Há
algum tempo atrás tive o ensejo de ler um livro de um
escritor brasileiro, cujo tema me deixou alguns
ensinamentos. Um deles deu origem a esta partilha.
No
livro em questão, uma personagem sugeria ao leitor um
simples exercício, a que chamava — «o exercício da
velocidade». Consistia em caminhar 20 minutos, a metade
da velocidade a que normalmente caminhamos, prestando
atenção a todos os detalhes como sejam casas, plantas,
pessoas; tudo aquilo que, até então, nos teria passado
despercebido.
Como
gosto de palmilhar, resolvi aceitar a sugestão. Calcei
sapatos adequados, vesti um casaco, peguei nas chaves de
casa e lá fui eu.
Tinha
chovido. As nuvens, ao passarem, já deixavam ver o céu
do azul que eu tanto gosto. E o cheiro!... Esse era à
terra quente molhada, misturado com o cheiro das rochas
molhadas, postas a descoberto pela maré vasa. A minha
memória olfactiva há muito que não registava estes
odores misturados. Estávamos no Verão e há muito que
não chovia.
Comecei
a andar, decidida, registando os pormenores que me
tivessem escapado de outras vezes. Parei. Uma casa,
recentemente pintada, ainda cheirava a tinta. Que
bonita! Parecia nova. O jardim, esse deveria ser tratado
por alguém que soubesse e, sobretudo, amasse a sua
profissão: a gravínea bem aparadinha, a buganvília
cor de cereja — uma das minhas plantas favoritas —
trepava até à varanda do 1º andar, carregadinha de
flores, um autêntico quadro. A palmeira, no meio da
gravínea, devidamente estacada por ainda ser nova.
Belas mãos essas que, com tanto carinho, trabalhavam,
para que o final fosse este: lindo.
Depois
havia também um alpendre—sempre gostei de casas com
alpendre. Sei ser uma das características das
construções nos países quentes; será por esse motivo
que vejo tão poucos.
Quantas
vezes havia passado por ali e nunca me tinha dado conta.
É que a vegetação enchia-o. Mas ela estava
devidamente aparada e ali fiquei eu, a olhar as
sardinheiras que pendiam do beiral, as cadeiras que eram
duas e a mesa em verga. Imaginei-me sentada numa delas,
a ver cair a tarde, com o sol a desaparecer como uma
bola de fogo.
Lá
dizia o autor — “O homem não pode deixar de sonhar
porque, se o faz, morre!”
Apanhei
um susto ao continuar a caminhada. Um S. Bernardo ladrou
à minha passagem, pondo a cabeçorra fora do portão.
Falei-lhe baixinho. Calou-se. Um olhar tão terno no
meio daquela cabeça de gigante! Os animais, tal como os
humanos, também gostam de uma palavra doce...
Mais
além uma recente urbanização. Janelas com venezianas.
Como eu gosto destas janelas; mas das antigas, em
madeira. Estavam abertas, deixando ver as cortinas com
um lindo bordado que, antigamente, só as nossas avós
faziam. Ainda há quem os faça e os considere um
passatempo gratificante.
Toda a
urbanização estava ladeada de canteiros com alfazema.
Que perfume!... Mas, justamente com este, veio outro: a
comida. Alguém preparava o almoço. Era tempo de
regressar; também eu iria fazer o mesmo.
Ao
passar para o papel todas estas sensações, veio-me à
ideia que teria sido impossível fazê-lo há alguns
anos atrás. Fui capaz de fazer este exercício, porque
tenho vindo a fazer um outro: o dos 12 Passos, o de pôr
em prática este programa que, para mim, é uma ‘mais
valia’, que tento conservar duma maneira simples —
lembrando-me dos lemas, da oração da serenidade e de
toda a literatura, que muito me tem ajudado.
Depois
deste exercício, tenho que agradecer ao meu Poder
Superior a graça dos meus sentidos e o estar com saúde
para deles poder usufruir com plenitude.
Que
bom é ver, ouvir, andar, cheirar e, porque não,
saborear!
Que
bom é viver!
Palmira C. — F.A. do
Bonfim
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A
Irmandade
Sozinha
um dia cheguei
Com tantas lágrimas e dor
Apoio e amizade encontrei
E levei comigo amor
Afastei
a vergonha que senti
Eu até nem sou um falhanço
Amor firme aprendi
Por ter direito ao descanso
Escutei
palavras sábias
Enchi o meu coração
Deixei para trás as raivas
Para dar lugar ao perdão
À
irmandade agradeço
Tudo aquilo que aprendi
É que se não fossem as salas
O que seria de mim...
Ana F.
F.A.- V. F. de Xira |
Ajuda
Li, há
tempos, uma pequena história, que encerra um grande
ensinamento...
Certo dia
um garotito tentava levantar uma pedra pesada, mas não
conseguia movê-la. O pai, que o observava, então
perguntou-lhe:
— Tens
a certeza de que estás usando toda a tua força?
— Estou
sim — respondeu o rapaz.
— Não
estás, não — replicou o pai — ainda não pediste
para te ajudar !
Não
pedir ajuda pode ser um acto de orgulho. Só os humildes
o fazem. E há pedras tão pesadas, que só se removem
com o auxílio dos outros. Ai do só, incapaz de
solicitar ajuda aos outros. Morrerá esmagado pelo peso
dos seus problemas.
Tenho
aprendido, nas F.A., a estender a mão nos momentos mais
difíceis da vida, quer partilhando os meus problemas,
quer telefonando, quer mesmo no fim da reunião, à
saída, aproveitando aqueles momentos tão agradáveis
de convívio, tempo propício para dar e receber ajuda.
Não há
ninguém tão rico, que não precise de ajuda, nem tão
pobre que a não possa dar.
Foi para
mim uma grande descoberta o Programa de F.A., que me tem
valido nas mais variadas situações, sobretudo através
das partilhas, tantas vezes duma riqueza espiritual tão
elevada, que nos ajudam a crescer também.
Por isso
estou imensamente grato às F.A., para onde o nosso
Poder Superior encaminhou os meus passos há mais de 12
anos e que tanto bem me fizeram e continuam a fazer.
Muitas
24 horas de Serenidade,
Coragem e Sabedoria
Carlindo
F.A. — S. J. da Madeira
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