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farol n.º 24 - mil novecentos e sessenta e seis ♦ sessenta e sete, págs. 12 e 13.

INTERVALO POÉTICO


ADEUS

Foram belos
aqueles momentos.
cada pedra que ficou,
cada pétala que caiu
é réstia do passado,
é raio derradeiro
do que não voltará mais.
Foi um Sol
que se escondeu,
depois de tanto brilhar.
Foi uma rosa
que feneceu,
sendo a rainha das rosas.
De tanta Beleza,
tanta Luz,
tantos brincos de louvor,
resta apenas
a saudade da partida,
a dor,
a escuridão
e o silêncio.
Volta, Senhora;
Volta, não vás...
Vês as feridas profundas
dos Homens,
mendigos eternos.
Vê as marcas do pecado
desses seres,
débeis,
cobardes
que choram e pedem perdão.
Cura, Senhora...
Cura essas feridas:
sem elas
se fará um mundo novo.
Perdoa, Senhora:
perdoa e não vás...
que só contigo
é forte a fraqueza
e bela a pobreza.
Virá a Paz...
Tu serás
Sol
que não s'esconde,
rosa
que não morre
e do coração dos Homens
nunca mais tu partirás.

                   Ana Maria da Silva Valente
 

CAIR DA TARDE

A praia está já deserta
Até mim chega o barulho das ondas
Constante... monótono.
Saltita o mar de rocha em rocha,
Espraia-se na areia fina
Preguiçoso... livre
A brisa toda me afaga uma carícia terna
O universo cobre-me com seu véu celeste
Assim, maternal e bom
E até o sol, corado,
Espreita mansinho no fim do horizonte
Envergonhado ou tímido talvez...
Paira no ar um iodo fresco
Que arrebata o cansaço, tonifica a alma.
Há um silêncio místico, paz profunda,
Meditação,
Sonho,
Devaneio!...
                                    Celeste Almeida
 


QUEM SOU EU

Quem sou eu, perdida na escuridão?
Sou talvez...
Um ser que procura
E não encontra,
que quer e não quer,
que deseja e repele,
que chama e foge,
que pede e recusa,
que quer viver e morrer...


Quem sou eu, sozinha no éter?
Sou talvez...
Minúsculo átomo
descontrolado,
rodopiando
em imenso universo,
ou grão de areia
perdido no deserto...


Quem sou eu, perdida em mim?
Sou talvez...
Poeta sem musa,
sem talento
que procura solução
onde encontra desalento...


Quem sou eu, de todos esquecida?
Sou talvez...
Boneca estragada,
posta de parte
num canto da sala,
decorada com arte...


Quem sou eu, na morte e na vida?
Sou talvez...
Pequeno elo
de cadeias quebradas,
sonhos desfeitos...


Quem sou eu, mergulhado na dor?
Sou talvez...
Alguém que procura
o verdadeiro Amor...


Quem sou eu, perdida na grei?
Ainda não sou talvez.
mas, em Ti... SEREI!

                                                        MICHIE
 

 

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11-06-2013