Sónia Filipe 150
"Não há territórios em crise,
há somente territórios sem projecto"
(BENKO, 2001: 37).
Nota prévia
O presente trabalho corresponde grosso modo a um
exercício teórico,
académico, elaborado no decurso da parte escolar do
Mestrado em Arqueologia Regional leccionado no
Instituto de Arqueologia da Faculdade de Letras da
Universidade de Coimbra, no âmbito do Seminário de
Estratégias de Desenvolvimento
para as Beiras, o que determinou a sua estrutura
organizativa bem como os conteúdos.
Não tendo nós por formação académica base a
Economia, esta reflexão não pode ter a pretensão de
indicar um modelo económico a seguir, mas antes
alertar para algumas questões que julgamos
pertinentes no âmbito da gestão sustentada dos
recursos e do território pelas comunidades locais.
1. Introdução
Tendo por base o território da Região Centro
–
tradicionalmente denominado por Beiras –, o presente
trabalho tem por objectivo caracterizar uma
sub-região deste largo espaço geográfico: a área (NUTE
III) do Baixo Vouga.
Desta forma, depois de uma breve caracterização do
território e dos recursos da Região Centro,
passaremos num segundo momento para a caracterização
do Baixo Vouga – faixa territorial que se espraie do
litoral oceânico em direcção ao interior –,
procurando reconhecer-lhe os traços gerais que lhe
conferem uma mesma identidade, bem como aqueles que
lhe marcam as diferenças. Só desta forma poderemos
depois (re)conhecer os valores patrimoniais
(materiais e imateriais) passíveis de ser
potenciados economicamente para, desta forma
conduzir a políticas/acções/iniciativas je
desenvolvimento local.
Uma vez que o objectivo fundamental desta reflexão é
fornecer ferramentas que nos permitam desenvolver
estratégias para desenvolver
sítios/lugares/paisagens a partir do seu valor
patrimonial, nomeadamente o arqueológico, só depois
de um reconhecimento prévio does) espaço(s) onde nos
movimentamos, poderemos passar à enumeração do
património (edificado, no subsolo e imaterial) para,
então, reflectir ;obre a estratégia de
desenvolvimento adoptada pelo Plano de
Desenvolvimento regional, especificamente quanto à
gestão do conjunto patrimonial reconhecido e ao :eu
aproveitamento como factor de desenvolvimento para a
economia desta região.
/
136 /
A zona do Baixo Vouga é pautada por uma grande
unidade conferida pelo
mar/linha de costa, mas que, ao mesmo tempo
incorpora uma paisagem interior de
altura, o que vai condicionar, pelas inerentes
diferenças, uma análise integral do
potencial patrimonial que possui. Por isso, optámos
por nos centrarmos na área
constituída pela zona urbana de Aveiro – Ílhavo.
Esta escolha tem por base uma
identidade fornecida por indicadores comuns. O
Oceano, o sistema lagunar da Ria de Aveiro, o rio Vouga, as matérias-primas
disponíveis, as actividades extractivas e
transformadoras ainda hoje praticadas, mas fruto de
um saber acumulado.
Pareceu-nos reconhecer uma base territorial sólida,
alicerçada por actividades humanas seculares que
permitem a adopção de iniciativas baseadas na defesa
e valorização de um património vasto e
diversificado. Destacam-se as actividades
relacionadas com a linha de costa oceânica: a pesca
(costeira e longínqua) e a
construção naval; as que dependem directamente do
peculiar sistema lagunar,
principalmente a extracção de sal; e as que,
recolhendo as facilidades de
navegabilidade dos inúmeros canais existentes e a
proximidade das matérias-primas se
multiplicaram, desde pelo menos o período romano.
Encontram-se neste último caso essencialmente as
múltiplas unidades de fabrico de cerâmica, desde a
cerâmica
estrutural (de construção), à utilitária, à produção
de faianças e porcelanas.
A linha de costa, ou melhor, a alteração da mesma
até momentos muito recentes em termos históricos,
condicionou a evolução da ocupação humana deste
espaço. Talvez este factor justifique o número
reduzido de estações/sítios
arqueológicos identificados até ao momento. Excepção
seja feita à arqueologia
subaquática.
Tentámos na parte final do trabalho perceber até que
ponto estes contributos
específicos, ligados à arqueologia e ao património,
têm sido valorizados e utilizados como estratégia de
desenvolvimento para esta região. Neste sentido,
apontam-se
algumas conclusões e deixam-se algumas sugestões.
2. Caracterização sumária da Região Centro
Herdeira de um vasto território tradicionalmente
denominado por Província da
Beira ou território das Beiras151, a Região Centro
converte-se naturalmente em tema de estudo no âmbito
deste Seminário.
A Região Centro é a unidade de gestão do território
que ocupa uma posição
central no país, entre o Norte e o Sul, limitada
pelo Atlântico a poente mas estendendo-se até ao interior da Península para leste.
Precisamente pela posição que ocupa,
constitui um "espaço charneira" e de articulação em
termos físicos, económicos,
sociais e culturais (Gaspar, 2002: 5).
Território de excelência, ocupa 23 668 km2 onde se
concentram 17,2% da
população nacional. Este espaço é feito de
realidades distintas mas complementares. A
geologia e a geomorfologia concretizam a primeira
grande clivagem neste território. A
/
137 /
uma zona litoral de natureza sedimentar,
contrapõe-se um interior mesetanho, de onde se ergue
toda uma cortina de importantes acidentes
orográficos de altura, com destaque para a
Cordilheira Central (onde se posiciona a Serra da
Estrela).
Destas diferenças físicas, moldadas pela acção
humana ao longo de milénios, resulta uma
multiplicidade de paisagens, desde longos prados
junto à ria de Aveiro, encostas vinhateiras
cuidadosamente cuidadas, áreas de prática de
agricultura intensiva "dentro" dos vastos pinhais
das Gândaras e da península das Gafanhas, a região
do Dão com a sua paisagem vinícola, a agricultura
florescente da Cova da Beira, as vastas áreas de
pinhal do Pinhal Interior (GASPAR, 1993: 70), entre
outras, que constituem uma enorme mais valia
paisagística de enorme valor turístico.
A região Centro (NUTE II) é composta por 10 NUTE
III,
a saber: Baixo Vouga (fruto de análise posterior),
Baixo Mondego, Dão – Lafões, Pinhal Litoral, Pinhal
Interior Norte, Pinhal Interior Sul, Serra das
Estrela, Beira interior Norte, Beira Interior Sul e
Cova da Beira. Neste espaço estruturam-se 78
municípios.
Esta região apresenta um forte desequilíbrio
demográfico entre litoral e
interior, sendo que o primeiro é populoso e
urbanizado, e o segundo possui uma ocupação humana
menos densa. Esta população encontra-se distribuída
segundo um modelo de povoamento de onde se destacam
oito cidades que concentram na sua proximidade cerca
de 75% do total da população da Região Centro
(Ministério do Planeamento, 1999: I-164).
