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Fabrico Tradicional do Azeite em Portugal (Estudo Linguístico-Etnográfico), Aveiro, 2014, XIV+504 pp. ©

 

III

O moinho

 

MOINHOS DE BOIS

É este um dos tipos de moinho com maior interesse linguístico e etnográfico. As suas origens perdem-se na sombra dos tempos. Será praticamente desnecessário dizer o que se entende por moinho de bois, pois toda a gente sabe que a express­ão aqui usada se refere a um tipo de lagar cujo moinho é tocado a sangue(7), isto é, movido por meio de força animal.

Figura 39: Moinho de Dalla Bella.
   

É um sistema de accionamento comum a todos os países produtores de azeite, hoje praticamente caído em desuso, dado o seu pouco rendimento de trabalho. Os poucos que subsistem ainda em Portugal não devem ter longa vida à sua frente. Apenas as regiões mais recônditas, onde o progresso a custo consegue chegar, deverão conservar sistemas primitivos como este.

Figura 40: Moinho de Dalla Bella.

Em 1784, procurou Dalla Bella(8) mostrar os inconvenientes deste sistema, dando não só indicações de vária ordem para que tão rudimentar processo pudesse ser aperfeiçoado, como citando mesmo um tipo de moinho de bois que parece não existir actualmente, pelo menos na metade norte do País.  Segundo ele,  «a máquina portuguesa move-se por meio de duas rodas dentadas, das quais a maior, posta em movimento pelos animais por meio de uma vara comprida, comunica o movimento à outra menor que conduz a mó: e estas duas rodas são feitas com tão pouca indústria, sem regra certa na divisão e figura dos dentes, que não só produzem entre si um grande atrito, mas causam frequentemente um movimento irregular na mó». E põe em paralelo o moinho genovês, no qual «o animal move imediatamente a mó genovesa (tal como se representa nas figuras II e VII, por nós reproduzidas nas figuras 39 e 40) com uma velocidade igual à do seu passo com movimento uniforme, sem encontrar tanta resistência de atrito.» E, conhecendo bem as vantagens que há em se usar no moinho a desmultiplicação de forças por meio de um sistema de rodas dentadas, de tal modo que «em cada giro do animal possa fazer a mó três e quatro giros», dá uma série de conselhos bem fundamentados, indicando a construção de um tipo de lagar, no parágrafo LXXVII, páginas 69 a 70:

«É porém fácil obter o intento desejado, quando os ani­mais caminham em um plano superior ao da mó, imitando nisto algum moinho que se observa em Aix, e em algumas partes  da  Itália.  Este moinho (figura VI, reproduzido na figura 41) requer uma casa composta de um plano térreo, e de outro plano DD em sobrado. O fuso EE sustentado com uma ponta de aço sobre uma base escavada de bronze G, passa pelo sobrado DD, e acaba em F numa trave do tecto. O animal H, que entra no sobrado, está atado a uma vara L unida ao fuso em M. Com o movimento do animal move-se o fuso à roda do seu eixo, e gira a roda BB fortemente unida com o mesmo. Suposto que esta tenha só 36 dentes, encontrando-se eles com os da segunda roda A, que são 12, uma só volta da roda BB faz girar três vezes a outra A, e consequentemente o outro fuso Z, e a mó C que mói as azeitonas posta na pia N. Por isso em uma hora de tempo se obtém na moedura quase o mesmo efeito, para que se requer o tempo de três horas na obra de um moinho simples (...)»

 

 
 

Figura 41: Tipo de moinho preconizado e explicado por Dalla Bella.

 

É interessante notar o facto de que os moinhos tocados por animais, que encontramos com frequência, correspondem, em certa medida, àquele tipo que Dalla Bella considera genuinamente genovês, isto é, o nosso lagar de bois é movido à semelhança do que se passa ou passava em Génova, pois cá, como lá, a mó é accionada imediatamente pelo animal «com uma velocidade igual à do seu passo com movimento uniforme», embora talvez com mais atrito, pois cá, ao contrário de lá, o moinho apresenta frequentemente mais de uma galga, de grandes dimensões e largura, chegando a perfazer um total de quatro, como veremos quando tratarmos das diversas espécies de moinhos de bois existentes na metade norte de Portugal.

