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"Patrimónios" – n.º 4, Maio 2004, Ano XXV, 2ª série, 158 páginas.


ADERAV – (1979-2004)

25 anos ao serviço de Aveiro e sua Região

Amaro Neves *

Naturalmente, todas as obras e projectos têm o seu princípio, a ideia base, por mais simples que sejam. E, em regra, conhecem alguma atribulação nos momentos do nascimento, sobretudo se este envolve sectores e interfaces sociais, pelas implicações diversas das teias políticas ou dos grupos socio-profissionais em presença.

Neste particular, uma associação de defesa do património, podendo parecer inócua, aos tempos de hoje, arrastava à partida ideias novas não só na amplitude dos valores a preservar, tanto de ordem natural como cultural, como no vasto leque de saberes que tal defesa exigia, colocando implicitamente em questão um entendimento de "património" e de posturas que, para esse tempo, eram considerados como já ultrapassados, além de que não era de modo nenhum aceitável como um exercício profissional exclusivamente circunscrito aos museus portugueses e seus técnicos ou ao saber arqueológico e dos "monumentos nacionais", como então estavam classificados.

Havia a consciência de que era importante alargar horizontes no estudo, na valorização e na defesa dos valores nacionais, mas também era igualmente importante dar atenção aos valores regionais, quando estes fossem representativos do ser e do viver das comunidades, como alma do povo.

1. A ideia e a sua concretização

É verdade que, após o 25 de Abril de 1974, com a instabilidade e as convulsões que o país conheceu, quebrando-se elos de autoridade, e até se refazerem novas formas e regras de vida e respeito social, de cariz democrático, muitos desmandos se cometeram, inclusivamente obrigando milhares de cidadãos a abandonar esta terra que era a sua pátria. Foram, neste percurso, alguns anos de grande agitação em Portugal e de constantes delapidações e destruição do património nacional e regional, sem responsabilidades assumidas por parte das autoridades e dos poderes constituídos, por debilidade do exercício da autoridade.

E assim, era visível o empobrecimento da nação, saqueada e destruí da por indivíduos que surgiam a coberto da fragilidade do poder ou por pessoas que, sendo bem conhecedoras, nacionais ou estrangeiras, aproveitavam a situação em beneficio próprio ou, até, passando a fronteira com valores que eram simplesmente portugueses... quantas vezes para destinos duvidosos.

Neste contexto, angustiado, alguns grupos de cidadãos, mais corajosos, insurgiam-se na imprensa nacional contra estas situações, enquanto outros, mais a nível regional e, em regra, identificados com o ensino, "mais ligados à História, às Artes tradicionais e à Arquitectura começavam a apelar ao bom senso, interrogando "Quo vadis, Portugal?" Encontrava-me, como professor efectivo, na Escola Secundária de / 8 / Águeda, e com os colegas de grupo – o Américo B. Figueira, a Esmeralda B. Figueira, o Deniz de Ramos... (às vezes também outros) íamos comentando a situação e constatando a urgência de formalizar um "grupo de estudos" (eventualmente com sede em Águeda)(1) cujos objectivos assentariam na defesa e valorização e estudo dos valores culturais da Região, sobretudo como acção pedagógica a desenvolver nas comunidades, nas escolas, nos organismos associativos, na imprensa".

É verdade que se partia de uma base claramente idealista – dirão alguns – como se fosse possível mudar ou converter o país a partir de Águeda. Se tanto se não pensava, havia pelo menos a ideia, conscientemente assumida, de que alguma coisa se devia e podia fazer de positivo, neste sentido, e era já um bom contributo, começando pelo mundo que nos rodeava e, acima de tudo, passando a "mensagem" aos alunos das escolas do ensino secundário.

Durante o verão desse ano, porém, em resultado de concurso nacional, fui colocado, como efectivo, no Liceu de Aveiro, continuando a manter, no entanto, uma ligação muito próxima com o "grupo de Águeda" e alargando a minha colaboração no semanário "Litoral", com temáticas afins do Património Cultural, enquanto estabelecia novos contactos para que a ideia que havia brotado a partir de Águeda, entre amigos e colegas de trabalho, se solidificasse e desse frutos.

Como caindo a sopa no mel, apareceu no placard do Liceu Nacional de Aveiro o anúncio de um "Curso de Dinamização para a Conservação do Património Artístico e Cultural", promovido pela Secretaria de Estado da Cultura que iria decorrer na primeira quinzena de Setembro (1977), em Lisboa, para o qual imediatamente me inscrevi. Nele participei e colhi ensinamentos em áreas de que jamais havia ouvido falar, com diversas visitas guiadas a sítios e monumentos da área de Lisboa, bem como fui estabelecendo conhecimentos pessoais alargados mas identificados com as problemáticas do seminário, com vista a novos desenvolvimentos.

A partir daqui, cautelosamente e devidamente programados (havia, ao tempo, uma apetência revolucionária para tentar controlar estas acções), começaram a realizar-se alguns "seminários regionais", por Distritos (Viseu, Coimbra, Santarém, Porto...) em que participei, raramente acompanhado pelos aveirenses mais sensibilizados, à excepção do I Congresso Internacional para a Investigação e Defesa do Património, que decorreu em Alcobaça (no final de Maio de 1978), dentro das celebrações do 8° Centenário da fundação do seu mosteiro cisterciense, onde estiveram também os Drs Esmeralda Augusta e Américo B. Figueira. Neste encontro se solidificaram as relações com outros entusiastas destas problemáticas (um pouco a nível nacional), entre eles, por mais perto de Aveiro, os amigos de Figueira da Foz (Dr.ª M. Adelaide Ribeiro e Dr. José Azevedo) e de Viseu (Dr. Alberto Correia e, mais tarde, Dr. João da Inês Vaz).

Foi aqui que, já com um grupo estabilizado de aderentes para uma acção conjunta a desenvolver, se assentou com os responsáveis da SEC num encontro regional, ficando aqueles três elementos aveirenses de funcionar como "comissão / 9 / organizadora" ou executiva(2) do seminário, enviando, como tal e para o efeito, uma circular aos conselhos directivos das escolas do Distrito.

E a verdade é que a Comissão Executiva organizou o encontro, com a presença de cerca de quatro dezenas de professores, o qual decorreu com entusiasmo e acentuou a vontade regional de se organizar um projecto comum. Como fundo da discussão sobre os temas regionais, estava uma extraordinária colecção de fotografias antigas que eram propriedade de António Graça, exposição esta patente no salão nobre do Museu(3).

Registe-se, no entanto que, no dia 8, quando se esperava que os professores afluíssem ao Museu para as sessões de trabalho – conforme tudo o que havia sido combinado, fomos informados pelo Director que, no espaço do "seu" Museu, não autorizava qualquer reunião para discutir "Património Cultural" (o que obrigou a recorrer aos bons ofícios da Presidente do Conselho Directivo da Escola Secundária Homem Cristo, Dr.ª M. Fernanda Neves, ali decorrendo as sessões). No dia seguinte, porém, pressionado pela Secretaria de Estado da Cultura, o Director abriu "a casa" para a sessão de encerramento, agora com os Drs. Rui Rasquilho e José Adragão presentes (na qualidade de membros da SEC), moralizando assim os elementos participantes.

Isto é, aquilo que parecia ser uma jornada pacífica e ordeira de abertura de mentes para a Educação (era um seminário para Professores!) e de colaboração à valorização do Património, acabou por ser um encontro de tensão e, de uma certa forma, face a certos comportamentos, um cerrar fileiras contra alguns "senhores" que se pensavam donos da Cultura da região, mesmo residindo fora desta(4).

A sensibilização, no entanto, deu seus frutos e, desde logo, essas dezenas de professores espalhados pelo Distrito começaram a ser contactados, pelos membros da Comissão Executiva, em função das sensibilidades, nomeadamente para participarem em encontros regionais. Entretanto, participei, reforçando conhecimentos e conhecendo novas experiências, em mais um curso de verão em Lisboa (1978), promovido e coordenado pela SEC, definindo-se aí os encontros que se sucederiam no Porto, em Santarém, em Viseu e em Coimbra, no final deste ano ou na primavera do ano seguinte. Nos dois últimos, também estive presente, com outros elementos de Aveiro, dando-se aí conta de progressos alcançados na nossa região.

/ 10 /
De regresso dessas acções, dava informação aos interessados, cada vez mais organizados e participantes em reuniões calendarizadas, dispondo das instalações da Escola Secundária Homem Cristo. Para aqui convergia um grupo de aveirenses que oscilava entre os 20 a 35 elementos, de entre os quais se destacavam os professores da jovem Universidade de Aveiro e os professores do ensino secundário (Liceu de Aveiro e outras escolas secundárias(5).

2. De "projecto" de uma associação, ao nascimento da ADERAV

À medida que se ia estruturando o grupo, também as dificuldades surgiam, por vezes em diálogos acalorados, gizando prioridades de intervenção e seu âmbito regional ou sobre a nomenclatura da associação a constituir. E havia também os que ainda defendiam uma revitalização do projecto "Núcleo de Estudos Aveirenses", se este fosse aberto a todos os participantes. Mas foi-se tomando claro que não havia possibilidade de "casar" a dinâmica do grupo associativo com aquela hipótese de projecto, pelo que, definitivamente se assentou, pelo princípio da primavera de 79, na constituição da Associação de Defesa e Estudo do Património Natural e Cultural da Região de Aveiro – ADERAV, deixando cair a ideia de distrital (para não definir barreiras à intervenção, considerando que região seria mais abrangente) mas acentuando, por vontade expressa dos aguedenses presentes, que a sede deveria ser sempre em Aveiro.

É de salientar que foi da maior importância, para algumas decisões entretanto tomadas no sentido da autonomia da associação, o facto de ter sido conseguida (na sequência de contactos anteriores decorrentes dos seminários em que estive presente) a especial autorização, por parte da Secretaria de Estado da Cultura, para a realização de um "seminário regional", agora mais responsabilizante perante as forças sociais aveirenses, nomeadamente professores, pois pedia-se um programa aproximado às temáticas que haviam sido desenvolvidas nos seminários de Lisboa e "os participantes previstos", para deles se dar despacho no sentido da dispensa de serviço, com vista à participação no dito seminário.

Perante esta autorização – que representou, para mim, na confiança pessoal e profissional, um verdadeiro cheque em branco – houve que mobilizar esforços, respondendo a tudo e organizando e congregando participantes(6), para que se não perdesse a soberana oportunidade de apresentar em público a associação, com obra a realizar. E mais, que fossem diversos os intervenientes e em diferentes áreas patrimoniais por forma a que não restassem dúvidas de que se tratava de um associação de múltiplos saberes ao serviço da mesma causa regional ou – por que não? – uma causa verdadeiramente nacional, em defesa dos valores portugueses(7).

Enquanto se preparava o seminário, foi aprovado o logotipo da ADERAV, sob desenho do Arq. Ventura da Cruz, e aprovada a minuta da "escritura pública", sob / 11 / coordenação do solicitador Sr. João Ribeiro, escritura essa que veio a ser celebrada a 3 de Maio de 1979(8), sem grande alarido público, para não levantar pó na cidade... E já em conformidade com a escritura e com os Estatutos da ADERAV aprovados (com tantas reuniões a discuti-los), procedeu-se à eleição da 1ª Direcção(9), que reunia ordinariamente todas as semanas(10).

