Henrique J. C. de Oliveira - Sec. José Estêvão - Aveiro 2001

De acordo com a documentação fornecida aos líderes em formação do Prof2000, os grandes objectivos são:

1 – Promover a formação contínua dos professores;

2 – Favorecer a utilização das TIC em educação;

3 – Desenvolver e identificar técnicas e moldes comunicacionais na formação contínua de professores à distância;

4 – Potenciar a troca de experiências entre escolas;

5 – Facilitar  às comunidades escolares o acesso aos serviços multimédia e à informação disponível na Internet.

 

São ao todo cinco grandes objectivos, suficientemente abrangentes para permitir que o projecto não se exaure facilmente, se não ficarmos mentalmente limitados aos aspectos relacionados com a formação de professores.

Face àquilo que nos foi dado ouvir durante a II Jornada do Prof2000, efectuada em 19/12/2001 em edifício da PT - Inovação, foram apresentados alguns sinais de preocupação que só terão razão de ser se o programa ficar limitado à formação de professores e esquecer os outros objectivos e, sobretudo, a vertente pedagógica, objectivos tão ou mais importantes que a própria formação de professores à distância.

Se, numa fase inicial, a formação de professores é condição sine qua non para que o projecto consolide alicerces, após algum tempo, a vertente de formação de professores poderá correr o risco de perder importância. Não perderá nunca na sua totalidade, porque em novas tecnologias, como aliás em quase todas as áreas do saber, a formação nunca se esgota. Por muito que se aprenda, muito mais fica por aprender e a evolução é permanente, exigindo uma permanente  actualização. Todavia, a sua importância é menor, na proporção inversa dos restantes objectivos.

Uma vez formados os líderes e alargado o número de utilizadores da rede, que, na nossa modesta opinião, deverá estender-se a todo o País e sempre mantida e melhorada em anos vindouros (ainda que, por qualquer motivo se lhe tenha de alterar o nome), o programa Prof2000 deve começar a pensar de maneira mais significativa, embora sem descurar a formação de professores,  nos restantes objectivos, ou seja, nos pontos 2, 4 e 5. Deve, pois, começar também a pensar na vertente pedagógica e formativa dos nossos alunos e cidadãos.

Apesar de, frequentemente, considerarmos a Internet como uma vasta lixeira à escala planetária, tal não significa que deva ser desprezada e banida. Há, de facto, excessivo lixo na rede mundial, mas, tal como nas lixeiras reais, é sempre possível encontrar muita coisa com valor. Daí que nem deveríamos utilizar a palavra «lixeira», porque o que efectivamente existe é um elevado grau de poluição informativa. Isto é a consequência lógica da cada vez maior facilidade de produção de material informativo ou «desinformativo» para a Internet. Com a cada vez maior facilidade de produção de páginas, qualquer sapateiro pode dar-se ao luxo de começar a tocar rabecão. E forçosamente terão de surgir sons menos agradáveis. Mas esta característica atractiva da Internet poderá ser uma mais valia, se os professores aprenderem a tirar partido das facilidades da Internet e a utilizá-la como um recurso educativo.

Como é que o Prof2000 poderá ter um papel de destaque nas TIC? Será através da formação à distância de professores? Ou será pensando nas potencialidades pedagógicas da Internet e começando a tirar partido dela como ferramenta pedagógica, abrangendo não exclusivamente os nossos alunos, mas também toda a comunidade em que a escola se insere?

Procuremos tornar estas ideias um pouco mais claras. Comecemos pela formação à distância. O que pensamos dela?

Consideramos que a formação à distância só terá validade como último recurso. E cremos que este ponto de vista não é só nosso. Se fosse, certamente que na formação dos novos líderes não teríamos tido um total de 50 horas presenciais. As tecnologias modernas são óptimas. A videoconferência, possível através da Internet mas praticamente esquecida do Prof2000, é uma boa plataforma de comunicação e de formação, mas o contacto directo, in situ, de formador e formandos é insubstituível.  Só ele permite um melhor conhecimento de formador e formandos e uma indispensável empatia entre todos os intervenientes no processo de formação. E dizemos todos, sem excepção, porque o próprio formador não escapa ao processo do qual ele é o dinamizador. Por muito completo e auto-suficiente que um formador seja, tem sempre muito para aprender no contacto com os formandos, aprendizagem que não se limita a conteúdos de índole científica, mas também a todos os outros aspectos essenciais à natureza humana.

A prova do que acabámos de afirmar é que, na II Jornada do Prof2000, formadores houve que consideraram que não podiam efectuar uma adequada formação à distância sem a colaboração dos líderes nas escolas. Daí a quantidade de mecanismos de controlo que os formadores à distância foram obrigados a imaginar e a implementar, que nem por isso dispensaram a colaboração dos líderes.

Todavia, tornando-se o líder elemento importante neste aspecto, não só para facilitar a vida aos formandos na utilização das novas tecnologias, como também para suprir as dificuldades sentidas pelos formadores, a verdade é que o ME fez tábua rasa destes aspectos, tendo eliminado pura e simplesmente a creditação horária anteriormente atribuída aos líderes das escolas.

É inadmissível que, sendo o papel do líder importante, se invoquem «medidas de contenção da despesa pública aprovadas na Assembleia da República» e desinvistam no ensino, quando são os nossos dirigentes os principais esbanjadores do erário público.

