Por moagem entende-se a operação que consiste em reduzir a azeitona
deitada no moinho a uma massa mais ou menos homogénea, a fim de poder
ser extraído o azeite mediante prensagem.
Em Espanha, na comarca de Ayerbe, situada nos Pré-Pirenéus aragoneses,
esta operação é designada por molinada (de *molinata, por sua vez
de molinu, REW. 5644), apresentando o espanhol ainda outros termos, como
molienda, molitura e trituración(1).
Em Itália, dizem frangere, macinare e schiacciare le
olive(2).
Em Portugal, ao lado de
moagem,
surgem ainda os termos moedura, moenda, moenga, moento d'àzeitona
e moìdura, este último simples variante fonética de moedura.
O vocábulo mais comum e com larguíssima história é moagem. Segundo o
Regimento da Cidade de Évora de 1392(3),
a moagem podia ser de sertã ou de calda. Em que consistia cada uma
destas modalidades não o poderemos dizer, uma vez que o citado documento
não nos esclarece. Este mesmo termo pode apresentar o sentido de
'quantidade de azeitona moída de cada vez' que, segundo um informador, é
de cerca de 20 rasas (Castelo Branco, P. 305).
Vocábulo também bastante antigo é
moedura.
Surge-nos não só no já citado documento, mas também em outros
posteriores, como o Regimento de Lagar de Azeite de Coimbra,
datado de 1515(4).
O sentido mais corrente de
moedura
é o de 'quantidade de azeitona moída de cada vez'. No sentido de
'moagem' surgiu apenas em um inquérito por correspondência (I.L.C.)
realizado em Leiria, P. 351b.
Moenda,
correspondente ao espanhol
molienda,
foi registado em inquéritos do I.L.B. efectuados nos distritos de
Bragança, P. 92, e Guarda, no concelho de Gouveia; moenga, num
inquérito do I.L.C., realizado em Leiria, P. 361; moento e
moìdura surgiram respectivamente em Coimbra, P. 303, e em Aveiro, P.
157, e Coimbra, P. 288.
Ao homem que se ocupa da moagem foi dado o nome de
moìdor,
no distrito de Coimbra, concelho de Oliveira do Hospital, P. 238.
A quantidade de azeitona moída de cada vez é muito variável, como vários
são os nomes que a designam:
moagem,
moedura, moenda, moinho, moldura e piada.
O vocábulo
moedura,
no sentido de 'quantidade de azeitona moída de cada vez', foi registado
nos distritos de Beja (Brinches, freg. de Nossa Senhora das Neves, conc.
de Serpa); Braga, P. 28, 29; Castelo Branco e Leiria, P. 354 e 355.
Segundo o
Regimento da Cidade de Évora
de 1392, a moedura equivalia a doze fangas, sendo a fanga uma medida de
dois alqueires. O já citado Regimento de Lagar de Azeite da Cidade de
Coimbra de 1515 estipula que a moedura deverá ser de trinta
alqueires, caso o moinho a possa moer de uma só vez: «a moedura
inteira, que se há de fazer, há de ser de trinta alqueires de azeitona
cada moedura, e o Lagar, que não tiver água e aparelhos para poder moer
todos os trinta alqueires de azeitona, não lançará o mestre que estiver
mais azeitona que aquela que vir que é bem e a proveito do azeite, e o
tal Lagar poderá moer, fazendo a tal moedura pela fanga, para que se
possa saber de quantos alqueires se faz a moedura no tal Lagar a soldo,
e livre a lhe pagarem os oito reis, que se hão-de pagar de feitio de
cada moedura inteira, que é dos trinta alqueires (...) ».
Em Setúbal, no ano de 1721, nenhum lagar desta vila podia moer «moedura
d'azeitona de mais de quinze, de quatro alqueires cada uma, que sessenta
alqueires por moedura (...); e no trabalho de cada moedura»
deveria gastar «o tempo de vinte e quatro horas, a quinze
fangas cada moedura».(5)
Segundo o dicionário de Bluteau(6),
a moedura era, em algumas partes, de vinte e cinco cestos de azeitona,
que se deitavam na tulha para serem moídos de cada vez.
Os vocábulos mais usados actualmente para indicar a quantidade de
azeitona que se deve moer de cada vez são
moinho,
de que já falámos por mais de uma vez, e piada.
O primeiro termo surge-nos em dezoito povoações, já citadas quando
apresentámos a distribuição geográfica dos sentidos desta palavra, no
começo do capítulo III. É no sentido de 'quantidade de azeitona moída de
cada vez' que Dalla Bella(7)
emprega frequentemente este termo:
«Ordinariamente
tomam-se quatro sacos grandes de azeitonas escaldadas primeiro na tulha,
a que se dá o nome de um moinho, e as lançam de uma vez de todos quatro
na pia para moê-los».
«(...)
naqueles lagares em que a mó é movida por dois bois, com o trabalho de
três ou quatro homens apenas se chega a moer em vinte e quatro horas
quatro moinhos de azeitonas, havendo duas varas para espremê-las (...)».
O segundo termo, relacionado com
pia
ou pio, de onde deriva, é corrente nos distritos de Bragança, P.
92, 105, e Vila Real, P. 69, 73, 75, 76, 78. Este mesmo
termo é
apresentado com idêntico sentido por Tavares da Silva(8)
e por Augusto César Pires de Lima(9).
Vocábulos como
moenda
e moldura foram registados como casos únicos e esporádicos
respectivamente em Bragança, P. 92, e Leiria, P. 354.
Vimos que a quantidade de azeitona moída, para épocas anteriores à
nossa, oscilava entre 12 fangas e 60 alqueires. Actualmente, o número é
também muito variável. No distrito de Braga, «a
moedura (...) regula aí 18 quilos de azeitona cada vez qu'a gente
deit'àli
[no pio do moinho], para depois caber dentro do inseiramento» –
Pinhel, P. 28 – ou pode ser de «seis cestos, chamamos nós aqui duas
rasas. Pode ser quatro, pode ser cinco» – Chacim, P. 29. Em
Bragança, regula entre quatro e sete cestos de azeitona, chegando a
perfazer um total de 300 quilos. Em Coimbra, oscila entre três e seis
sacas. Em suma, as cifras indicadas situam-se entre 18 e 300 quilos. Não
há pois uma quantidade certa. De terra para terra há diferenças, sendo
as medidas usadas variadíssimas, desde simples cestos – e até mesmo as
próprias sacas em que trazem as azeitona do olival – a gamelas de lata e
de madeira.
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