«A
comunicação é permanente no seio da equipa, no seio da
empresa, entre serviços, direcções, estabelecimentos,
[…]mas também com o ambiente exterior. Tornou-se uma variável
estratégica, uma condição sine qua non do êxito da
empresa».
(A
Escola de Gestão e a Comunicação, in Béon,
Philippe, Como Desenvolver a Comunicação na Empresa.)
1.
A Comunicação nas Organizações
A
empresa é um sistema aberto para o exterior que tem de
corresponder às expectativas dos seus públicos
que, actualmente, estão mais informados e mais exigentes e
afirmam o direito de saber e compreender tudo.
Uma
organização está sempre a comunicar e a sua imagem, o que se
pensa dela, forma-se através de todas as comunicações e
mensagens que dela recebemos. Através dessas mensagens, os públicos
da organização formam uma imagem, em função da qual devem
ser canalizados os diferentes sinais exteriores da imagem, num
sentido que lhe seja favorável. A comunicação da organização
transforma a identidade institucional em imagem, da qual é
indissociável.
De
acordo com Annie Bartoli, uma organização que quer ser
comunicativa tem determinadas características, devendo:
-
estar aberta à comunicação com o ambiente externo através da
recepção e emissão de mensagens interactivas;
-
regular e equilibrar a comunicação formal e a comunicação
informal;
-
ser explicitamente determinada para dar um fio condutor à
comunicação formal;
-
ser responsável por todos para evitar a procura, por algumas
pessoas, de um poder artificial através da retenção da
informação;
-
ser evolutiva, ou seja, não ser rotineira
nem excessivamente formalizada;
-
ser enérgica para criar através da informação, da formação
e da comunicação, potencialidades internas e saber realizá-las.
A
comunicação é imprescindível para qualquer organização
social. A dinâmica organizacional, que visa coordenar recursos
humanos e materiais para atingir objectivos específicos,
processa-se pela interligação e relacionamento dos seus
membros. Toda a organização comunicativa pressupõe que a
organização do trabalho favoreça o espírito de equipa, a
implicação e o desenvolvimento de todas as pessoas, a definição
de orientações claras e uma determinada gestão participativa.
É desta forma que podemos falar da imprescindibilidade da
comunicação para as organizações.
Segundo
P. Jardillier uma comunicação
organizada deve apresentar determinadas características:
1
- ser definida: estar dependente de um plano geral e de
objectivos específicos;
2
- ser multidireccional: estabelece-se de cima para baixo, de
baixo para cima, transversalmente, interna e externamente;
3
- ser instrumental: é acompanhada de indicadores, dispositivos
e instrumentos de comunicação, seleccionados de acordo com os
objectivos;
4
- ser flexível: para poder integrar a comunicação informal,
criando estruturas que lhe sejam favoráveis;
5
- ser adaptada e integrar sistemas de informação que possam
ser geridos e adaptados às necessidades específicas de cada área
organizacional;
Annie
Bartoli faz um paralelo entre organização e comunicação,
dizendo que ambas são
simultaneamente estado, acção e resultado, porque têm um
papel essencial na diminuição de divergências, de diferenças
e na desordem, assim como para conseguir um clima de harmonia e
coesão. O funcionamento de uma empresa é o resultado de várias
interacções entre as estruturas, a estratégia, os fenómenos
sócio-culturais e os comportamentos humanos. Para melhorar o
seu funcionamento, é necessário agir sobre estes elementos e
interligações, o que só se consegue através de uma política
global de comunicação. A empresa actual não pode pensar em
ser eficiente ao nível social e económico sem valorizar as
formas da comunicação organizacional e as formas organizadas
de comunicação.
“Comunicar
é edificar um capital-confiança que permite à empresa ser
escolhida, apreciada e defendida”.
J. Martins Lampreia refere-nos que a comunicação empresarial
centra-se na projecção da imagem que a empresa quer transmitir
aos vários públicos, enquanto entidade que faz parte de um
corpo social com direitos, deveres e obrigações. A comunicação
tornou-se num instrumento indispensável à gestão pelo papel
fundamental que desempenha para a notoriedade da empresa.
Para
o autor, a comunicação constitui, ainda, um processo contínuo,
com objectivos de longo prazo, pelo que tem necessidade de ser
periodicamente revisto, no sentido de fazer uma adequação
necessária às mudanças significativas que possam surgir,
motivadas pela concorrência, pelo comportamento do consumidor
ou pelas variáveis do macro-ambiente da empresa.
Tal
como refere Lionel Brault, “uma empresa só existe através
da comunicação”.
