual A. Ladislau Piçarra(26) forneceu o nome de
        tendal, que nunca tivemos a oportunidade de ouvir em nenhum dos 
        lagares visitados. Como exemplar único e diferente de todos os 
        restantes, passamos desde já à sua análise. 
          
            |  | 
             |  |  
            |  | Figura 129: Aspecto das talhas do lagar de Anterronde, P. 
            120, freg. Santa Eulália, conc. Arouca, dist. Aveiro. |  |  
        
        Tal como se pode verificar pela figura 129, as tarefas do lagar de 
        Anterronde, em número par, ocupam uma secção rectangular a alguns 
        centímetros abaixo do nível da zona de enseiramento da prensa de 
        parafuso (recorde-se a fig. 107), estando a esta ligada por meio de um 
        tubo que atravessa o muro largo, que separa a zona de prensagem da zona 
        de decantação. Para facilitar a depuração do azeite, uma canalização 
        conduz a água a ferver da caldeira para o primeiro recipiente. Quer 
        este, quer o seguinte para onde corre o azeite limpo, são designados no 
        lagar de Anterronde pelo vocábulo talha, como nos foi dito pelo 
        mestre do lagar: 
        
        «– (...) O azeite escorre d'acolá, cai num cànozinho, bem e cai aqui. 
        
        – Como se chama isto? 
        
        – Aqui? Uma talha. Depois bai bindo, bindo, subindo, subindo, 
        subindo, subindo, porqu'o azeite anda sempre no laço da água, da 
        água quenti. Depois, depois é água quente (...), põe-se aqui a cair 
        [utilizando a mangueira ligada à torneira] e depois a água cai aqui e 
        bai prò fundo da talha e o azeite bem sempre no cimo e bai passar 
        p'r'àqui [para o segundo recipiente]. 
        
        – Esse segundo recipiente como se chama? 
        
        – É outra talha. O azeite passa apurado p'r'àqui. Cai ali 
        daquela [isto é, cai na primeira talha] e daquela é apurado e cai 
        nesta. Agor'àqui é só azeite. E ali é azeit'e água (...).» 
        
        Nos restantes dezanove lagares visitados no distrito de Coimbra, 
        independentemente dos sistemas de prensagem, todas as tarefas são 
        idênticas no formato e dimensões. Em todos os lagares encontrámos 
        tarefas rigorosamente similares ao exemplar de reserva que fotografámos 
        no lagar de Carrão, Vila Nova, no concelho de Penacova, não fosse alguma 
        partir-se e ter de ser substituída. 
          
            |  |  | 
             |  
            | Figura 130: Tarefa de 
            barro de reserva, para substituição caso alguma se quebre, no lagar 
            de Carrão, freg. Vila Nova, conc. Penacova, dist. Coimbra. |  | 
            
            
            Figura 131: 
            Corte de uma tarefa de barro, mostrando como funciona o sistema de 
            escoamento da água-ruça. Legenda: 1-azeite; 2-colo; 3-água-ruça; 
            4-espicha. |  
        
        Com cerca de um metro de altura, as tarefas são constituídas por duas 
        partes: a superior é uma espécie de bacia de boca larga, com um diâmetro 
        que anda na ordem dos 80 centímetros e uma capacidade de cerca de 60 
        litros, segundo nos explicou um informador; a parte inferior, separada 
        da superior por um estrangulamento a cerca de 1/3 da altura, constitui 
        um depósito onde se encontra a água-ruça. Quando a água-ruça é excessiva 
        na tarefa, efectua-se o seu sangramento através do orifício existente 
        próximo da base do recipiente menor. Este é tapado, segundo apurámos em 
        vários lagares, por meio de um pequeno torno afiado de madeira, colocado 
        de dentro para fora, geralmente conhecido por espicha (nº 4 da 
        fig. 131), designação que não é a única como veremos em breve. Para que 
        a água possa correr, a espicha é empurrada ligeiramente para 
        dentro; para fechar, é simplesmente largada e a pressão do líquido no 
        interior empurra-a para fora, obstruindo a saída. No fundo, como nos foi 
        claramente explicado por um informador, na Quinta do Rol (freg. Ançã, 
        conc. Cantanhede), a espicha, de madeira aguçada e com estopa, 
        funciona como uma válvula, servindo-se de um princípio físico bastante 
        conhecido: todos os líquidos contidos num recipiente exercem uma pressão 
        constante sobre as paredes, de dentro para fora, tanto maior quanto 
        maior for a coluna de líquido, tal como se exemplifica no esquema 
        elaborado durante a visita ao lagar referido, reproduzido na figura 131. 
        
