«O
Minuto Mais Bem Gasto
É Aquele Que Invisto Em Pessoas»
(in BLANCHARD, Kenneth, JOHNSON, Spencer, O Gestor Um Minuto.)
1
- A Comunicação Interna
A
comunicação interna engloba todos os actos de comunicação
que se produzem no interior de uma organização e
que variam nas modalidades em que são utilizados, nos
instrumentos de veiculação e nas funções que desempenham
Grunig
e Conrad usam a expressão comunicação
organizacional para descrever como as pessoas comunicam
estrategicamente dentro das organizações. Neste âmbito, a
comunicação organizacional engloba a comunicação com os
empregados, com os gestores de nível médio, com os gestores de
topo e os seus subordinados, descrevendo como se relacionam uns
com os outros dentro da organização.
Antes
da comunicação ter a relevância actual, a única aptidão
exigida à direcção de uma organização era estabelecer
procedimentos administrativos, instruções de produção e
todas as informações necessárias ao funcionamento da empresa.
Para além da importância que a informação operacional tem
para a organização e para o indivíduo, a informação que não
é directamente essencial ao funcionamento da empresa tem uma
importância cada vez maior. Cada vez mais os trabalhadores
querem estar informados sobre os factores externos e internos
que influenciam a segurança e a natureza do seu trabalho como,
por exemplo, as novas tecnologias, a expansão da empresa ou os
despedimentos, as regalias e as políticas salariais.
Querem
estar informados sobre a empresa relativamente aos seus lucros,
aos novos produtos e aos seus objectivos. Querem também estar
informados sobre as pessoas noutros departamentos, sobre a
empresa e as pessoas na sua globalidade.
1.1
- Princípios da Comunicação Interna
Como
referimos anteriormente, a comunicação pode ser definida como
o processo pelo qual uma pessoa transmite a informação a outra
pessoa. A boa comunicação requer diariamente diferentes acções
internas, diferentes solicitações e métodos. Emmanuel Dupuy
apresenta doze princípios da comunicação, que devem guiar uma
organização interessada em desenvolver as suas mudanças
internas. Estes princípios surgiram de dificuldades encontradas
na realidade empresarial e devem guiar os actos de comunicação
das empresas que pretendem alcançar o sucesso. Os princípios são:
a)
Lucidez:
este princípio traduz-se na pré-identificação pessoal e
consiste na necessidade de adaptação a um público específico
e aos valores da cultura. Assim, a empresa tem de se conhecer
antes de se dar a conhecer e definir os seus fins, «[…]
a
comunicação lúcida apoia-se na cultura dos empregados, por
isso compreendê-los, é essencial a uma boa comunicação»;
b)
Vontade:
o princípio da vontade traduz-se em estabelecer um serviço de
comunicação e o respectivo orçamento. A
aplicação deste princípio atribui à comunicação um
papel importante na gestão e na condução do negócio;
c)
Transparência:
este princípio opõe-se ao hábito do secretismo para as
informações em geral, excepto no caso de informações que
podem ser usadas pela concorrência. É aquele segundo o qual a
comunicação tem início com a estratégia e admite o direito
ao erro. Para comunicar com transparência, é preciso
racionalizar em termos de análise de objectivos e resultados
organizacionais - a informação que pode prejudicar a empresa
deve ser imediatamente divulgada para que os rumores alarmistas
não surjam - é mais fácil a organização pôr um problema
que escondê-lo.
d)
Simplicidade:
A comunicação deve permitir que todos os empregados
compreendam as mensagens de forma clara. As mensagens devem ser
simples e acessíveis e os suportes devem ser adequados à
mensagem para que cada um se reveja nela. Um determinado acto da
gestão pode ser um signo mais significativo tendo mais impacto
do que uma mensagem num editorial ou até propriamente os
grandes discursos;
e)
Rapidez:
a rapidez de difusão da informação garante o interesse do
destinatário, evita a formação de rumores de forma
descontrolada e evita que os empregados sejam informados em
primeiro lugar, pelos meios exteriores à organização, em vez
de serem informados por ela.
f)
Duração:
A duração da comunicação numa organização deve apresentar
uma certa permanência independentemente dos resultados momentâneos.
