b) Nos lagares semi-modernos
O que se passa nestes lagares, relativamente ao enseiramento e
prensagem, assemelha-se em quase todos os aspectos ao que vimos em
relação aos lagares antigos. A única diferença reside no facto de
encontrarmos, em vez das tradicionais prensas de vara, um tipo de prensa
mais evoluído tecnicamente e com maior capacidade de trabalho
– a chamada prensa de parafuso.
A nossa atenção irá incidir apenas sobre dois lagares, dos muitos que
tivemos oportunidade de visitar em plena laboração dentro deste tipo;
são eles o de Anterronde, no distrito de Aveiro, P. 120, e o de
Sequeiros, no distrito do Porto, P. 52.
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Figura 105: A massa conservada na caixa é deitada dentro de
masseiros (Anterronde, P. 120, freg. Santa Eulália, conc. Arouca,
dist. Aveiro). |
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No
lagar de Anterronde, a azeitona reduzida a pasta e conservada na
caixa, recipiente rectangular de madeira colocado à saída da
porta da vasa, é deitada por um empregado em pequenas gamelas de
madeira – os chamados masseiros, de que se pode observar um
exemplar na figura 105▲, no momento em que é enchido por um empregado –,
que um ajudante ou lagareiro vai transportando e brocando, isto
é, vazando no interior das seiras, colocadas em pilha na zona circular
de pedra, debaixo da prensa, e a que na terra dão o nome impróprio de
pio (veja-se a figura
◄106). Cheias todas as seiras, colocam por cima
uma placa circular de madeira – a chamada porta – e cinco a seis
tabuões. |
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Figura 106:
A
massa é trazida por um lagareiro dentro de masseiros e brocada no
interior das seiras (Anterronde, P. 120, freg.
Stª Eulália, conc. Arouca, dist. Aveiro).
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Quatro lagareiros, dois em cada extremidade da prensa, vão fazendo rodar
lentamente os raios (veja-se a figura
▼107), longos varões de
ferro num total de seis, o que obriga o corpo central da prensa a descer
ao longo de dois parafusos verticais de ferro, efectuando-se a pouco e
pouco o aperto.
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Figura 107: Aspecto da prensa de parafuso do lagar de
Anterronde (P. 120, freg. Santa Eulália, conc. Arouca, dist.
Aveiro). |
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No lagar de Sequeiros, encontrámos
idêntica operação. A grande diferença entre um e outro lagar reside no
facto de, no primeiro, a prensa ser construída integralmente de ferro e
o corpo central ser elevado ou descido por meio de um sistema de
parafuso sem-fim, ao passo que neste segundo lagar vamos encontrar uma
prensa formada por dois parafusos verticais de ferro, nos quais
trabalham independentemente duas prensas (restricto sensu) de tipo
Mabille, bem visíveis na figura
▼108, e sobre as quais já tivemos
oportunidade de falar e, inclusive, apresentar um desenho esquemático.
Recorde-se o que se disse no capítulo VI e vejam-se as figuras 87 a 92.
São estas que, descidas por meio do movimento de vaivém das alavancas,
obrigam o enorme feixe horizontal de madeira a comprimir o
enseiramento, colocado dentro da sertã e constituído por três
seiras. A ligar as extremidades dos parafusos verticais, foi colocado um
arame de aço, cujo objectivo é o de evitar que as duas hastes se afastem
para o lado, em virtude de, com o excesso de pressão, a vara horizontal
ficar, por vezes, completamente curvada.
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Figura 108: Prensa de parafuso do lagar de Sequeiros, em pleno
funcionamento (P. 52, freg. Ancede, conc. Baião, dist. Porto). |
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Efectuado o primeiro aperto, são dadas a calda e a
rescalda, mediante os mesmos
processos que já descrevemos em relação ao antigo lagar
de vara.
No lagar de Sequeiros, a baganha é ainda
espremida uma última vez numa prensa de cincho, já apresentada na
figura
87 do capítulo anterior, situada em sala própria e representada na
figura 1 do capítulo I.
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