Assim, quando, de facto, se abriu o referido seminário (decorreu de 14 a 20 de Maio)(11), já havia legalmente uma associação a suportar o seu funcionamento, o que era manifestamente confortante e conferia maior eficácia nas relações entre palestrantes e participantes, sendo certo que "alguém" estava a desempenhar, estatutariamente, uma função de coordenação. E isto, não sendo publicitado, por interesse associativo, era motivador, nomeadamente para o grupo de Lisboa (com Dr. Rui Rasquilho e Dr. José Adragão) mas também para as representações de Coimbra, de Viseu e da Figueira da Foz, sobretudo, que bem acompanhavam as dificuldades sentidas no arranque da associação, em Aveiro. E foram quarenta professores, em regra activos e conscientes, cobrindo a generalidade dos concelhos do Distrito, mas, especialmente, as escolas de Aveiro e de Águeda.

Sumariamente, o "seminário" constava da programação que se transcreve:

dia 14-10 h – Apresentação, pelo Dr. Amaro Neves; 11 h – Arqueologia e cultura popular, pelo Dr. João da Inês Vaz (Viseu); 15 h – Urbanismo da Região em debate, pelos Arq. Rogério A. Barroca, José L. Prata e Jorge Ventura da Cruz (todos de Aveiro);
dia 15-10 h – Artesanato, pelo Prof Hélio Terrível; 15 h – Literatura Popular, pelo Dr. António Capão; 21 h – Cancioneiro de Águeda: a música e a dança, o traje e a vida;
dia 16-10 h – Escola-Museu-Comunidade, pelo Dr. José Azevedo (Figueira da Foz); tarde – visita guiada à zona norte da Ria (Estarreja/Ovar/Santa Maria da Feira);
dia 17-10 h – Património Natural e Ambiente, pelos Drs Renato Araújo e Armando Moura (Univ. de Aveiro); 15 h – visita à cidade, pelo Mons. João Gaspar; 21 h – Aveiro e a sua tradição barrista, pelo Dr. David Cristo;
dia 18-10 h – Que Defender e como defender o Património Cultural, pelo Dr. Rui Rasquilho (da Sec. de Est. da Cultura); 15 h – Mesa redonda sobre as problemáticas abordadas, coordenada pelo Dr. Rui Rasquilho e pelo Dr. José Adragão;
dia 19-10 h – visita ao Museu Histórico da Vista Alegre; 15 h – Grupos de trabalho – conclusões;

/ 12 /
dia 20-10 h – leitura e aprovação das conclusões; 12 h – encerramento dos trabalhos (Dr. Amaro Neves);

A imprensa regional, com alguma surpresa por parte dos promotores, deu guarida aos assuntos tratados e, de forma indirecta, noticiou o aparecimento da associação. Daí que, a pouco e pouco, fosse crescendo o número dos entusiastas, contabilizando-se mais de uma centena de membros sócios ao findar o primeiro ano de actividade.

Basicamente, como se apresentava no Editorial do n.º 1 do Boletim, eram muitas as boas vontades reunidas para melhor defender o Património e, globalmente, a Associação respondia aos interesses gerais, nesse sentido, enquanto ia funcionando também como "escola", para os mais jovens aderentes.

Mas, é óbvio, nem tudo foram rosas e foi preciso muito espírito combativo para demover alguns interesses instalados ou remover mentalidades demasiado conservadores, neste campo da vida cultural ou da riqueza nacional.

3. Os anos de afirmação – os grandes combates

Apagados os holofotes do nascimento da ADERAV, isto é, da euforia momentânea, era preciso trabalhar. E criar condições para que fosse possível desenvolver esse trabalho, com novas perspectivas. A verdade é que o entusiasmo não faltou...

Do exercício associativo, destacam-se as seguintes iniciativas:

Em Junho, promovida pelo núcleo de Águeda, uma visita (com meia centena de participantes) a Macieira de Alcoba (Património Natural e Cultural), com reunião nesta freguesia serrana, de que resultaram propostas aprovadas que foram posteriormente, apresentadas à edilidade aguedense que as acolheu com simpatia, tanto mais que diziam essencialmente respeito à zona do concelho.

Em Julho, "semana arqueológica" no lugar da "Gôcha" (freguesia de EspinheI/Águeda), com duas dezenas de jovens, escavando um forno de telha, romano, ao mesmo tempo que se promoveram recolhas de carácter etnográfico; em Aveiro, a Direcção reuniu com o presidente da Edilidade, a quem manifestou preocupação pela degradação de vários monumentos, alertando-o para o interesse patrimonial na manutenção do conjunto industrial da Fabrica Campos(12), em fase de abandono. O presidente, Dr. Girão Pereira, desejando inteirar-se sobre o interesse cultural do citado conjunto industrial, pediu no entanto uma "memória descritiva" daquilo que a Associação considerava essencial a acautelar. Semanas depois, foi entregue a referida "memória descritiva"(13).

E, a rematar a discussão sobre a importância, para a ADERAV, de um Boletim informativo, decidiram-se número de páginas, formato, equipa coordenadora e... apoios à edição(14). Este boletim seria semestral, onde se desse conta do que de mais importante / 13 / se ia fazendo e, por achegas e escritos, houvesse uma formação mais alargada, a ser distribuída graciosamente às Câmaras Municipais e a organismos interessados.

Em Setembro/Outubro decorreu a primeira fase do levantamento (mais tarde publicado) das actividades artesanais do concelho de Aveiro, com vista ao encontro "Artesão/Artesanato", e houve um colóquio sobre "Património Cultural Popular", sob responsabilidade de Hélder Pacheco, Inspector de ensino do Porto.

Já em Janeiro de 1980, foi feito um primeiro "itinerário urbano", orientado por Eduardo Cerqueira, figura grada da cultura aveirense que sempre apoiou a jovem Associação, acorrendo dezenas de interessados ao percurso que este intelectual brilhantemente ilustrou. Daqui resultou uma reportagem na PV. Apresentou-se a público o nº 1 do Boletim ADERAV e uma delegação alargada esteve presente no Encontro Nacional de Associações do Património que reuniu meia centena de associações.
 
A concha, símbolo da ADERAV.

Fez-se uma Assembleia Geral para discutir o plano de trabalhos do ano seguinte e várias intervenções, na imprensa regional, como alerta para a destruição do cordão dunar a sul da Vagueira (o que motivou oportuna reportagem na TV). E insistiu-se no agravamento das condições ambientais se persistirem mais atentados ao cordão dunar, na região da Gafanha do Areão ou noutros locais sensíveis do nosso litoral atlântico que, entretanto, foram visitados por equipas de associados, entre os mais conhecedores do assunto, a nível nacional.

A Associação manifestou-se publicamente por ver parte do convento franciscano de S. António cedida para a P. J., pois entendia que este conjunto arquitectónico, pelo seu historial e inserção na vida da cidade, era merecedor de destino mais compatível com a vida cultural aveirense.

A concha, símbolo da ADERAV.

/ 14 /
Foram lançados alertas quanto à degradação do património construído e quanto ao património Arte Nova, nomeadamente na Rua de João Mendonça, situação que mereceu a sensibilidade da TV.

Delegações da ADERAV, após visitas ao património dos respectivos concelhos, foram recebidas pelos presidentes das Câmaras de Ovar, da Murtosa e de Vagos, seguindo-se, depois, um encontro com os deputados da Região na Assembleia da República (nomeadamente M. José Sampaio e Vital Moreira) para lhes dar conta das preocupações da Associação.

A 1 de Março deste ano, houve eleições(15), continuando as actividades programadas e que, globalmente, haviam sido aprovadas na As. Geral. Das correspondentes a este ano de 1980/81, destacam-se:
um "Sarau" em Águeda, com a participação da Orquestra Típica;
uma intervenção de fundo, pelo núcleo do Ambiente, sobre a Pateira de Fermentelos e sobre a Ribeira do Pano – e que mereceu particular atenção por parte dos órgãos de comunicação social, nomeadamente da TV;
congratulação pelo facto da C. M. A veiro ter decidido manter inalteráveis as fachadas Arte Nova (e as de acompanhamento) da Rua de João Mendonça;
insistências, na imprensa, sobre a importância cultural do conjunto industrial da Fábrica Campos, "precioso exemplar da tardia revolução da indústria chegada até nós, que bem pode e deve ser preservado para fins culturais e recreativos da população Aveirense e dada a sua localização e excelentes condições"(16);
um colóquio sobre "S. Jacinto – colónia de garças e aves da Ria", pelo Eng.º Cunha Dias, de que resultou, dias depois, um comunicado à imprensa alertando para as ameaças que pairavam sobre esta colónia e sobre a Ria, em geral.

Mais tarde, foi feita visita especial ao núcleo vareiro da ADERAV, para mais estudos e estratégias a desenvolver e, aproveitando-se a visita oficial da esposa do presidente da República a Ovar, foi-lhe manifestada a preocupação da associação pelo estado degradado da Ria de Aveiro, igualmente apresentada aos deputados presentes.

Naturalmente, com a dinâmica da Associação, vieram também as tentações políticas. Destas, a mais evidente e que fez agitar, temporariamente, a serenidade dos associados, foi a que se desencadeou em vésperas do 25 de Abril de 1980, por causa da "subscrição do manifesto" que algumas associações pretendiam dirigir à população aveirense. Depois de protelada a discussão, esta veio a ter lugar na reunião de 21 de Abril, altamente acalorada e com posições divergentes, mas que acabou por terminar com uma postura equilibrada, "tendo ficado decidido que este não seria subscrito", com um voto contra. Explicava-se a posição assumida, considerando que "tal não se justificava já que não tem a ver com os objectivos da associação e tornava-se perigoso"(17) assumir o contrário, pois ficava aberta a entrada a todas e quaisquer manifestações de ordem política. Assim se travaram discussões alheias aos objectivos da ADERAV.
/ 15 /
A acabar este primeiro semestre, houve uma série de intervenções coordenadas pelo Dr. Armando Moura, em defesa e estudo do litoral marítimo e cordão dunar, de Mira a Ovar, com repercussão na imprensa regional e nacional;

Maio e Junho foram ainda o espaço preferencial para campanhas de sensibilização, na imprensa regional, com vista à defesa do conjunto da Fábrica Campos, com várias intervenções na TV. Ao mesmo tempo, articulou-se com o Arq. Le Coq, da Reserva de S. Jacinto, um conjunto de intervenções reforçando a unidade e o valor patrimonial daquele espaço sob sua guarda.

Montaram-se dois campos de trabalho, para férias, com o apoio do Instituto da Juventude: um, na povoação de Cristelo (Branca), para Arqueologia, dirigido pelo Dr. João da Inês Vaz, outro, em Anadia, para levantamento das actividades populares e artesanato (com duas dezenas de jovens participantes).

Publicou-se o Boletim informativo nº 2, e fez-se uma visita guiada ao concelho de Arouca, reunindo com os associados daquela área e, depois, trocando impressões com os responsáveis autárquicos.

Em Agosto, fez-se a exposição resultante do levantamento feito no concelho de Anadia (na Escola Secundária) e apresentaram-se, sumariamente, as conclusões bem positivas da campanha arqueológica de Cristelo (onde estiveram vários arqueólogos e mais de duas dezenas de estudantes, alguns deles, estrangeiros).

