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Helena Maria Ferreira Pinto Ramos, A Comunicação Interna. Estudo de Caso no C.E.T., 1997.

Capítulo 4 - Conclusão

No nosso trabalho de pesquisa procurámos demonstrar que a comunicação interna constitui um meio cada vez mais importante para as organizações. Nos últimos anos, a comunicação interna tem sido uma área em desenvolvimento, devido ao reconhecimento da sua importância como factor de incentivo ou motivação dos empregados. De facto, a forma como os empregados de uma organização percebem e se sentem relativamente à comunicação, desempenha um papel muito importante no clima motivacional, onde uma comunicação eficaz é uma das ferramentas de que a gestão pode dispor. Este assunto é muito importante para os gestores e para os actores da acção colectiva, cientes da influência  que a comunicação tem no clima social e no funcionamento da empresa. Apenas as pessoas entusiasmadas e empenhadas chegam ao ponto necessário de melhorar a inovação, a prestação de serviços ou a qualidade. O empenho surge de um sentimento de posse e envolvimento, onde a partilha de informação é um sinal importante do quanto os gestores confiam nos seus trabalhadores e deles pretendem fazer seus parceiros.

A comunicação da organização deve ser entendida como um meio para atingir uma finalidade que, no plano externo, é a projecção da imagem da empresa, contribuindo para o sucesso comercial e, no plano interno, é a potencialização das condições de trabalho e de participação no projecto de empresa.

A ideia que parece ficar é a de que a comunicação interna ainda não encontrou o lugar que lhe é devido como filosofia de gestão, sendo disto reflexo a inexistência de um plano de comunicação a este nível, fundamental para uma comunicação eficaz.

É necessário que os gestores sejam sensibilizados para este enquadramento, alterando profundamente a situação desta área da comunicação, que continua a ser preterida em relação à comunicação com o exterior. No entanto, pouco se tem feito no sentido de colmatar esta lacuna, principalmente, no que respeita ao estabelecimento de uma política de comunicação interna efectiva, sem o que não se poderá pensar em eficiência. A vontade de desenvolver esta área da comunicação implica reconhecer que a preocupação em comunicar com o público interno pode assegurar a coesão, o sentimento de partilha com a organização e a vontade de oferecer mais qualidade no desempenho. A fluidez da comunicação é fundamental para a transparência, a segurança e a estabilidade, sem a qual a empresa não poderá ter vantagem competitiva.

O C.E.T. é uma organização estritamente ligada à comunicação, que surgiu com um propósito específico, que se foi adaptando ao longo do tempo até atingir a posição que ocupa presentemente na comunidade e no país. Os resultados do nosso trabalho dão-nos a percepção de que o C.E.T. tem vindo, nos últimos anos, a desenvolver esforços no sentido de melhorar a comunicação, tendo bem presente a necessidade de comunicar eficazmente, e a sua importância na imagem da instituição.

Não obstante o supracitado, os resultados obtidos através da nossa pesquisa, permitem-nos concluir que, embora se note um certo progresso em relação a épocas anteriores, há ainda um longo caminho a percorrer no sentido de tornar a comunicação interna mais eficiente, de modo a reduzir o desfasamento que existe entre a importância que a comunicação interna tem e, aquela que, na realidade, lhe é atribuída. De facto, denota-se uma grande intencionalidade, por parte da Direcção para o desenvolvimento da comunicação com os seus colaboradores, todavia, na prática, parece não se verificar de forma totalmente eficaz, o que indicia um desfasamento entre a percepção da Direcção de topo e a dos seus colaboradores (trabalhadores e chefias) relativamente à situação da comunicação. A Direcção percebe a comunicação que estabelece com os seus colaboradores como satisfatória, enquanto estes, numa grande parte, têm uma percepção pouco satisfatória, transmitindo uma opinião de falta de informação entre os vários níveis hierárquicos, o que afecta negativamente a organização. O ideal seria que a percepção e a opinião dos colaboradores do C.E.T. fosse positiva, na sua totalidade, ou quase, correspondendo à percepção e expectativas da Direcção.