Não encontramos na Região Centro grandes cidades. No
entanto, toda esta área é marcada pela presença de
um conjunto de sistemas urbanos152 que articulam e
estruturam territórios (sempre que em raios de
acesso automóvel até meia hora se concentrem 100
000, 150 000 ou mais habitantes). "Trata-se de
"constelações" de cidades e vilas que podem extrair
novas oportunidades das suas capacidades de
interacção e da relação com os espaços rurais que
estruturam" (Ministério do
Planeamento, 1999: I-169). Serão estes sistemas
urbanos que se tomam efectivamente
relevantes para a estruturação do território
regional. E são eles também que explicam o porquê da
não existência de uma capital desta região, papel
tradicionalmente atribuído a Coimbra, mas sem que
esta cidade o tenha assumido explicitamente. Este
factor implica ainda que se assuma a necessidade de
criar uma estratégia especificamente para esta
região, que possui um sistema de organização
territorial polinucleado.
Este sistema urbano possui virtual idades que não
devem ser descuradas, uma vez que se baseia em
"especializações funcionais" que se complementam e
articulam a nível regional (GASPAR, 1993: 73). São
estas cidades de dimensão média que tomam
papel de intermediários entre o rural e o urbano,
revitalizando económica, demográfica e socialmente
os espaços rurais que articulam, "representando os
agentes mais dinâmicos das novas relações de
parceria entre o campo e a cidade" (GASPAR, 2002:
9), tomando-se num trunfo para o desenvolvimento da
Região Centro.
Para além dos territórios estruturados pelos eixos
de desenvolvimento proporcionados pelos sistemas
urbanos, esta região possui espaços limítrofes, que
/
138 /
correm o risco de vir a ser marginalizados e/ou
excluídos das políticas de desenvolvimento
territorial que visem a transformação da região.
Em termos industriais dominam as pequenas e médias
empresas, muito diversificadas em termos sectoriais,
predominando a metalomecânica ligeira, material de
transporte, o sector têxtil, a celulose e madeiras,
o sector agro-alimentar e uma série de ramos
minerais não metálicos. Particular importância deve
ser atribuída à indústria de moldes para plásticos,
pela qualidade dos serviços prestados e pela
projecção, nacional e internacional que esta
actividade adquiriu.
A actividade agrícola detém ainda um peso
importante, estando na base da economia familiar,
realizada muitas vezes em complementaridade com
postos de trabalho no sector secundário ou
terciário.
Este território de excelência possui 9 instituições
do ensino superior que podem estruturar a
necessidade de desenvolver uma "cultura de inovação
(tecnológica, cultural, social)", de forma a
valorizar os recursos humanos.
Encontramo-nos assim perante uma região rica e
diversificada, só muito
sumariamente caracterizada, com grandes
potencialidades de desenvolvimento endógeno,
precisamente se explorar as suas diversidades de
forma complementar e integrada, apostando no
desenvolvimento de uma cultura de exigência e
qualidade,
potenciando os recursos das áreas de baixa densidade
(nomeadamente o património e a paisagem),
consolidando os sistemas urbanos territoriais, peças
chave da estratégia de desenvolvimento adoptada e a
adoptar para esta região. O vasto património
edificado, no subsolo, material (os comeres, os
beberes, os trajes), e imaterial (aquele que faz
parte da estrutura identitária das população: o
sentimento de pertença, os valores, as tradições, as
crenças), são pontos fortes a favor do
desenvolvimento sustentado desta região.
Passamos agora à análise de uma sub-região deste
espaço, o Baixo Vouga.
3. Um caso de estudo: o Baixo Vouga
3.1 Caracterização do território analisado: conhecer
para valorizar
O Baixo Vouga corresponde a um território
ligeiramente triangular que, desde
Ovar se estende ao longo da costa atlântica até
Vagos atingindo o seu vértice interior na região de
Sever do Vouga. A esta área é conferida uma certa
identidade pela
presença de uma das maiores bacias hidrográficas
deste região: a do Vouga, mais
concretamente o curso inferior deste rio. De
importância fundamental neste caso é o peculiar
acidente físico que tem a sua expressão máxima em
Aveiro (que lhe dá o nome), e que se denomina Ria de
Aveiro. Trata-se de um sistema intrincado de canais
de água, com 45 km de extensão, de vários afluentes
subsidiários do rio Vouga que também aqui vai
desaguar, que entram em contacto com o mar.
O Baixo Vouga é constituído por 12 municípios:
Águeda, Albergaria-a-Velha, Anadia, Aveiro,
Estarreja, Ílhavo, Mealhada, Murtosa, Oliveira do
Bairro, Ovar, Sever do Vouga e Vagos. Podemos
apresentar muito sumariamente estes concelhos para
depois incidirmos a nossa análise na área sub-regional escolhida.
/
139 /
Águeda possui 20 freguesias no seu concelho,
ocupando 333,5 km2 de área
ocupados, em 2001, por 49016 habitantes (CCRC, 2001: 92).
Águeda é um concelho marcado por uma
industrialização difusa e uma
ocupação urbana também algo difusa. O sector
secundário dá o mote ao
desenvolvimento económico local, com particular
incidência para a indústria
metalomecânica (54, 7%), mas com os sectores da
cerâmica e dos têxteis a possuir
algum peso relativo. É conhecida como a capital da
"indústria das duas rodas" (fabrico
de veículos de duas rodas motorizados e não
motorizados).
Em termos culturais, deveria aproveitar a mais valia
oferecida pela tradição na
"indústria das duas rodas", revitalizando espaços
industriais que não cumpram mais
essa função e/ou promovendo acções específicas de
reabilitação dessa actividade.
O concelho de Águeda convive com o binómio da
urbanidade/ruralidade dentro do seu território,
devendo potenciar os espaços de baixa densidade. O
recurso ao
seu património edificado, a criação de circuitos
turísticos que visem conhecer o seu
património milenar pode ser uma boa opção, já que
muitos dos sítios arqueológicos
identificados se encontram em áreas periféricas. O
expoente máximo de testemunho de
ocupação humana no passado é, em termos
arqueológicos, o sítio do Cabeço do Vouga.
Este espaço com ocupação proto-histórica, romana e
medieval, tem sido apontado
como possível localização da civitas de Talabriga,
referida nas fontes clássicas. No
entanto, hoje aponta-se como mais provável que este
sítio correspondesse a um vicus
(aglomerado urbano secundário) importante ao longo
da via Olisipo-Bracara,
controlando um importante ponto de passagem do Vouga
e do MarneI.
Na Idade Média uma comunidade terá tentado
estabelecer-se neste local,
aparecendo na documentação como civitas MarneI.
Águeda aparece ainda num
itinerário do período islâmico (o texto refere a
alcaria de Águeda). Terá sido a sua
localização geográfica, a sua excelente posição
entre vários eixos de comunicação que
potenciaram a fixação humana neste local desde, pelo
menos, o período romano. O
Cabeço do Vouga parece-nos ser aquele que melhores
condições oferece em termos de
musealização e integração num circuito turístico,
integrando este pedaço do passado
colectivo num percurso de exploração da natureza,
por exemplo.
Albergaria-a-Velha ocupa 156 km2 de área, onde se
distribuem 8 freguesias
habitadas por 24612 pessoas. Este concelho tem uma
forte vertente industrial,
essencialmente pela presença de indústrias ligadas à
metalomecânica e à fundição, às
confecções e à transformação de madeiras. O sector
terciário encontra-se em expansão
neste concelho onde o sector primário quase não tem
expressão (CCRC, 2001: 96).