Do segundo semestre, perdeu-se a memória das intervenções, mas sabe-se que não abrandou o seu ritmo de acção, face a uma dinâmica vivida e partilhada, envolvendo cada vez mais os entusiastas da jovem Universidade de A veiro, nas diferentes áreas de investigação e levando acções de sensibilização às escolas, por solicitação dos docentes, membros da Associação.

O Boletim nº° 3 foi publicado em Janeiro de 81. Em Fevereiro aprovaram-se contas e foi manifestada satisfação pelas notícias que apontavam no sentido da C. M. de Aveiro se interessar pela manutenção da Fábrica Campos, bem como pela abertura do Museu Etnográfico da Murtosa, aproveitando-se esta oportunidade para propor também a criação de um museu semelhante em Aveiro.

Entretanto, houve eleições. Renato Araújo assumiu a presidência da Direcção e na Assembleia Geral, João Ribeiro. De salientar que o novo elenco directivo trouxe uma ligação mais directa à Universidade, em diferentes campos, e uma intervenção mais forte na área do Património Natural.

Em Março e Abril, houve várias alocuções feitas por associados e a Associação participou na reunião nacional da FADEPA (Federação das Associações de Defesa e Estudo do Património), em Coimbra. No mês seguinte, a ADERAV desenvolveu actividades integradas nas "festas da cidade", entre elas uma sessão do Prof. José Hermano Saraiva, enchendo completamente o salão cultural.

Em Junho e Julho promoveu-se uma campanha em defesa do "moinho da Ria", sob o patrocínio de Eduardo Cerqueira e fez-se o lançamento do Boletim nº 4 (distribuído graciosamente às edilidades e associações), enquanto decorriam as actividades de verão, com visitas guiadas à descoberta da Arte Nova e da Casa Portuguesa, em Aveiro.
/ 16 /
Em Outubro, houve mudança de instalações, com todos os materiais que, entretanto, iam constituindo o património da ADERAV (18).

Nos meses seguintes, foram feitas visitas guiadas por técnicos especializados quer ao cordão litoral, zona sul, ao bairro da Beira Mar e ao último núcleo de muralhas existente em Aveiro, seguindo-se reuniões com as Câmaras Municipais directamente responsáveis pelas zonas naturais respectivas e pelo património visitado. E foi enviado ao IPPAR, para classificação, o processo referente ao imóvel "Casa de Santo António", em Albergaria-a-Velha.
  Prospecto do Debate Público sobre A(s) Torre(s) de Aveiro. Clicar para ampliar.  
 

Prospecto do Debate Público sobre A(s) Torre(s) de Aveiro.

 

Mas o que mais marcou a actividade deste mandato foi, sem dúvida, um debate aberto à população sobre "A(s) Torre(s) de Aveiro", agendado para 16 de Janeiro de 1982, com a presença dos Arq. Fernando Távora e Nuno Portas, e dos associados Aristides Hall e Amaro Neves, presidindo Renato Araújo. Inicialmente, foi pedido ao Presidente da C.M.A. que este debate tivesse lugar no salão cultural – o que mereceu a sua concordância – mas, na antevéspera, foi subitamente indisponibilizado o dito espaço, obrigando a refazer-se toda a publicidade, para se realizar no Conservatório de Aveiro(19), que estava cheio (Nuno Portas não esteve). O debate foi quente, por vezes escaldante, salientando-se nele a frontalidade e honestidade intelectual do Arq. / 17 / Fernando Távora que, sobre a "torre dos 32 andares" – ele que era pai do projecto! – disse que, decorrido tanto tempo após a concepção da obra no seu conjunto (para o Plano Director de 1964), não havia, nesta altura, razão nenhuma para o sustentar, tanto mais que, se fosse feito agora, apareceria desenquadrado, dado que se não deu cumprimento à obra geral em que a torre se enquadraria, na previsão do Plano Director.
 

Como se calcula, a partir destas afirmações e outras semelhantes, a ADERAV  não mais deu tréguas no combate àquela ocupação, quer por textos quer por outras manifestações, ainda que alguns membros tenham sido alvo de graves ameaças... Mas, o que importa é que a torre não cresceu! E ficou a todos a sensação de que se tinha obtido uma vitória notável para o futuro e para o desenvolvimento equilibrado da cidade, dando ecos repetidos na imprensa regional, como que sentindo a população a respirar de alívio, pois ninguém baixou os braços até haver certeza municipal de que aquele afrontamento não iria ter andamento. Nesta luta, merece ser destacado o "grupo de Arquitectos" associados (Rogério Barroca, José Prata, Ventura da Cruz, Óscar Graça) que, com entusiasmo, ajudaram a uma frente comum em defesa do património edificado que merecia ser preservado, abrindo também pontas de debate para outras questões.

Tomada de posição contra a construção das torres no largo do Côjo.

Entretanto, as eleições para 1982/83(20) trouxeram à presidência Aristides Hall, destacado investigador da Universidade, na área das Ciências do Ambiente, pelo que se continuou a orientar a maior força de intervenção associativa no sentido ambiental, abrindo contactos inclusivamente com a Portucel e à zona de Estarreja e maior atenção às zonas hídricas da Região. Mas o urbanismo, em geral, e os "centros históricos" continuaram a ser, também, uma área de grande preocupação.

/18 /
Em Março, teve lugar uma excelente intervenção, patrocinada pelo Governo Civil e pela C.M. de Aveiro e sob responsabilidade do Prof. J. M. Cabral Ferreira e da Prof. M. Laudomira de Jesus, da Universidade do Porto, sobre "O património na oferta turística" e "efeitos socio-económicos e culturais do turismo", de que resultaram posteriores desenvolvimentos na área de Aveiro, patrocinados pela ADERAV.

Foi dado particular ênfase no apoio às escolas, sensibilizando professores e alunos para as problemáticas do património natural e cultural. Enquanto isto, aproveitando o encontro "Cultura Popular das Beiras", em Águeda (16-20 de Abril), em que a Associação interveio(21), foi exposta ao Ministro da Cultura (Dr. Lucas Pires) uma série de preocupações regionais pela voz de Aristides Hall, com outros membros da Direcção, incluindo a necessidade nacional de uma "lei da Água", face ao conhecimento da degradação das condições na Ria de Aveiro, visível e sofrível nos canais da cidade.

Mas, neste primeiro semestre de 1982, o acontecimento cultural que mais marcou a cidade e a Região de Aveiro, quase exclusivamente "levantada" e montada por membros da ADERAV, foi a exposição "Cem Anos de Artes Plásticas" – em evocação da grande exposição que havia decorrido em Aveiro em 1882 (organizada pelo Grémio Moderno) – cuja comissão organizadora foi constituída por Amaro Neves,
Cândido Teles, Vasco Branco, Énio Semedo e João Gaspar. Tratou-se de um extraordinário certame artístico-cultural (que coube ao reputado crítico Dr. Matos Chaves a "oração de sapiência"), que assentou na inventariação de artistas aveirenses e de peças representativas, ao longo desse século, para o que foi constituído um "catálogo" especial, montado para ser mais um número do Boletim ADERAV... mas tal não aconteceu, por uma boa causa(22). Não se pode esquecer quanto trabalhosa foi
esta exposição que mobilizou, durante muitos meses, intensamente, vários associados.

Mas, confesse-se, foi consolador verificar o êxito alcançado(23).

Entretanto, diligenciaram-se várias reuniões com o núcleo de Anadia que, desde cedo mas sempre reconhecendo a positiva influência que a ADERAV ali havia desenvolvido, manifestava vontade de gerir autonomamente a "sua" associação de defesa do património. Apoiando essa vontade, a Direcção esteve presente em todas as reuniões de interesse mútuo e patrocinou colóquios para que essa associação nascesse e fosse efectivamente activa para o bem público(24).

Publicaram-se os dois boletins previstos e mantiveram-se os olhares atentos ao património aveirense, insistindo nomeadamente com a ocupação urbana das margens / 19 / da Ria, a norte de Aveiro. E por diversas vezes a TV (já que a imprensa regional estava mais atenta às intervenções) veio ao encontro das preocupações da Associação.
 

Em Novembro, dia 14, decorreu mais uma jornada aglutinadora da massa associativa, reunindo cerca de uma centena de participantes numa extraordinária visita guiada que, essencialmente, tinha como referência os pontos seguintes e respectivos guias: 1– Ordem Terceira de S. Francisco (por João G. Gaspar); 2 –- Quinta de S. Francisco, em Eixo (por Eduardo Cerqueira); 3 – Pateira de Fermentelos (por Aristides Hall e Armando Duarte); 4 – Panteão dos Lemos, na Trofa do Vouga (por Amaro Neves).

Em Dezembro, foram mandados textos descritivos e apelativos à defesa e valorização do património, em termos duros mas autênticos, face ao desprezo e abandono, visível em alguns deles (S. Francisco, em Aveiro, como paradigmático), ao Sr. Ministro da Cultura, ao Governo Civil e ao Bispo da Diocese, aos Deputados por Aveiro, ao Instituto do Património e ao Director Regional dos Monumentos Nacionais, à Câmara Municipal e a todos os órgãos de comunicação...

Capa do catálogo da exposição 100 anos de Artes Plásticas. Clicar para ampliar.

Capa do catálogo da exposição 100 anos de Artes Plásticas.

E continuou-se a luta pela defesa da Fábrica Campos, na convicção de que ainda era possível salvaguardar o complexo industrial que se mantinha de pé. Neste sentido, já no início de 1983, a Direcção elaborou um extenso documento(25) que enviou à Câmara Municipal, propondo, inclusivamente, formas de articulação cultural e de valorização das diversas peças, continuando a mobilizar a opinião pública, mesmo com recurso à TV, em vários apontamentos e programas.

E houve que mudar, mais uma vez, "armas e bagagens", com brevidade, agora para uma sala na "Fábrica do Azul", na Forca, sendo já a 4ª sede da ADERAV.

/ 20 /
A eleição dos novos Corpos Gerentes da ADERAV para 83/84 processou-se em Abril, passando a dirigi-la o capitão António J. Cruz Mendes, coadjuvado por Lourenço Santos e Artur Jorge Almeida, enquanto Aristides Hall presidia à As. Geral.

Desta anuidade, ressalta uma grande preocupação com a redacção das actas(26), secretariadas por Maria Helena Lucas (raramente assinadas pelo presidente). Destas, registe-se a ampla discussão em tomo do que seria "um centro histórico" – emitindo documento específico, sob coordenação dos arquitectos – e, mais tarde, sobre a Fábrica Campos(27).

Depois de longos meses de preparação, esteve patente, de 10 a 24 de Março, a exposição Para a imagem antiga de Aveiro – O Postal Ilustrado, que "constituiu assinalável êxito, conforme o comprovam os indicadores como a elevada afluência de público, a venda do Catálogo (cuja edição quase esgotou), e ainda os comentários expressos em órgãos de comunicação social" (28)
 
  Cartaz da Exposição do Postal Antigo de Aveiro. Clicar para ampliar.   Capa do catálogo da Exposição do Postal Antigo de AveiroClicar para ampliar.  
 