António Cardoso de Menezes(9) apresenta vários modelos de moinho, dos quais dois accionados por animais: um puxado por cavalo e com a mó vertical, tendo por eixo a vara de tracção; outro, o chamado moinho de Paget. À parte o moinho de Dalla Bella, que o Autor considera mais vulgarizado em Portugal, não parece existir, pelo menos na metade norte do País, nenhum dos dois tipos apontados. Apenas um muito parecido foi fotografado em tempos no lagar da Quinta da Ínsua (Castendo), no concelho de Penalva do Castelo, no distrito de Viseu. O moinho deste lagar assemelha-se em muitos aspectos ao moinho de Paget, descrito por António Cardoso de Menezes(10), e tudo nos leva a fazer crer que se trata do mesmo, embora mais aperfeiçoado e posto em movimento por meio de motor.

Os moinhos de bois observados na metade norte compõem-se, de uma maneira geral, de um recipiente onde é deitada a azeitona, de um pastor ou pião, de um moirão, de um cambão, almanjarra ou manjarra e, por vezes, de um raspador.

A fim de podermos fazer um estudo metódico deste tipo de moinho, teremos de o distribuir por diversos grupos, sem os quais se tornaria difícil fazer uma análise sistemática e minuciosa das diferentes espécies que apresenta. Para esta classificação, que não pretende mais do que servir de um simples esquema de desenvolvimento, entramos em linha de conta com dois factores: material de construção do vaso pedra ou madeira e número de galgas. Assim, obtemos a seguinte distribuição:

 

uma galga: P. 118

1º - moinho de aduelas

 
  duas galgas: P. 118a
 
 





uma galga: P. 75, 103

duas galgas: P. 52, 54, 56, 86, 116

três galgas: P. 51, 286

quatro galgas: P. 256

 

2º - moinho com vasa de pedra

 
 

 

Em Canelas, no concelho de Arouca, tivemos a oportunidade de encontrar dois moinhos cujos vasos são formados por aduelas de madeira.

 

 
 

Figura 42: Elementos que compõem o moinho de aduelas de Canelas de Cima, P. 118a, freg. Canelas, conc. de Arouca, dist. Aveiro.

 

O moinho de Canelas de Cima, P. 118a, documentado nas figuras 42 e 45, caracteriza-se por apresentar duas galgas. O fundo é constituído por uma larga placa circular de pedra (nº 1), sobre a qual giram as galgas (nº 4). O chamado vaso é formado por várias aduelas (nº 3) de madeira, muito irregulares, pregadas a dois arcos periféricos também de madeira (nº 2), dos quais o superior constitui o chamado bordo do vaso. Estes dois aros estão firmes por pequenos paus de secção circular (nº 5), colocados ao alto e a distâncias mais ou menos iguais. As galgas (nº 4), que giram num eixo horizontal de ferro, estão presas a um eixo vertical, também de ferro, preso por sua vez a uma coluna circular de madeira (nº 6), pregada a uma das traves do telhado. Ligada aos eixos das pedras, a almanjarra (nº 7), enorme vara de madeira, à qual atrelam os bois que fazem mover o moinho.

O moinho de Canelas de Baixo, P. 118, que as figuras 43 (=) e 46 ilustram, é um pouco mais rudimentar que o anterior e apresenta uma só galga. Assente sobre várias pedras, de feitio e tamanho muito irregular, o vaso é feito de aduelas (nº 1) pregadas a uma cercadura de madeira, apoiada sobre colunas (nº 2). O moirão (nº 3), ao qual está preso o eixo horizontal da galga, é uma peça vertical de madeira que serve de eixo. Está preso a uma trave do telhado, a uma das chamadas trabes d'àzenha ou linhas d'armação d'àzenha, visíveis na figura 45. É no moirão que está enfiada a almanjarra (nº 4). Para que esta não saia, metem-lhe, na extremidade oposta àquela onde atrelam os animais, um torno de madeira.

