b) A vara italiana:
Este
tipo de vara, descrito por Paul Scheuermeier(31) e por Domenico Priori(32),
é conhecido pelos termos
turcio, trabocco
e trappito. Apresenta uma configuração muito semelhante à vara
peninsular, sobretudo se a compararmos com a vara espanhola.
Enquanto a vara peninsular
é relativamente estreita junto às gateiras ou sacos – no
caso da vara portuguesa – ou junto às madres – no caso da vara
espanhola –, tendendo para aumentar de largura e de peso à medida que
nos aproximamos do fuso, a vara italiana é de elevada largura junto à
zona onde é fixa – o alirto –, estreitando progressivamente à
medida que nos aproximamos da extremidade, que culmina numa bifurcação
denominada capiforca, sobre a qual assenta uma travessa com rosca
– a chamada scrófula –, equivalente à concha da vara
portuguesa.
A vara italiana, cujo desenho se apresenta na figura 86, não é encaixada
na parede como a portuguesa. Muito à semelhança da vara espanhola, é
fixa numa peça com quatro varas verticais de ferro, a que dão o nome de
alirto.
Segundo Scheuermeier, o alirto antigo era construído inteiramente
de madeira.
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Figura 86: Prensa de vara italiana (veja-se a identificação
dos componentes deste tipo de prensa na nota 33 ou na ampliação
desta imagem). |
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Aproximadamente a meia distância da vara, encontramos as chamadas
colonne
('duas colunas verticais paralelas colocadas de cada lado da vara'),
semelhantes às virgens, mas com funções diferentes.
Em toda a prensa, apenas o fuso e o peso apresentam certa semelhança com
o que encontramos na Península Ibérica.
Analisando os dois tipos de prensa, torna-se mesmo muito difícil e
embaraçoso dizer qual será o melhor: ambos apresentam vantagens e
desvantagens.
Quanto ao sistema de accionamento, sem dúvida que a peninsular é muito
mais simples do que a italiana. Se não, vejamos.
Na prensa peninsular, que actua sempre como alavanca de tipo
inter-resistente ou de segunda espécie, podemos distinguir duas fases
essenciais no aperto. Na primeira, que necessita apenas do trabalho de
um homem, a vara é descida lentamente até apoiar sobre as seiras, por
cima das quais se colocou previamente uma prancha circular de madeira
– a adufa – e várias traves curtas – os malhais –, para
darem altura ao enseiramento. Uma vez apoiada, a vara continua a ser
descida lentamente, até se atingir o máximo de aperto sem o auxílio do
peso.
Assim que o azeite pára de
correr por falta de pressão, inicia-se a segunda fase. Introduz-se a
chaveta na ranhura própria, o veio fica preso, e começa-se a rodar
novamente o fuso no mesmo sentido, até a pesada pedra ficar suspensa
alguns centímetros do chão, tal como se vê nas figuras 74 e 84. Assim
que o azeite deixa de correr, está terminada a primeira prensagem.
A prensa italiana funciona, primeiro, como alavanca inter-fixa ou de
primeira espécie; em seguida, como alavanca inter-resistente ou de
segunda espécie. O seu funcionamento parece exigir trabalho moroso e
complicado, segundo se pode deduzir das palavras de Paul Scheuermeier(33).
Servindo-nos da figura 86 e aproveitando a explicação dada por este
Autor, analisemos as suas fases de funcionamento:
1º - A vara A-B está apoiada horizontalmente sobre uma travessa,
introduzida no orifício nº 14 das
colonne,
servindo-lhe de fulcro. É rodado o fuso de maneira a fazer levantar o
braço P-B da alavanca, enquanto o braço A-P vai descendo, até a
extremidade A ficar apoiada sobre o alirto. Entretanto, vai
escorrendo algum azeite.
2º - Apoiada a extremidade sobre o alirto, é interrompida a
prensagem. A vara continua a ser erguida, para que se possa retirar a
travessa das ranhuras das colonne;
3º - No
alirto
são introduzidos tabuões de madeira com uma pega em cada extremidade.
São as chamadas spatole (nº 13), que irão firmar a vara. Daqui em
diante, a prensa deixa de funcionar como alavanca inter-fixa, para
passar a trabalhar como alavanca inter-resistente. É então que se inicia
o verdadeiro processo de prensagem. A vara vai descendo, até atingir o
máximo de aperto, sem auxílio do peso;
4º - A partir de certa altura, com a continuação do rodar do fuso, o
peso começa a elevar-se, juntando a sua força à da vara. E a prensagem
vai-se processando lentamente, até que o azeite pare de correr.
Do ponto de vista da eficácia, parece ser a prensa italiana um pouco
superior à peninsular, em virtude de as seiras ficarem empilhadas junto
ao
alirto,
aumentando assim o comprimento do braço da potência.
Como que para compensar do dispêndio de tempo a que a vara italiana
obriga, com toda a série de operações que acabámos de descrever, a sua
enorme largura junto ao
alirto
dispensa a colocação de adufa e de malhais sobre a pilha
de seiras.
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