A ADERAV completa no corrente mês
de Maio, 25 anos de existência. Nesta sua já longa
caminhada, houve muitas dificuldades e alguns
contratempos. Felizmente, tudo foi ultrapassado.
Vinte e cinco anos na vida de uma
associação, só são possíveis de festejar graças a um
punhado de mulheres e de homens que, em determinadas
fases das suas vidas, deram um pouco do seu tempo e
do seu conhecimento em prol do bem comum, em prol da
defesa do património natural e cultural que é de
todos nós.
Passados os tais vinte e cinco
anos, seria legítimo questionar se ainda se
justifica a existência de uma associação com os fins
a que a ADERAV se propõe. De facto, julgamos que,
agora, mais do que nunca, se justifica a existência
de uma associação deste género, pois a incúria, a
ignorância, a incompetência e os mais diversos
interesses, sobrepõem-se às normas protectoras dos
diversos patrimónios, ao bom senso, ao bom gosto e
àquilo que deveria ser o dever de todos: a
preservação do nosso património natural e cultural
comum.
Se por um lado, sempre existiu,
para alguns, uma preocupação com o estado do
património em geral, mesmo sem existir uma
intervenção sistemática ou um sentido global, é
certo que as intervenções surgem quase sempre em
situações de urgência que não se compadecem com os
critérios preventivos que hoje se impõem.
Naturalmente, nem tudo se poderá fazer ao mesmo
tempo, e nem as escolhas serão fáceis. Mesmo assim,
é urgente a criação de infra-estruturas de nível
local e/ou regional indispensáveis à prossecução dum
Programa Patrimonial inter e pluridisciplinar.
Toma-se impiedosa a existência de
uma comunicação permanente entre os diversos
organismos responsáveis pelo Património, no sentido
de conciliar e potencializar energias e objectivos,
ao invés daquilo a que hoje assistimos, devido à
necessidade da sua sustentabilidade. Urge,
igualmente, uma consciencialização das expectativas
que o Património representa para o enriquecimento e
desenvolvimento cultural das regiões que
representam, como agente activo da memória da vida
individual e das comunidades no seu conjunto.
O filósofo alemão Alois Riehl
(1844-1924) defendia que "O valor patrimonial
deverá ser transformado, antes de tudo, num valor
sentimental e, com isso, num assunto dos sentimentos
das massas largas, pelo menos das massas eruditas e
isso pode apenas acontecer a partir do momento
quando se tiver aprendido a valorizar o património
como parte da nossa existência."
Assim, enquanto todos nós,
principalmente aqueles que detém maiores
responsabilidades, não começarmos uma incansável
campanha de sensibilização tentando criar, em todos
sem excepção, a sensibilidade necessária para a
preservação do nosso património natural e cultural,
continuarão a existir "atentados" dos mais diversos
contra os mesmos, tomando-se aqueles que o defendem
num grupo quase "exótico" que continua a lutar
contra um inimigo invisível e impossível de
combater.
Delfim Bismarck Ferreira |