SITUAÇÃO DOS LAGARES
A localização do lagar obedece geralmente a um certo número de factores,
quer de ordem económica, quer de ordem geográfica. Tornar-se-á, no
entanto, bastante difícil dizer qual deles é o mais importante, pois não
é raro encontrarem-se intimamente ligados.
Há um factor que é de considerar: o da existência de água. Sem dúvida
que é este um dos elementos importantes para o fabrico do azeite, sem o
qual a extracção do óleo tornar-se-ia difícil, se não impossível.
Poder-se-á então afirmar que o condicionamento geográfico é um pouco
mais importante?
Não o cremos, uma vez que a ele anda muitas vezes ligado o aspecto
económico. Recorde-se o caso dos lagares tocados a água. Nestes, o
condicionamento geográfico e o económico ligam-se perfeitamente
entre
si.
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Figura 1:
Planta de um lagar de prensa de parafuso accionado por tracção
animal. A-moinho; B-prensa; C-caldeira; D-bagaço; E-depósito;
F-cincho. |
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Figura 2:
Planta de um lagar de vara: A-moinho; B-prensa de vara; C-caldeira;
D-bagaço; E-tarefas; F-conduta; G-roda hidráulica; H-lenha. |
Dos muitos lagares visitados, grande número situa-se fora da povoação,
em plenos olivais, junto a uma estrada principal de acesso, ou, para
servir mais do que uma povoação, no cruzamento de vários caminhos.
Poderão ser citados como exemplo dois lagares, respectivamente nos
distritos de Bragança, P. 100, e Coimbra, P. 303, e dos quais se
apresenta uma planta, figs. 2 e 3.
O primeiro, no concelho de Vinhais, é relativamente moderno, possuindo
uma prensa hidráulica. A dois ou três quilómetros da sede de concelho,
fica em plenos olivais, junto a um rio, donde tira a força que o faz
trabalhar. Neste caso, o factor económico está intimamente relacionado
com o geográfico.
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Figura 3:
Lagar hidráulico moderno: A-moinho; B-prensa; C-caldeira; D-bagaço;
E-tarefas; F-conduta ou canal da água; G-roda hidráulica; H-casa das tulhas; I-tulhas;
J-caixa da massa; L-carris; M-bateria; N-rampa. |
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O segundo, no concelho da Pampilhosa da Serra, é o
extinto lagar de vara das Três Aldeias, de que, felizmente, pudemos
ainda recolher elementos. Situado na encruzilhada de três caminhos,
podia deste modo servir as três aldeias a que pertencia. Temos então o
factor geográfico a desempenhar certa importância.
Que dizer da maioria, situados dentro ou junto das povoações?
A resposta torna-se difícil de dar. Estamos certos de que as opiniões
divergirão; e, no entanto, todas terão uma certa razão, sem que sejam
rigorosamente exactas e completas.
O condicionamento geográfico faz sentir a sua importância sobretudo no
campo linguístico. Vejamos alguns casos, a partir de exemplos concretos.
Em Celorico da Beira, distrito da Guarda, P. 213, um antigo lagar de
vara, em ruínas, é conhecido por «Lagar das Olas». Situado junto de um
ribeiro e enquadrado por uma paisagem romântica, a que não faltam as
ruínas de uma ponte romana e umas pequenas cascatas, o lagar tomou o
nome de umas olas largas e profundas cavadas nas rochas, certamente por
águas que, em eras muitíssimo remotas, deveriam cair de elevada altura.
No mesmo concelho, P. 207, um lagar de varas, como o anterior em ruínas
e accionado por água, retira o nome por que é conhecido do santo a que
pertence a capela, próximo da qual se situa. Neste caso, Santo António.
Em Chacim, P. 29, no distrito de Braga, o lagar é conhecido pela
expressão «Lagar de Cima». Embora motivado também pela sua situação
geográfica, o povo distingue-o do outro existente na mesma povoação, um
pouco mais abaixo e do lado oposto.
A terminar esta série de exemplos, que se poderia estender por muitas
páginas, apresentamos o caso do já citado lagar da Ponte da Arranca.
Aqui, o nome provém-lhe do facto de estar junto de uma ponte com o mesmo
nome.
Independentemente de qualquer factor geográfico, o lagar é conhecido, em
alguns casos, pelo nome dado à sociedade que o fundou. Em Deveza,
freguesia de Sobrado, concelho de Castelo de Paiva, distrito de Aveiro,
o povo refere-se ao lagar designando-o pura e simplesmente por
«Lagareira Paivense». Assim: «vou fazer o azeite à Lagareira...»
Relacionado com o aspecto geológico está a construção do lagar,
sobretudo no que respeita aos materiais de construção.