        Antes de analisarmos a tarefa do ponto de vista linguístico e de 
        apresentarmos o que vimos de mais significativo nos lagares visitados, 
        teremos de referir o caso do lagar da Ribeira (freg. S. Paio, conc. 
        Penacova), que constitui um caso excepcional, que nos levou a não o 
        incluir nem nas tarefas de granito, nem nas de barro. A tarefa que 
        observámos neste lagar de vara, com um diâmetro de 72 centímetros, é 
        rigorosamente igual em tudo ao que dissemos em relação às tarefas de 
        barro: o mesmo formato, os mesmos dois recipientes sobrepostos, o mesmo 
        estrangulamento a cerca de 1/3 da altura, o mesmo orifício para 
        escoamento das águas-ruças. O mesmo para tudo, excepto para o facto de 
        que não era de barro, mas sim de «pedra milheira», como nos disse 
        o informador e como tivemos a oportunidade de comprovar, espantados e 
        algo contrariados, porque vinha estragar toda a nossa teoria, 
        constituindo como que uma excepção a confirmar a regra. Sendo igual em 
        tudo às tarefas de barro – e até polida interiormente –, tinha a 
        vantagem de ser mais resistente que as de barro, não precisando de 
        tarefas sobressalentes para o caso de se partir, como encontrámos no 
        lagar de Carrão. 
        
        Apresentada a excepção à regra, que não poderia ser omitida sob pena de 
        falta de rigor, passemos aos aspectos linguísticos, ou seja, à 
        terminologia relacionada com as tarefas de barro. 
        
        Para a parte superior da tarefa, que constitui uma bacia com diâmetro 
        entre 70 e 80 centímetros e uma fundura até cerca de 2/3 da altura, não 
        encontrámos qualquer designação específica. Para o estrangulamento que 
        separa o recipiente superior do inferior, encontrámos a designação de 
        colo apenas no distrito de Coimbra, P. 261, 297, e ainda em Carrão (freg. 
        Vila Nova, conc. Penacova). Para o recipiente inferior, além da 
        designação fornecida por  Jaime Lopes Dias(27),  nunca vimos 
        atribuir-lhe nome especial em nenhum lagar. Todavia, para o objecto  
        que  tapa o orifício  por onde se escoam  as águas-ruças, encontrámos 
        não só explicações sobre o seu fabrico e funcionamento, como também 
        cinco designações distintas: bichaneira, dist. Coimbra, P. 285;
        espicha, dist. Coimbra, P. 255, 297, e ainda Quinta do Rol (freg. 
        Ançã, conc. Cantanhede); espicho, dist. Coimbra, P. 284, 294, 
        300, e ainda Fontainhas (freg. Seiça, conc. Vila Nova de Ourém, dist. 
        Santarém-I.L.B.); rolho, dist. Coimbra, P. 256, dist. Porto, P. 
        56; torno, dist. Aveiro, P. 120, dist. Coimbra, P. 256, 257, 258, 
        262, dist. Porto, P. 51, 52, 57.  
        