Não se pense, com esta reflexão, que estamos contra a formação à distância. Não estamos contra ela nem muito menos a defender a formação presencial, que consideramos muito mais válida e aliciante que a primeira. Limitamo-nos aqui a fazer uma simples reflexão sobre os prós e os contras de duas modalidades válidas de formação. E como a segunda modalidade de formação, isto é, a formação presencial, dado o número cada vez maior de centros de formação espalhados pelo País, é a mais frequente e preferida por formadores e formandos, poderá isto fazer com que o Prof2000 possa começar a estiolar, caso não se comece a pensar mais seriamente nos objectivos por nós destacados, para que não se perca toda a jornada já feita ao longo destes últimos anos.

O facto das escolas do País poderem estar ligadas em rede a um servidor situado na PT – Inovação é uma mais valia para o ensino e para o nosso País, se não menosprezarmos os objectivos inicialmente enumerados e consignados no Programa do projecto.

Um dos grandes papeis do líder estará em fazer descobrir na comunidade escolar, junto de professores, alunos, encarregados de educação e sua envolvente social, a grande valia pedagógica da ligação das escolas a uma rede que ultrapassa o âmbito nacional. Um dos papeis do líder será precisamente o de sensibilizar os colegas para as potencialidades pedagógicas do projecto, fazendo com que a Internet passe a constituir mais um recurso pedagógico para enriquecimento de todo o processo de ensino-aprendizagem.

Bem sabemos que esta é uma tarefa árdua, pródiga em decepções que não devem fazer-nos desanimar. O facto de todo o nosso esforço de sensibilização para a iniciativa da semana do Netdays ter redundado num total fracasso, com zero por cento de adesão, não significa que o nosso papel tenha sido inútil. Do mesmo modo que a água acaba por furar a pedra mais dura, a actividade do líder acabará sempre por produzir resultados. A sensibilização é um processo lento, cujos frutos por vezes dificilmente se conseguem ver. Todavia, o facto de ter sido «compulsivamente» escolhido para líder do prof2000 da Sec. José Estêvão deu já alguns frutos, que poderão ser colhidos e explorados pelos professores já despertos para as potencialidades da novas tecnologias e, neste caso concreto, da Internet.

Apesar do elevado número de horas que começámos a passar na escola, em detrimento de outras actividades que desenvolvíamos nos tempos livres, pudemos já dar um pequeno contributo para o trabalho desenvolvido por muitos profissionais do ensino. O jornal “Alternativas”, produzido no âmbito do ensino recorrente, pode presentemente ser consultado em qualquer parte do planeta e em qualquer momento. Os módulos didácticos produzidos em vários formatos digitais (Toolbook, PowerPoint, HTML, etc.) deixaram de ser um trabalho de aproveitamento limitado e geralmente arrumado na gaveta, estando agora disponíveis para todos os interessados, que os poderão consultar directamente através da Internet ou descarregá-los para os computadores pessoais.

A página pessoal do actual líder da escola, já de cariz reduzidamente pessoal, poderá tornar-se, futuramente, uma página colectiva e de âmbito cultural, abrangendo associações culturais da região de Aveiro, jornais escolares, etc. É esta a nossa perspectiva futura. Enquanto página pessoal, o seu valor cultural e pedagógico será sempre reduzido. Mas, se enriquecida com o apoio de vários colaboradores e mais abrangente, poderá tornar-se numa mais valia para a comunidade em que o projecto se insere. Se os departamentos da escola colaborarem e aceitarem o projecto que já propusemos para o DLRC (Departamento de Línguas Românicas e Clássicas), a escola poderá ter, além da página da escola já existente, um recurso educativo e cultural ao serviço da comunidade.

Com iniciativas mais abrangentes, que não se limitem ao apoio do líder à formação de professores à distância, o Prof2000 alcançará plenamente os objectivos enunciados, dificilmente morrendo. Quando muito, poderão mudar-lhe o nome, dando continuidade ao projecto. Deste modo, os sinais de preocupação manifestados na II Jornada do Prof2000 (preferimos a palavra «jornada» no singular) deixarão de ser uma preocupação, passando a funcionar como balizas de sinalização para iniciativas com futuro.

Atendendo a que há no servidor do Prof2000 uma elevada quantidade de materiais de interesse pedagógico, sugerimos que seja criada uma base de dados em que os trabalhos sejam devidamente classificados por categorias e áreas do saber. Sabemos que isto que propomos é uma tarefa gigantesca e difícil, atendendo a que no servidor existem cerca de 70 mil documentos criados. Seguramente que uma elevada percentagem terá um reduzido valor pedagógico, mas isso não invalida que possam ter algum interesse. Daí  a necessidade de se efectuar uma triagem e uma catalogação, podendo, numa das colunas da base de dados, ser indicada a sua importância. Esta avaliação enquanto recurso pedagógico poderá ser feita assinalando-se o seu valor de maneira idêntica ao que se faz para avaliar o software e o hardware em revistas especializadas, ou seja, indicando-o com uma a cinco estrelas, se a escala de avaliação for de um a cinco. Sabemos bem que os critérios têm sempre uma certa margem de subjectividade; mas esta será minimizada se houver parâmetros de avaliação, tais como: qualidade da linguagem (correcção linguística), originalidade, importância educativa, apresentação, nível de ensino, etc.

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