Albergaria possui vários imóveis classificados pelo
IPPAR, nomeadamente a
mamoa de Açores que atesta a ocupação humana nesta
zona desde o IV milénio a.C.
Falar de património arqueológico no concelho de
Albergaria-a-Velha é falar
incontornavelmente da estação arqueológica do
Cristelo da Branca, e da sua
correspondência ou não com a cidade romana de
Talabriga, sede da gestão territorial
de um longo espaço entre o Douro e o Vouga em
período pré-romano e Romano
altoimperial.
Também neste concelho existem ainda outros
testemunhos da ocupação
humana no passado, nomeadamente: as mamo as do Taco
1, 2 e 3 e a anta de Arrotas
/
140 /
referidas em trabalho de Leite de Vasconcelos sobre
Albergaria (1912); o monte de S. Julião que
corresponderá a um povoado proto-histórico rodeado
por um amuralhamento, cuja cronologia aferida pelo
espólio, se poderá situar no Bronze Pleno / Bronze
Final (c.1400/800 a. C.). Neste local foi ainda
assinalada a presença de um monumento megalítico de
cronologia anterior.
Infelizmente, os sítios arqueológicos reconhecidos e
inventariados não se encontram actualmente em
condições que permitam a criação de um circuito
visitável.
Importante seria identificar e escavar, segundo
metodologia arqueológica própria (WELLER, 2002), as
salinas de Alquerubim referidas em documentação
medieval (sec. XI)153. Estas poderiam depois ser
integradas depois num circuito turístico mais vasto, transmunicipal, que tivesse por mote o conhecimento
da evolução da exploração do sal ao longo dos tempos
históricos. Da mesma forma poderíamos
aproveitar a presença destas salinas para mostrar a
fragilidade da linha de costa e a interacção
provocada até à estabilização da abertura para o mar
deste sistema lagunar.
Anadia tem a seu favor a posição geográfica, entre
Aveiro e Coimbra, próxima de eixos ferro e
rodoviários fundamentais. Mercê destas condições,
possui neste momento um tecido industrial
diversificado, assumindo-se como importante centro
industrial e de serviços. Tem por actividade
tradicional a vitícola, uma vez que se encontra na
Região Demarcada da Bairrada. Estas actividades são
praticadas entre as 15 freguesias que este concelho
enquadra, em 217,1 km2 de área. Possuía em 2001
31574 habitantes (CCRC, 2001: 100).
A notícia de testemunhos do passado é algo difusa e
fortuita, o que condiciona neste momento a adopção
de uma política de gestão deste património e sua
integração em acções mais vastas, com repercussões
positivas no desenvolvimento deste território.
Aveiro é um concelho que muito deve às riquezas
naturais da Ria; a pesca e a extracção do sal
constituíram durante séculos as suas actividades
económicas de excelência. Ao mesmo tempo foi-se
desenvolvendo a indústria. A Ria de Aveiro
constituiu, até ao advento dos caminhos-de-ferro,
uma autêntica auto-estrada de mercadorias, pessoas,
ideias e valores.
Actualmente a dependência da ria vai-se diluindo
cada vez mais. A implantação da Universidade nesta
cidade foi importantíssima, compensando a depressão
verificada nos sectores tradicionais de actividade.
Esta tomou-se receptora
de novos postos de trabalho, criou novos consumos e
forma recursos humanos cada vez mais qualificados. A
própria cidade soube evoluir e dinamizar o sector
terciário tomando-se num grande centro prestador de
serviços na Região Centro. Tudo isto se desenvolve
em 199,8 km2 de área, onde habitam 73136 residentes
(CCRC, 2001: 104).
Em termos culturais e patrimoniais, este concelho
será alvo de uma análise mais pormenorizada no sub
capítulo seguinte.
/
141 /
Estarreja é um concelho com 108,1 km2 de área, 7
freguesias e registo de
28217 habitantes em 2001 (CCRC, 2001: 108). É um
importante centro industrial, cujo
desenvolvimento se deve essencialmente à sua posição
geográfica, acessibilidade e
concentração demo gráfica. A proximidade de Aveiro
é fundamental na bolsa de
emprego de Estarreja.
O Instituto Português de Património Arquitectónico
classificou até ao
momento quatro edifícios dos quais de destaca a
casa-museu de Egas Moniz e sua
propriedade. Em termos arqueológicos só de
detectaram achados dispersos, embora
esta zona fizesse parte do longo território
estruturado pela via romana que, de Braga
descia até Lisboa, em tempos romanos. Este eixo de
comunicação continuou activo
pelos períodos históricos sequentes e ainda hoje é
sobre ele que parcialmente se
estrutura um eixo rodoviário fundamental (EN1), e
parte da linha ferroviária do Norte.
No território hoje pertencente ao concelho de
Estarreja existiu uma das
paróquias suevo-visigóticas do nosso território (séc.
V/VII): a paróquia de Antuanne,
pertencente à diocese de Conimbria e seu limite
norte. A sua localização exacta carece
de comprovação arqueológica, mas em nosso entender,
poderá localizar-se numa
pequena povoação cujo topónimo é precisamente Antuã,
no sopé da Senhora do Monte,
às portas da cidade de Estarreja. A comprovar-se
esta localização seria de uma enorme
mais valia para a criação de uma estratégia de
desenvolvimento voltada para a
valorização do património arqueológico-cultural
deste concelho.
O concelho de Ílhavo possui só 4 freguesias, ocupa
75,1 km2 e 37103
habitantes (CCRC, 2001: 112). Caracterizar este
concelho é falar da sua tradição
marítima, tanto na pesca costeira como na lida do
mar, especialmente a pesca do
bacalhau. Actualmente o seu tecido produtivo assenta
nos sectores secundário e terciário, com especial
referência para o turismo de sol e mar que este
concelho
"vende" a cada época balnear. É de destacar as
indústrias ligadas ao sector da
cerâmica, especialmente a Vista Alegre, e a produção
de maquinaria.
Também este concelho integrará a análise mais
pormenorizada realizada no
próximo ponto desta reflexão.
A norte de Coimbra, atravessado pelo IP1, o
concelho da Mealhada, com 8
freguesias, ocupando 111,1 km2 habitados por 20763
pessoas (CCRC, 2001: 116). É na
qualidade dos seus produtos tradicionais, aliado à
riqueza da sua gastronomia que este
concelho possui os seus maiores trunfos. É
reconhecido o seu vinho bem como o leitão
à moda da Bairrada. A este sector junta-se, em
termos de dinamização económica, as
indústrias ligadas ao sector da alimentação e
bebidas e dos minerais não metálicos.
