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Fabrico Tradicional do Azeite em Portugal (Estudo Linguístico-Etnográfico), Aveiro, 2014, XIV+504 pp. ©

 

III

O moinho

 

ACCIONAMENTO A MOTOR

Dentro desta forma de accionamento encontramos dois tipos de motor: eléctrico e diesel. Situados geralmente num compartimento próprio, a chamada casa do motor, a transmissão é feita pelo correame, que move toda a maquinaria do lagar.

A já demasiada extensão deste capítulo e, sobretudo, o facto de os moinhos modernos apresentarem interesse mais reduzido linguística e etnograficamente, impedem-nos de fazer uma análise detalhada de cada um. Para mais, o seu estudo pode ser feito facilmente através de livros técnicos. Deste modo, iremos ver rapidamente alguns moinhos mistos, isto é, accionados por meio de motor ou de água, e um antigo moinho, pertencente a um lagar de varas, adaptado para trabalhar com motor eléctrico.

Moinhos mistos encontrámo-los em cinco povoações: Remungão, P. 261; Foz do Caneiro, P. 255; Moura Morta, P. 294; Vilhagre, P. 211; Pereiro, P. 262.

O moinho do lagar de Foz do Caneiro, P. 255, com uma basa de pedra de duas galgas, apresenta uma dobadoura de pequenas dimensões, mais parecida com uma roda de entrosga. Por isso, o dono do lagar disse ser uma «dubàdoura chamando (sic) entrosga, dubàdoura com entrosga, por càza destes dentes, porqu' estes dentes depois apanham aqui este carreto, é que fazem mover aqui atão o beio, qu i é lá fora à roda do balanço da água».

A dobadoura é accionada por meio de um carreto muito parecido com os roquetes, embora de diâmetro maior. Fica no mesmo eixo da roda da água, ou, como o informador disse, da roda do balanço da água. Ao contrário dos roquetes, que trabalham em posição vertical, o carreto trabalha deitado, engrenando os fusos ou tornos de madeira nos dentes verticais da dobadoura.

Entre o carreto e a parede, atravessada pelo eixo, existe uma roda de ferro. É nela que colocam a correia que, com o movimento do motor, acciona todo o conjunto.

A dobadoura apresenta ainda a característica interessante de se assemelhar, quer no tamanho, quer na forma e distribuição dos dentes, à entrosga que dois homens estavam a reparar em Souselas e que tivemos a oportunidade de fotografar (veja-se a fotografia da figura 27).

 

 
  Figura 56: Aspecto do moinho do lagar da Moura Morta, P. 294, freg. S. José das Lavegadas, conc. Vila Nova de Poiares, dist. Coimbra.  

O moinho da Moura Morta, P. 294, pertence a um lagar semi-moderno, isto é, a um tipo de lagar com prensa de parafuso, de funcionamento um tanto complexo. A base de pedra apresenta, exteriormente, uma altura relativamente elevada; interiormente, a distância do rasto do recipiente ao bordo é pequena.

Quando a água é abundante, as duas enormes galgas de eixos assimétricos são movidas por meio da roda da água. O movimento desta, situada fora do lagar, é transmitido por um sistema de engrenagem – as chamadas rodas de coroa, encaixadas numa cavidade da parede (ver figura 56) – a um eixo de ferro que, por sua vez, faz accionar o eixo vertical das galgas. É nesse eixo de ferro, entre o moinho e a parede, que existem duas rodas de madeira de igual diâmetro. Uma gira livremente, enquanto a outra está fixa ao eixo. Quando falta a água, o moinho é accionado por motor a gasóleo, situado atrás do aparelho e junto à parede. A correia, que transmite o movimento do motor a uma das rodas de madeira, está protegida por uma espécie de gaiola feita de tábuas. A roda que gira livremente serve para interromper o movimento das galgas sem necessidade de pararem o motor. Por meio de uma alavanca, empurram a correia da roda fixa para a livre, interrompendo consequentemente o movimento das mós. Na caixa superior do eixo vertical, que permite que as galgas subam ou desçam conforme a altura da azeitona, existe um ferro com duas curvas em forma de crista. O seu objectivo é servir de suporte a uma pesada candeia de ferro, com a qual iluminam o interior da vasa durante a moenda.

 

 
  Figura 57: Aspecto do moinho o lagar de Fundo de Vila, P. 57, freg. Jasente, conc. Amarante, dist. Porto.  

O lagar de varas de Fundo de Vila, P. 57, no concelho de Amarante, possui um antigo moinho de bois (veja-se a figura 57), com um pio de pedra interiormente forrado de aduelas de madeira, adaptado para trabalhar com um motor eléctrico. Na parte superior da árvore foi-lhe acrescentada uma roda de madeira, fixa por quatro braços. A elevada rotação do motor chega à roda bolante – assim chamou o informador à citada roda de madeira – consideravelmente reduzida, graças a uma roda de desmultiplicação, através da qual se processa o movimento do moinho. As galgas apresentam pequeno diâmetro, tendo uma quase o dobro da largura da outra. Segundo o informador – o indivíduo que explora o lagar –, a mais estreita tem como função puxar a massa, ao passo que a mais larga serve para esmagar.

 

 

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