A comunicação que se estabelece entre a Direcção, as chefias intermédias e os trabalhadores, em geral, encontra-se pouco explorada, notando-se uma certa falta de concretização das intenções manifestadas em relação à comunicação interna, não obstante existir no C.E.T. uma política de ‘Portas Abertas’ e uma grande sensibilização por parte da Direcção e das chefias para o estabelecimento de uma comunicação eficaz.

Uma informação importante a reter é o facto de existir no C.E.T. uma grande diversidade de instrumentos de comunicação interna, não possuindo, no entanto, um profissional da área que seja responsável pela sua operacionalização, nem um planeamento apurado da comunicação, que se deveria iniciar por uma análise da situação existente. Este facto poder-se á relacionar com uma menor prioridade atribuída a esta área, relativamente  aos objectivos considerados prioritários para a organização, traduzindo-se numa desvalorização de investimento na comunicação. Julgamos que o esforço e o empenhamento desenvolvidos, relativamente à comunicação com os colaboradores, se manifestam através da implementação de instrumentos de comunicação, como factores decisivos para uma comunicação eficaz, mas que, por si só, não constituem uma cultura de comunicação.

Existe ainda por parte da Direcção uma filosofia de comunicação que assenta na disponibilização da informação, em vez de actuar no sentido de desenvolver esforços para a sua ampla divulgação, não existindo uma actuação formalmente organizada na operacionalização da comunicação interna, que permita fazer chegar a informação junto de todas as pessoas, através dos vários meios existentes.

Um dos princípios da filosofia de comunicação do C.E.T. é atribuir aos responsáveis hierárquicos a função de principais transmissores e motivadores da comunicação, sendo considerados mais importantes no processo comunicacional do que os instrumentos formais existentes. A não existência de um profissional de comunicação não permite uma boa operacionalização da comunicação no sentido de a fazer chegar a todos de forma incentivadora, com o intuito de gerar nos trabalhadores uma maior receptividade ao que se pretende transmitir. Esta motivação estabelece-se, parcialmente, da Direcção de topo para as chefias intermédias, através do desenvolvimento das suas competências pessoais para a comunicação e para a generalização do espírito de grupo com os seus colaboradores directos. Actualmente, a escuta dos clientes internos e a procura de participação constituem uma condição de eficácia da empresa e uma resposta às aspirações dos empregados, devendo ser a maior preocupação dos gestores. O papel a desempenhar pelas chefias é muito importante, na medida em que devem ser verdadeiros chefes de projectos que animam a sua equipa e valorizam êxitos. No entanto, esta prática, sozinha, não resulta de forma eficaz. A comunicação está no centro da acção, mas este esforço só é possível através de uma planificação da comunicação ao nível de toda a organização.

Verificamos que no C.E.T. a comunicação se estabelece essencialmente no sentido descendente, focalizando-se numa ampla transmissão de informações relacionadas com os objectivos, os produtos/serviços e directivas do C.E.T. e algumas informações da Empresa que integra. A falta de divulgação de determinados tipos de informação e a insuficiente comunicação ascendente provoca, em grande parte dos trabalhadores, um sentimento de insatisfação relativamente ao conteúdo da comunicação, que gera comportamentos defensivos e de desconfiança em relação às informações divulgadas e à comunicação estabelecida entre a Direcção e os seus colaboradores.

Apesar de existir um bom relacionamento entre uma grande parte dos empregados do C.E.T. e de terem uma percepção positiva da comunicação, demonstramos que é possível melhorá-la, sob vários aspectos, desde que se estabeleçam estratégias de comunicação. Constatamos que a comunicação com os trabalhadores pode ser mais eficaz se houver um maior empenhamento da Direcção no sentido de estabelecer uma comunicação efectiva, no sentido descendente e ascendente, reformulando os procedimentos que têm vindo a ser adoptados, tanto ao nível da forma como a comunicação se processa e dos instrumentos  utilizados na veiculação das informações, como do conteúdo da comunicação.