No interior do vaso e fixo ao moirão, um pouco abaixo do eixo horizontal da galga (◄= ver figura 44), está pregada uma peça de madeira com o formato aproximado de uma régua em T. É o chamado raspa, cuja utilidade é a de fazer cair a massa que se agarra às paredes do vaso. Servindo-nos das palavras do informador: «... e depois este raspa, c'o andamento da mó, bai andando sempr'im bòlta e jogando ela [a massa] abaixo».

 

 
 

Figura 45: Aspecto do moinho de aduelas de Canelas de Cima, P. 118a, freg. Canelas, conc. de Arouca, dist. Aveiro.

 
 

É a moinhos do género dos de Canelas que Dalla Bella(11) se refere, ao falar das pias que os compõem. Segundo ele, «esta pia tem o fundo redondo de pedra do diâmetro de 6 palmos. Na circunferência do mesmo se levantam as bordas inclinadas para fora na altura de perto de três palmos, de maneira que o diâmetro da boca superior é de quase 9 palmos, e os lados da mesma são interiormente cobertos ao redor de tábuas mal conexas entre si, as quais antes de principiar-se o trabalho no lagar se lavam quando muito só com água quente

 

 

Figura 46: Aspecto do moinho do lagar de Canelas de Baixo, P. 118, freg. Canelas, conc. de Arouca, dist. Aveiro. Penduradas, seiras velhas.

Os moinhos de Milhão e Faiões, respectivamente  nos distritos de Bragança, P. 103, e Vila Real, P. 75, apresentam um pio de pedra com uma só galga.

 

Figura 47: Aspecto do interior do moinho, no lagar de Milhão, P. 103, conc. e dist. de Bragança.  Figura 48: Corte do moinho do lagar de Milhão, P. 103.

O primeiro (vejam-se as figuras 47 e 48), parado há vários anos, pertence a um antigo lagar de vara, agora meio arruinado. Apresenta um pio com fundo e paredes de pedra, de formato semelhante ao de uma taça. Liso pelo lado de fora, tem as paredes internas facetadas, isto é, divididas em duas zonas com inclinações diferentes: a superior, mais deitada; a inferior, quase perpendicular ao plano da base (observe-se o corte do moinho apresentado na figura 48). O moirão, no qual está embutida a vara da almanjarra, segura por meio de uma pequena cavilha de madeira que lhe atravessa a extremidade, de secção rectangular, possui um feitio singular, formado por uma enorme peça de madeira, mais larga na zona onde encaixa o eixo da galga.

 

Figura 49 e 50: Aspecto do moinho do lagar de Faiões, P. 75, vendo-se na imagem da direita um pormenor do pastor do moinho.

O moinho de Faiões, P. 75, documentado na figura 49, pertencente a um lagar de parafuso, fica, ao contrário do anterior, numa sala própria, de plano quadrado, que comunica por uma porta com a sala onde é espremido o azeite.  

Com um diâmetro de pouco mais de dois metros, apresenta o bordo do pio coberto de madeira, a fim de diminuir o desgaste do baldão (nome dado na terra à almanjarra ou cambão) que, durante o funcionamento, se desloca apoiado ao bordo. A galga, de grandes dimensões, é atravessada pelo próprio cambão, que lhe serve de eixo. Está segura com uma chaveta de ferro e gira à volta de um pilar cilíndrico de pedra – o chamado pastor (figura 50) – protegido, em cima, por um disco metálico.

Na extremidade pela qual está fixo ao pastor, o cambão é reforçado por duas placas de ferro e atravessado por uma cavilha do mesmo material com a função de eixo.  