Cartaz e capa do catálogo da Exposição do Postal Antigo de Aveiro

 

Por outro lado, continuaram-se as intervenções e palestras, por vezes a solicitação de grupos de jovens, bem como as visitas guiadas, promovidas por "núcleos" (Vale de Cambra, com uma ampla participação de associados, e Museu de Ílhavo).

Pela perda que representou para a Associação, registou-se a morte de Eduardo Cerqueira, em memória de quem se editou o Boletim nº 10.

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A 19 de Abril, como que culminando anos de luta em sua defesa, "foi enviado o processo de classificação da Fábrica Campos, quer ao Ministro da Cultura quer ao Instituto Português do Património Cultural, pensando contribuir assim, para a defesa e valorização do património arquitectónico da cidade e da região"(29).

Mas, em 4 de Maio, abriu ao público (encerrou a 31 deste mês), nas instalações do Museu Nacional de Aveiro, a Exposição Cerâmica Artística e Decorativa – Aveiro I (30), com larga repercussão na imprensa, chamando a atenção para as potencialidades e valor patrimonial das cerâmicas e dos artistas envolvidos, bem como dos objectos produzidos, em qualquer época que seja. E foi desafiada a Câmara Municipal, em sessão pública, a pronunciar-se sobre a constituição de um Museu da Cerâmica (ou Museu da Indústria), eventualmente na Fábrica Campos.

Em Julho, foi publicado o livro Aveiro – História e Arte, de Amaro Neves, edição inteiramente assumida pela Associação. E também houve um clamoroso protesto por declarações dos responsáveis da Câmara sobre o destino do conjunto industrial da Fábrica Campos, bem como outro sobre um edifício Arte Nova, na Rua Von Haff. A um e a outro destes casos reagiu, positivamente, a TV e a imprensa.

No ano de 1984-85, arrastou-se a eleição da Direcção, passando a presidir Lourenço Santos, assessorado por Maria Helena Lucas e Artur Jorge Almeida. O ritmo de visitas guiadas e de palestras em escolas manteve-se, recebendo-se também algumas prestigiadas organizações da Defesa do Património nacionais, em Aveiro.

Já em Janeiro de 1985, houve um I Encontro de Colectividades Culturais do Concelho de Aveiro (organizado de parceria com o Clube dos Galitos), o qual excedeu todas as expectativas de participação(31).

E mais uma vez, houve que mudar a sede da Associação, com todos os materiais possíveis, agora para o edifício do antigo Magistério Primário, recuperado para Biblioteca Municipal (onde se manteria por cerca de três anos).

Continuaram-se os "campos de férias", nas áreas do Património Popular e promoveram-se novas eleições que, em segunda via(32), para o ano de 85/86, ditaram Arnaldo Dias Teixeira para presidente, assessorado por Rogério Barroca, presidindo à As. Geral, Lourenço Santos. A convite da Câmara Municipal de Aveiro, ADERAV integrou o Conselho Consultivo Municipal, delegando a sua representação no presidente (33).

De 11 a 20 de Maio deste ano de 85, integrada nas Festas da Cidade, esteve patente no Museu de Aveiro, uma exposição-homenagem ao artista cerâmico Armando Andrade(34), reputado escultor vareiro que trabalhou nas mais famosas empresas de cerâmica artística nacionais e da região de Aveiro. A exposição, dado o interesse regional, esteve também patente em Ovar, de 2 a 15 de Junho, no museu desta cidade, / 22 / donde era natural o artista homenageado. Daqui resultou a oferta de algum espólio do artista, enriquecendo as colecções do museu.
Capa do catálogo da exposição/homenagem a Armando Andrade. Clicar para ampliar.

A 6 de Outubro, a Direcção discutiu um pequeno subsídio do Instituto da Juventude que havia recebido – sem o ter pedido – não obstante estar esclarecida de que o iria receber como compensação aos gastos feitos num campo de arqueologia, realizado anos antes (Julho 79, no lugar da Gôcha, em EspinheI). A direcção não entendeu a questão e pôs em causa a seriedade de quem organizou o evento, o transporte e a alimentação dos vinte jovens presentes... enfim, ainda bem que o Sr. Presidente do IPJ, Dr. José Fragateiro, com tantos anos de atraso, tinha a memória fresca e sabia o que tinha prometido e... faltava pagar. Ainda bem!

Foi também editado Aveiro – silhuetas do tempo que passa..., confrontando imagens do património urbano, antigas e actuais, da autoria dos associados Amaro Neves e Carlos Ramos, fotógrafo.

Capa do catálogo da exposição/homenagem a Armando Andrade.

Em Outubro/Novembro, com a colaboração efectiva da ADERAV(35) e em parceria com o Clube dos Galitos, organizou-se a XIV Exposição Filatélica Nacional, que mobilizou vastos recursos humanos da Associação, pelas áreas apresentadas e pela dimensão nacional do certame. Ainda em Novembro houve mais uma jornada sobre "património cultural popular", orientada por Hélder Pacheco. Entretanto, organizava-se um boletim especial de homenagem a João Sarabando, coordenado pela Direcção(36).

Na fase final desta anuidade, notava-se um certo cansaço na gestão da Associação que, todavia, não preparou a passagem do testemunho e, por outro lado, / 23 / não conseguiu a mobilização suficiente para o acto eleitoral, no tempo normal, o que só viria a acontecer em 12 de Outubro de 86.

Nesta As. Geral, foi eleito para presidente Armando Duarte, professor da Universidade, assessorado por Énio Semedo, Artur Jorge Almeida, Cristina Bóia, Ema Cristina Coutinho, M. Albertina Nunes e M. da Conceição Pinho. A As. Geral era orientada por Renato Araújo. Na própria sessão foi aceite a elaboração de um boletim regional, o nº 16, encarregando-se o "corpo redactorial" da sua elaboração e apoios à edição. O tema seria, basicamente, a região da Bairrada e a sua riqueza humana e vitivinícola(37).

Curiosamente, na primeira reunião do novo executivo, realizada nesse mesmo dia, foi registado que "não houve qualquer entrega de relatório de actividades nem de contas, sendo os elementos da direcção actual ostensivamente ignorados durante trinta e cinco minutos. Perante esta situação de impasse, apenas foi dito que só na semana seguinte os relatórios seriam dados a conhecer"(38). Mas tudo se foi ultrapassando...

Na reunião de 29 de Outubro, a Direcção congratulou-se pela eleição do seu presidente da As. Geral, Renato Araújo, para reitor da Universidade de Aveiro.

Promoveu-se maior intercâmbio com o "núcleo de Arquitectos de Aveiro", participando na sua revista, decidiu-se a organização da Cerâmica Artística e Decorativa Aveiro  II (39), sempre com o objectivo de não deixar cair a luta pela Fábrica Campos e de levar por diante o Museu da Cerâmica (ou da Indústria). Enquanto isto, continuaram-se as palestras em escolas e ao serviço de outras associações, sempre que
solicitado ou justificado o apoio, nomeadamente em Castelo de Paiva, em Anadia, em Vagos, em Vale de Cambra e em Ílhavo. Foi ainda decidido memorar a vida e a obra de J. M. Mendes Leite, emérita figura do século XIX, com sessão pública, intervenções e publicação de textos alusivos à sua vida política. Ao mesmo tempo, fez-se uma exposição de documentos que testemunham essa grandiosa obra de político.

Robusteceu-se a informação à imprensa com textos adequados aos temas que, entretanto, iam animando a vida da Região e, sobretudo, a aveirense, tais como(40):

A razão de uma luta
A entrega do ramo – um valor cultural a preservar
Barcos no Canal central – A propósito...
Porto de Aveiro – Com que acessos?
O IP5 e o Nó das Pirâmides...

Entretanto, a última acta de reunião a que presidiu Armando Duarte foi a 18 de Novembro de 87. Deduz-se que, aguardando o acto eleitoral e por alguma inércia do / 24 / colectivo, se tenha entrado num período mais de deixar correr, esperando a chegada de nova direcção.

A verdade é que não se respeitavam os Estatutos, nomeadamente no que concerne às eleições e cada vez mais se tornava difícil encontrar quem se apresentasse para cumprir um mandato anual. Reclamava a Direcção que havia expirado o seu tempo, mas o presidente da As. Geral reclamava que importava saber quem se apresentava para assumir... e o tempo ia passando.

Enquanto se arrastava esta indefinição, esmorecia, naturalmente, a normal capacidade de intervenção pública ou, talvez melhor, instalava-se algum desânimo entre os associados...

4. O décimo aniversário – novo ânimo e múltiplas actividades

À medida que ia aproximando o ano de 1989 – em que a ADERAV festejaria o seu décimo aniversário – muitos eram, mesmo entre os fundadores, aqueles que, então, pensavam ser uma "coroa de glória" festejar-se uma tal efeméride, dada a curta existência que, normalmente, marca a vida das associações culturais. Alguns, no entanto, lamentavam que, com um palmarés de serviços tão relevantes, se não conseguisse essa glória... a verdade é que, na hora das eleições, ninguém parecia disponível.

Por sua vez, os que já tinham assumido a sua direcção, consideravam que uma associação deve traduzir a sua vida pela rotatividade dos corpos directivos e, em último caso, mesmo o núcleo mais restrito dos fundadores argumentava que a Associação não fora criada para servir nenhum deles mas tão só Aveiro e a sua Região.

Perante algumas destas argumentações, mais parecia que, de facto, não se celebraria o décimo aniversário...

Angustiados, reuniam-se alguns associados e discutiam o assunto. Por último, deu-se a conhecer que, se não surgisse outra hipótese de assegurar a direcção da colectividade, dar-se-ia cumprimento a um "acerto de cavalheiros" que havia sido feito entre três membros fundadores, no qual se estabelecia uma sucessão rotativa na presidência, com a colaboração dos dois restantes membros. E, frustradas outras hipóteses que se não levantaram, avançou o primeiro dos nomes do dito acordo (sem depois se ter cumprido o restante da rotação no assumir das direcções seguintes).

As eleições decorreram a 5 de Janeiro de 1989, sendo eleito Amaro Neves como presidente e dois vice presidentes: Deniz Ramos Padeiro e Óscar Graça. Mas, a Direcção contou com o empenhamento da "troica"(41), mobilizando os sócios meios "arrefecidos" e muitas vontades de novos simpatizantes, foi visível um certo fulgor na gestão desse ano, tendo-se editado o número 17(42) (em que, a propósito do 10º aniversário se publicou um singelo apontamento sobre Como nasceu ADERAV").
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Articularam-se com o Prof. José Hermano Saraiva algumas intervenções sobre o Património Cultural de Aveiro, no Diário Popular, de que era director, em resultado do que se deslocou a Aveiro a fazer duas palestras sobre estas temáticas, com grande afluência de público.

E, como curiosidade, na reunião de 15 de Fevereiro, foi decidido "oferecer à Câmara Municipal de Aveiro 400 volumes (l00 exemplares de cada) dos títulos seguintes: Aveiro – História e Arte; Aveiro – Silhuetas do tempo; Ílhavos e Murtoseiros na Emigração Portuguesa; Mendes Leite, a serem distribuídos gratuitamente conforme a edilidade e o seu pelouro da Cultura bem entenderem. Desta forma deseja esta associação divulgar Cultura/Património regionais e ao mesmo tempo sensibilizar a Edilidade que Vª Ex.ª dirige para algumas das actividades que a ADERAV tem desenvolvido ao longo dos 10 anos de existência (a celebrar em Maio), defendendo, promovendo e divulgando valores culturais, com visitas guiadas, campos de trabalho, acções de juventude, colóquios, exposições, diversas edições (cerca de 3 dezenas, das quais a mais regular é o "boletim") para o que tem contado, em geral, com reduzidos apoios do município e, eventualmente, de outros organismos"(43).