As disfunções analisadas no nosso trabalho podem provocar falhas no processo de comunicação e no relacionamento entre as pessoas, concorrendo para uma deturpação das informações transmitidas, o que, consequentemente, poderá ser gerador de um clima de instabilidade e insegurança, pelo que requer uma melhor formalização e reequilíbrio da estrutura comunicacional. Contudo, para que a estratégia a adoptar resulte, a Direcção deverá estar firmemente empenhada nos seus objectivos e exigências e, esse empenhamento deve ser claramente afirmado e divulgado.

Pelo que pudemos inferir, julgamos pertinente uma actuação aos três níveis supracitados, estabelecendo essencialmente um relacionamento mais próximo entre a Direcção e os seus colaboradores, através de uma comunicação mais frequente em ambos os sentidos, o que só é possível através da implementação de acções de comunicação e da criação de dispositivos  de escuta do corpo social.

A reformulação a considerar deverá determinar as linhas estratégicas de acção de um plano de comunicação, que  consideramos essencial para que ela se possa processar de forma mais eficaz.

Tendo em conta todo o âmbito e natureza do trabalho desenvolvido, parece-nos que o Plano de Comunicação a elaborar para o C.E.T. deve pautar-se pelos seguintes aspectos:

1.       Planificar a comunicação:

a)     A informação deve ser estruturada como veículo de comunicação, ou seja, saber dizer estruturadamente:

O Quê

Quando

Como

Porquê

A quem

b)     A estruturação efectiva da comunicação implica:

·          calendarização de forma rígida dos momentos periódicos de troca de informação (reuniões) em dias, horas e estruturar a sua condução;

·          estabelecimento de timings de divulgação - para permitir, em curtos prazos de tempo, a transmissão e o feedback da informação e evitar a distorção das informações:

·          responsabilização  da  comunicação  aos  vários  níveis  hierárquicos -      - formação em comunicação e relacionamento interpessoal;

·          delegação da responsabilidade de divulgação para outra pessoa, na ausência do responsável;

·          determinação os meios privilegiados de comunicação: oral, escrita, audiovisual,  através das novas tecnologias da informação ou outra;

2.         Fazer a comunicação, o que implica a existência de um director e de um técnico para a operacionalização da comunicação:

a)     fazer a comunicação acontecer no concreto passa por:

·        envolver a direcção em primeiro lugar;

·        concretizar a comunicação através da ajuda de um técnico, mediante:

·          influência interpessoal para obter artigos para o boletim ou outros instrumentos de informação;

·          organizar a informação a divulgar e os instrumentos a utilizar;

·          aconselhar a direcção sobre assuntos a comunicar, rumores a esclarecer, etc.

b)     Verificação pela Direcção dos resultados da comunicação:

·          elaborar um anteprojecto

·          avaliar as acções concretas

3.      Verificar: Implica o controlo periódico das acções em execução para aferir a adaptabilidade das soluções encontradas;

4.      Agir: Implica a actuação de acordo com tudo o que foi definido, obrigando a um rigor de aplicação.

Este plano de comunicação deverá ser tratado com base numa análise inicial, para a qual pensamos que os resultados obtidos na nossa pesquisa poderão servir de indicadores para a gestão, revelando alguns aspectos menos positivos, que devem ser melhorados e desta forma facilitar o delineamento de estratégias adequadas a adoptar.

No seguimento do plano proposto, apresentamos, ainda, algumas sugestões dos domínios para os quais seria conveniente criar soluções contingentes para diminuir a percentagem de trabalhadores com uma opinião menos positiva acerca da comunicação:

a)     sensibilização da Direcção para o papel da comunicação no planeamento das prioridades do C.E.T.;

b)     aumento da comunicação entre os diferentes níveis hierárquicos, particularmente ao nível das chefias intermédias;

c)             desenvolvimento nos colaboradores do sentimento de uma comunicação transparente da Direcção e reforçar a cultura do C.E.T.;

d)            aumento e organização das informações, segundo a sua tipologia, adaptando-as às necessidades dos receptores;

e)            incentivo da partilha de informação e fazê-la circular rapidamente no sentido descendente e ascendente;

f)                 análise e melhoria dos instrumentos utilizados na comunicação, adequando-os aos objectivos, às mensagens e aos receptores e adoptando formas criativas de divulgação das mensagens;

g)            implementação de actividades de envolvimento e integração dos trabalhadores, especialmente para a divulgação do reconhecimento das realizações individuais;

h)             criação de mecanismos de controlo de transmissão da informação e analisar os motivos que estão na origem do sentimento de falta de informação dos trabalhadores.