        É necessário acrescentar que os cinco vocábulos anteriormente enumerados 
        se aplicam sempre ao mesmo objecto, presente em todas as tarefas 
        independentemente do material de que são feitas. Todavia, relativamente 
        às tarefas de barro que encontrámos no distrito de Coimbra, as únicas em 
        que o torno ou espicha é colocado pelo lado do interior, funcionando 
        como uma válvula, as explicações fornecidas sobre a sua forma e 
        construção foram pormenorizadas. Mas vamo-nos limitar a uma breve 
        transcrição de um diálogo gravado: 
        
        «– Mas a espicha fica por dentro? 
        
        – ...É metida aqui por dentro. 
        
        – É algum pau? 
        
        – É um pauzito. É feito cum bocado d'estopa ou linho.  
        
        E òpois aquilo é cosido c'um'àgulha p'ra mode aquilo não sair fora 
        (...)» (P. 297, Mata, freg. Vila Nova do Ceira, conc. Góis, dist. 
        Coimbra). 
        
        Em qualquer dos lagares de vara visitados, a tarefa fica por baixo da 
        vara, entre a zona de enseiramento e o solo, cujo desnível é de cerca de 
        1,20 metros, numa caixa de tijolo e cimento, constituindo 
        a zona para a 
        qual A. Ladislau Piçarra forneceu o nome de tendal(28). 
          
            |  | 
             |  |  
            |  | Figura 132: 
            Lagar do Pereiro, P. 262, freg. Souselas, conc. Coimbra. De cada 
            lado da fornalha, as duas tarefas, entre a zona de enseiramento e o 
            fuso da vara. |  |  
        
        No lagar do Pereiro, P. 262, com duas varas, existe apenas uma tarefa 
        por vara, colocada num tendal com cerca de um metro de altura, situado 
        entre a zona de enseiramento e o fuso da vara, tendo ao lado, entre as 
        duas varas e as tarefas, a caldeira com a respectiva fornalha, tal como 
        se documenta na figura  
        
        ▲132. O terço inferior da tarefa fica abaixo do 
        nível do solo, tendo uma abertura rectangular na base, que permite 
        manobrar a espicha. O azeite e as águas do caldeamento escorrem 
        durante a prensagem da sertã para a tarefa através de uma caleira, que 
        pode ser feita de metal ou de cimento, mas que é constituída, na maior 
        parte das vezes, simplesmente por uma telha tradicional portuguesa, com 
        a concavidade voltada para cima, e que atravessa a parede que separa as 
        tarefas da zona de enseiramento.   
          
            |  | 
             |  |  
            |  | 
            
            
            Figura 133: 
            Pormenor da tarefa de barro vidrado do lagar de Pereiro, P. 262. Em 
            baixo, o sangradoiro; ao alto, a tampa da tarefa, encostada à parede 
            da fornalha; sobre o bordo, uma candeia de barro. |  |  
        
        Tal como pode ser observado na figura 
        133, que nos mostra em pormenor a tarefa do lagar de Pereiro, a ampla 
        abertura da tarefa é coberta com uma tampa circular de madeira, que se 
        vê colocada ao alto, encostada à parede da fornalha. Cimentada sobre o 
        bordo da tarefa, uma candeia de barro permite que uma luz esteja 
        permanentemente acesa, alimentada pelo azeite extraído. Para evitar 
        qualquer acidente, a luz que alumia o trabalho nas tarefas é 
        obrigatoriamente de azeite. Deste modo, ainda que haja algum acidente, 
        será apenas azeite que cai na tarefa, pelo que o óleo lá existente não 
        sofrerá qualquer prejuízo. 
        
        Noutros lagares do distrito de Coimbra, existem duas tarefas por vara, 
        colocadas lado a lado no tendal, geralmente de tijolo e cimento.
         