Em Março, de 22 a 27, dois elementos da Direcção estiveram na VI Assembleia Geral do Movimento Ecológico Ibérico, em Espanha.

Por outro lado, fez-se uma grande exposição sobre Capelas de Aveiro, com cerca de 40 trabalhos de artistas aveirenses (nenhum podia apresentar mais de três), a qual serviu de pano de fundo para a edição do livro "Capelas de Aveiro", com os textos de António Cristo(44). Estas acções enquadraram-se nas "festas da cidade" deste ano de 89.

A 15 de Junho, mais uma vez, por informação da CM de Aveiro, se impôs a mudança de sede, desta feita para o Bairro de Santiago, nos ditos "comboios amarelos", o que teve de ser feito com urgência.

E, durante o verão, fizeram-se como de costume as visitas a grupos de jovens e campos de férias, em articulação com o IPJ.

A "rentrée" do ano escolar trouxe outra movimentação nas escolas, levando a palestras e acções com grupos de professores, nomeadamente àqueles que se encontravam em estágio pedagógico (Águeda e Murtosa).

A Direcção reuniu com os candidatos dos partidos concorrentes à Câmara de Aveiro expondo-lhes as principais preocupações patrimoniais, em total pé de igualdade da informação, e posteriormente emitiu um comunicado sobre a recuperação da Fábrica Campos, esperada há dez anos... De seguida, promoveu encontros com as Câmaras de Vagos, de Ílhavo, da Murtosa(45) e de Águeda para manifestar as preocupações locais, nas áreas do Património.

De 11 de Novembro a 16 de Dezembro, esteve patente a Bienal Internacional de Cerâmica Artística de Aveiro, nos pavilhões do Canal do Côjo, com uma representação internacional que excedeu as expectativas e uma qualidade que / 26 / surpreendeu a própria comissão organizadora(46) e até o júri internacional que presidiu à selecção das peças apresentadas. Neste certame se empenhou activamente a direcção da ADERAV, ao longo de muitos meses – de resto, ele traduzia a concretização do grande sonho, ao realizar as duas Exposições de Cerâmica Artística, promovidas anteriormente pela Associação – e, naturalmente, do êxito alcançado se orgulhava também o núcleo directivo, reconhecendo sem dúvida o indispensável apoio logístico e político da Câmara Municipal.
 
 

Capa do catálogo da 2.ª Bienal Internacional de Cerâmica Artística. Clicar para ampliar.

 
 

Capa do catálogo da 2.ª Bienal Internacional de Cerâmica Artística.

 

Decidiu-se ainda fazer "capas" como símbolo ADERAV para encadernar os boletins editados, agrupando-os em dois volumes, enquanto Henrique de Oliveira se dispôs a fazer todos os índices alfabéticos para esse agrupamento, publicados no nº 17.

De resto, foi no geral um ano de iniciativas e concretizações amplas – para além das edições, exposições, visitas guiadas e intervenções... e do I Encontro Distrital de Associações Culturais e do Património, realizadas na Universidade com a participação do Reitor – concretizações que deram força e nova vida à ADERAV, a nível distrital, adequadas ao aniversário que se celebrava e que, para uns tantos (os costumados detractores) era anunciado como "canto do cisne" da Associação.

Enfim, festejavam-se dois lustros de muitas sessões de sensibilização para os valores culturais regionais, de pequenas ou grandes batalhas pela defesa e valorização do património aveirense e, também, apesar de tudo e, às vezes, contra os mais diversos poderes locais, as "grandes vitórias" alcançadas em beneficio da Cultura e do Património da Região de Aveiro.
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A consciência disto mesmo se traduziu, em parte, nas palavras de abertura do Boletim nº 17, com o título Dez anos depois, em que se faz uma auto-crítica ao trabalho desenvolvido mas, mais do que evocar as acções e as grandes batalhas conseguidas, graças à mobilização dos associados, se reconhece que a maior vitória até então travada foi uma constante "acção pedagógica que conta em Aveiro uma década de esforço e que, por certo, levará as novas gerações a assumirem comportamentos diferentes dos que herdaram de seus pais".

De facto, sendo a maioria dos aproximadamente 350 membros da Associação constituída por professores de diferentes sectores, apresentava-se como primeiro objectivo, a longo prazo, "a batalha da educação na defesa dos valores naturais e culturais como bens comunitários extremamente valiosos e os mais caracterizadores de uma região", pelo que importava, acima de tudo, preparar as gerações mais novas para assumirem a herança patrimonial.

No final do ano de trabalho, não se apresentando disponível nenhum dos elementos da "troica", a direcção apresentou uma lista a sufrágio, para o ano de 1990, encabeçada por M. Albertina Nunes (já tinha dado vastos contributos à Associação), coadjuvada por Artur Jorge Almeida e António F. Oliveira, presidindo à As. Geral Amaro Neves e, ao Conselho Fiscal, Énio Semedo.

A Direcção participou no encontro de Associações de Estudo e Defesa do Património Cultural, Natural e Ambiental que se realizou no Museu Marítimo de Ílhavo e, a convite do pelouro da Cultura da Câmara de Aveiro, no encontro-debate sobre as actividades da Cultura, no ano anterior e para o ano corrente.

Foi feita uma visita prolongada a Anadia, para avaliar o estado da capela de S. João da Azenha (apoiada nos associados activos que por ali residiam) e, sobre o assunto, emitiu-se um parecer dirigido a esta Câmara Municipal no sentido de que, equacionando-se eventualmente a construção de uma capela nova, importava, acima de tudo "lembrar que a capela velha deverá ser melhorada e sempre mantida"(47).

Em Abril, o debate foi essencialmente sobre recursos hídricos dos concelhos de Arouca e de Castelo de Paiva, com texto de cunho pedagógico, relacionados com os rios Paiva e Arda, propondo que, "num futuro próximo, seja criado o Parque Natural da Serra da Freita e Gralheira"(48).

Em Maio, articulou-se um programa de visitas guiadas à cidade e ao concelho, orientadas por associados conhecedores das áreas e património a visitar, e a associação esteve presente, com stand próprio, na Feira do Livro.

Entretanto, acabadas as visitas guiadas programadas, emitiu-se um texto de reflexão sobre o património aveirense, que foi distribuído à imprensa, com grande divulgação no semanário Litoral(49).

No começo do ano lectivo, como habitual, desenvolveu-se a normal actividade de interligação às escolas. Ainda antes de acabar a anuidade e tal como havia sido planeado, editou-se um número especial do Boletim, sobre a Bairrada, com data de Novembro de 1990, a propósito dos "Cem anos de espumante da Bairrada", que obteve / 28 /  um êxito surpreendente. E, nele porque a todos abalou a triste notícia, foi prestada homenagem à figura do prof. Dr. Aristides Hall, emérito investigador da Universidade de Aveiro, subitamente falecido, tendo em conta os prestimosos serviços prestados à ADERAV – seu membro fundador, sempre disponível e entusiasta exemplar na defesa do Património Natural e Cultural da nossa Região.

De 2 a 30 de Novembro, alguns membros da Associação deram corpo, na sequência de meses de trabalho anterior, à comissão organizadora(50) da II Bienal Internacional de Cerâmica Artística, que repetiu, melhorado, o êxito alcançado na primeira.

A participação da ADERAV, de resto, foi então bem sublinhada pelo presidente da Câmara Municipal, Dr. Girão Pereira, escrevendo na Apresentação do respectivo Catálogo, a propósito dos contextos cerâmicos de Aveiro e da sua região – «Esta ambiência criou os pressupostos necessários para a realização de exposições próprias, como as duas "Mostras de Cerâmica Artística e Decorativa" que se ficaram a dever à iniciativa da Associação de Defesa do Património da Região de Aveiro – ADERAV, com o apoio da Câmara Municipal de Aveiro (51).

Capa do último número do Boletim da ADERAV.

A 15 de Novembro, em Assembleia Geral, foram eleitos os novos corpos directivos para o ano de 1992, com Emanuel Cunha, como presidente da Direcção, / 29 / assessorado por Joaquim Correia, Artur Fino, Rosa Maria Oliveira, Arsénio Mota, Teresa Costa e Armor Pires Mota, enquanto na As. Geral presidia Vasco Branco.

Como se pode avaliar, com um leque de figuras ligadas à literatura e à arte, desde logo se perspectivou uma exposição de pintura e intervenções públicas literárias, entre as quais um ciclo de palestras. Discutiu-se o II Encontro de Associações Culturais, a realizar em 23 e 24 de Maio, bem como a participação da Associação, na Feira do Livro.

Se escapam à análise as actividades desenvolvidas, por falta de actas regulares e também de boletins informativos, é certo que o II Encontro das Associações Culturais do Concelho de Aveiro foi uma realização de bom nível e de bons frutos.

Palestras e intervenções literárias também as houve, com regularidade, corporizadas pelos nomes que integravam os corpos directivos. E, dadas as boas relações institucionais entre o presidente e a responsável pelo pelouro da Cultura, Dr.ª Maria da Luz Nolasco, algumas outras actividades resultaram em colaboração mútua, pelo bem geral da cultura regional e aveirense.

Entretanto, também a Fábrica Campos foi sendo recuperada e, reconhecendo-se publicamente os anos de luta que ADERAV havia desenvolvido pela defesa deste imóvel (a parte mais importante do conjunto) da arquitectura industrial, foi considerada justa e merecida a sua integração nesse espaço entretanto recuperado, para ali se transferindo então a actual sede, com algumas comodidades e em espaço capaz de possibilitar mais e novas acções.

5. Subitamente, a grande crise directiva ... e o renascer das cinzas

Agora, caminhava-se para o final de mais um lustro de vida e tudo parecia orientado da melhor maneira para anuidades e mandatos de sucesso...

A eleição para o ano de 1993, no entanto, veio tardiamente, a 30 de Março, e pretendeu enquadrar uma daquelas vozes críticas à actuação da ADERAV, pois pensou-se que, assim, se daria a melhor oportunidade a novos entusiasmos e perspectivas. Mas o presidente eleito, tendo aceite, foi criticando e sempre protelando a sua entrada em funções e consequentemente retardando qualquer intervenção, sem reuniões nem actividades.

Deu-se então uma situação anómala: por um lado, uma Direcção estatutariamente empossada mas cujo timoneiro não aparecia para enfrentar as situações, nem se propunha a encontrar uma outra solução, por inércia total; por outro, a anterior Direcção que, perante a realidade e dentro do possível, ia "carregando" uma gestão corrente mas manietada face ao acto eleitoral que havia decorrido. E o tempo foi correndo, correndo, esgotando-se o resto de 93 e o ano de 94, sem novidades directivas...

Bem se fizeram diligências diversas (não se poupou a esforços o presidente em exercício, Emanuel Cunha), junto do presidente designado, para que se resolvesse a crise... mas, nada! E passaram-se mais os anos de 95 e 96. Neste contexto que mais parecia de morte por inanição, também o Presidente da As. Geral, Vasco Branco, ansiava por uma solução airosa que repusesse o normal funcionamento associativo. E o / 30 /  cepticismo começou a instalar-se... e muitos viravam-se para os fundadores mais aguerridos e activos, exigindo intervenção.

