MOINHOS DE RODÍZIO
Nos distritos de Braga, P. 29, 31, 32, e Guarda, P. 213, podemos
encontrar lagares que apresentam uma aparelhagem que aqui designamos por
moinhos de rodízio.
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Ao contrário do que ocorre com a roda motora do chamado moinho de
roda, o rodízio caracteriza-se pelo facto de trabalhar em
posição horizontal, numa cavidade subterrânea do lagar conhecida
pelo nome de
inferno, num plano imediatamente abaixo do ocupado pelo
recipiente de moer, tal como se pode verificar pela figura 34, que
nos apresenta um corte com os diferentes elementos do sistema de
moagem. |
Figura 34: Elementos do moinho de rodízio. |
As peças que compõem este tipo de moinho são: o cubo, o jicho
ou
jincho (A), uma alavanca com uma tábua (B), o rodízio (C), as
penas do rodízio (D), o pulão ou pela (EF), o
roquete (G), a pontaria ou roda da árvore (H), a
árvore (I), as galgas (J) e a base ou pio (L).
Façamos então a análise dos elementos apontados, servindo-nos para tal
do esquema da figura 34.
Começamos por falar do inferno. O sentido normal desta palavra
equivale ao da expressão poços de decantação, recipientes de
grandes dimensões ligados entre si por meio de sifões, situados numa
zona própria do lagar, para os quais escorrem as águas das caldas,
misturadas com almofeiras e restos de azeite dissolvidos no líquido que,
após alguns dias de decantação, vêm à superfície, sendo ainda
aproveitados. É este o sentido normal e mais corrente do vocábulo
inferno, no campo olivícola, ao lado de outros com a mesma
significação, como veremos oportunamente.
No caso dos moinhos de rodízio, no distrito de Braga (P. 32, 34), o
inferno é uma zona subterrânea do lagar por onde passa a água que
acciona o rodízio e que comunica com a superfície por meio de um
alçapão. O aspecto que apresenta, agravado ainda mais durante o
funcionamento do rodízio, é francamente desagradável, para não dizermos
lúgubre e misterioso ou mesmo infernal. A escuridão que nele reina, o
ruído ensurdecedor da água a bater enraivecida nas penas do rodízio, o
chocalhar dos salpicos na água e nas pedras, transformam o estreito
subterrâneo num verdadeiro pandemónio. Não admira, pois, que a este
recanto do lagar ande associada a palavra inferno, lugar que para a
gente simples das nossas aldeias fica nas profundezas da terra,
correspondendo ao Inferno dos antigos, a que os gregos davam o nome de
Hades.
O jicho ou jincho, termos registados no distrito de Braga,
respectivamente P. 29 e 31, é uma peça cónica de madeira (A), que serve
para regular a pressão da água. É metido à força na saída do cano e
apertado com um mascoto.
O rodízio é uma roda horizontal de madeira (C), fixa ao pulão ou
pela (EF) por meio de dois braços de madeira, em cruz, que atravessam o
pulão, e por quatro tirantes de ferro. Podemos encontrar duas variedades
de rodízio.
A primeira, que encontrámos no chamado lagar das Olas, P. 213, em
Celorico da Beira, e de que a figura 35 mostra os seus restos,
caracteriza-se pelo facto de apresentar as palhetas de madeira – as
chamada penas – no mesmo plano da roda, voltadas para o
exterior. A segunda variante, muito frequente no distrito de Braga,
é a que a figura 34 documenta. As penas (D), palhetas grandes
de madeira, são fixas pela base em posição perpendicular ao plano do
rodízio. |
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Figura 35: O que
resta do rodízio do antigo lagar das Olas, P. 213, em Celorico da
Beira, dist. da Guarda. |
O pulão (P. 31) ou pela (P. 29) é o eixo EF ao qual estão
fixos o rodízio e o roquete. É formado por duas colunas diferentes,
ligadas entre si, sendo a inferior (E) de grande largura, para suportar
o rodízio, cujos raios a atravessam de lado a lado, e a superior muito
mais fina, a fim de que o roquete (G) nela possa ser enfiado. Bastante
elucidativa deste facto é a figura 36. Além de nos mostrar nitidamente
que a pela se compõe de duas peças que, ajustando-se perfeitamente entre
si, formam um único eixo e de grande comprimento, permite-nos ver como é
construído o roquete e encaixado na extremidade da pela, formada por uma
zona de secção quadrangular e outra mais fina e cilíndrica com a função
de eixo.
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Figura 36: Aspecto
do roquete e pulão do lagar das Olas, P. 213, em Celorico da
Beira, dist. da Guarda. |
O roquete, a que já nos referimos quando do estudo do moinho de
roda com sistema de roquete e pontaria, é uma engrenagem cilíndrica de
madeira, mostrada na figura 34 (G), com o aspecto de uma gaiola (ver
figuras 32, 34 e 36), formada por duas placas circulares paralelas,
entre as quais encaixam, a igual distância uns dos outros, pequenos
tornos de madeira, conhecidos na Póvoa de Lanhoso pelo nome de fusis.
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Figura 37: Sistema
de transmissão formado por roquete (à direita) e roda da
árvore ou pontaria (à esquerda), em Chacim, P. 29, freg.
Refojos, Cabeceiras de Basto. |
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Entre os espaços dos fusis(5) engrenam os dentes da roda da
árvore (fig. 37), que formam no seu conjunto a chamada pontaria
(Braga, P. 29). A pontaria ou roda da árvore (figura 34 H)
está fixa pelos raios ou braços à árvore (figura 34 I), que
também serve de eixo às galgas (figura 34 J). Estas estão fixas por um
eixo horizontal de ferro e giram no chamado pio ou base,
recipiente onde é deitada a azeitona e reduzida a pasta. A chumaceira
onde o eixo da árvore gira, na parte superior, tem o nome de macaca,
na região de Pinhel, distrito da Guarda, segundo informação de Maria
Margarida Furtado Martins(6).
O moinho de rodízio funciona da maneira que vamos descrever: a água que
o faz tocar entra primeiro numa caixa, ou de cimento ou formada por
paredes de pedra, conhecida pelo nome de cubo (figura 38). Levada
por uma canalização, sai sob grande pressão pelo chamado jicho ou
jincho, termos que devem equivaler a «esguicho». Quando querem
pôr o moinho a trabalhar, baixam uma alavanca de tipo inter-fixa,
existente na sala de moagem, que obriga a tábua B a subir. Deste modo, o
jacto de água vai bater nas penas (D), fazendo girar o rodízio e, por
meio dele, todo o sistema descrito. As setas da
figura 34 indicam o
sentido de rotação das diferentes rodas do sistema.
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