        
        
         No lagar da Mata, P. 297 (freg. Vila Nova do Ceira, conc. Góis), 
        as duas tarefas da vara esquerda (figura 
        
        
        ◄74) ocupam um tendal de 
        tijolo e cimento delimitado pelas escadas de acesso à zona de 
        enseiramento, a cerca de um metro de altura relativamente ao nível do 
        solo. As tarefas da vara da direita ficam entre a fornalha e caldeira e 
        as escadas de acesso do lado direito. Veja-se, a este propósito, a 
        figura 18, pág. 57, que nos mostra a planta deste lagar, na qual é 
        perfeitamente visível a situação das tarefas. Por cima delas, para 
        facilitar a depuração do azeite, duas torneiras permitem que seja 
        deitada água a ferver proveniente da caldeira. 
          
            |  | 
             |  |  
            |  | Figura 134: 
            Tarefas do lagar de Dianteiro, P. 256, freg. Torres do Mondego, conc. 
            e dist. Coimbra. |  |  
        
         No lagar do Dianteiro, P. 256 (freg. Torres do Mondego, conc. Coimbra), 
        as duas tarefas ocupam um tendal constituído por blocos de pedra e 
        cimento, situado ao lado da fornalha. Com um bordo à altura de cerca de  
        70 a 80 centímetros, o recipiente  inferior  para  as  águas-ruças fica 
        abaixo do nível do solo (vd. fig. 134), sendo o acesso à espicha 
        permitido por duas amplas aberturas rectangulares. À semelhança de 
        outros lagares de vara visitados que possuem tarefas de barro, também 
        aqui elas são cobertas com grandes tampas circulares de madeira. O 
        azeite e as águas do caldeamento das seiras são conduzidas da zona de 
        enseiramento e prensagem para as tarefas por meio de condutas com a 
        forma de um Y feitas no chão. Conforme se pretendia que os líquidos 
        corressem para uma ou outra tarefa, obstruía-se o sulco com um bocado de
        baganha, conforme nos explicou o informador, como pode ser 
        verificado no excerto do diálogo que passamos a transcrever: 
        
        «– E o azeite espremido corre para onde? 
        
        – Depois o azeiti d'aqui peg'à escorrer a tod'à bolta, hum?, e 
        continuà bir p'r'àqui, cai aqui. 
        
        – Ah, vem cair aqui? 
        
        – Pois, p'à talha. 
        
        – Mas vai cair através de quê? 
        
        
         – Tapa-s'ali, olhe, tapa-s'ali no rego [vd. fig. 135, 
        
        
        ◄
        nº 4] 
        assim c'um bocadinho de baganh'àli, porque este cano ali dá p'às 
        duas coisas [isto é, para as tarefas ou talhas 1 e 2]. 
        Tapa-se aqui assim. Ele está cheio [1], vira-se p'r'àquela 
        [2]. Aquela tem azeite p'ra se medir, sai este moinho p'r'àli, 
        pode-se fabricar dois moinhos, um p'ra cada. Isto é feito cada... 
        cada moinho, que nós lhe chamamos, corre p'ra cada talha. 
        Inquanto estiver a correr, não se pode fabricar outro. Depois, deixou... 
        
        – Isto é uma talha? 
        
        – É, é, isso é uma talha. 
        
        – E o que é que se faz na talha? 
        
        – É o aparador do azeite. 
        
        – Mas já sai azeite puro? 
        
        – Pois, pois. Òpois sangra-se lá embaixo (...)» (P. 256, 
        Dianteiro, freg. Torres do Mondego, conc. e dist. Coimbra). 
        
        Dos lagares com prensas de parafuso e prensas hidráulicas visitados no 
        distrito de Coimbra, que possuíam tarefas de barro, iremos limitar-nos a 
        três lagares: o lagar da Moura Morta, com prensa de parafuso; os lagares 
        de Alvares e Quinta da Portela, com prensas hidráulicas. 
          
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            |  | Figura 136: 
            Prensa de parafuso e tarefas do lagar de Moura Morta, P. 294, freg. 
            S. José das Lavegadas, conc. Poiares, dist. Coimbra. |  |  
        
        No lagar de Moura Morta, P. 294 (freg. S. José das Lavegadas, conc. Vila 
        Nova de Poiares), a única prensa de parafuso existente fica a meio da 
        zona de enseiramento, que ocupa metade do lagar, de secção rectangular, 
        a cerca de um metro acima do nível do solo. Do lado esquerdo da prensa 
        (vd. fig. 136), entre a parede do lagar e uma abertura coberta por uma 
        tábua, ficam três tarefas de barro vidrado, cobertas com grossas tampas 
        circulares de madeira. Do lado direito, entre a abertura e as escadas de 
        acesso à zona de enseiramento e prensagem, apenas duas tarefas, 
        igualmente cobertas. 
        