Foi o que acabou por acontecer, com a total concordância do presidente da Assembleia Geral, Vasco Branco, que, goradas outras hipóteses, expressamente para o efeito convocou uma Assembleia para 11 de Janeiro de 1997 e onde, à falta de secretário, se elegeu ali mesmo um que, "preto no branco", fizesse a respectiva acta que relata:

Aberta a sessão, o presidente fez uma exposição da letargia da ADERAV neste dois últimos anos e mostrou satisfação por ver reunido um grupo de aveirenses em torno deste projecto. Apontou alguns "casos" mais significativos do património construído e evocou o "Aveiro Antigo". Seguidamente, convidou o associado Amaro Neves a apresentar a nova proposta de Direcção (52).

Feita a justificação dos novos elementos, a Assembleia discutiu um plano de trabalho apresentado pela candidata a presidente da Associação, colheram-se sugestões entre os presentes e acertaram-se prazos de actividades, sendo aprovados por unanimidade todos os corpos directivos, com a sensação de que se havia virado uma página angustiada, nos anais da ADERAV.

E tudo parecia ser pacífico... mas, semanas depois, já alguns arautos da desgraça que não tinham assumido as anteriores responsabilidades, voltavam a "questionar a legalidade do acto eleitoral", tal como se discutiu na reunião de Direcção de 26 de Abril de 97, valendo a determinação da presidente de "cumprir o seu mandato até ao fim". Então, substituindo-se um elemento, por conveniência de serviço, foi
apresentada e aprovada a ideia de saber, junto da vereadora do pelouro da Cultura da C.M. Aveiro, que destino se projectava para a velha casa do Dr. Alberto Souto, em Bonsucesso, pois se encontra em adiantado estado de ruína, bem como para a casa dos avós de Eça de Queirós, em Verdemilho, ou ainda para o conjunto em que se integra a "casa Paris", na avenida Lourenço Peixinho (entre outros casos).

Em Junho, comprometeu-se a Direcção a um levantamento dos edifícios Arte Nova, no concelho de Aveiro – mas foi sugerido que esse levantamento e intervenção fosse mais amplo, sobretudo alargado a Ílhavo –, e redigiu-se uma "carta aberta" para a imprensa sobre o estado desse património edificado.

De facto, a preocupação dominante da Direcção desta anuidade foi, numa primeira fase, a Arte Nova em Aveiro, abrindo-se lentamente a outras áreas do património construí do, mesmo fora do concelho. Diversas reuniões com o executivo municipal pouco adiantaram na sua conservação, mas foi-se enraizando a ideia de que urgia um debate público sobre a defesa desse património, nomeadamente do princípio do século XX e de feição Arte Nova (mas também Deco e "casa portuguesa"), pelas intervenções de arquitectos aveirenses. Curiosamente, o Conselho Consultivo da / 31 / Cultura e o Conselho Consultivo do Património Edificado, a partir de 1998, integraram diversos membros identificados com a vida da ADERAV, a convite do vereador do Pelouro da Cultura, Jaime Borges(53).

E, por articulação entre este pelouro e a Direcção da Associação, foi organizado o encontro nacional sobre Arte Nova(54), aqui reunindo (na já recuperada Fábrica Campos, convertida em Centro Cultural e de Congressos), por dois dias, os especialistas desta área do conhecimento artístico e do planeamento urbano, bem como da recuperação do património edificado, com a presença do Ministro da Cultura, Manuel Carrilho, atraindo centenas de interessados nos debates.

Alguns textos foram produzidos, por iniciativa da presidente, sobre estas manifestações arquitectónicas, gerando interesse pelas TVs, a nível nacional. Entretanto, foram pedidas ou propostas ao IPPAR, entre 1997 e 1998, as seguintes classificações de património edificado:

- Pastelaria Avenida, na Av. Lourenço Peixinho, Aveiro, a 15 de Junho de 1997;
- Ourivesaria Matias, na Av. Lourenço Peixinho, Aveiro a 16 de Outubro de 1997;
- Casa Paris, na Av. Lourenço Peixinho, Aveiro, a 16 de Outubro de 1997;

Já com a data de 6 de Agosto de 1998, um vasto leque de propostas:

- Casa Dr. Alberto Souto, Bonsucesso (freguesia de Aradas);
- Casas nº 168-172, e 216 A, B e C, na Av. Lourenço Peixinho, Aveiro;
- Casas no 158-162, na avo Lourenço Peixinho e nº 6-14, na rua Eng.º Oudinot;
- Farmácia Ala, na Praça J. Melo Freitas;
- Edifício "Testa e Amadores" (em frente ao Museu Nacional);
- Casa na Rua Miguel Bombarda nº 1, 5, 7, 9, 11 e 13;
- Edifício da Av. Central (antiga Rua do Rato), n° 23-29;
- Casa na Rua de Eça de Queirós, nº 1;
- Em Espinho, o edifício do Sport Clube de Espinho;

Isto é, um punhado de propostas de classificação, antes que e na esperança de que os camartelos municipais não chegassem e, insensivelmente, tudo demolissem, como tantas vezes, infelizmente, tem acontecido.

Mas foram dois anos com escassos registos de actividade e poucas actas (com alguns conflitos internos, gerados por detractores(55)), ainda que de "contactos com entidades oficiais a nível de Lisboa" e com as Câmaras do Distrito ou, por outra via, se "discutiu o que estava a acontecer de grave no património da cidade de Espinho" como adiantou a presidente, na reunião da Assembleia Geral de 9 de Julho de 199956, quando se procedeu a novo acto eleitoral. Em face deste, para 1999-2000, reelegeu-se Maria João Fernandes, como presidente, com António Sérgio Azeredo e Luís Souto de / 32 / Miranda como vice presidentes, enquanto na As. Geral presidia Amaro Neves e, no Conselho Fiscal, Pedro Silva.

Deste "mandato" se relevam as intervenções nas áreas do património edificado, continuando essencialmente focalizadas na Arte Nova de Aveiro e seu Distrito, como referem as poucas actas lavradas - incluindo a de balanço final – e nas propostas de classificação apresentadas ao IPP AR, nos concelhos de Albergaria-a-Velha, de Aveiro, de Espinho e de Ílhavo, num conjunto de cerca de quatro dezenas de propostas, devidamente justificadas, com vista a que se garantisse a salvaguarda deste património(57) .

A data da maioria delas tem a ver com as disponibilidades da equipa que as elaborou, sob orientação da presidente que, neste particular, não se poupou a esforços, nomeadamente insistindo com os poderes instituídos, a nível central, com vista a manter este "núcleo patrimonial" como o essencial da intervenção Arte Nova, no Distrito de Aveiro.

Mas, obviamente, por cansaço da equipa que dirigia a Associação (cuja presidente residia em Lisboa), tomava-se imperioso dar lugar a outras boas vontades, para o que foi convocada a As. Geral com vista a eleições, o que veio a acontecer a 24 de Março de 2001. Desta resultou eleito, como presidente, Delfim Bismarck, com António Sérgio Azeredo e Luís Souto de Miranda como vice-presidentes, dirigindo a Assembleia Geral Maria João Fernandes e, no Conselho Fiscal, Nuno Pinto Teixeira. Na Assembleia se fez justiça "ao esforço de levantamento e pedidos de classificação do Património Arte Nova", adiantando a presidente cessante que se iria realizar, a curto prazo, "um colóquio internacional sobre Arte Nova em Portugal", na sequência dos trabalhos desenvolvidos na Região de Aveiro, ao serviço da ADERAV.

Nas primeiras reuniões ordinárias, foi preocupação da nova direcção constituir "equipas temáticas" para melhor se fundamentarem as intervenções, agendar reuniões com os executivos das principais Câmaras Municipais do Distrito, programar um concerto musical na igreja de Angeja como forma de chamar à atenção para o valor da igreja e do seu recheio artístico e delinear o novo figurino de uma revista que substituísse o antigo Boletim ADERAV, com maior amplitude de intervenção, a apresentar ao público no mês de Maio próximos8. E neste mês, houve um protocolo entre a ADERAV e a QUERCUS com vista a uma intervenção conjunta no sentido de se discutir e melhorar a proposta de alteração para o IP5, no troço de Albergaria-a-Velha/Aveiro, pelas implicações ambientais desse tal trajecto.

Foi também dado parecer ao LNEC sobre a velha casa do Dr. Alberto Souto, em Bonsucesso, para onde se projecta a transferência do Arquivo Distrital.

Em 18 e 19 de Maio, a Associação participou no encontro sobre Aveiro – Azulejaria de Fachada, no Centro Cultural e de Congressos, com intervenção de vários elementos, entre os especialistas nacionais. E, na Feira do Livro, esteve em stand próprio promovendo a venda das suas edições.

Em Junho, apresentaram-se ao IPPAR, para classificação, os seguintes imóveis: / 32 /

Casa da Fonte (séc. XVIII), em Albergaria-a-Velha;
Troço de calçada romana (séc. lI), na freguesia da Branca;
Quinta das Relvas (séc. XVIII), na mesma freguesia;
Quinta do Outeiro (séc. XIX), também na freguesia da Branca.

Em Setembro, 20 e 21, foi a presença na Arrábida, no curso dedicado a "1890-1914 as décadas prodigiosas – Arte Nova em Portugal e na Europa", coordenado pela Dr.ª Maria João Fernandes, então presidente da As. Geral.

Várias reuniões com executivos municipais foram concretizadas e organizaram-se visitas guiadas, nomeadamente a A veiro. E ainda "tomámos posição pública, através de jornais e rádio, em relação a vários temas, dos quais destacamos: Edifício Severim Duarte, traçado do IC 1, Teatro Aveirense"(59).
 
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A 20 de Novembro, foi decidido tomar posição firme contra a ideia, apresentada pelo executivo municipal de Albergaria-a-Velha, de mudar o pelourinho de Angeja.

Já em 2002, a 13 de Março, foi solicitada ao IPPAR a classificação da capela da Senhora dos Remédios, em Pardilhó, Estarreja. E a 22 de Maio, os elementos da Direcção presentes no Conselho Consultivo do Património Edificado, Delfim Bismarck e Sérgio Azeredo, redigem documento(60) alertando para a urgência na intervenção e defesa da igreja e convento de S. António e capela da Ordem Terceira de S. Francisco, na cidade de Aveiro, documento esse que foi dirigido à Diocese, ao IPPAR, à C. M. de Aveiro e a outras instituições.

Capa do primeiro número da revista Patrimónios.

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Nos meses seguintes, concretizaram-se entrevistas com representantes municipais em Ovar, Estarreja, Aveiro, Albergaria-a-Velha... e foram acompanhadas as delegações do IPPAR a Pardilhó e à capela de Santo Amaro, em Beduído (Estarreja), onde se haviam encontrado, para além de sepulturas diversos "achados arqueológicos, nomeadamente uma pequena lâmina em sílex, com cerca de 10 cm, datada do Calcolítico"(61). Foram também promovidas, uma palestra com a Dr. Rosa Pinho, da Universidade de Aveiro, realizada em parceria com a C.M. Murtosa, e visitas guiadas à cidade de Aveiro.

