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"Patrimónios" – n.º 4, Maio 2004, Ano XXV, 2ª série, 158 páginas.


EDITORIAL

A ADERAV completa no corrente mês de Maio, 25 anos de existência. Nesta sua já longa caminhada, houve muitas dificuldades e alguns contratempos. Felizmente, tudo foi ultrapassado.

Vinte e cinco anos na vida de uma associação, só são possíveis de festejar graças a um punhado de mulheres e de homens que, em determinadas fases das suas vidas, deram um pouco do seu tempo e do seu conhecimento em prol do bem comum, em prol da defesa do património natural e cultural que é de todos nós.

Passados os tais vinte e cinco anos, seria legítimo questionar se ainda se justifica a existência de uma associação com os fins a que a ADERAV se propõe. De facto, julgamos que, agora, mais do que nunca, se justifica a existência de uma associação deste género, pois a incúria, a ignorância, a incompetência e os mais diversos interesses, sobrepõem-se às normas protectoras dos diversos patrimónios, ao bom senso, ao bom gosto e àquilo que deveria ser o dever de todos: a preservação do nosso património natural e cultural comum.

Se por um lado, sempre existiu, para alguns, uma preocupação com o estado do património em geral, mesmo sem existir uma intervenção sistemática ou um sentido global, é certo que as intervenções surgem quase sempre em situações de urgência que não se compadecem com os critérios preventivos que hoje se impõem. Naturalmente, nem tudo se poderá fazer ao mesmo tempo, e nem as escolhas serão fáceis. Mesmo assim, é urgente a criação de infra-estruturas de nível local e/ou regional indispensáveis à prossecução dum Programa Patrimonial inter e pluridisciplinar.

Toma-se impiedosa a existência de uma comunicação permanente entre os diversos organismos responsáveis pelo Património, no sentido de conciliar e potencializar energias e objectivos, ao invés daquilo a que hoje assistimos, devido à necessidade da sua sustentabilidade. Urge, igualmente, uma consciencialização das expectativas que o Património representa para o enriquecimento e desenvolvimento cultural das regiões que representam, como agente activo da memória da vida individual e das comunidades no seu conjunto.

O filósofo alemão Alois Riehl (1844-1924) defendia que "O valor patrimonial deverá ser transformado, antes de tudo, num valor sentimental e, com isso, num assunto dos sentimentos das massas largas, pelo menos das massas eruditas e isso pode apenas acontecer a partir do momento quando se tiver aprendido a valorizar o património como parte da nossa existência."

Assim, enquanto todos nós, principalmente aqueles que detém maiores responsabilidades, não começarmos uma incansável campanha de sensibilização tentando criar, em todos sem excepção, a sensibilidade necessária para a preservação do nosso património natural e cultural, continuarão a existir "atentados" dos mais diversos contra os mesmos, tomando-se aqueles que o defendem num grupo quase "exótico" que continua a lutar contra um inimigo invisível e impossível de combater.

Delfim Bismarck Ferreira


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