Território simultaneamente urbano e rural, o
concelho da Mealhada possui os
vestígios de um dos primeiros mosteiros do nosso
território, anterior à nacionalidade
(que, em conjunto com o mosteiro do Lorvão possuía a
maior parte das propriedades
localizadas entre o Douro e o Tejo): o mosteiro da Vacariça. Infelizmente, este
património não tem sido alvo do devido interesse
pelas entidades locais e não se
encontra devidamente estudado nem preservado. Desta
forma, inviabiliza-se o devido e
merecido, retorno, quer às populações locais, quer ao
transeunte que venha descobrir e
usufruir das riquezas naturais e paisagísticas que o
concelho possui. Neste concelho
detecta-se ainda a presença de quatro estações ao ar
livre (Pré-história) – Ferraria,
/
142 /
Fonte Fria 1 e 2 e Lajes/Ventosa do Bairro; um
povoado no Alto da Ventosa, e, do período romano,
dois marcos mi1iários (Leira Grande e Mea1hada), que
testemunham a passagem da via romana de ligação
entre Lisboa e Braga, uma villa, um santuário e um
vicus (villa romana da Vimieira – cidade das Areias,
Casal Comba e Igreja Velha respectivamente). No
entanto este vasto património, que testemunha uma
ampla diacronia de ocupação deste espaço, não se
encontra escavado sistematicamente, o que
impossibilita a sua usufruição.
A Mealhada detém ainda todo um conjunto paisagístico
e construído de grande qualidade, verdadeiro símbolo
de referência para toda a região: o Hotel Palace do
Buçaco, sua mata envolvente, bem como todas as
capelas e ermidas que nela se mantém, em conjunto
com o Convento de Santa Cruz do Buçaco (conjunto
monumental classificado pelo IPPAR). Este complexo
de excelência é um verdadeiro ex-libris da região.
O concelho da Murtosa vive essencialmente do turismo
balnear e das paisagens oferecidas pela Ria de
Aveiro. Em 73,7 km2 e com registo de 9391 habitantes
em 2001, distribuem-se 4 freguesias (CCRC, 2001:
120) cuja história se confunde com as histórias
ligadas aos pescadores e à pesca, ao mar e à Ria.
Logicamente, a actividade industrial deste concelho
está intimamente ligado ao que ficou exposto,
nomeadamente pela presença de indústrias
conserveiras e de transformação de produtos
agrícolas.
Oliveira do Bairro é um concelho que, tal como a
Mealhada e Anadia, se encontra inserido na Região
demarcada dos vinhos da Bairrada, daí que a base
económica do concelho assente na cultura da vinha e
na produção e distribuição do vinho. Os sectores de
actividade secundário e terciário têm vindo a tomar
terreno, até então principalmente primário, mais
concretamente a agricultura. A economia concelhia
cada vez se encontra mais integrada no contexto do
eixo urbano – industrial Aveiro – Águeda. Este
concelho tem 6 freguesias, 21216 habitantes e ocupa
87,3 km2 da superficie nacional (CCRC, 2001: 124).
Segundo a base de dados do Instituto Português de
Arqueologia, em termos de património arqueológico
possui um povoado fortificado proto-histórico
(Bustos), um concheiro (tipo de povoamento típico do
Mesolítico) e duas estações ao ar livre (oficinas de
talhe) no rio Levira (Levira II, Levira I e III,
respectivamente).
A riqueza em recursos naturais e uma localização
favorável contribuíram para a fixação das populações
no concelho de Ovar. Se até ao século XVIII a pesca
assumiu papel preponderante na vida económica destas
populações, depois do fecho do cordão litoral e da
estabilização da barra de entrada entre mar e ria,
mais a sul, a indústria veio substituir o seu perfil
económico. Assume ainda importância o turismo
balnear e a indústria extractiva de minerais não
metálicos de apoio à produção cerâmica (é numa das
suas freguesias – S. Vicente de Pereira – que se
situam as primeiras explorações de caulino para o
fabrico de porcelana pela Fábrica de Porcelanas da
Vista Alegre). Ovar possui 8 freguesias, ocupa 149,9
km2 de área onde habitam 55178 pessoas (CCRC,
2001: 129).
Entre o litoral e a serra situa-se
Sever do Vouga,
detentor de um vasto património natural e edificado.
Neste concelho, de 9 freguesias, com 129,9 km2 de
área
/
143 /
e registo de 13183 habitantes (CCRC, 2001: 132),
tem-se tentado construir um percurso de
desenvolvimento sólido e sustentado. Neste sentido,
a actividade industrial tem crescido ligeiramente,
enquadrada urbanisticamente em parques industriais,
e apoiada pela excelente rede rodoviária de suporte
ao escoamento dos produtos aqui produzidos
(nomeadamente o IP1 e o IP5). Os recursos
paisagísticos deste concelho fazem com que a aposta
no sector turístico seja uma forte realidade,
procurando para isso reabilitar espaços edificados a
necessitar de recuperação e criando facilidades para
uma boa fruição do contacto com a natureza.
O concelho de Sever do Vouga é particularmente rico
em termos de património arqueológico, nomeadamente
numa série de monumentos megalíticos já
classificados (Dólmen da Arca da Cerqueira, Dólmen
da Casa da Moura, Monumento megalítico de Chão
Redondo 1 e 2, Monumentos megalíticos do Souto do
Coval, Anta da Pedra da Moura) e por classificar.
Para além deste vasto conjunto do período Neolítico,
um conjunto de enigmáticas pinturas e gravuras ao
longo do rio Vouga (até ao momento a simbologia dos
motivos não foi ainda decifrada), encontramos ainda
alguns troços de vias de traçado romano (dos quais
só a que se encontra no lugar de Ereira está
classificado)
que certamente estruturariam uma rede de povoamento
mais complexa do que aquela conhecida até ao
momento.
Acrescente-se ainda um conjunto de povoados de
altura da Proto-História, e vários indícios de
ocupação humana no período romano. Parece-nos que
este concelho possui o conjunto arqueológico mais
coerente de todo o Baixo Vouga, passível de
integração num circuito mais vasto de exploração e
descoberta da natureza por novos "públicos",
motivados e interessados por este tipo de turismo de
qualidade – o turismo
que conjuga a vertente patrimonial com a
redescoberta de espaços naturais de excelência.
Por fim, o concelho de Vagos, com 11 freguesias,
165,6 km2 de área e 22045 habitantes (CCRC, 2001:
136), continua a ter na agricultura e pecuária as
suas principais actividades económicas. As
actividades do sector secundário são
maioritariamente relacionadas com a actividade
cerâmica (fábricas de porcelana,
faiança, grés, olaria e extracção de barro). O
turismo balnear tem também algum peso relativo na
economia concelhia com uma forte aposta no turista
que compra "sol, areia e mar". O apoio a práticas
tradicionais de pesca – arte xávega –, aproveitadas
turisticamente, traz um afluxo de pessoas a estas
praias no Verão. Nem sempre a realidade urbana foi
bem gerida nestes espaços junto ao cordão litoral
(por exemplo a praia da Vagueira), embora noutros
casos ainda se respeitem as suas características
peculiares (praia do Areão).
Em termos de património arqueológico, a falta de
estudos de carácter regional aliada a uma área
costeira só recentemente ocupada pelo Homem,
condicionam um insuficiente conhecimento neste
domínio. Há no entanto a referir a existência das
"paredes da Torre", junto à ermida de N. Sr.ª de
Vagos (CARVALHAIS, 2000), que corresponderá, muito
provavelmente, a um farol de sinalização da linha de
costa (séc. XI?). No centro de Vagos
identificaram-se também vestígios de ocupação do
período romano (entretanto destruídos), bem como
junto ao cemitério de Sosa.
