Escola Secundária José Estêvão, n.º 5, Out. - Dez. de 1991


Poema para Galileo

de António Gedeão (**)

 

Estou olhando o teu retrato, meu velho pisano [1],

[1] P. – Por que razão o autor se refere a Galileo chamando-lhe "pisano"?

R. – «É uma maneira de ele tratar o Galileu, ele está a falar-lhe como se fosse um grande amigo, e como os amigos se tratam de maneiras estranhas ele chamou-lhe velho pisano.»

R. – «Pisano é um nome a que o autor se refere a Galileu porque ele (Galileu) antes de chegar a ter fama foi muito sacrificado pela inquisição do seu tempo e Pisano deve ter surgido por Galileu ter sido um homem muito pisado e humilhado por todos antes

 

aquele teu retrato que toda a gente conhece, em que a tua bela cabeça desabrocha e floresce sobre um modesto cabeção de pano.

Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da tua velha Florença.

(Não, não, Galileo! Eu não disse Santo Ofício. Disse Galeria dos Ofícios. [2]

[2] P. – Por que razão salvaguarda o autor com tanta veemência que "não disse Santo Ofício"?

R. – «O poeta diz-nos que o trabalho de Galileu era tam [sic] importante e bonito que até parecia santo, (para alguns Galileu é um santo porque descobriu coisas importantes ele é sábio) mas para o poeta não é o santo oficio, mas é a galeria dos ofícios, o seu trabalho foi tão importante e valioso que o poeta diz é a galeria dos oficioso Porque uma galeria é onde se guardam coisas.»

 

Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da requintada Florença.

Lembras-te? A ponte Vecchio, A Loggia, a Piaza della Signoria...

Eu sei... Eu sei...

As margens doces do Arno às horas pardas da melancolia.

Ai que saudades, Galileo Galilei!

Olha. Sabes? Lá em Florença

está guardado um dedo da tua mão direita [3] num relicário.

 

[3] P. – Que relação pode ter esta referência à "mão" de Galileo com o modo como este homem encarou a Ciência?

R. – «Quer dizer que Galileo embora não tivesse um dedo isso não o impediu de fazer grandes progressos na ciência ou seja que aquela deficiência foi um "obstáculo" que foi ultrapassado facilmente por Galileo.»

 

Palavra de honra que está!

As voltas que o mundo dá!

Se calhar até há gente que pensa que entraste no calendário.

Eu queria agradecer-te, Galileo,

a inteligência das coisas que me deste.

Eu, e quantos milhões de homens como eu a quem tu esclareceste [4],

 

[4] P. – Por que razão agradece o autor tanto a Galileo? Que importância teve este homem no desenvolvimento da Civilização Ocidental?

R. – «O poeta agradece a Galileu e não só o poeta, todos nós agradecemos, pois ele ensinou-nos muitas coisas, mas é claro que nem tudo o que ele dizia estava certo, também coitado para o tempo em que ele viveu (sem máquinas) dizer que os corpos caem tanto mais depressa quanto mais pesados são, já é um grande sábio, Galileu observava muito bem as coisas a fazia experiências, só depois então é que demonstrava a sua tese.»

R. – «(...) Galileu discutiu a "Queda dos Graves" e a teoria do Heliocentrismo. Provou que a "Queda dos Graves" era devida ao atrito do ar e não ao peso do corpo e que a teoria do Heliocentrismo [sic] estava errada, pois a terra não era o centro do Universo, mas girava em torno de outros astros.» (1)

 

Ia jurar – que disparate, Galileo!

–  e jurava a pés juntos e apostava a cabeça

sem a menor hesitação

que os corpos caem tanto mais depressa quanto mais pesados são.

 

Pois não é evidente, Galileu?

Quem acredita que um penedo caia

com a mesma rapidez que um botão de camisa ou que um seixo da praia [5]?

 

[5] P. – Comenta estas afirmações do autor em relação à queda dos graves, tendo em atenção a realidade do dia-a-dia, as concepções aristotélicas e a teoria de Galileo (e, posteriomente, de Newton).

