Escola Secundária José Estêvão, n.º 5, Out. - Dez. de 1991

Se você não sabia que o célebre Galileo Galilei viveu na era "antes de Cristo" e que não gostava de ouvir falar em Santo Ofício porque o seu ofício "não era santo", então não percebe nada de História da Física.

Assim, se quiser ficar a conhecer um pouco mais deste assunto, deverá entrar em contacto com alguns alunos do 10.º ano desta escola que após toda uma unidade temática (1) – Movimento Uniformemente Variado (acelerado) e Queda dos  Graves – analisaram  o "Poema para Galileo" de António Gedeão duma forma assaz curiosa que adiante se apresenta.

Não podemos deixar de admitir que após a análise das suas respostas (2) nos veio à memória a obra "História de Portugal em Disparates" que há uns tempos apareceu nas livrarias para gozo (e vingança...) de alguns (nomeadamente professores de História, mas não só), pelo que não resistimos à tentação de mostrar à comunidade escolar o estado de saúde da Cultura Geral de grande parte (=maioria) dos nossos alunos, utilizando o mesmo pretexto.

Se por um lado o fraco nível da referida Cultura Geral se poderá explicar por um certo imediatismo e superficialismo veiculado por grande parte dos meios de Comunicação Social (3) – veículo com muito mais poder do que a Escola formal – por outro lado há que admitir que os resultados adiante apresentados reflectem a compartimentação e não inter-disciplinaridade do ensino formal. Os alunos não conseguem interligar conteúdos programáticos das diversas disciplinas do seu curriculum (no presente caso: Física, História, Filosofia e Língua Portuguesa), porque na verdade não tem sido essa uma preocupação dos curricula escolares(4) nem os professores têm parecido preocupados em estabelecer tais ligaçães(5), o que leva a acusações, por parte dos alunos, do tipo: «Oh, professor, então agora temos de escrever [e analisar um poema] na aula de Física?»

Adiante apresentam-se o "Poema para Galileo" (que havia sido distribuído previamente para leitura em casa) e as perguntas que sobre ele foram feitas durante um tempo lectivo, depois de terem sido esclarecidas as (poucas) dúvidas colocadas pelos alunos.

Deixando no ar as "acusações" referentes aos porquês do actual estado de Cultura dos nossos alunos (e porque não de todos nós?) passemos contudo aos factos (divertidos) que nos trouxeram aqui, não deixando de ser pertinente assinalar quão adequadas parecem ser as palavras do poeta em relação às afirmações proferidas pelos alunos (que foram "caindo, caindo, caindo sempre e sempre ininterruptamente"...). / 29 /

Salvaguarde-se ainda que com o presente exercício (de humor?) não se pretendeu vexar os alunos em questão – a todos eles o meu pedido de desculpas pelo facto de não ter pago os direitos de autor – mas tão só criar um motivo para reflexão a todos os professores.

Paulo Moreira

(* Professor estagiário da Licenciatura em
ensino de Física e Química da Universidade

de Aveiro)

(continua na pág. seg.)

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NOTAS

(1) – Apresentada numa perspectiva histórica e humanista com a colaboração interdisciplinar da professora de Filosofia, tendo-se inclusivamente visionado o vídeo" O Nome da Rosa" para introdução à problemática da "autoridade suprema" da Física de Aristóteles durante a Idade Média.

(2) – Ou mesmo desde o instante em que os alunos começaram a colocar as primeiras dúvidas face às perguntas formuladas confundindo, por exemplo, "teorias aristocráticas" com "teorias aristotélicas"...

(3) – Como exemplo dever-se-á reflectir no porquê de um ("bom") aluno desta casa referir numa composição que "em 25 de Abril de 1974 foi derrubada em Portugal uma ditadura comunista" (sic). Aos mais chocados recorde-se que nos últimos anos a "Queda do Leste" parece ter criado a ideia de que só existem ditaduras de esquerda...

(4) – Tanto não existe articulação horizontal entre as disciplinas como não existe articulação vertical: na disciplina de Filosofia a problemática" Galileo versus Aristóteles" é apresentada no 11.º ano enquanto que em Física é apresentada no 10.º.

(5) Quem sabe se por limitações (ou deformações) da sua própria Cultura Geral?
 

Aliás, Escola Secundária José Estêvão

 

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