        A prensa era «tocada à unha», exigindo o trabalho de quatro 
        homens para as diferentes prensagens. O azeite e as águas corriam para 
        as tarefas de serviço por meio de um rego existente no pavimento de 
        cimento. Embora a fotografia não o mostre, existia na base do tendal, no 
        fundo de cada tarefa, uma abertura para se proceder ao sangrar 
        das tarefas. Conforme nos explicou o Senhor António Pereira, «...de 
        bez em quando, q'ando elas [as tarefas] estão cheias, bão 
        sangrando p'ra baixo. Tem um espicho em baixo, naqueles 
        buracos», que a fotografia não mostra, por termos privilegiado a 
        prensa durante o enquadramento da imagem. 
        
        O lagar de Alvares (conc. Góis, dist. Coimbra), acoplado a uma fábrica 
        abandonada de tecelagem e a um moinho de trigo, estava há muito tempo 
        desactivado quando o visitámos, no dia 20 de Junho de 1970. Pertencia 
        aos herdeiros da viúva de Manuel Barata Lima e, nos seus tempos áureos, 
        era accionado por uma moderna turbina a água da Fundição de Fradelos, no 
        Porto. 
        
        A azeitona era moída num moinho de uma só galga e a massa espremida numa 
        prensa hidráulica, a cuja bateria manual (vd. fig. 95, pág. 227) fora 
        adaptada posteriormente um sistema de accionamento por meio de larga 
        correia de cabedal. 
          
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            |  | Figura 137: 
            Aspecto das tarefas do lagar de Alvares, conc. Góis, dist. Coimbra. |  |  
        
        O azeite e as águas resultantes das prensagens corriam para um conjunto 
        de quatro tarefas de barro, situadas numa sala independente do lagar 
        (vd. fig. 137). Embutidas num tendal construído com tijolo e cimento, 
        eram cobertas por tampas circulares de madeira, sobre as quais existiam 
        outras tampas de secção quadrada que, uma vez baixadas, formavam uma 
        longa mesa plana de madeira. O sangramento das tarefas fazia-se por meio 
        dos quatro sangradoiros rectangulares existentes na base do tendal. 
          
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            |  | Figura 138: 
            Tarefas do lagar da Quinta da Portela, P. 285, freg. Santo António 
            dos Olivais, conc. e dist. Coimbra. |  |  
        
        O lagar da Quinta da Portela, P. 285, já anteriormente por nós referido 
        em capítulos anteriores(29), era um lagar com duas prensas 
        hidráulicas, servidas por uma série de tarefas ou talhas de barro 
        de grande diâmetro, todas em linha num longo tendal de cimento. Embora 
        não as tenhamos  contado  quando  visitámos  o  lagar,  a  figura 138  
        dá-nos uma clara ideia do seu elevado número. O azeite e a água vão para 
        as tarefas de serviço através de uma conduta, um cano metálico, a todo o 
        comprimento do tendal. O azeite e as águas quentes deitadas durante as 
        prensagens correm do carro da prensa para um pio metálico, 
        colocado sob uma larga manga de tecido. Este pio metálico, com um 
        formato rectangular e paredes altas, está ligado às tarefas por meio de 
        um cano. Compete ao mestre do lagar seleccionar a tarefa ou tarefas 
        necessárias para a prensagem e operação de decantação. Por cima do cano 
        que liga o pio às tarefas, existem tantas torneiras quantas as talhas, 
        para permitir que seja adicionada água a ferver ao azeite, a fim de 
        facilitar a operação de decantação ou depuração do azeite. |