Relativamente ao Gabinete de Relações Públicas existente, concluímos que não desempenha as funções de comunicação interna que teoricamente se preconizam  porque as suas competências e estrutura são muito restritas para poder desenvolver programas ou acções de comunicação interna.

Contudo, o recente surgimento do Gabinete de Imagem e Promoção indica-nos uma forte intencionalidade da organização em promover a imagem do C.E.T. com os seus contactos externos.

Consideramos importante que as R.P., no C.E.T. tenham uma maior aplicabilidade, em estreita colaboração com o Gabinete de Recursos Humanos, na aplicação de acções de comunicação interna no C.E.T., e com o Gabinete de Imagem e Promoção desenvolvendo acções de comunicação mais estritas, com  a sua envolvente exterior e internamente, ao nível da comunicação com a Empresa. Pensamos que as Relações Públicas poderiam formar juntamente com o G.I..P., um gabinete de assessoria  à Direcção.

Nesta posição, a utilização das Relações Públicas poderia verificar-se através da ocorrência de actividades com finalidades institucionais, como apoio à comunicação com os públicos externos específicos do C.E.T. ou como apoio às políticas de pessoal, colaborando com o Gabinete de Recursos Humanos em programas de comunicação com os empregados. Evidentemente que, estando integrada na Empresa, esta assessoria teria ainda a função básica de executar os planos originários da sede.

As sugestões aqui apresentadas, relativamente ao desenvolvimento da comunicação no C.E.T., não deixam de ter presente o facto do Plano de Comunicação, supostamente a estabelecer,  se inserir no plano global de comunicação da Empresa, permitindo desta forma uma operacionalização da comunicação mais descentralizada e mais adaptada à realidade do C.E.T.. É neste sentido que julgamos pertinente o C.E.T. ter um colaborador, responsável pela comunicação, com o objectivo de uniformizar a comunicação interna da Empresa. Referimo-nos especificamente ao C.E.T. por não ter na estrutura um profissional de comunicação.

No decorrer da nossa investigação e análise de resultados, foram-nos surgindo constantemente algumas sugestões para a resolução de lacunas específicas, que fomos registando, e que julgamos ter aplicabilidade na definição de um plano de comunicação, contribuindo para  eventuais alterações a efectuar. Neste âmbito, gostaríamos de, posteriormente apresentá-las à organização, no âmbito de eventuais acções a implementar.

Salvaguardamos, no entanto, o facto do trabalho de pesquisa ter sido realizado durante o ano de 1996, podendo, presentemente, alguns aspectos da nossa análise estarem desactualizados do actual contexto da comunicação do C.E.T..

Esperamos que este trabalho tenha atingido os objectivos a que se propôs, na tentativa de verificar como se processa a comunicação interna na realidade, neste caso concreto no C.E.T., que faz parte da nossa realidade empresarial,  contribuindo para a compreensão de que, uma adequada actuação das Relações Públicas na comunicação interna é essencial para a existência de uma comunicação mais eficaz.

Há sempre uma grande distância entre aquilo que idealmente pretendemos e o que é possível fazer. Ao longo da vida da empresa, o grau de satisfação em relação à informação recebida varia com a evolução da própria organização. No entanto, compete-nos sensibilizar as organizações para o facto de nunca se dever parar o fluxo informativo, porque ele é muito importante para o clima interno das organizações. Os colaboradores jamais esquecerão que receberam informações em segunda mão e não desculparão que lhes tenham sido ocultadas determinadas informações. A comunicação só existe se forem criadas e mantidas as oportunidades de a exercermos e, sem ela, a empresa perderá um dos elementos essenciais à sua existência.

Esta área constitui um importante campo de actuação das Relações Públicas, na medida em que, da correcta gestão dos colaboradores depende o fluir saudável da aceitação da empresa por parte do público externo, residindo neste ponto o grande desafio da conquista do público interno.

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