/
144 /
3.2 O eixo Aveiro – Ílhavo: actividades provenientes
de um saber
acumulado
Depois de conhecermos sumariamente os concelhos que
integram o Baixo
Vouga, vamos agora incidir a nossa análise sobre uma
subunidade específica deste
território, definida pelos concelhos de Aveiro e
Ílhavo. A contiguidade geográfica destes dois
espaços, aliada a uma "promiscuidade" nas
actividades de exploração dos
recursos existentes, faz desta área uma realidade
coerente de gestão do espaço,
consegui da pelas complementaridades e
solidariedades praticadas entre os diferentes
agentes e actores económicos.
Do ponto de vista da valorização do património,
poderão surgir interacções entre os diversos
agentes, que potenciem os recursos existentes e
permitam desenvolver, de uma forma sustentada, as
economias locais.
Aveiro é cidade, sede de distrito e concelho com o
mesmo nome. É constituído
por 14 freguesias 154. É totalmente dominada pela
Ria de Aveiro, segundo Orlando
Ribeiro "uma laguna fechada por uma restinga
colmatada pelos aluviões do delta interior do Vouga.
Os canais e os braços insinuam-se por uma terra
rasa, banhada em humidade, retalhada de campos de
milho e prados verdejantes, único sítio onde o mar
domina toda a vida económica" (Ribeiro, 1986: 125).
Quanto ao património arqueológico neste concelho, as
marcas das mais antigas manifestações da ocupação
humana pertencem ao megalitismo, ou seja, ao IV/III
milénio a.C., actualmente atestadas pelas marcas
deixadas na toponímia (mama,
mamarrosa, pedras da moura), ou mesmo pelos
vestígios de um destes monumentos
funerários de antanho (povoação de Mamodeiro). Da
Idade do Bronze não se conhecia
até há pouco tempo nenhum vestígio arqueológico. No
entanto, recentemente uma
equipa pluridisciplinar identificou em terrenos do
campus universitário de Santiago
(Universidade de Aveiro) vestígios de cerâmicas e
objectos líticos que se enquadram
tipologicamente neste período, a uma cota de 12
metros. As suspeitas motivadas pelo
topónimo do local – Agra do Castro –, levavam a que,
já desde a década de 40 do século
passado, alguns autores155 sugerissem uma ocupação
humana para este espaço. Só
agora surge a comprovação arqueológica.
Quanto à estação arqueológica de Cacia (lugar da
Torre), o que subsiste é
claramente romano (Alarcão, 1988). Este sítio
arqueológico poderá corresponder a uma
vil/a (unidade de exploração semelhante a um monte
alentejano) portuária, ou mesmo a
um vicus, com indubitáveis relações com a linha de
costa de então e as relações fluviais
e marítimas que se estabeleceriam neste período. Tem
vestígios arqueológicos que
atestam a continuidade de ocupação deste local para
além do período romano, nomeadamente durante a
Antiguidade tardia (cerâmicas e moedas).
/
145 /
Durante o período romano e medieval as pequenas
explorações, do tipo casal estariam localizadas em
sítios excelentes para a prática agrícola. Alguns
destes sítios possuiriam fomos de fabrico de
cerâmica e material de construção (fomos de Eixo I e
II), conjugando assim a facilidade de obtenção de
matéria-prima, os conhecimentos técnicos necessários
e as facilidades de escoamento destes produtos pela
vasta rede de canais navegáveis existente.
|
Zona de altitudes muito baixas, é nos pontos mais
altos que se posicionam os campos de cultivo e as
povoações, com habitações concentradas (ex. Aveiro
e Ílhavo), ou simplesmente habitações dispersas em
pequenos casais (generalidade da estrutura
habitacional das várias freguesias do concelho de
Aveiro).
Na zona mais baixa, estes espaços são ainda
pontuados pela exploração de uma verdadeira riqueza
regional: o sal. |
Perspectiva de uma marinha de sal em laboração. |
Os montículos brancos do salgado marcaram durante
séculos o trabalho de uma parcela da população
aveirense, determinando a paisagem com inúmeras
salinas, servidas por uma densa e eficiente rede de
canais.
Do sal aveirense há inúmeras referências
documentais, muitas delas contidas numa colectânea
documental editada pela Câmara Municipal (MADAHIL,
1959) e
referências da Prof' Virgínia Rau e de Charles
Lepierre (RAU, 1951; LEPIERRE,
1936), os quais se reportam também à pesca, ao
pescado e aos pescadores e, mais
modernamente, àquela que foi uma dinâmica actividade
cerâmica (Almeida, 2001: 6-7).
/
146 /
O concelho de Ílhavo é constituído por 4 freguesias
156, das quais três se
encontram em áreas só recentemente ocupadas pelo
homem, dada a sua formação geomorfológica recente. A
sua confrontação com o oceano Atlântico, a poente,
constitui a sua melhor mais-valia. É no mar e na ria
que a história das suas gentes se
alicerça157, estando com eles confundida. É também a
Ria e o Oceano que nos legam os
mais antigos testemunhos arqueológicos identificados
até ao momento (sécs. XIV/XV): os vários barcos
navios identificados (locais identificados por "Aveiro A" a "Aveiro F"). Decorrem actualmente
projectos de investigação orientados no sentido de
"mapear" o subsolo aquático, e, posteriormente musealizar. |
|
Processo tradicional de obtenção de sal, numa das
poucas salinas ainda activa de Aveiro. |
Ílhavo possui um Museu referência no âmbito do
património marítimo a que se
junta desde há pouco tempo o Navio-Museu Santo André
onde podemos experenciar a
vida quotidiana num barco de pesca de bacalhau.
A pesca, tanto a longínqua como a costeira,
constitui uma das actividades
tradicionais de excelência desta zona (MARQUES e
LOPES, 1996). Foi deste pedaço
de costa que, no século XV, os primeiros navegadores
fUmaram ao norte, descobrindo a Gronelândia e a
Terra Nova, bem como a espécie piscícola proveniente
destas águas que se iria transformar num símbolo
nacional: o bacalhau.
A "faina maior" cedo se tomou imagem de referência
da actividade desenvolvida pelos homens das terras
de Ílhavo, sendo raro (até à crise de finais da
/
147 /
década de 1980 do século passado) existir uma família
neste concelho sem ligações à pesca do bacalhau. As
viagens pautavam o ritmo de toda a população: os
nascimentos, os baptizados, os casamentos...
Em terra ficavam as mulheres que se dedicavam,
indirectamente, ao mesmo ramo de actividade: a seca
tradicional do bacalhau para posterior
comercialização (a par da agricultura, "trabalhar na
seca" era mesmo a profissão mais comum para as
mulheres).
A par desta importante actividade, surge outra não
menos importante: a
construção naval.
|
Dada a sua localização, local de excelência de
contacto com a água, desde sempre se deve ter
desenvolvido esta actividade. Mesmo sem vestígios
arqueológicos que o confirme, é muito provável que
os vários povos que pelo aportaram ao nosso
território (Fenícios, Romanos, Árabes), por cá
tenham tido os seus portos e respectivos estaleiros.
