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A ORIGEM DO NOME  da cidade de Figueira da Foz pode procurar-se na lenda que afirma provir de uma figueira que existia no cais da Salmanha, onde os pescadores amarravam os barcos. Segundo Nelson Correia Borges, o nome resulta da sobreposição de várias palavras com o mesmo significado. Ou seja, figueira seria «fagaria» (abertura, boqueirão), foz deriva do latim «fauces» (embocadura) e Mondego compõe-se do pré-romano «moud» (boca) e «aec» (rio). Ao pronunciar-se Figueira da Foz do Mondego repete-se, assim, «boca da boca da boca do rio». 

Imagem da primeira metade do séc. XX que mostra a antiga lota de peixe da Figueira da Foz.

Os romanos legaram marcas da sua presença, das quais se podem destacar as inscrições em dois denários — um da família Vibia, outro do imperador Octávio Augusto. 

Dos sarracenos apenas se sabe que arrasaram a povoação em 717. Foi o conde Sesnando, moçárabe natural de Tentúgal, que conduziu a reconquista cristã. O mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, ciente da posição estratégica da localidade como porto de mar, inicia no séc. XI o povoamento das terras. O cabido Pedro de Coimbra atribui, em carta de foro, as herdades e montes da Tamargueira, que correspondem à parte norte da localidade. 

Em 1527, através de frei António de Buarcos, aí se estabelece o Convento de Santo António, conferindo maior importância ao povoado. No início do séc. XIX, com o acréscimo do movimento do porto e o desenvolvimento da construção naval, a população quase duplicou. Com o progressivo assoreamento do seu porto, Aveiro transfere para a Figueira grande parte do tráfego mercantil. Em 1773, começa a exploração da mina do Focinho da Figueira. Surgem o caminho-de-ferro e a estrada Pampilhosa-Figueira. A 20 de Setembro de 1882 é elevada à categoria de cidade. 

As águas límpidas e a areia dourada começaram a atrair a aristocracia do princípio do século e, nos anos 20, os espanhóis endinheirados que vinham deixar as suas pesetas no casino. 

Nos anos 70, a construção do molhe de Leixões gerou um complicado processo de deposição que alargou a praia para quase 1 km junto ao Grande Hotel. Dizem os figueirenses que hoje, para tomar banho, é preciso alugar um camelo.  (In: Guia Expresso das cidades e vilas históricas de Portugal, n.º 7, 20/7/1996, págs. 54-55).

 

Aspecto da Figueira da Foz antes das construções iniciadas em meados do século XX e do assoreamento da foz do Mondego. (Foto do Arquivo Nacional de Fotografia)

 

TRANSFORMAÇÕES DA PRAIA

A Figueira da Foz teve a sua época de glória pelos anos 30. Antes da guerra civil, os espanhóis endinheirados esbanjavam alegremente as suas pesetas no casino. Para a Figueira iam também as famílias ricas da Beira: bastava apanhar o comboio e seguir pelo ramal da Pampilhosa ou pelo de Alfarelos. É a partir dos anos 60 que as coisas começam a mudar. Surge a febre da construção em altura que, em duas décadas, destruiu a elegante fachada da Figueira.

Para se ter uma ideia de como as coisas eram, olhe-se para a esplanada onde se situam os restos do Castelo Engenheiro Silva ou, mais para norte visite-se o Palacete Sotto Mayor. As intervenções no litoral a norte perturbaram o delicado mecanismo das correntes e da movimentação das areias: hoje, a praia tem 1 km de largura frente ao Grande Hotel (os figueirenses dizem que é preciso ter um camelo para ir tomar banho) e, em contrapartida, o mar avança entre Buarcos e a Tamargueira, tendo já obrigado a obras de emergência. 

Aqui o banho é tanto mais complicado quanto mais próximo se esteja do molhe do porto: as ondas são alterosas e cavam um «degrau» assustador. Para poder tomar um banho mais «normal», o veraneante que não tenha pretensões a nadador olímpico é obrigado a fazer toda a Avenida Marginal até Buarcos. Os amantes do sossego a qualquer preço vão ainda mais para norte, passando o Cabo Mondego e a Serra da Boa Viagem, até apanharem o extenso e deserto areal que corre até Mira.  (In: Guia Expresso o melhor de Portugal, “Expresso” n.º 1286, págs. 42-43)


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