A comunicação com os empregados baseia-se num processo
evolutivo e irreversível em que a organização e os seus
membros se envolvem. Segundo este princípio, os suportes de
comunicação interna devem evoluir para que os seus destinatários
não se aborreçam deles devendo ser postos em causa,
relativamente à sua perenidade, para não os cansar.
g)
Tenacidade:
este princípio pressupõe que uma mensagem, para ser
compreendida, deve ser veiculada em todos os instrumentos de
comunicação, o que deve implicar uma certa repetição da
comunicação;
h)
Realismo:
segundo este princípio, a comunicação permite compreender
melhor a organização, faz evoluir lentamente as atitudes,
cabendo aos empregados mudar o seu modo de relacionamento. O
desenvolvimento da comunicação é, portanto, um investimento
cuja rendibilidade só é visível a longo prazo;
i)
Adaptação:
este princípio tem por base a cultura da empresa. Segundo este
princípio, as publicações devem ser adaptadas às
necessidades dos trabalhadores, tendo por base a cultura
existente e não as estruturas estabelecidas. Isto evita uma
diversificação exagerada dos instrumentos de comunicação em
função dos públicos visados e uma perda de informação;
j)
Envolvimento:
o envolvimento não é objectivo, porque a empresa tem sempre em
vista um proveito. Baseia-se na escuta e na troca de impressões
com os empregados, na afirmação
de uma transparência real, sem manipulações,
traduzindo-se não só pela presença do discurso da direcção
em todos os suportes de comunicação mas, também, pela
transmissão do discurso dos trabalhadores nos suportes de
comunicação ascendente;
k)
Sedução:
A comunicação interna deve seduzir para poder chamar a atenção
e despertar o interesse e sobretudo persuadir. A empresa deve
aplicar este princípio na comunicação com os seus
colaboradores, como aplica com os seus clientes na venda dos
seus produtos, porque eles conhecem a comunicação que a
organização estabelece com o grande público, da qual são
também destinatários;
l)
Antecipação:
segundo este
princípio a organização tem de estar preparada
em termos de comunicação, para poder responder aos possíveis
acontecimentos, às reacções dos empregados e às mudanças
que decorrem normalmente na organização.
Numa
organização, a aplicação destes princípios facilita o
desenvolvimento da comunicação interna.
1.2
- Factores da Comunicação Interna
Ao
falarmos de comunicação interna temos que explicar o conceito
dos factores aos quais está associada, designadamente, fluxo de
informação, nível de complexidade, canal de comunicação e
formalidade da comunicação:
1.2.1
- Fluxo de Informação
O
fluxo de informação é influenciado pela estrutura da organização
que revela o seu circuito e as relações comunicacionais,
dividindo-se nos seguintes padrões:
a)
Comunicação
descendente - a
comunicação descendente faz parte da estrutura de dependência
hierárquica. Parte da gestão de topo para baixo, através dos
níveis superiores hierárquicos, até aos empregados. Tem a
finalidade de informar, instruir
e dirigir;
b)
Comunicação
ascendente - flui
dos subordinados para os seus superiores com o objectivo de
fornecer informações aos níveis de topo;
c)
Comunicação
horizontal ou lateral
- estabelece-se entre os elementos de um grupo de trabalho ou
entre elementos de grupos de trabalho, diferentes ao mesmo nível
hierárquico e visa a comunicação entre pessoas que estão
fora da cadeia de comando, proporcionando uma rápida cooperação
e coordenação;
d)
Comunicação
em diagonal -
fluxo de informação entre uma chefia funcional e elementos de
outro grupo de trabalho quando ela exerce autoridade funcional.
Visa o fluxo de informação entre especialistas de diferentes
áreas funcionais em diferentes níveis de gestão;
No
processo comunicacional, o fluxo ascendente é mais reduzido que
o descendente, bloqueando mais facilmente.
Isto acontece porque, por um lado, os empregados evitam revelar
às chefias informação desfavorável, ou seja, evitam fazer
reclamações ou colocar problemas com receio de serem punidos,
por outro, ao enviarem a informação favorável estão a
exprimir os seus pontos de vista. Ainda na opinião de Dupuy,
estes dois factores podem gerar um processo de distorção na
comunicação, que só é reduzido pela confiança que os
empregados têm nos seus superiores e que é um indicador de que
tanto a política organizacional como as relações e os
procedimentos com os empregados devem ser revistos. A informação
crítica, da direcção aos empregados e vice-versa, é
essencial à criação de um clima de confiança, à colaboração
de ambas as partes e ao progresso económico, social e humano. A
obtenção de um feedback constante consegue-se, evitando a
formação de compartimentos estanques entre os escalões hierárquicos,
directores, chefias e restantes empregados.
