Fabrico Tradicional do Azeite em Portugal (Estudo Linguístico-Etnográfico), Aveiro, 2014, XIV+504 pp. ©

VIII

SISTEMAS DE DECANTAÇÃO

D) TAREFAS DE METAL

As tarefas de metal apresentam para nós reduzido interesse do ponto de vista linguístico e etnográfico. A análise do quadro da figura 144 permite-nos verificar que este tipo de tarefas, tendo em conta os inquéritos por nós realizados, apenas se encontra em lagares modernos, dotados com prensas hidráulicas. E, salvo três casos por nós registados, em todos os lagares foram designadas pelo vocábulo tarefa. Apenas no distrito de Coimbra registámos uma vez os vocábulos pote, talha e fonte para as tarefas de metal, o que parece significar que a sua frequência de utilização é muito baixa. Embora estatisticamente o número de lagares visitados relativamente ao universo, na época, deva ser baixo e, como tal, susceptível de uma reduzida fiabilidade, mesmo assim a percentagem da frequência de utilização desses termos não deverá andar longe dos 6,6%.

Sem entrarmos numa análise do ponto de vista técnico, de reduzido interesse para nós, iremos apresentar a seguir uma breve descrição dos casos mais significativos observados nos 15 lagares possuidores de tarefas metálicas⁽³¹⁾.

Os lagares de Condeixa-a-Nova, P. 277 (vd. fig. 113, pág. 279) e de Miranda do Corvo, P. 280, ambos no distrito de Coimbra, apresentam grandes semelhanças em vários aspectos: o mesmo número de prensas hidráulicas – quatro – e igual número de conjuntos de tarefas rectangulares de ferro, de grande capacidade. A única diferença é que cada conjunto do lagar de Miranda do Corvo apresenta quatro recipientes geminados, enquanto o de Condeixa-a-Nova apenas apresenta dois. Assim, no primeiro, existem 16 tarefas; no segundo, apenas oito.

O lagar de Santa Luzia, P. 138, freg. Barcouço, conc. Mealhada, dist. Aveiro, apresenta como os anteriores tarefas rectangulares de grandes dimensões, mas cada conjunto por prensa é constituído por módulos separados. O módulo central, dividido em duas tarefas geminadas (vd. fig. 145▲), apresenta por cima um tabuleiro rectangular, dentro do qual a manga de tecido, ligada à torneira do carro da prensa, permite que o azeite e as águas corram para as tarefas sem risco de salpicarem à área em redor. Nas duas tarefas do módulo central processa-se a decan­tação e separação do azeite, que corre por uma pequena saída lateral para os recipientes duplos mais baixos, colocados de cada lado.

O lagar de Ervedal, P. 236 (conc. Oliveira do Hospital, dist. Coimbra), apresenta duas tarefas cilíndricas por prensa, semelhantes aos vulgares bidões de combustível, deles diferindo apenas pelo rebordo grosso e as paredes perfeitamente lisas.

Os lagares de Castelo Viegas, P. 288 (conc. e dist. Coimbra) e Ponte Nova, P. 209 (freg. S. Pedro, conc. Celorico da Beira, dist. Guarda) caracterizam-se por apresentar tarefas metálicas circulares que fazem lembrar certas taças em que se serve a salada de fruta. Todavia, além do pé que liga a larga base tronco-cónica à taça, três tubos equidistantes ligam a parte superior à parte inferior da tarefa, tal como se pode observar na figura 146 ▲ e na 94, onde se mostram as prensas e tarefas do lagar de Castelo Viegas, assim como a máquina centrifugadora, no canto inferior esquerdo, a que um informador deu o nome de separadora. No lagar da Ponte Nova, ao lado da tarefa com a forma de uma taça, existem recipientes cilíndricos ligeiramente mais baixos, para onde corre o azeite. Importa referir que as tarefas metálicas são cobertas com tampas articuladas de folha.

Terminamos esta breve referência às tarefas de metal com o lagar de Cerejais, P. 90 (conc. Alfândega da Fé, dist. Bragança). Aqui, as tarefas são constituídas por um conjunto de três vasilhas cilíndricas de folha, de grande capacidade. Na primeira, a maior e a que recebe directamente da prensa azeite e água, efectua-se uma primeira decantação e separação do azeite. Este corre para uma segunda tarefa, ligeiramente mais pequena, à qual é adicionada água a ferver proveniente da caldeira. Para isso basta abrir a torneira que se encontra por cima e que tivemos a oportunidade de fotografar em plena utilização (vd. fig. 147). O azeite limpo corre para um terceiro recipiente. É daqui retirado para bidões, onde é armazenado e donde é posteriormente medido, antes de ser vendido.

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(31) – Relação dos 15 lagares visitados onde encontrámos tarefas metálicas para decantação do azeite: dist. Aveiro, P. 138; dist. Bragança, P. 90, 100; dist. Coimbra, P. 236, 238, 245, 257, 277, 280, 284, 288, 304; dist. Guarda, P. 209, 211; dist. Vila Real, P. 78.