O moinho acabado de descrever apresenta grande semelhança com o apontado por Dalla Bella, representado na figura 40. Num e noutro, é o próprio cambão que serve de eixo à mó. Há, no entanto, uma grande diferença entre os dois: no moinho genovês, a mó é extremamente delgada; no moinho português, é desmesuradamente larga.

O lagar de Vila Viçosa, P. 116, possui um moinho de duas galgas e baso de pedra, com o bordo largo e quase de um metro de altura. Merece ser aqui citado apenas pelo facto de apresentar uma pequena curiosidade que o individualiza: na extremidade superior do eixo vertical de ferro, de pouca altura, existe um disco circular em forma de prato. O informador não soube dizer o nome por que é conhecido. Disse, todavia, servir «p'ra pôr o gasómetro», a fim de alumiar o interior do baso, para que o mestre possa ver se a azeitona já está bem esmagada.

De uma maneira geral, todos os moinhos de duas galgas encontrados nos distritos de Bragança e Porto apresentam um pio de pedra de considerável diâmetro.

 

Figura 51 e 52: Aspecto da moagem da azeitona no lagar de Sequeiros, P. 52, em Baião. À direita, pormenor do interior do pio, mostrando como a manjarra está fixa ao eixo das galgas.

No lagar de Sequeiros, P. 52 (concelho de Baião, no distrito do Porto), a parte superior do bordo do moinho é revestido de madeira, diminuindo assim o desgaste da manjarra (vejam-se as figuras 51 e 52). As mós giram num eixo assimétrico de ferro, com secção quadrada, apanhando uma o lado de fora do rasto, a outra o lado de dentro, junto ao pion(12). Neste, existe um veio de ferro espetado verticalmente com a função de eixo. A manjarra está fixa a um aro circular de ferro, soldado ao eixo horizontal das mós, e a dez centímetros do eixo vertical, tal como se documenta na figura 52. Sistema exactamente igual a este encontramo-lo na azenha de Cadeado, P. 54, no mesmo concelho.

Quer o moinho de Sequeiros, pertencente a um lagar de parafuso, quer o de Cadeado, ocupam uma sala própria para a moagem, ligada por uma porta àquela onde se efectua o enseiramento e prensagem.

 

 
  Figura 53: Pormenor do moinho de Fonte Longa, P. 86.  

No lagar da Fonte Longa, P. 86, o moinho apresenta um farneiro com paredes de pouca altura, semi-enterrado no chão. As pedras – nome pelo qual designam as mós, ao lado de galgas –, colocadas assimetricamente  num eixo de madeira, fixo a um pião de pedra por meio de um beio de ferro, apresentam um diâmetro muito pequeno e larguras diferentes. A que gira junto ao pião tem quase o dobro da outra que gira junto ao bordo exterior. As paredes internas do farneiro são quase perpendiculares. O baldão, atravessado pelo veio vertical, forma ângulo recto com o veio horizontal das galgas. Para maior segurança, uma placa de ferro liga o baldão ao eixo horizontal, formando como que uma hipotenusa. Tal como em outros moinhos, o baldão desloca-se quase apoiado ao bordo do farneiro. Por este não ser revestido, o desgaste que apresenta, visível na figura 53, é considerável.  

Um ou outro lagar apresenta uma peça de madeira que, durante o movimento do moinho, desprende a massa que se agarra às paredes do recipiente. No caso do moinho de Izei, P. 76, o raspador de madeira está preso não ao moirão ou ao eixo das galgas, mas sim ao próprio baldão, como se pode verificar na figura 54.

Dos vários moinhos de três galgas, de que encontrámos exemplares nas Carvalhosas (concelho de Coimbra, P. 286), Simantorta (concelho de Pampilhosa da Serra), e Pedregal (concelho de Baião, P. 51), referiremos apenas o primeiro.