A 17 de Julho foi presente à C.M. de Estarreja, um vasto conjunto de propostas de classificação como "Imóveis de Valor Cultural Municipal", devidamente justificadas, relativas a edifícios que se encontram na área deste Concelho(62). Deste conjunto de propostas, algumas delas foram igualmente apresentadas ao IPPAR, resultando posteriores classificações.

Entretanto, a 29 de Novembro de 2003, houve As. Geral para a eleição de novos corpos sociais, ali se apresentando a presidente da Mesa da Assembleia, Maria João Fernandes, a justificar a sua dedicação à Associação, nomeadamente na área da Arte Nova – o que ninguém pôs em causa – ainda que não pretendesse apresentar qualquer lista para nova direcção. Em todo o caso, eleito o secretário, Luís Souto de Miranda, elaborou-se a acta da reunião geral que foi longa e acalorada, e que ditou algumas alterações aos Estatutos e, também, os novos corpos sociais – eleitos por unanimidade dos presentes – que serão dirigidos por Delfim Bismarck com os vice presidentes Luís Souto de Miranda e António Sérgio Azeredo, tendo como presidente da As. Geral, Deniz Ramos Padeiro e, no Conselho Fiscal, Nuno Pinto Teixeira.

Desde logo, à nova Direcção se impôs, como todos reconheceram, o dever de comemorar as "bodas de prata" da ADERAV... E, neste sentido, entre outras actividades mais correntes, foi prometido o nº 4 de Patrimónios, um ciclo de palestras e também umas jornadas sobre Património Cultural e Natural, além, claro, da evocação da criação da Associação.

Mas, ainda antes desta celebração, mais um percalço se levantou... obrigando a Associação a nova mudança de sede, ainda que com a promessa de se tratar de "situação temporária".

6. O Boletim ADERAV e outras edições

Quem conheça a história da associação lembrará como foi difícil fazer o boletim, por mais simples que ele hoje nos pareça. Um mar de dificuldades! No tempo em que ele nasceu, poucos sócios escreviam "artigos", poucas pessoas se aventuravam... e para fazer uma pequena edição, havia que procurar tipografias que se prestassem a fazê-lo. Assumimos constituir uma comissão – "um corpo redactorial": Énio Semedo, Henrique de Oliveira e Amaro Neves – como forma de o viabilizar, quer do ponto de vista da colaboração quer da organização e revisão, acompanhando-o de perto nas tipografias (valendo, em muitos casos, a boa vontade do Sr. Anjos, tanto na Tipave / 35 / como na Lito-Águeda), garantindo também, dentro do possível, os suficientes apoios para não sobrecarregar os exíguos recursos da Associação.

Neste campo, o principal obreiro desta tarefa foi Henrique de Oliveira, labutando com o seu computador, sobretudo quando este não respondia às exigências do patrão. Nisto – o seu a seu dono – tudo tinha que ser reescrito em conformidade com as gráficas e só ele o fazia... assim se foram ensaiando escritos e formas de o fazer, com a convicção de que para garantir a sua unidade e o tempo regular de edição, se não devia abrir mão da tarefa de coordenação. De resto, quando ela se quebrou, os resultados não foram positivos.

A cada novo número, um novo alento se dava, pois podiam exibir-se "na praça pública", como troféu, preto no branco, estudos de diferentes autores (bem queridos ou não do sistema político) e diferentes temáticas, do natural ou do cultural, mas que todas traduziam os principais anseios na defesa do Património. Introduziu-se uma rubrica – o noticiário-intervenção – que colmatou algumas falhas de actas e de outros registos, mas em cada um dos boletins se impunha sempre um levantamento do que havia sido feito... quando se conseguia. De qualquer forma, vale a pena comparar o que se conseguia fazer ao editar o nº 1 com o que se fez como nº 17 ou 18...

Dos Boletins especiais, dois deles tiveram procura surpreendente e houve até um caso em que foi necessário fazer reedição.

Mais tarde, entendeu-se mandar encadernar as colecções de boletins em dois volumes, com encadernação timbrada pelo símbolo da ADERAV, evitando que se perdessem alguns boletins.

Duas outras publicações, como boletins, se fizeram, com muito agrado: a de O Postal Antigo de Aveiro e a de Homenagem a Armando Andrade. Aquela, pela sua especificidade, teve uma adesão imediata e esgotou quase com o fecho da exposição que a suportou, levando a que os alfarrabistas solicitassem aquela edição e a vendessem a preços loucos... e pagou bem o que nela se apostou! A do Armando Andrade foi na perspectiva dos apoios às exposições artísticas que se fizeram e igualmente paga pelas Câmaras de Aveiro e Ovar.

Assim, ao todo, se melhor quisermos, fizeram-se 20 boletins. Para o tempo... foi obra!

Enquanto isto, outras edições, de maior amplitude, se empreenderam, tais como: Aveiro – História e Arte (1984), )Os Ílhavos e os Murtoseiros na emigração Portuguesa (1984), Aveiro – Silhuetas do tempo que passa (1985), Mendes Leite (1987) e Capelas de Aveiro (1989).

Editaram-se 4 postais ilustrados e uma serigrafia de Aveiro antigo (1983), como se esculpiu um busto alusivo ao centenário de José Estêvão (1983), em grés. Enquanto tudo isto, criaram-se e editaram-se vários cartazes alusivos às exposições que se iam organizando e pequenas outras publicações para visitas guiadas.

Mais recentemente, sob a coordenação de Delfim Bismarck, actual presidente, foi lançado um novo formato e corpo de boletim, sem dúvida mais ousado – a II série, com o título "Patrimónios" que, prevendo-se ser semestral, tem mantido a tiragem anual. O nº 1 apareceu em 2001, o número 2, em 2002, o 3º em 2003 e este, o número 4, em 2004.
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7. De 25 anos de vida, em plena actividade... uma reflexão!

Na verdade, cumprem-se 25 anos de vida... Quem se atreveria a pensar, há uns anos atrás, que tal ia ser possível? E quantos não terão desejado, também, que tal não acontecesse, a avaliar pelas acusações que fizeram aos seus directores temporários ou às tomadas de posição assumiram face às situações que se apresentaram?

Mas a verdade é que a ADERAV, se justificava há 25 anos atrás, continua a justificar-se e, por certo, mais ainda do que ao tempo do seu nascimento.

Porém, importa dizer que só foi possível chegar aqui por um esforço colectivo de um punhado de verdadeiros resistentes e inconformados cidadãos, culturalmente conscientes das responsabilidades que sobre si recaem, enquanto cidadãos de corpo inteiro, de "antes quebrar que torcer"; por uma consciência sólida sobre o interesse dos nossos valores culturais (naturais ou construídos) e por uma fé arreigada de que são estes que nos alimentam o espírito e ajudam a construir em cada dia a nossa identidade e as nossas diferenças regionais num espaço cada vez mais alargado que é a Europa.

Por outro lado, para que a Associação se mantivesse viva, houve que fazer trabalho sério e continuado, nunca a fazer de conta que se fez. Por vezes, enfrentaram-se ameaças graves(63) e sofreram-se retaliações diversas, quando os poderes económicos e políticos não gostaram das intervenções... mas nada nos fez demover.

Fez-se tudo bem feito? Certamente nem tudo correu bem, houve uns períodos melhores que outros, que houve, por vezes, atritos pessoais dentro da própria instituição... mas também se construíram sólidas amizades no espírito generoso do aprender a amar as nossas coisas, equipas de trabalho que se apoiaram numa construção solidária, numa partilha de saberes muito ampla, como escola de Humanidade pois que, aqui, ninguém tirou o lugar a ninguém pela simples razão de que não havia lugares.

ADERAV é uma organização de pessoas com defeitos e virtudes, ainda que voluntariamente participantes com o objectivo de contribuir para que a Região tenha um desenvolvimento mais harmonioso, respeitando os valores herdados e, se possível, aprendendo a transmiti-los às gerações mais novas nas melhores condições, por amor aos pais e avós, isto é, à memória colectiva.

Em todo este esforço que foi e continuará a ser grande, lembrar-se-ão associados que, ao longo do percurso, foram deixando a Associação, por vezes com exemplos de luta que muito ajudaram nos grandes combates e nos momentos menos bons. Eduardo Cerqueira, João Sarabando, Aristides Hall, João Ribeiro, Cândido Teles, João Afonso Cristo ... estão entre os mais recordados!

Por tudo isto, ADERAV vai continuar os mesmos objectivos gerais. Celebrar 25 anos de vida não foi, nem nunca se imaginaria tal, um objectivo da associação. Mas, 25 anos são uma boa razão para mais reflectir e, certamente, também para festejar.
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* Presidente fundador da ADERAV

1 – Ficou estabelecido, no final da primavera de 76, entre mais de uma dúzia de "aderentes", que a formalização do grupo se faria no inicio do novo ano lectivo, o ano de 1976/77.

2 – A circular dizia: Sob a orientação de responsáveis da Direcção Geral do Património Cultural (Sec. Est. Da Cultura), vai realizar-se em Aveiro em 8 e 9 de Junho, no Museu (convento de Santa Joana Princesa). um seminário subordinado ao tema – "A região de Aveiro: A Comunidade e o Património Cultural", com a seguinte ordem de trabalhos: dia 8-21h – Encontro com os Professores da região de Aveiro – "Escola e Comunidade"; dia 9 – 9.30h – Experiências realizadas em Viseu, Coimbra e Aveiro; 11.30h – Visita Guiada ao Museu, pelo seu Director; 16h – Análise dos planos de futuro; 21h – Sessão aberta à população.

Desta circular deve dar-se conhecimento a todos os professores, informando que a participação nestes trabalhos é considerada serviço oficial e reveste particular interesse para os docentes de História, Português e Ed. Visual que se sintam verdadeiramente empenhados na defesa do Património Cultural. – Aveiro, 22 de Maio de 1978, A Comissão Executiva (as. Amaro Neves).

3 – Esta colecção viria a ser, posteriormente, adquirida pela Câmara Municipal.

4 – Anos mais tarde, o Director penitenciava-se, alegando que tinha recebido informação de que se tratava de organização politizada, com objectivos pouco claros. Afinal, reconhecia... éramos boa gente!

Importará, para explicar esta reacção, identificá-la com um "projecto" que se dizia existir, liderado pelo Dr. David Cristo e outras eventuais figuras regionais de projecção, chamado "Núcleo de Estudos Aveirenses" – que teria, diziam, os mesmos objectivos da ADERAV, projecto para que também fui, mais tarde, convidado, mas de que nunca se viu obra realizada, salvo uma conferência e uma edição de um estudo, com aquele patrocínio.

5 – A relação dos nomes mais participantes consta em "Como nasceu o projecto", Boletim, n° 17, 1989.

6 – Para a organização do seminário contei, sobretudo, com Américo Figueira e Henrique Oliveira, cabendo a este secretariar, a quem coube também a redacção final dos documentos a enviar para a Direcção Geral do Património.

7 – É curioso ler, à distância do tempo, o Editorial do Boletim n° 1, escrito em 1979, a justificar a razão de ser da Associação.

