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Helena Maria Ferreira Pinto Ramos, A Comunicação Interna. Estudo de Caso no C.E.T., 1997.

O Papel da Comunicação Interna na Qualidade

Actualmente, os colaboradores da empresa são um dos principais factores de competitividade e, por isso, a organização deve actuar sobre os clientes internos da mesma forma que o faz com os clientes externos.[1] A empresa é um todo, com uma cultura própria e com processos que relacionam todos os seus actores. Assim, a comunicação multidireccional na hierarquia é um dos principais factores da eficiência da acção individual, pelo que deve ser continuamente acompanhada e envolvida pela direcção.

A comunicação interna obteve uma importância ainda maior devido à implementação de processos de gestão pela qualidade[2]  em algumas áreas das empresas, sendo a comunicação interna imprescindível para alcançar os objectivos dos mesmos. Francisco Lopes dos Santos designa uma filosofia de actuação de comunicação para a qualidade que assenta no princípio de que todos os departamentos ou serviços de uma organização só têm razão de existir se contribuírem para melhores condições, tanto no mercado interno como no mercado externo à organização. Assim, o objectivo da gestão pela qualidade é criar valor e dar à empresa um posicionamento único entre os concorrentes, que se identifica através da sua cultura e do comportamento do público interno. A implantação de sistemas de qualidade passa, fundamentalmente, pela existência de uma comunicação interna eficaz, integrada no sistema aberto e dinâmico da organização, sendo um factor determinante no valor que a gestão pela qualidade pretende criar e que resulta de um processo de trabalho envolvendo diferentes pessoas e órgãos da estrutura empresarial. Neste sentido, a comunicação que se estabelece visa a criação de valor em todas as relações horizontais e verticais, nas quais o envolvimento de todos os colaboradores da organização é essencial para a prática da qualidade, que necessita de uma comunicação interna fluída e correcta. Assim, estes modelos de gestão baseiam-se em princípios que colocam a comunicação como factor determinante, ao nível da comunicação externa, interna horizontal e ao nível da comunicação interna vertical[3], considerando todas as actividades ou secções da organização segundo quatro categorias:

a)       órgãos de comunicação directa com o exterior - criam valor para o cliente externo através dos serviços, produtos e ligações estáveis;

b)       órgãos de comunicação externa indirecta - apoiam as ligações directas através da transmissão de informação, meios e métodos de comunicação;

c)        órgãos de comunicação interna directa - geradores do clima interno de qualidade de serviço do público interno;

d)       órgãos de comunicação interna indirecta - criam e dão informações e meios de comunicação aos clientes internos.

A cultura da qualidade obriga a repensar a empresa como um todo, porque é uma preocupação estratégica que abrange todos os domínios da política geral.

Francisco Santos evidencia o papel do feedback na qualidade total, classificando-o como um elemento crucial no sistema de informação organizacional, «[…] é uma das mais importantes formas práticas e efectivas de implementar a qualidade total[4]

A importância da comunicação externa visa aumentar a eficiência da visão que coloca o cliente externo numa perspectiva de fidelização, recolha de feedback e motivação para a promoção da empresa, enquanto a comunicação interna define continuamente e de forma inovadora os requisitos que optimizam as relações entre ambos os públicos.

As acções de comunicação que não estão sujeitas a um plano adequado podem  provocar efeitos perversos, por conseguinte, de acordo com Philippe Béon,[5] a empresa deve ter uma política de comunicação global e coerente com a sua gestão para poder gerir o funcionamento interno e envolver os empregados, uma vez que a existência de uma dicotomia contraditória entre a comunicação interna e externa é um risco muito grande para qualquer organização.

Sendo a empresa um sistema integrado em que as soluções de qualidade abrangem vários níveis hierárquicos, tal como refere Francisco Lopes dos Santos, a comunicação «[…] é além de uma técnica ou necessidade, um processo eficiente de mudança organizacional em direcção a uma maior competitividade com base na inovação e na produtividade […]».[6]

A qualidade é uma preocupação estratégica da política das organizações que abrange todos os seus domínios e é indispensável a qualquer cultura organizacional. A filosofia da qualidade baseia-se em três orientações fundamentais que permitem o sucesso empresarial: orientação para o cliente externo sendo considerado parceiro da empresa; orientação para o cliente interno, considerado o descodificado das vias da inovação; e a orientação para o meio envolvente, assumido como um ecossistema compartilhado pela organização.[7] A implantação de sistemas de qualidade passa fundamentalmente pela existência de uma comunicação interna eficaz, integrada no sistema aberto e dinâmico da organização.

Apenas pode haver qualidade com o envolvimento de todos os actores da organização e a comunicação, o que exige a colaboração activa de todas as pessoas. Para tal, torna-se  fundamental estimular em cada um a consciência da sua contribuição para o sucesso da empresa criando, simultaneamente, as condições de satisfação das suas próprias necessidades de realização e dos seus objectivos pessoais. A comunicação é assim, um factor imprescindível para a implementação de um processo de qualidade total.



[1] Santos, Francisco Lopes dos, Estratégia & Competitividade, 2ª ed., Lisboa, Quarta Vaga, 1993, p.105.

[2] Como neste trabalho não cabe o estudo detalhado de cada modelo de gestão, decidimos introduzir noções gerais da gestão pela qualidade.

[3] Santos, Francisco L. dos, Op. cit., p.102.

[4] A qualidade total é «[…]por natureza um processo eminentemente participativo de comunicação, que exige a colaboração activa de todas as pessoas envolvidas. É um processo de comunicação progressivo, evolutivo, que exige uma grande disciplina no sentido de uma constante melhoria e aperfeiçoamento do sistema […] esta postura obriga a uma consciência precisa dos objectivos  empresariais individuais e dos mecanismos e procedimentos para os obter. A qualidade total tem como objectivo último a criação de riqueza, o desenvolvimento da empresa e dos seus colaboradores, e o sucesso do negócio. Exige a mobilização de todas as pessoas e não é da responsabilidade exclusiva de um departamento. É um objectivo constante que cada trabalhador tem de interiorizar no seu desempenho». Godinho, Jorge, “Qualidade total, uma meta sempre a atingir”, in Opção, Nº2, Maio 1993, p. 67.

[5] Béon, Philippe, Como Desenvolver a Comunicação na Empresa, Paris, Éditions Nathan, 1992, p.14.

[6] Santos, Francisco L., Op. cit., p.104.

[7] Idem, ibidem, p.107.  

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