Quando
a comunicação se torna difícil, as Relações Públicas são
os interlocutores que a forçam, humanizando as relações entre os
intervenientes. Os interesses das várias camadas do público
interno são, muitas vezes, antagónicos existindo situações
de conflito directo ou latente entre o público de cúpula e o público
de base. É indispensável fazer adaptações na forma de
comunicação e as Relações Públicas, ao adaptarem as informações,
contribuem para harmonizar a vida, a compreensão e o respeito
do grupo.
1.2.2
- Nível de Complexidade
Quanto
ao nível de complexidade as comunicações podem ter as
seguintes formas:
a)
Comunicação
interpessoal:
troca de informação pessoal entre indivíduos com interacção
um a um;
b)
Comunicação
em grupo:
acontece entre indivíduos de um grupo, normalmente sob a forma
de reuniões;
c)
Comunicação
em toda a organização:
ocorre quando a informação parte da gestão fluindo até todos
os empregados da organização. Visa disseminar informações
sobre os procedimentos e políticas da organização;
1.2.3
Canal de Comunicação
Neste
factor trata-se de caracterizar o padrão de comunicação
estabelecido de acordo com os propósitos do grupo. A comunicação
pode estabelecer-se segundo várias formas, designadas por redes
de comunicação centralizadas ou descentralizadas.
1.2.4
- Formalidade da Comunicação
Quanto
à formalidade, a comunicação pode ser:
a)
formal:
é a comunicação que ocorre dentro da estrutura formal da
cadeia de comando assumindo normalmente a forma escrita;
b)
informal:
ocorre independentemente da estrutura formal e assume a forma
oral.
A
comunicação formal tem por base a estrutura funcional de onde
emana um modelo formal de comunicações escritas e orais,
enquanto a comunicação informal
consiste num contacto pessoal e directo entre um
trabalhador e um chefe permitindo
o esclarecimento de questões e contribuindo para a integração
das pessoas. Nas organizações, este tipo de contactos agem
como instrumentos eficientes de Relações Públicas. De acordo
com Whitaker Penteado,
estes instrumentos são facilmente utilizados, contribuindo
positivamente para a integração humana das pessoas e dos
grupos.
Margarida
Kunsch
diz que o sistema de comunicação informal das organizações
surge das relações sociais dos seus membros, no qual a formação
de lideranças desempenha um papel importante. Os meios de
comunicação informal são vários, entre os quais a conversa,
o murmúrio, os rumores, a rede de boatos e muitos outros tipos,
dependendo da organização. Este tipo de comunicação deve ser
utilizado com vista ao crescimento da organização e não
constituir, contrariamente, qualquer entrave, uma vez que os
rumores distorcem a verdade e se propagam de uma forma incontrolável.
Adrian Buckley
considera que o sistema informal é um poderoso canal de
comunicação, principalmente quando os canais formais
bloqueiam, constituindo metade da informação necessária ao
planeamento dos gestores. Apesar das mensagens veiculadas por
este meio serem frequentemente distorcidas, têm por vezes mais
credibilidade e são mais rápidas do que as recebidas pelos
canais formais. Por exemplo, o lançamento de um boato provoca
uma reacção imediata, enquanto que um memorando pode demorar
três semanas a obter uma resposta.
Uma
comunicação eficaz compreende ambos os sistemas, formal e
informal, que devem ser devidamente determinados, verificados no
seu funcionalismo e utilização em todo o processo de transmissão
de mensagens.
Westphalen,
Marie Hélène, Op. cit., p.65.
GRUNIG, James E., Op. cit., p.18.
Bland,
Michael,
Jackson Peter, A Comunicação na Empresa, 1ª
ed., Lisboa, Editorial Presença, 1992, p.32.
DUPUY, Emmanuel et al, La communication Interne
- Vers l’Entreprise Transparente, Paris, Les Éditions
d’Organisation, 1988, pp.31-54.
DUPUY, Emmanuel, Op. cit., p.33
Madureira,
Mário A. S., Introdução à Gestão, 1ª
ed., Lisboa, Publicações D. Quixote, 1990, p.316.
Para uma panorâmica satisfatória desta matéria vd., Madureira,
Op. cit., p.316.
A título informativo referimos que a importância da
comunicação informal foi salientada por Peters e Waterman,
que estudaram os padrões de comunicação das empresas bem
geridas. Apud Madureira,
Op. cit., p.319
PENTEADO, J.R.W., Op. cit., p.141.
KUNSCH, Margarida M. K., Op. cit., p.35.
BUCKLEY, Adrian , The Essence of Effective Communication,
1ªed., Inglaterra, Prentice Hall, 1992, p.23.
|