JORNAL
N.º 3

FEVEREIRO
 1990 - Ano II


ESCOLA SECUNDÁRIA HOMEM CRISTO - AVEIRO
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PÁGINA CULTURAL

A LUZ NÃO SE EXTINGUE

Uma luz que se apaga e mais nada! Desde séculos, talvez desde 1122, que esta lâmpada arde na capela. Fundação de quem? Quem foi o pobre ou o rico que deixou ao convento primitivo uma doação em troca da luz que arde há tantos anos? E o que se quis perpetuar por esta forma? Uma catástrofe ou uma esperança? Acendeu-a, numa hora de dor, qualquer mulher ajoelhada aos pés da Cruz, cumprindo uma promessa pelo filho em perigo? Pela Pátria em perigo?... Ignoro-o. Os títulos do convento nem sequer mencionam o nome do fundador. Só sei que, hoje mesmo, a luz se extingue. O padre a meu lado insiste:

— Hoje mesmo.

— Apaga-se?

— Apaga. Há oito séculos que esta luz arde sem sabermos porquê. Mas hoje, esta noite, a lâmpada não é renovada e a luz morre.

— Morre! E até agora nunca se apagou?

— Nunca. Das casas do cabido vinha o rendimento para a luz e o rendimento acabou. A luz extingue-se esta noite.

Apagar uma luz é nada. É um facto insignificante e vulgar. Mas uma luz que arde há tantos séculos, dia e noite, uma luz que perpetua não sei que dor, que suprema angús­tia ou que suprema esperança, faz-me cismar na vida e na morte.

Do convento antigo resta a velha igreja de pedra e uma torre de granito com ameias. A frialdade aqui dentro vem do claustro húmido, com dois túmulos encravados na parede e deste conjunto de edificações sobrepostas. Até na igreja há acrescentos de diferentes épocas. A capela românica, metida na muralha, é talvez a igreja primitiva. Só se dá por ela ao pé do altar. A abóbada é achatada, o granito de grão áspero esboroa-se, e já há muito que a chuva, que se infiltra dos telhados, a teria derruído se a não escorassem grossas traves de castanho. Cheira aqui dentro a terra e a sepulcro, e o ambiente, a escuridão palpável, põe-me em frente da grande realidade do além.

Sento-me para assistir à agonia da luz que arde há oito séculos, renovada num subterrâneo pelas mãos dos vivos e dos mortos — e agora mesmo vai morrer. Mais uns minutos passam, o tempo roda e a agonia irrisória deste fio de luz prolonga-se e assume no meu espírito proporções de tragédia. Parece-me que outra coisa maior vai morrer no mundo. Para todo o sempre a dor que a acendeu e a sustentou ao lume da vida, vai desaparecer na treva espessa. Outra morte maior avança, mais calada, mais profunda — a morte definitiva... Só faltam alguns segundos. A camada de azeite, fina como um papel, reduz-se cada vez mais. O padre senta-se num banco poído, ao meu lado, com aquele ar meditativo dos seres habituados ao silêncio e à sombra. Ao pé do altar estão duas mulheres amachucadas como trapos, duas nódoas mais escuras na treva opaca da capela.

A luz amortece e crepita. Vai morrer. A luz vai morrer! Mas do altar um farrapo negro de mulher ergue-se; do farrapo saem mãos esguias que tocam a lâmpada e a luz reacende-se. Recuam as trevas e o vulto ajoelha-se numa prece balbuciada. Não distingo as feições nem sequer os traços das figuras. Confundo o ser que sofre ao meu lado com o outro que há séculos acendeu pela primeira vez a lâmpada. Confundo com a Dor a sombra que se destacou da sombra e ergueu lentamente os braços. A dor não morre. O que não morre é a dor! Tenho-a aqui presente. A Dor não data de há oitocentos anos, mas de sempre. Tão antiga como o homem, nossa eterna companhia, dura e benéfica, caminha connosco e ao nosso lado.

Agora o drama insignificante cessou, e não me interessa a lâmpada, nem a velha capela glacial, nem as mulheres amarfanhadas suplicando. O que me interessa é a continuidade da dor. Sempre a dor! A de há séculos e a de hoje, a que acendeu pela primeira vez a lâmpada e a que não deixou apagar-se. Sempre este grito sufocado, o gesto repetido, as mãos erguidas e o choro correndo desde que o mundo é mundo. Pelo amante ou pelo filho? Pela Pátria? Pela dor ignorada dos seres que a vida calca, pela ânsia que nos devora, pela aspiração tão inerente à alma como o pólen à asa para voar. A dor nunca se extingue... Luz e dor andam ligadas e não há separá-las. São talvez o melhor da vida — a dor que nos redime, a luz que nos sustenta.

Mas então — pergunto — é a dor que não se extingue ou a luz que não se extingue?

Nem a dor nem a luz.

RAUL GERMANO BRANDÃO          Nasceu na Foz do Douro em 1867 e estudou no Porto. Frequentou o Curso Superior de Letras mas não o terminou, tendo ingressado na Escola do Exército. Reformou-se como major em 1912 e dedicou-se à lavoura na região de Guimarães. Colaborou em vários jornais. Fez parte do grupo do “Cenáculo” portuense, dos quais faziam também parte António Nobre e Júlio Brandão. Embora a sua obra não seja vasta, influenciou vários escritores contemporâneos. Morreu em 1930. Da sua obra destacam-se História de um palhaço, A morte do palhaço, Os pobres, Húmus, Os pescadores, Portugal Pequenino, etc.


 SER JOVEM

Ser jovem
E viver intensamente o
PRESENTE,
Esquecer o passado,
Programar o
FUTURO

Ser jovem
E dar amizade e amor,
Sem ligar a raça ou cor!
É dar o sorriso de graça
A quem passa.

Ser jovem
É dizer NÃO ao individualismo, 
Acompanhar o progresso!

Enfim,
Ser jovem
É ter ESPERANÇA
De construir um MUNDO MELHOR!

ANA CRISTINA REBELO DUARTE, n.º 3, 11º A

 A ESCOLA

A escola é vida
é magia
é fantasia...

A escola não é fronteira;
A escola não é uma casa triste.
A
escola, pelo contrário,
É algo que existe

A escola não é outra margem
A escola é para aprender,
Ajudar a ensinar,
Ajudar a perceber.

Perceber a recordação
Perceber que não é ilusão
Perceber que estamos aqui
Chamados pelo coração.

A escola é cheia de vida...

De magia...

De fantasia...

SANDRA FERNANDES, n.º 30, 7º C


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