|
|
O
Mondego [1] é o
maior rio exclusivamente português. Percorre a
parte centro do país, desde a Serra da Estrela até
ao Oceano Atlântico, onde desagua junto da Figueira
da Foz. |
Apresenta
algumas semelhanças com o Vouga. Tal como ele, antes de
se tornar um rio de planalto, é um rio de montanha — o
chamado Mondeguinho. Enquanto jovem, corre num vale
estreito e profundo, com «grandes quedas de desnível e
carácter torrencial muito acentuado.»
Inicialmente,
corre em direcção ao interior. Em seguida, descreve uma
curva acentuada à volta de Celorico da Beira. Inverte a
marcha em direcção ao litoral, no sentido NE
SW, ou seja, com uma orientação inversa e
quase paralela à anterior.
|
Perfis transversais do rio Mondego
segundo Amorim Girão. |
|
A jusante
da Foz-Dão, o Mondego apresenta uma série de meandros
encaixados. (Vd. Imagem ao lado).
Junto a Penacova, depois de ter recebido o Alva (afluente da
margem esquerda), o vale do Mondego estrangula-se cada vez
mais ao atravessar o contraforte de Entre-Penedos. Aqui,
encontram-se «altas assentadas de quartzíticos
silúricos, muito fracturados». Dispostos quase
verticalmente, como livros inclinados numa estante, deram
origem à conhecida «Livraria do Mondego».
|
|
|
|
|
|
Na zona de
Coimbra, logo a seguir à ponte da Portela, o vale do
Mondego começa a alargar cada vez mais. Sofre ainda um
ligeiro aperto ao atravessar Coimbra.
|
Mas já aqui começa
a correr mais calmamente, tornando-se o rio mais
pachorrento. Outrora, antes da construção de uma
barragem, chegava mesmo a ficar quase sem água, razão pela qual os habitantes de
Coimbra lhe davam o nome de «bazófias».
|
As grandes
quantidades de areia trazidas de regiões do interior
começam a depositar-se. E com isto provocou a subida do
leito e o assoreamento das margens, soterrando antigas
edificações. É exemplo disto o conhecido Convento de
Santa Clara-a-Velha, enterrado quase por completo na margem
esquerda.
|
|
|
|
Parte superior do
convento de Santa Clara-a-Velha. Cerca de 2/3
inferiores do convento encontram-se soterrados pelos
aluviões do Mondego. Foto de HJCO, 17/9/1966. |
|
E, segundo os historiadores, outros edifícios
foram sepultados pelo rio.
Atravessada
a cidade de Coimbra, o Mondego espraia-se por vastos e
férteis campos, onde é cultivado o arroz. São os
«saudosos campos do Mondego» referidos por Camões no
célebre episódio dos amores trágicos de Inês de
Castro.
|
|
«Estavas, linda Inês, posta em
sossego,
De teus anos colhendo doce fruito,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a Fortuna não deixa durar
muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxuito,
Aos montes insinando e às
ervinhas
O nome que no peito escrito
tinhas.»
Camões, Os Lusíadas, III,
120.
|
|
|
|
É importante referir que as enormes
massas de areia trazidas pelo Mondego são o contributo
dos seus afluentes ainda jovens, especialmente dos que
descem da Serra da Estrela, tais como o Alva e o Ceira, e
das ribeiras de Folques e do Areeiro.
|
|
|
|
Arrozais do rio
Mondego na região entre Coimbra e Montemor-o-Velho
|
|
|
De Montemor até à Figueira da Foz,
o alteamento do rio e a acção destruidora das cheias
têm, ao longo dos tempos, provocado inundações
prejudiciais.
|
Na zona da Figueira, o transporte de elevadas
quantidades de areia tem provocado o assoreamento da foz.
O amplo estuário foi-se transformando, aos poucos, numa
espécie de delta. Só o trabalho regular de
desassoreamento tem permitido a entrada de barcos no porto
da Figueira da Foz.
|