De plano normalmente quadrangular ou rectangular, os materiais empregues
são os mais diversos. Dos muitos lagares observados, a maioria, em zonas
onde o granito é abundante, utiliza este material de construção. A
cobertura é normalmente feita de telha portuguesa, não existindo
interiormente qualquer espécie de forro que tape o telhado.
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Figura 4: Aspecto exterior de um antigo lagar de vara, situado
em Canelas de Cima, P. 118a, freg. de Canelas, conc. de Arouca, dist.
de Aveiro. |
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Em Canelas, P. 118, numa zona onde a ardósia existe em
grande quantidade, as telhas são substituídas por enormes placas deste
material, dando a todo o conjunto um aspecto rústico e insólito, tal
como pode ser verificado pela observação da figura 4. A saída para o
fumo e vapor de água resume-se a uma estreita abertura, junto à aresta
superior do telhado, também coberta por placas de ardósia.
No interior, a escuridão é notória. A pouca luz que entra é como que
coada por uma janela, já de si pequena e coberta de trepadeiras, e pelas
frinchas das paredes, uma vez que as pedras que as formam se encontram
unicamente sobrepostas, não existindo qualquer espécie de argamassa ou
cimento a ligá-las.
Tipos de construção como a acabada de descrever encontramo-los com
frequência no concelho de Arouca, distrito de Aveiro.
Nos distritos de Porto e Braga, os lagares visitados apresentam uma
grande melhoria na construção, em nada parecida com o que acabámos de
descrever, relativamente ao distrito de Aveiro. Construídos mediante a
sobreposição de blocos de pedra ligados com argamassa ou cimento,
apresentam as paredes revestidas e caiadas. Os telhados, cobertos com
telha portuguesa, apresentam forro numa grande maioria, tornando o
ambiente menos agreste.
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Figura 5: Lagar de vara da Mata, P. 297, Vila Nova do Ceira,
conc. Góis, dist. Coimbra. Repare-se no péssimo acesso, cobertura em
telha portuguesa e diminuto número de janelas. |
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No distrito de Coimbra, as paredes são formadas de pedras sobrepostas de
tamanhos variadíssimos, raramente existindo qualquer forro a tapar o
telhado. Como as telhas, muitas vezes partidas, são apenas assentes umas
sobre as outras, a luz e o vento passam facilmente através das frinchas.
O ambiente é frio e desagradável e, como tal, pouco propício à laboração
do azeite, que exige calor para uma maior fluidez.
No distrito da Guarda, especialmente no concelho de Celorico da Beira,
notamos um maior apuramento na construção dos lagares. As paredes são
bastante largas e compostas de maciços blocos de granito, abundante na
região, muitas vezes ligados com argamassa, o que lhes confere maior
resistência. A impressão que se tem ao entrarmos neles é de fria
imponência e austeridade. Pode o interior ser desagregado pela acção
destruidora do tempo, que as paredes continuarão firmes na sua posição
inabalável, dizendo aos vindouros que, outrora, ali se fabricou o
dourado óleo de Minerva, o azeite tão apetecido no tradicional bacalhau
da ceia de Natal.
Características idênticas parecem ser extensivas a todo o
distrito. Em 1945, Maria Margarida Furtado Martins(8),
diz-nos que a parte do lagar destinada ao fabrico do azeite, em Pinhel,
era «uma
divisão formada por quatro paredes de alvenaria»,
compostas também de maciços blocos de granito, segundo deixam ver duas
fotografias do exterior apresentadas pela Autora, sem «qualquer
espécie de revestimento, enegrecidas pelo fumo e azeitadas pelas mãos
dos lagareiros».
De maneira semelhante ao que verificámos no distrito de Coimbra, o lagar
não era forrado, pois o tecto era «apenas
formado pelo caibreamento sobreposto pelas telhas mouriscas»
que deixavam «passar
todas as poeiras e o ar frio, tão prejudicial à separação do azeite».
Relativamente à Covilhã, diz-nos Alice Pereira Branco, no
seu já citado trabalho, que o «lagar
tradicional»
neste concelho «é
um edifício terrano e escuro, iluminado durante todo o dia e toda a
noite, quando em laboração, por uma grande alinterna...».
A propósito, devemos dizer que na maioria dos lagares visitados,
evidentemente apenas os de construção muito antiga, o chão é unicamente
de terra batida, conferindo-lhes um aspecto desagradável.
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Figura 6: Lagar moderno com moinho de martelos e termo-batedeira
de tipo horizontal da Quinta da Costa, P. 238, do conc. de Oliveira
do Hospital. |
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Os lagares de construção recente são já edificados segundo os processos
do nosso tempo. O plano obedece a determinado número de critérios,
aumentando a capacidade e rendimento do trabalho.
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