8 – Foi celebrada na Secretaria Notarial de Aveiro, perante o notário Dr. Fernando dos Santos Manata, com os seguintes outorgantes: primeiro, Amaro Ferreira Neves; segundo, Esmeralda Augusta Pereira Barata Figueira; terceiro, João Afonso Rebocho de Albuquerque Cristo; quarto, Júlio Domingos Pedrosa da Luz de Jesus; quinto, Óscar Augusto Mendes da Graça; sexto, Rogério Augusto Neto Barroca.

9 – A Direcção – os corpos sociais – era constituída por Amaro Neves (presidente), Américo B. Figueira (vice presidente) e os vogais Rogério Barroca, Esmeralda B. Figueira, Hélio R. Terrível, José Figueiredo da Silva e M. Gabriela Gonçalves; As. Geral: Deniz Padeiro, João Marins Ribeiro e Júlio Pedrosa; Cons. Fiscal: Óscar Graça, Henrique de Oliveira e João Afonso Cristo.

10 – As reuniões decorriam, como antes (salvo as do grupo mais alargado, que se faziam na Escola Secundária Homem Cristo), na cave da minha casa, na Rua Mário Sacramento, 77 3.º - D., assim continuando até 1982.

11 – Para pormenores do programa, consulte-se o nº 1 do Boletim da ADERAV.

12 – Na reunião com o edil, Dr. Girão Pereira, estiveram Amaro Neves, Rogério Barroca e Óscar Graça, sendo a proposta de defesa da Fábrica Campos apresentada por este. De notar a preocupação com a constituição desta delegação: o presidente da ADERAV e dois arquitectos.

13 – Dessa memória se registaram os pontos principais, no "noticiário-intervenção" do Boletim nº 1

14 – Livro de Actas. Acta de 9 de Julho de 1979.

(15) – Amaro Neves foi reeleito como presidente, Deniz Padeiro presidia à Assembleia Geral e Renato Araújo ao Conselho Fiscal.

(16) –  "Noticiário/intervenção", Boletim n° 2, Aveiro,1980.

(17) – Acta nº 18, de 21 de Abril de 1980.

(18) – Registe-se que esta "começou por funcionar numa sede provisória posta ao dispor da Associação por Amaro Neves, passou depois para uma sala (aliás bem desconfortável) cedida pela C. M. de Aveiro, sita na rua Combatentes da Grande Guerra. Tendo a Câmara procedido à venda do imóvel foi a Direcção avisada de que deveria proceder à retirada de toda a documentação [...] Entretanto, para funcionar, como terceira sede foi cedida uma sala em Aradas, pelo associado Artur Jorge Almeida" (Boletim n.º 5, Aveiro,1981).

(19) – Aveiro estava a viver momentos agitados pela pretensão, já autorizada pela Câmara Municipal, de construir o "Edifício Rumo", no centro do Côjo. A isto se opunha, tenazmente, a ADERAV, pelas implicações que daí adviriam... o que levou alguns elementos, numa atitude audaz, a afixarem cartazes, noite dentro, com vasos de flores, no sitio onde outros iriam lançar, no dia seguinte, a 1ª pedra da dita obra. Dirigiu esta acção Aristides Hall e Énio Semedo... com outros, cujos nomes havia que defender.

(20) – A constituição dos Corpos Sociais está no Boletim nº 6, Aveiro, 1982. A As. Geral era presidida por Amaro Neves e como vice-presidente da Direcção estava Énio Semedo.

(21) – A comunicação foi a cargo de Amaro Neves.

(22) – De há meses que se falava, no executivo municipal, na necessidade de haver um boletim informativo, de carácter cultural. Simplesmente, era necessário que alguém o fizesse... e não surgia o boletim! Então, consultada a Comissão Organizadora e a Direcção da ADERAV, entendeu-se que o bem geral deve estar acima do particular e foi oferecido ao vereador Custódio Ramos todo o "número especial" preparado para ser Boletim ADERAV, nascendo, assim, o nº 1 do "Boletim Municipal de Aveiro".

(23) – Saliente-se que, nas recolhas efectuadas, vários aveirenses (que não eram associados da ADERAV) como João Sarabando, Dr. Moreira Lopes, Gervásio e Carlos Aleluia... confiaram à comissão, sem reserva nem qualquer contrapartida, peças artísticas de reconhecido valor, das suas colecções. Isto mostra a credibilidade que ADERAV, pelas suas acções, havia conquistado na imagem pública.

(24) – O Dr. Carlos Alegre e outros, membros da ADERAV, continuaram a desenvolver serviços comuns.

(25) – Consulte-se "Noticiário-Intervenção", Boletim nº 9. 1983.

(26) –Esta referência, positiva, contrasta com a ausência de actas de Março de 1981 a Maio de 1983.

(27) – Acta nº 40, de 18 de Novembro, 1983.

(28) – "Noticiário-Intervenção", Boletim nº 11, Maio de 1984. De facto, ainda antes do verão desse ano, o referido catálogo estava esgotado. A respectiva comissão organizadora foi constituída por Amaro Neves, António J. Cruz Mendes, Artur Jorge Almeida, Casimiro Ferreira, Henrique de Oliveira, João Afonso Cristo, João de Meio Freitas, Lourenço Santos, Manuela Salomé, M. Helena Lucas e Rogério Barroca.

(29) – Idem, Ibidem.

(30) – A Comissão Organizadora foi constituída por Amaro Neves, Énio Semedo e Cândido Teles.

(31) – Em Boletim nº 14, 1985, apresentam-se as conclusões e uma memória da 21 colectividades presentes.

(32) – A explicação vem no "Notícíário-Intervenção" do Boletim nº 14, considerando os primeiramente eleitos que os sócios presentes na eleição tinham sido poucos em relação ao total do colectivo.

(33) – Acta nº 12, de 10 de Março de 1986.

(34) – A Comissão Organizadora foi constituída por Amaro Neves, Cândido Teles e Énio Semedo.

(35) – Especialmente da "comissão" Amaro Neves, Énio Semedo e Artur Jorge Almeida.

(36) – De verdade, este Boletim não foi feito pelo "corpo redactorial", surgindo problemas diversos que o tempo foi ajudando a resolver.

(37) – Foi grande a sua aceitação, beneficiando das boas relações de amizade do Sr. Luís Costa, sempre disponível para promover esta região e os seus valores culturais.

(38) – Como se depreende, nem sempre foi tudo tão cordial quanto se desejava, mas os objectivos fundamentais prevaleciam para além dos desacertos de momento.

(39) – Na Acta nº 16, de 29 de Julho de 1986, a Direcção congratulou-se pelo êxito deste certame, "cuja comissão integrou os seguintes associados: Cândido Teles, Amaro neves, Énio Semedo, João Gaspar e Paulo Rebocho".

(40) – Por mercê da aquisição do Semanário Litoral (Amaro Neves e Armando França), a partir de 1985, os textos e actividades da ADERAV passaram a ter ali particular destaque, ao mesmo tempo que eram abordadas com frequência as problemáticas globais da Defesa do Património Natural e Cultural da Região de Aveiro. Aliás, em Acta de 18 de Fev., a Direcção da ADERAV propõe um concurso sobre Património Cultural, a ter efeito nas páginas do Semanário Litoral.

(41) – Énio Semedo e Artur Jorge Almeida.

(42) – Consta como aprovada a edição, na última reunião da Direcção anterior. Veja-se Boletim nº 17. ADERAV, Aveiro, 1989. Apesar de muito sucinto sobre a fundação, remetemos para esse trabalho o leitor, evitando repetir alguns apontamentos então produzidos.

(43) – "Noticiário-Intervenção", Boletim nº 17, Agosto de 1989.

(44) – A organização e revisão dos textos foi feita por Amaro Neves.

(45) – No final de Novembro, foi decidido ofertar a esta Câmara Municipal «175 volumes de obras editadas pela ADERAV, para serem distribuídas a escolas e associações culturais», encarregando-se da entrega a associada M. José Ouellet ("Noticiário", Boletim nº 18, Aveiro, Nov. de 1990).

(46) – Dessa comissão fizeram parte os associados (por ordem alfabética): Amaro Neves, Artur Fino, Cândido Teles, Emanuel Cunha, Énio Semedo, Fernando J. Morgado, Jeremias Bandarra, João G. Gaspar e Vasco Branco, sobrando apenas dois outras elementos: Faria Frasco e Henrique Diz.

(47) – Boletim nº 18.

(48) – Idem.

(49) – Edição de 20-07-1990.

(50) – Por ordem alfabética: Amaro Neves, Artur Fino, Cândido Teles, Emanuel Cunha, Énio Semedo, Jeremias Bandarra, João Gaspar e Vasco Branco. Aliás, estes elementos mantiveram-se igualmente, na realização da III Bienal, em 1993, com repetido êxito. As seguintes edições foram sendo, cada vez mais, assumidas pelos serviços municipais (ainda que com intervenções pontuais dos associados, como, por exemplo, as sessões de abertura e de intervenção sobre a História da Cerâmica na região), institucionalizando o certame.

(51) – Catálogo da II Bienal Internacional de Cerâmica Artística – Aveiro 91, C.M. Aveiro, 1991. Os catálogos foram da concepção do artista gráfico Artur Fino, com a colaboração de Jeremias Bandarra.

(52) – Era composta por Maria João Fernandes "de quem apresentou currículo", Manuel Rodrigues, Manuel Barreira, Cardoso Ferreira, António Sérgio Azeredo, M. Gabriela Faria, José Maria. A DI" Maria João Fernandes, não residindo em A veiro mas interessada no seu estudo por raizes familiares, havia-se inteirado da situação da ADERAV e propunha-se, com alguns apoios, faze-la renascer, face aos reconhecidos bons serviços que por esta associação se haviam prestado, em vez de pessoalmente se estarem a criar organismos paralelos... e, nisto, colheu boas vontades, sendo primeira preocupação da presidente relançar o debate sobre a "Arte Nova", a partir de uma publicação que, sobre este tema, se estava a ultimar.

(53) – Mantiveram-se por todo o mandato (até 2002), neste órgão, os seguintes elementos: Amara Neves, António Sérgio Azeredo, Delfim Bismarck, Pedro Silva ...

(54) – A organização deste evento foi partilhada entre a Câmara Municipal e ADERAV, com a participação directa de vários associados como palestrantes.

(55) – O mais visível foi protagonizado (certamente por questões pessoais contra a presidente e/ou Direcção para que fora eleito) no Campeão das Províncias de 11 de Fev. de 1999 e seguintes, obrigando o presidente da As. Geral, nas edições sequentes, a defender a Associação, enquanto a presidente prestava os necessários esclarecimentos.

(56) –Livro de Actas. Acta nº 44.

(57) – A listagem destas propostas encontra-se publicada em Patrimónios, nº 1, Aveiro, 2001, pg.153-157.

(58) – A apresentação teve lugar a 5 de Maio, com vasto auditório, no Museu da República, aproveitando-se para comemorar o 22º aniversário da associação.

(59) – Revista Patrimónios, nº 2, 11 série, Aveiro, 2002, pg. 159.

(60) – O texto está inserto na revista Patrimónios, nº 3, Aveiro, 2003, pg. 151.

(61) – Idem, pg 154.

(62) – A relação consta de Patrimónios. nº 3. Aveiro, 2003. pg. 155-158.

(63) – Casos relacionados com a construção do "Edifício Rumo", projectado para o centro de Aveiro, no local onde se encontra o Forum...


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