Por isso, é importante que os responsáveis compreendam que uma
comunicação inteligente pode contribuir para a mudança,
contribuindo esta, por sua vez, para a gestão.
Em
síntese, cada vez mais a comunicação da organização deve
ser vista como um
investimento e não como um gasto supérfluo. Apenas as empresas
mais aptas poderão estar em condições de sobreviver ao clima
concorrencial. E, ser mais apto, significa, entre outros
factores, ter uma imagem positiva, forte e convincente junto do
público.
1.1
As Funções da Comunicação nas Organizações
A
comunicação de uma organização não tem como objectivo único
transmitir uma boa imagem da empresa. Segundo Lionel Brault
a comunicação desempenha sete funções na organização: função
informativa, de integração, de retroacção, de sinal,
comportamental, de mudança e de imagem.
A
função informativa
- é a função de comunicação que tem a finalidade de
veicular o conhecimento da empresa. O domínio desta função é
essencial para não gerar efeitos perversos, motivados por uma
informação deficiente.
A
função de integração
- tem a finalidade de desenvolver nos colaboradores o sentimento
de inclusão num grupo que ultrapassa a função económica.
Consiste em veicular os valores fundamentais da empresa ao público
interno e ao público externo. A partilha destes valores actua
favoravelmente ao nível interno, sobre a coesão e a
continuidade da empresa, exercendo influência também ao nível
externo.
A
função retroacção -
assenta no retorno das mensagens enviadas num determinado eixo,
vertical ou horizontal, com a finalidade de verificar e
controlar a sua compreensão. A retroacção permite o diálogo,
fazendo da comunicação uma relação de retorno. É através
dela que o público interno exprime o seu descontentamento ou
satisfação.
A
função sinal - consiste
na emissão e multiplicação de sinais e de micro-mensagens que
permitem ao público identificar a personalidade e a
continuidade da empresa num mesmo sentido. Tem a finalidade de
fazer entender a empresa como um todo coerente através de
cores, logotipos, discursos, palavras-chave, comportamentos,
atitudes e valores. É muito importante na comunicação
interna, porque induz a cultura da empresa.
A
função comportamental ou argumentista
- é uma função interna muito importante que existe para
indicar ordens claras e indispensáveis e pedir explicitamente
que se caminhe numa direcção específica. Tem por base a função
imagem, a função informação e a função retroacção e
permite a concretização colectiva de decisões. Na comunicação
externa, tem uma continuação lógica junto dos vários públicos,
numa tentativa de sedução relativamente à empresa ou ao
produto.
A
função mudança -
é a função da comunicação que permite a mudança de imagem
e passa pela mudança real das mentalidades, das atitudes e das
relações. Internamente motiva as pessoas, cria retroacção e
modifica as relações. O diálogo permanente entre
o interior e o exterior é um factor favorável à mudança,
porque actua no comportamento das pessoas, modificando-o.
A
função imagem -
tem a finalidade de transmitir ao público interno e externo uma
imagem favorável da empresa.
1.2
Tipos
de Comunicação das Organizações
Tajada
divide a comunicação em dois tipos básicos - a comunicação
baseada em técnicas estruturadas e a comunicação baseada em técnicas
não estruturadas.
No
primeiro grupo, integra a Publicidade, o Patrocínio, o Mecenato
e algumas acções de Relações Públicas, consideradas ao nível
estrutural da gestão. Estas técnicas permitem o
desenvolvimento estruturado da comunicação através do
planeamento, controlo e difusão das mensagens responsáveis
pela imagem institucional da empresa.
As
técnicas não estruturadas incluem todas as acções de
comunicação de carácter especial, maioritariamente as Relações
Públicas e a cobertura informativa dessas acções, que são controladas
pelos mais altos níveis da estrutura organizacional.
Para
estabelecer uma política de empresa, devem considerar-se os
elementos e os meios de comunicação controláveis pela
organização, que ultrapassam
a comunicação comercial nos seus quatro suportes básicos - o
Produto, a Rede de Vendas, a Publicidade
e a Promoção de Vendas - e vão até às Relações Públicas
e à comunicação institucional ou corporativa, que é uma
tarefa da responsabilidade da direcção geral.
Por
sua vez, J. Martins Lampreia
estabelece também uma divisão das diversas áreas de comunicação
da empresa segundo dois vectores principais:
1.
A
comunicação de marketing - que é o vector das comunicações
de um produto, serviço ou marca;
2.
A
comunicação empresarial - que é o vector das comunicações
da empresa propriamente dita.
