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Fabrico Tradicional do Azeite em Portugal (Estudo Linguístico-Etnográfico), Aveiro, 2014, XIV+504 pp. ©

 

I

O lagar

 

ELEMENTOS DO LAGAR

Vimos já que o plano dos lagares é normalmente quadrangular ou rectangular, tornando-se muito semelhantes entre si.

As figuras 1, 2 e 3 mostram-nos três tipos diferentes de lagar: um antigo, com uma vara (fig. 2); outro que poderemos considerar semi-moderno, pois apresenta já uma maior evolução técnica, embora tocado ainda a bois (fig. 1); finalmente, um lagar moderno, accionado por meio de água (fig. 3).

Analisando qualquer destes três tipos, verificamos que, apesar de cronologicamente diferentes, são constituídos pelos mesmos elementos fundamentais, que podemos encontrar em outros países produtores de azeite.

Façamos a análise de cada um dos elementos dos esquemas correspondentes às figuras mencionadas.

Relativamente ao lagar da figura 1 ( página 5), que é um lagar de parafuso, encontramos os seguintes elementos: A – moinho com duas mós verticais, accionadas por um cambão, por sua vez puxado por bois; B – prensa, constituída por uma zona circular, onde se colocam as seiras, e uma viga horizontal, apertada por meio de dois fortíssimos parafuso; C – caldeira com respectiva fornalha para aquecimento da água destinada a caldear; D – monte de bagaço, previamente apertado num cincho, que servirá para alimentar a fornalha; E – depósito para onde corre o azeite, misturado com almofeira e água das caldas; F – cincho para apertar o bagaço vindo da prensa B.

A figura 2 (página 6) representa um lagar de vara simples, que é formado pelos seguintes elementos: A – moinho accionado por meio de uma roda hidráulica G, que transmite o seu movimento, por meio de um sistema de engrenagem, a uma mó vertical, que gira no interior do pio ou vasa; B – prensa de vara; C – caldeira com respectiva fornalha; D – monte de bagaço; E – tarefas para onde corre o azeite misturado com a almofeira e água das caldas; F – conduta para a água, que faz girar a roda G; G – roda hidráulica que acciona o moinho; H – lenha para alimentar a fornalha.

A figura 3 ( página 7) representa um lagar moderno movido a água, o qual é constituído pelos seguintes elementos: A – moinho de ferro com duas mós verticais accionadas pela roda G por meio de engrenagem; B – prensa hidráulica accionada pela bateria M; C – caldeira para aquecimento da água; D – zona onde se tira o bagaço dos capachos; E – conjunto de três tarefas, ligadas entre si, para purificação do azeite; F – conduta de água para fazer mover a roda G, que transmite o movimento às mós; H – casa das tulhas; I – tulhas para armazenamento da azeitona; J – caixa metálica onde cai a massa, antes de ser colocada nos capachos; L – carris para os carros da prensa, com uma placa giratória; M – bateria para accionar a prensa; N – caixa com fundo inclinado por onde despejam a azeitona para o moinho.

Além dos elementos citados, podem ser encontrados outros objectos, tais como: seiras e capachos, indispensáveis para a prensagem da massa; vasilhas de pele de animal, barro, folha de Flandres e chapa de ferro, para guardar o azeite; candeias para iluminação dos lagares e das tarefas; varetas para mexer o azeite; recipientes de folha para tirar a água das caldeiras; etc.

Existem ainda outros compartimentos, em alguns lagares, como quartos ou estrados para os empregados dormirem, divisões para os motores e lojas para acumular o bagaço, donde sairá para fábricas de extracção de óleos.

As águas, que se separam do azeite, são geralmente recolhidas em depósitos próprios, conhecidos tecnicamente pela expressão poços de decantação. Daí se retira no fim da lagaragem ou laboração alguns restos de azeite.

 

 

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