Será no entanto, com o séc XV, com o advento da
pesca longínqua, que se instalaram e desenvolveram
os estaleiros de construção naval. Destes saíram
belos navios como os Lugres, os Patachos ou as
Escunas. Não se pode falar desta arte sem referir o
Mestre Mónica, com os seus estaleiros em Ílhavo e
Gafanha da Nazaré. |
Local de secagem tradicional do bacalhau, localmente
designado por "seca". |
Actualmente ainda resistem alguns estaleiros, tanto
os artesanais, que se dedicam principalmente à
construção das embarcações da ria – o quase mítico
barco moliceiro (até ao momento única embarcação
tradicional do país com interesse histórico
reconhecido e protegido), os barcos mercantéis
(transportavam o peixe dos barcos de pesca costeira
para o mercado do peixe no centro da cidade), os
barcos
/
148 /
saleiros, de transporte do sal, os batéis, a barca "ílhava"
–, como os industriais. Ainda é possível encontrar
bons executantes desta arte manual, com a sabedoria
herdada dos antigos mestres, mas que já não se
encontram em actividade por falta de trabalho.
Excepção recente, verificou-se na (excelente)
recuperação da
fragata D. Fernando II e Glória,
realizada em estaleiros da Gafanha da Nazaré.
Depois desta curta apresentação, parece ficar
comprovada a contiguidade não só física mas
sócio-cultural e económica que existe entre estes
dois concelhos. Mais do
que definir uma estratégia (a tal não nos
atreveríamos) que vise o desenvolvimento
desta micro-região, parece-nos ser possível apontar
medidas de acção que complementem as mais gerais
indicadas no Plano de Desenvolvimento Regional,
visando potenciar os seus pontos fortes e diluir os
fracos. Uma das mais fortes oportunidades de
desenvolvimento deste espaço está em "valorizar as
promessas (recursos hídricos, turismo, amenidades)"
(MINISTÉRIO DO PLANEAMENTO, 2001: I-178). Segundo
este "a cultura abrange transversalmente a
generalidade dos sectores da actividade económica e
constitui um denominador comum às políticas
sectoriais e regionais" (MINISTÉRIO DO PLANEAMENTO,
2001: V -36), pelo que o
crescimento deste sector contribuirá decisivamente
para um desenvolvimento
sustentado deste espaço territorial. Para tal é
necessário partir do pressuposto fundamental que um
território é mais do que um mero espaço físico que
obedece a fronteiras artificias, mas antes um
produto histórico-cultural com capacidade de
fomentar desenvolvimento a partir dos seus recursos
endógenos. A relação estabelecida com o território
faz emergir um novo modelo económico: o do
desenvolvimento local (VASQUEZ-BARQUERO, 2002).
Assumimos um território, conhecemos-lhe as
características, o que o
individualiza dos demais. Estes espaços só
concretizam fisicamente se existir uma intensa rede
de relações, um forte sentimento de pertença das
comunidades locais. Ora tal existe neste caso; esta
área ribeirinha possui uma herança cultural
constituída pelos seus trajes, suas crenças, seu
linguajar peculiar, suas actividades tradicionais de
que muito se orgulha e pretende manter158. É
necessário agora mostrar como podemos criar acções
mobilizadoras que potenciem estes factores.
Esta área possui três cidades (Aveiro, Ílhavo e
Gafanha da Nazaré), duas das quais sede de
concelhos. Sendo as cidades espaços por excelência
de desenvolvimento e articulação dos espaços que
envolvem, existe desta forma um óptimo ponto de
partida.
O património arqueológico não apresenta uma
coerência passível de se transformar em factor de
desenvolvimento per si. A falta de projectos de
estudo sistemáticos nesta área muito tem
condicionado a evolução do conhecimento da ocupação
humana neste espaço. Seria interessante conduzir um
projecto
pluridisciplinar de estudo da evolução da linha de
costa, onde se confrontassem, pelo menos, os
documentos medievos, a arqueologia e a geologia.
/
149 /
Pelo contrário, o conjunto de actividades económicas
de cariz tradicional que
enumeramos apresentam uma coerência tal que podemos
entendê-las como pertencentes a um potencial
circuito. Permitir a continuidade destas actividades
e integrá-las num percurso turístico de qualidade
poderia não só desenvolver os sectores que
normalmente andam "a reboque" do turismo
(restauração e hotelaria), como também, e
fundamentalmente, fomentar a formação de recursos
humanos voltados para estas tarefas especializadas
(e a absorção da existente actualmente a trabalhar
em áreas que não têm directamente a ver com as
competências que possuem), permitir a continuidade
de empresas dedicadas a estas actividades
tradicionais, mediante apoios específicos neste
sentido.
A partir da paisagem única e singular desta zona
lagunar de Aveiro, os turistas poderiam ser
transportados, à semelhança do que já acontece
durante o Verão, em moliceiros pelos canais, fazendo
uma primeira paragem no Ecomuseu da Troncalhada,
uma salina da Câmara Municipal de Aveiro adaptada a
esta função. Aqui pode-se tomar conhecimento da
tradição local da extracção do sal e da sua
metodologia. Os marnotos e as salineiras poderiam
estar a trabalhar in loco, mostrando não só o
processo físico de produção, mas revelando ainda
tudo aquilo que não é fisico: o traje, a gíria, os
hábitos alimentares, ...
Continuando a viagem, o segundo ponto de paragem
seria junto dos cais dos barcos de pesca longínqua.
Aqui encontram-se os estaleiros de construção naval,
as empresas de pesca, as "secas" de bacalhau
(algumas ainda praticam a seca do peixe ao ar livre,
com dezenas de mulheres a realizar esta tarefa), os
barcos de pesca atracados à espera de nova viagem,
... |
|
Barcos moliceiros de transporte de turistas na
Ria de Aveiro. |
/
150 /
|
|
|
|
|
|
Perspectiva do Ecomuseu da Troncalhada, com sal
à entrada, produzido localmente. |
|
Perspectiva do cais de pesca longínqua do Porto
de Aveiro, localizado na Gafanha da Nazaré. |
|
A visita continuaria em direcção ao forte da Barra,
onde se encontra o navio museu Santo André, um
antigo bacalhoeiro adaptado a estas novas funções.
/
151 /
Depois de conhecer por dentro as condições de uma
pequena comunidade de homens que se dedica à pesca
do "fiel amigo", a visita continuaria até à saída da
Barra159, contacto entre o oceano e a
Ria.
|
|
|
|
|
|
Navio museu Santo
André (antigo barco bacalhoeiro) |
|
Localização do Navio
museu Santo André (Forte da Barra) |
|
As diversas ilhas que existem entre os canais
poderiam ser aproveitadas no sentido de aí se
estabelecerem pontos de apoio a este circuito. A
zona do forte da Barra encontra-se neste momento
muito subaproveitada. Neste espaço poderiam nascer
estruturas ligadas à hotelaria e à restauração, que
tirassem partido da paisagem ímpar que se desfruta a
partir do Castelo da Gafanha (um dos poucos
monumentos classificados pelo IPPAR no concelho de
Ílhavo), com a localidade da Praia da Barra em
frente, no pequeno cordão de areias que separa o
sistema lagunar do oceano.
Um circuito integrado, que englobe o conhecimento de
bens e saberes tradicionais que existem nos dois
concelhos, não está ainda implementado.