Ambos
os tipos de comunicação utilizam os mesmos meios e técnicas
de comunicação, embora com finalidades diferentes. A comunicação
de marketing tem a finalidade de divulgar e promover os
produtos, serviços ou marcas e a comunicação empresarial visa
a divulgação da imagem da instituição como entidade que
integra um corpo social e que tem direitos, deveres e obrigações.
O
importante na comunicação empresarial é a própria imagem da
organização que deve ser divulgada através dos factores de
posse e dinâmicos
de que dispõe. Embora a comunicação de marketing influencie a
comunicação empresarial, o inverso acontece com mais incidência,
interferindo com todas as outras formas de comunicação.
1.3
Técnicas
de Comunicação das Organizações
Para
Tajada, as Relações Públicas, a Publicidade e a Propaganda são
três formas de comunicação que a empresa tem ao seu dispor,
com responsabilidades e objectivos diferentes.
A
Publicidade é uma técnica de comunicação que utiliza um
conjunto de meios adequados que visam persuadir e convencer um
determinado tipo de pessoas, com características previamente
definidas, a utilizar um certo produto.
A
Propaganda é uma técnica de comunicação num sentido, que não
é emocional e tem que ver com ideias, crenças ou convicções,
dando a conhecer com o objectivo de obter o apoio a uma opinião
ou crença. É neste aspecto que Tajada distingue a Propaganda
da Publicidade e das Relações Públicas.
As
Relações Públicas são uma forma especial de comunicação
cujo objectivo é o esforço deliberado, planificado e
sustentado para estabelecer e manter o entendimento mútuo entre
uma organização e os seus públicos. Desempenha um papel
institucional muito amplo, porque avalia as atitudes dos públicos
relativamente à instituição e desenvolve acções positivas
que possam contribuir para eliminar atitudes desfavoráveis.
Esta é a grande responsabilidade das Relações Públicas na
comunicação empresarial, que ultrapassa a tarefa especializada
da Publicidade. As Relações Públicas dizem respeito a todas
as comunicações dentro e fora da organização.
Estas
três formas de comunicação das empresas são susceptíveis de
serem planificadas e aplicadas individualmente. Apesar de terem
objectivos instrumentais concretos e distintos, devem reger-se
por um objectivo geral e único da empresa, o que exige a
implementação de uma acção integrada de comunicação.
Uma
planificação integrada da comunicação permite à empresa
actuar com mais solidez e coerência. A integração de todos os
elementos de comunicação comercial e institucional num plano
permite, através das várias técnicas existentes, coordenar a
comunicação. Qualquer organização necessita de se apoiar nas
técnicas de Publicidade, promoção de vendas e Relações
Públicas, as quais, melhorando a imagem institucional da
empresa, contribuem para os resultados comerciais.
Na
opinião do mesmo autor, a comunicação institucional está
ao serviço da imagem pública, tanto interna como
externa. A coerência da comunicação deve orientar todas as
linhas de acção da empresa, individualmente e na sua coesão,
para uma comunicação própria.
Consideramos “público” o grupo de pessoas com que a
organização se relaciona, com um interesse em comum. A
toda a empresa corresponde uma pluralidade hierárquica e
específica de públicos. Os que praticam e estudam as relações
públicas conhecem a divisão em dois grandes grupos, ligada
ao critério da proximidade, o qual dá primazia aos públicos
mais próximos da empresa. O público interno engloba
essencialmente os empregados e os accionistas; o público
externo, a imprensa, a comunidade local, o governo, as
associações e o público em geral.
BARTOLI,
Annie, Communication et Organisation - Pour une Politique
Générale Cohérente, Paris, Les Éditions
d’Organisation, 1991, pp.102-103.
Jardillier, P., Apud BARTOLI, Annie, Op.cit.,p.102.
BARTOLI, Annie, Op. cit, p.123.
LAMPREIA, J. Martins, Comunicação Empresarial - As
Relações Públicas na Gestão, 1ª Ed, Lisboa, Texto
Editora, 1992, pág.9.
BRAULT, Lionel, A Comunicação da Empresa para além do
Modelo Publicitário, Portugal, Edições Cetop, 1992,
prefácio.
Tajada, Luís
Angel Sanz de la, Integracion de la Identidad Y la Imagen
de la Empresa-Desarrollo conceptual y aplicacion practica,
Madrid, Esic, s.d., p.87.
Lampreia, J.
Martins, Op. cit., p.63
Para um esclarecimento mais completo e desenvolvido sobre os
factores de posse e dinâmicos das organizações,
consulte-se a obra citada de Lampreia,
J. Martins, pp.42-60.
Tajada, Luís,
Op. cit.,
pp. 89-91.
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