<<<
Figura
25: Talhas para onde escorre o azeite prensado e onde, por decantação,
se separa da água. Lagar de Anterronde, no concelho de Arouca.
-
Só se escalda uma vez? Isso chama-se caldear? - voltámos a
perguntar.
-
«É, exactamente. Agora desaperta a prensa outra bez e despegou o
bagaço acolá e o freguês enchi-o no saco e leba embora.»
Apesar
de não termos obtido resposta à primeira parte da questão, por
nossa culpa - só deveríamos ter posto uma única pergunta de cada
vez -, viemos depois a saber que, em regra, são dadas duas caldas,
perfazendo-se, tal como também já vimos relativamente aos lagares
anteriores, um total de três prensagens.
O
azeite que escorre, libertando-se da massa contida nas seiras, vai
para as talhas, embutidas numa plataforma de cimento de secção
aproximadamente quadrada e com mais de dois metros de comprimento, que
poderemos observar na figura 25.
«O
azeite escorre dacolá [das seiras], - diz-nos novamente o Senhor
José - cai num canozinho, bem e cai aqui [na talha]. E o
meu irmão, quié o mestre aqui imbaixo, cá 'stá à espera do
azeite. E depois aqui é que manobra. E [o azeite] depois bai
bindo, bindo, subindo, subindo, subindo, subindo... porqu' o azeite
anda sempre no laço da água, da água quenti. Depois, depois é água
quente (...), põe-se aqui a cair e depois a água cai aqui e bai p'ró
fundo da talha e o azeite bem sempre no cimo e bai passar práqui.
-
Este segundo recipiente igual ao primeiro e ligado por esta conduta,
à superfície, como se chama? - perguntámos.
-
«É outra talha. O azeite passa apurado práqui. Cai ali naquela
[talha] e daquela é apurado e cai nesta. Agor' áqui é só
azeite. E ali é azeite e água.»
E com estas últimas palavras do Senhor José
Teixeira, damos por encerrada a nossa visita, melhor dizendo, a nossa
evocação da faina outrora vivida no lagar de Anterronde, por alturas
da laboração do azeite.