A Ria de Aveiro é uma autêntica certidão de
nascimento desta comunidade. Um percurso com estas
características seria necessariamente acompanhado
pela observação de uma fauna e flora únicas,
conjugando-se assim o turismo de descoberta da
natureza com a vertente patrimonial dos sítios a
visitar.
a conhecimento deste espaço só estaria concluído com
um percurso terrestre pelos núcleos urbanos, com a
visita, em Ílhavo ao Museu Marítimo e Regional, e,
em Aveiro, ao desenvolvimento da cidade respeitando
e mantendo os seus canais. Paralelamente, poderiam
existir percursos alternativos, mais voltados para a
permanência de bolsas de rural idade nesta faixa de
terreno tão densamente (e
desordenadamente) urbanizada.
Por fim, a valorização do património gastronómico.
Este circuito levaria certamente à descoberta de
outros bens patrimoniais,
como o lugar da Vista Alegre, em Ílhavo, com a sua
quase bicentenária fábrica de vidros (nas suas
primeiras décadas de laboração) e porcelana e o seu
característico
/
152 /
bairro social; as fachadas ao estilo Arte Nova em
Aveiro e Ílhavo; o "museu vivo de arquitectura" que a
Universidade constitui; movimentando e dinamizando
desta forma amplos sectores da economia regional.
Parece-nos que esta hipótese é exequível, desde que
para isso os diversos actores e instituições,
públicas e privadas, cheguem a uma concertação.
A região possui os recursos para trilhar um caminho
de desenvolvimento sustentado: é auxiliada por uma
boa rede de infra-estruturas rodoviárias (EN1, IP5
e A1), ferroviária (Linha do Norte), portuária
fluvial e marítima e mesmo o aeródromo de São
Jacinto que embora militar, está aberto ao tráfego
civil. Falta talvez melhorar a rede rodoviária de
apoio, de carácter intermunicipal. Possui também
mão-de-obra especializada subaproveitada que poderia
ser canalizada para estas actividades. A
Universidade possui o domínio de vastas áreas do
saber necessárias à execução desta estratégia:
lecciona cursos como Biologia e Geologia, Economia,
Novas Tecnologias de Comunicação, Engenharia do
Ambiente e do Planeamento, entre outras, que poderão
contribuir para a realização de diversas actividades
voltadas para a usufruição da comunidade.
Existem as acessibilidades base. É necessário saber
como ir para além delas.
Uma vez que "todo o diagnóstico é já uma
estratégia", parece ter ficado
exposto aqui pelo menos uma boa caracterização das
potencialidades da região estudada. Através de uma
dinâmica de trocas entre espaços físicos e
actividades
culturais destinadas a um público-alvo poderemos ir
construindo, pouco a pouco, uma
nova forma de explorar o território, desenvolvendo-o
de um forma coerente e sustentada.
Todo este processo estará condenado à nascença se a
comunidade não tiver em relação a este território um
sentimento de posse, de pertença, se não se envolver
e acreditar nas políticas seguidas. A auscultação da
população é fundamental em qualquer medida desta
dimensão. Parece-nos, mais uma vez, que, neste caso
esta
questão dificilmente se porá.
4. Reflexões finais
O objectivo deste estudo era reconhecer as potencialidades de um espaço
concreto – o Baixo Vouga, mais concretamente o (sub)eixo
Aveiro-Ílhavo –, e procurar
estabelecer alguma metodologia de acção que
possibilitasse o seu desenvolvimento
sustentado a partir de uma base patrimonial.
Parece-nos que o primeiro ponto foi conseguido.
A Região Centro detém, mercê da sua posição
geográfica condições de desenvolvimento excelentes,
no contexto do nosso território nacional.
Alicerçada num sistema urbano polinucleado, com oito
cidades de dimensão média e sistemas urbanos que se
articulam entre si, formando eixos de
desenvolvimento, esta Região pode potenciar os seus
recursos (naturais, patrimoniais, humanos), de forma
a conseguir trilhar um caminho de desenvolvimento
económico a
partir de um modelo de desenvolvimento local. Desta
forma, poderá tirar partido da diversidade que
encerra em si.
/
153 /
Os dez concelhos que constituem o Baixo Vouga
possuem características próprias que permitem
reconhecer uma grande diversidade de "paisagens
culturais". De entre os seus recursos emerge o
potencial cultural, na sua vertente do património
(nomeadamente o arqueológico). O concelho de Sever
do Vouga parece ser o que melhor pode dinamizar o
seu património arqueológico, pela coerência que este
conjunto possui. Neste concelho a dinamização da
fruição dos espaços arqueológicos representa uma
aposta segura no âmbito de uma política de
desenvolvimento local.
De entre o Baixo Vouga elegemos um pequeno
território, articulado pelas cidades de Aveiro e
Ílhavo.
Não nos parece ser possível desenvolver uma
estratégia estruturada a partir unicamente do
património arqueológico até agora identificado neste
território. Pelo contrário, neste espaço coexistem
uma série de actividades tradicionais, fruto de um
saber acumulado, que, articulados entre si, podem
constituir factores de desenvolvimento endógeno. A
extracção do sal, a pesca, a construção naval,
constituem verdadeira herança cultural, definindo a
estrutura identitária das populações que ocupam.
Isto com tudo o que de material e imaterial lhe
corresponde.
Dependerá do envolvimento de todos os actores e
agentes económicos estruturar e tomar viável a
prossecução de uma estratégia dirigida para a
dinamização deste património. A componente cultural,
pela transversalidade que a caracteriza, poderá ser
verdadeiro factor de desenvolvimento, neste ou
noutros espaços territoriais. Basta para isso uma
conjugação de vontades e a assunção desta política
pela comunidade local. Se estas medidas não forem
sentidas, aceites e vividas pelas pessoas destes
espaços, estas políticas dificilmente terão bons
resultados. As políticas/medidas
devem ser assimiladas pelos agentes locais,
complementadas por iniciativas de carácter local.
São os sentimentos de pertença que permitem
identificar um território e desenvolvê-lo.
O território de Aveiro / Ílhavo apresenta os
recursos para que se possam
desenvolver estratégias que conduzam a um
desenvolvimento sustentado.
Importa fazer do passado deste território um
passaporte para um futuro
sustentado.
_____________________________________
NOTAS:
(150) – Arqueóloga, mestranda em Arqueologia Regional na FLUC.
(151) – "O Centro corresponde, de algum modo, à antiga
província da Beira ou das Beiras, que tem a sua
primeira delimitação como comarca no século XIII,
confinando-se a um território interior, entre Douro
e Tejo, que ia da fronteira até sensivelmente ao
meridiano de Viseu. Desde então a Beira "cresceu" na
direcção do Litoral" (GASPAR, 1993: 65).
(152) – Falamos de 5 sistemas urbanos:
1. Coimbra –
Figueira da Foz; 2. Aveiro – Ílhavo – Águeda –
Oliveira do Bairro; Leiria – Marinha Grande; 4. Dão
– Latões, com centro em Viseu; 5. Guarda – Covilhã –
Fundão Castelo Branco.