O moinho do lagar das Carvalhosas, P. 286, do qual infelizmente  não possuímos  qualquer gravura, caracterizava-se pela sua base de grande diâmetro, com um bordo de cerca de 50 centímetros de altura. As galgas giravam à volta de um eixo vertical de ferro, preso ao centro de um larguíssimo pião cilíndrico. Os eixos horizontais assimétricos eram reforçados por uma armação de ferro de feitio triangular. O enorme cambão obrigava os animais a fazer quilómetros de marcha à volta do moinho, tal o seu desconforme comprimento, tão contrário aos preceitos indicados por Dalla Bella(13). A circundar as paredes da base, existia uma plataforma de pedra, espécie de passeio para o boieiro que conduzia os animais.

 

 
 

Figura 55: Moinho de 4 galgas do lagar do Dianteiro, P. 256, freg. Torres do Mondego, conc. e dist. de Coimbra.

 

O moinho do lagar do Dianteiro, P. 256, nos arredores de Coimbra, é dos poucos que apresentam quatro galgas, tal como se pode ver na figura 55. Com mais de três metros de diâmetro, possui uma base com pouca altura. As galgas giram em eixos assimétricos, ligados entre si por uma armação de ferro de formato quadrado, que apanha toda a zona compreendida entre o larguíssimo pião – pedra circular do meio, onde encaixa o eixo vertical de madeira – e as paredes internas da base. O cambão, preso ao eixo vertical, faz deslocar as mós por meio de uma corrente que o liga à extremidade do eixo de uma delas. Para não se desgastar com a fricção, possui um carreto cilíndrico de madeira, graças ao qual desliza quase suavemente pelo bordo.

Ao canto direito do lagar, bem visível na figura 55, fica a manjedoura, constituída por várias pedras delimitadas por uma barra de madeira presa à parede.

 

Analisámos até agora as diversas espécies de moinho de bois, encontradas na metade norte do País. Resta-nos, pois, saber como são atrelados os animais às varas de tracção, o que faremos depois de apresentar os diversos nomes para estas mesmas varas.

Almanjarra é uma palavra de origem árabe, sendo o seu étimo mazarra. Steiger(14) apresenta também como vestígio do árabe no português o vocábulo manjorra, que se nos afigura como lapso do Autor, que assim o transcreveu em vez do termo corrente e por nós frequentemente registado: manjarra. Define-o como o 'pau a que se atrela o animal que faz andar a atafona ou a nora'. Do árabe subsistiu também o siciliano minciarru, definido como 'braccio della macina da olio, della senia e di altre macchinne mosse da cavali' (SGI, III, pág. 241).

O vocábulo almanjarra é corrente no distrito de Aveiro, P. 116, 118; manjarra, com maior representação, surge nos distritos de Aveiro, P. 117, Porto, 51, 52, 54a, 56, 59, e Vila Real, P. 73.

Baldão, com o sentido de 'vara a que se atrelam os animais para puxar as galgas', foi registado nos distritos de Bragança, P. 89, 91, 92, e Vila real, P. 76, 78, 81.

Balurdo é um termo isolado e duvidoso, apenas registado no distrito da Guarda, P. 197.

Cambão, ao lado de cangão (Coimbra, P. 256), encontra-se documentado em inquéritos por nós efectuados nos distritos de Coimbra, P. 256, 286, Guarda, P. 216, 217, Porto, P. 56, e Vila Real, P. 75.

Os animais usados são geralmente bois, que, no dizer dos informadores, aguentam melhor o trabalho; além de não entontecerem facilmente, conseguem moer um moinho de azeitona durante duas e mais horas.

Sobre o cachaço dos bois, põem primeiramente umas almofadas de couro, de formato arredondado, na região entre as hastes dos animais (observem-se as figuras 8 e 51), conhecidas pelos termos meleias (Bragança, P. 86), molhelhas (Porto, P. 51, 52, 54a, 56), molhilhas (Vila Real, P. 75) ou molidas (Vila Real, P. 73, 75, 76). As molhelhas têm como finalidade evitar que o jugo fira os animais. Apoiado o jugo sobre estas almofadas, atam-no aos chifres por meio de umas tiras de cabedal chamadas sogas: «o jugo põe-se nas molidas im cima da cabeça dos animais; e depois com as sougas(15) prendem-se lá òs còrnos dos bois c'o jugo» (Fonte Longa, P. 86).

