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Fabrico Tradicional do Azeite em Portugal (Estudo Linguístico-Etnográfico), Aveiro, 2014, XIV+504 pp. ©

 

VI

PRENSAS DE AZEITE

 

b) A vara italiana:

Este tipo de vara, descrito por Paul Scheuermeier(31) e por Domenico Priori(32), é conhecido pelos termos turcio, trabocco e trappito. Apresenta uma configuração muito semelhante à vara peninsular, sobretudo se a compararmos com a vara espanhola.

Enquanto a vara peninsular é relativamente estreita junto às gateiras ou sacos – no caso da vara portuguesa – ou junto às madres – no caso da vara espanhola –, tendendo para aumentar de largura e de peso à medida que nos aproximamos do fuso, a vara italiana é de elevada largura junto à zona onde é fixa – o alirto –, estreitando progressivamente à medida que nos aproximamos da extremidade, que culmina numa bifurcação denominada capiforca, sobre a qual assenta uma travessa com rosca – a chamada scrófula –, equivalente à concha da vara portuguesa.

A vara italiana, cujo desenho se apresenta na figura 86, não é encaixada na parede como a portuguesa. Muito à semelhança da vara espanhola, é fixa numa peça com quatro varas verticais de ferro, a que dão o nome de alirto. Segundo Scheuermeier, o alirto antigo era construído inteiramente de madeira.

 

 
  Figura 86: Prensa de vara italiana (veja-se a identificação dos componentes deste tipo de prensa na nota 33 ou na ampliação desta imagem).  

Aproximadamente a meia distância da vara, encontramos as chamadas colonne ('duas colunas verticais paralelas colocadas de cada lado da vara'), semelhantes às virgens, mas com funções diferentes.

Em toda a prensa, apenas o fuso e o peso apresentam certa semelhança com o que encontramos na Península Ibérica.

Analisando os dois tipos de prensa, torna-se mesmo muito difícil e embaraçoso dizer qual será o melhor: ambos apresentam vantagens e desvantagens.

Quanto ao sistema de accionamento, sem dúvida que a peninsular é muito mais simples do que a italiana. Se não, vejamos.

Na prensa peninsular, que actua sempre como alavanca de tipo inter-resistente ou de segunda espécie, podemos distinguir duas fases essenciais no aperto. Na primeira, que necessita apenas do trabalho de um homem, a vara é descida lentamente até apoiar sobre as seiras, por cima das quais se colocou previamente uma prancha circular de madeira – a adufa – e várias traves curtas – os malhais –, para darem altura ao enseiramento. Uma vez apoiada, a vara continua a ser descida lentamente, até se atingir o máximo de aperto sem o auxílio do peso.

Assim que o azeite pára de correr por falta de pressão, inicia-se a segunda fase. Introduz-se a chaveta na ranhura própria, o veio fica preso, e começa-se a rodar novamente o fuso no mesmo sentido, até a pesada pedra ficar suspensa alguns centímetros do chão, tal como se vê nas figuras 74 e 84. Assim que o azeite deixa de correr, está terminada a primeira prensagem. 

A prensa italiana funciona, primeiro, como alavanca inter-fixa ou de primeira espécie; em seguida, como alavanca inter-resistente ou de segunda espécie. O seu funcionamento parece exigir trabalho moroso e complicado, segundo se pode deduzir das palavras de Paul Scheuermeier(33). Servindo-nos da figura 86 e aproveitando a explicação dada por este Autor, analisemos as suas fases de funcionamento:

1º - A vara A-B está apoiada horizontalmente sobre uma travessa, introduzida no orifício nº 14 das colonne, servindo-lhe de fulcro. É rodado o fuso de maneira a fazer levantar o braço P-B da alavanca, enquanto o braço A-P vai descendo, até a extremidade A ficar apoiada sobre o alirto. Entretanto, vai escorrendo algum azeite.

2º - Apoiada a extremidade sobre o alirto, é interrompida a prensagem. A vara continua a ser erguida, para que se possa retirar a travessa das ranhuras das colonne;

3º - No alirto são introduzidos tabuões de madeira com uma pega em cada extremidade. São as chamadas spatole (nº 13), que irão firmar a vara. Daqui em diante, a prensa deixa de funcionar como alavanca inter-fixa, para passar a trabalhar como alavanca inter-resistente. É então que se inicia o verdadeiro processo de prensagem. A vara vai descendo, até atingir o máximo de aperto, sem auxílio do peso;

4º - A partir de certa altura, com a continuação do rodar do fuso, o peso começa a elevar-se, juntando a sua força à da vara. E a prensagem vai-se processando lentamente, até que o azeite pare de correr.

Do ponto de vista da eficácia, parece ser a prensa italiana um pouco superior à peninsular, em virtude de as seiras ficarem empilhadas junto ao alirto, aumentando assim o comprimento do braço da potência.

Como que para compensar do dispêndio de tempo a que a vara italiana obriga, com toda a série de operações que acabámos de descrever, a sua enorme largura junto ao alirto dispensa a colocação de adufa e de malhais sobre a pilha de seiras.

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(31) – PAUL SCHEUERMEIER, op. cit., págs. 187-188.

(32)DOMENICO PRIORI, op. cit., fasc. III-IV, págs. 81-82.

(33) – São os seguintes os componentes da vara italiana, apresentada na figura 86: 1-vara; 2-bifurcação da vara, denominada capiforca; 3-scrófula; 4-fúsolo; 5-le mannuédde; 6-mázerra ('peso'); 7-colonne; 8-alirto; 9-li físculi ('as seiras'); 10-rosedda; 11-canale; 12-laviéddu; 13- spátole; 14-lugar onde é metida a travessa das colonne.

 

 

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