(153) – "Já o inventário das propriedades e igrejas de Guimarãis,
de 1059, regista a vil/a alcaroubim
integra et cum sua
prestancia te cum suas salinas, remetendo para o
célebre testamento da riquíssima Mumadona (Dias), de
959, que incluía "in território Colimbrie villa
de alcaroubim.." (...) Alquerubim e S. João de Loure
ficavam á vista do oceano e era possível a
existência da marinhas nesses lugares, muito
distantes hoje da linha de maré" (MADAHIL, 1938: 72)
(154) – As freguesias do concelho de
Aveiro são: Aradas,
Cacia, Eira!, Eixo, Esgueira, Nariz, Nossa Senhora
de Fátima,
Nossa Senhora da Glória, Oliveirinha do Vouga,
Requeixo, Santa Joana, São Bernardo, São Jacinto e
Vera Cruz.
(155) – Alberto Souto, em 1942, escrevendo sobre os
Castros que experimentaram romanização refere que
"havendo entre eles alguns como (...) Verdemilho de
Aveiro, que não oferecem qualquer documento ou
vestígio de habitação e cultura e que apenas se
identificam pela persistência do topónimo nos
respectivos locais..." (SOUTO, 1942: 14). Também
António Manuel Silva elenca o castro entre as
estações castrejas entre o Douro e o Vouga (SILVA,
1994).
(156) – São elas: S. Salvador (Ílhavo), Gafanha da
Nazaré, Gafanha da Encarnação e Gafanha do Carmo.
(157) – "Ílhavo, heróico poema / Escrito em sangue no
mar! (...) – Canção de Ílhavo, autoria de Guilhermino Ramalheira.
(158) – Ver a este propósito as excelentes obras de
carácter monográfico e regional: sobre Aveiro,
Cultura Popular em terras de Aveiro, de António
Capão; relativo a Ílhavo a obra de Diniz Gomes,
reeditada recentemente pela Câmara Municipal,
Costumes e Gentes de Ílhavo e, do Padre João Vieira Resende
A monografia da Gafanha.
(159) – Esta barra foi aberta e estabilizada
artificialmente em 1808. Até aí a abertura natural
entre a laguna e o mar foi migrando de norte para
sul, estando localizada em locais tão díspares como
ao sul de Ovar (por volta do ano 1200) a norte, ou
perto de Mira (em 1756), mais para o Sul.
Bibliografia
● AAVV (1997), Boletim Municipal. Cultura e
Património. Câmara Municipal de Aveiro. Aveiro,
Dezembro de 1997
● AAVV (2001), AI-Madan. Arqueologia. Património.
História local. Especial: 300 sítios Arqueológicos
visitáveis em Portugal, lIª série, n.º 10. Almada
● ALARCÃO, Jorge de (1988), Roman
Portugal, volume lI, Fasc. I. Porto e 3. Viseu. Aris & Philips Ltd -
Warminster. England
● ALMEIDA, Carlos Brochado de (2001),
Carta
Arqueológica do concelho de Aveiro, Câmara Municipal
de Aveiro, Aveiro
● ALMEIDA, Femando António (1989)
Beira Litoral, com
a coroa de Arouca, Móbil Oil Portuguesa, Edições
Asa., Rio Tinto
● AMORIM, Inês (2001) Aveiro e os caminhos do Sal
–
da produção ao consumo (sécs. XV a XX). Câmara
Municipal de Aveiro, Pelouro da Cultura.
/
154 /
● BENKO, George e PECQUER, Bernard (2002), "Os
recursos do território e os territórios de
recursos", Geosul, 32, pp 31-50
● CAPÃO, António (1993), Cultura popular em terras
de Aveiro. Etnografia e Literatura, Acção Católica
Rural, Aveiro
● CARVALHAIS, Manuel António (2000),
Santa Maria de
Vagos. Fábrica da Igreja Paroquial de Vagos. Gráfica
de Coimbra
● CCRC (1999), Uma Região qualificada, activa e
solidária. Visão sobre a região Centro para a
próxima década, Coimbra
● CCRC (2001), Procentro. Programa operacional da
Região Centro 1994-1999, Coimbra
● GASPAR, João Gonçalves (1983),
Aveiro. Notas
Históricas, Edição da Câmara Municipal de Aveiro,
Aveiro
● GASPAR, Jorge (1993), As Regiões Portuguesas,
Direcção Geral do Desenvolvimento Regional, Lisboa
● GASPAR, Jorge (2002), A Região Centro, CCRC,
Coimbra
● GOMES, Diniz (1941), Costumes e Gente de Ílhavo (reed.
1989). Câmara Municipal de Ílhavo, Gráfica do Vouga.
Aveiro
● IPPAR (2001), Pesquisa de Património.
www.ippar.pt
● LEPIERRE, Charles (1936), A Indústria do Sal em
Portugal. Inquérito. Lisboa
● MADAHIL, António Gomes Rocha (1938), "A carta de
doação de Alquerubim em 1090",
Arquivo do Distrito de Aveiro, vol. IV, nº 13,
pp.71-74
● MADAHIL, António Gomes Rocha (1922),
Illiabum.
Série de subsídios para a história de Ílhavo.
Gráfica Conimbricense, I - Um projecto de Brasão d'Armas concelhio, Coimbra
● MADAHIL, António Gomes Rocha (1959),
Milenário de
Aveiro, Colectânea de Documentos Históricos, vol. I
- 959/1515. Aveiro
● MARQUES, Francisco e LOPES, Ana Maria (1996),
Faina Maior. A Pesca do Bacalhau nos Mares da Terra
Nova. Quetzal Editores, Lisboa
● MINISTÉRIO DO PLANEAMENTO (2001),
Portugal
2000-2006. Plano de Desenvolvimento Regional.
Lisboa
● PORTO DE Aveiro (2002), Catálogo da Exposição Histórico-Documental do Porto de Aveiro. Um
imperativo histórico. Coord. de Mercedes Maia. 2ª
Edição. Aveiro
● QUADROS, José R. Rangel de (1984),
Aveiro. Origens,
brasão e antigas freguesias, Paisagem Editora.
Aveiro
● RAU, Virgínia (1951), "A exploração e o consumo de
sal de Setúbal", Estudos de História Económica,
Vol.
Lisboa
● RESENDE, João Vieira (1944), Monografia da Gafanha
(2ª ed.), Coimbra Editora. Coimbra
● RIBEIRO, Orlando (1986), Portugal, o Mediterrâneo
e o Atlântico, Livraria Sá da Costa, pp. 114-164 [2ª
ed.]
● SILVA, António (1994),
Proto-história e romanização no entre Douro e Vouga
Litoral –
Elementos para uma avaliação crítica. Dissertação de
mestrado. FLUP. Porto
● SOUTO, Alberto (1942), "Romanização no Baixo-Vouga",
Trabalhos de Antropologia e Etnografia, fase. IV,
vol. IX, Porto, pp.14
● VASCONCELLOS, José de Leite de (1912) "Mamoas de
Albergaria-a-Velha", O Arqueólogo Português,
Lisboa. 1ª série, 17,pp. 71-73.
● VASQUEZ-BARQUERO, António (2002),
Desenvolvimento
Endógeno em Tempos de Globalização, Porto Alegre, UFRGS, pp 37-74
● WELLER, O. (ed.) (2002), Archéologie du sel. Techniques et sociétés dans la
pré et
protohistorique européenne / Salzarchiiologie. Paris |