O jugo é ligado ao baldão por meio de um cadeado (Porto, P. 51; Vila Real, P. 78) ou de uma vara chamada tamonzela (Vila Real, P. 76), tamuão (Porto, P. 56), tamucela (Vila Real, P. 78) ou temunzela (Vila Real, P. 73). Esta vara é ligada ao jugo por meio de correias – os chamados tamoeiros (Bragança, P. 92; Porto, P. 54b; Vila Real, P. 73, 76). A extremidade posterior da tamonzela possui normalmente um gancho, com o qual a engatam ao baldão ou manjarra, que para isso possui um orifício na extremidade.

Segundo os informadores, o cadeado é mais eficaz do que a tamucela, pois, conforme um deles diz, «o cadeado dá-se melhor à bolta; a tamoncela é mais em linha recta e, portanto, o cadeado dá-se melhor à bolta» (Vila Real, P. 78).

Em alguns casos, existe ainda uma corda que vai do veio vertical à extremidade do jugo voltada para o moinho. É o chamado tirante (Bragança, P. 86) que, no caso do moinho de Sequeiros (veja-se a figura 51), está ligado não ao eixo vertical, mas a uma haste de ferro existente na extremidade do eixo horizontal da galga exterior, servindo-lhe simultaneamente de chabêlha, para impedir que a mó salte fora do eixo.

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(7) – Esta curiosa expressão foi por nós ouvida em Malhada da Serra, P. 302, freguesia de Pessegueiro, concelho de Pampilhosa da Serra, no distrito de Coimbra.

(8)JOÃO ANTÓNIO DALLA BELLA, op. cit., parágrafo LXXVI, págs. 67-68.

(9) – ANTÓNIO CARDOSO DE MENEZES, op. cit.

(10) – ANTÓNIO CARDOSO DE MENEZES, Noções de oleicultura prática, 2ª ed., Coimbra, 1901, pág. 74: «63.– Muitos dos modernos moinhos de duas galgas são de trabalho contínuo. Nestes moinhos, dos quais é um bom modelo o de Paget Fils, de Marselha, não há necessidade de suspender o serviço para a carga e descarga, que se efectuam automática e ininterruptamente. As galgas são de pedra, mais ou menos cónicas, e arrastam naturalmente a pasta durante a marcha para o exterior do prato, donde uma raspadeira a descarrega, à medida que se vai formando, por uma bica lateral. A alimentação do aparelho realiza-se por um ou dois tubos que conduzem a azeitona duma tremonha superior ao caminho das galgas

(11) – JOÃO ANTÓNIO DALLA BELLA, op. cit., págs. 49-50.

(12)Pion, registado apenas no distrito do Porto, P. 52, 56, é um vocábulo equivalente a pião, nome dado ao pilar cilíndrico de pedra existente no centro dos moinhos (o mesmo que pastor). Este segundo termo ─ pião ─ foi registado nos distrito de Castelo Branco, P. 305, Coimbra, P. 256, 286, 300, Guarda, P. 206, e Vila Real, P. 78.

(13) – JOÃO ANTÓNIO DALLA BELLA, op. cit., parágrafo LXXVII, página 68, diz-nos o seguinte a este respeito: «... não convém que a vara (...) à qual se atam os animais seja muito comprida; porque determinando o círculo, que os animais em cada giro devem correr, quanto mais comprida esta for, tanto maior espaço devem eles caminhar, e por isso gastar um tempo proporcional ao dito espaço (...)».

(14) – ARNALD STEIGER, op. cit., pág. 192.

(15) – Embora normalmente grafado sogas, procura-se transcrever a fala dos informadores dando sobretudo importância ao aspecto fonético.

 

 

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