R. – «Galileu afirmava que a "Queda dos Graves" era devido ao atrito do ar sobre os corpos e não como Aristóteles dizia que a "Queda dos Graves" era devido à sua massa (peso), ou seja, quanto maior fosse o peso do corpo mais depressa ele caía. Galileu fez várias experiências afirmando assim que a "Queda dos Graves" era devido ao atrito que o ar exercia sobre os corpos (...).»

 

Esta era a inteligência que Deus nos deu.

Estava agora a lembrar-me, Galileo,

daquela cena em que estavas sentado num escapelo

e tinhas à tua frente

um friso de homens doutos, hirtos, de toga e de capelo

a olharem-te severamente.

Estavam todos a ralhar contigo,

que parecia impossível que um homem da tua idade

e da tua condição,

se estivesse tornando um perigo

para a Humanidade

e para a Civilização.

 

Tu, embaraçado e comprometido,

em silêncio mordiscavas os lábios,

e percorrias, cheio de piedade,

os rostos impenetráveis daquela fila de sábios [6].

 

[6] P. – A que acontecimento se refere este conjunto de versos?

R. – «À experiência feita na torre de Piza [sic]».

R. – «Acho que é à Inquisição. Eu não sei a história de Galileu, no entanto, acho que ele pode ter sido ameaçado a calar-se, se queria viver. Mesmo a ciência não é tão importante como a vida. Acho também que devido a este facto (se for verdade o que eu penso) ele tinha vergonha, piedade por outros sábios que possivelmente tivessem o mesmo destino que Galileu.»

 

Teus olhos habituados à observação das estrelas [7],

[7] P. – Qual a razão de ser desta afirmação?

R. – «Habitualmente Galileu observava as estrelas e os satélites atravéz de um aparelho que ele próprio construiu. Não se é um dos primeiros microscópios inventados.» [sic]

 

desceram lá das alturas

e poisaram, como aves aturdidas – parece-me que estou a vê-Ias –

nas faces graves daquelas reverendíssimas criaturas.

 

E tu foste dizendo a tudo que sim, que sim senhor,

que era tudo tal e qual     

conforme suas eminências desejavam,

e dirias que o Sol era quadrado e a Lua pentagonal

e que os astros bailavam e entoavam

à meia-noite louvores à harmonia universal.

E juraste que nunca mais repetirias

nem a ti mesmo, na própria intimidade do teu

pensamento

livre e calmo,

aquelas abomináveis heresias

que ensinavas e escrevias

para eterna perdição da tua alma.

 

Ai, Galileo!

Mal sabiam os teus doutos juízes,

grandes senhores deste pequeno mundo,

que assim mesmo, empertigados nos seus cadeirões de braços,

andavam a correr e a rolar pelos espaços

à razão de trinta quilómetros por segundo [8].

[8] A P. – Por que razão afirma o autor isto, se os "doutos juízes" estavam sentados e "parados" na sala de julgamentos? (2)

R. – «O autor quer dizer que os “doutos juízes” pareciam estar a correr porque queriam provar que as teorias de Galileo estavam erradas.»

R. – «Penso que ele afirma isto no intento de dizer que os juízes se encontravam parados num estádio de evolução do pensamento e agarrados a este dogmaticamente.»

[8] B P. – «Em que tipo de movimento (dos que estudaste no presente ano lectivo) se enquadra o referido nesta parte do poema?

R. – «Movimento aceleradamente variado.» [sic]

 

Tu é que sabias, Galileo Galilei.

Por isso eram teus olhos misericordiosos,

por isso era teu coração cheio de piedade,

piedade pelos homens que não precisam de sofrer,

homens ditosos

a quem Deus dispensou de buscar verdade.

 

Por isso estoicamente, mansamente,

resististe a todas as torturas,

a todas as angústias, a todos os contratempos,

enquanto eles, do alto inacessível das suas alturas,

foram caindo,

caindo, caindo, caindo,

caindo sempre,

e sempre

ininterruptamente,

na razão directa dos quadrados dos tempos [9]

[9] P. – Comenta este último conjunto de versos relativamente à afirmação científica nele contida, escrevendo a(s) equação(ões) que achares conveniente(s).

R. – «Ai, Galileu Galilei!

Eu não li sobre ti,

Em ti não reparei,

E nesta ficha me perdi.» [sic].

____________________________________________

NOTAS

(**) – António Gedeão é o pseudónimo do professor de Física e Química, e autor de diversas obras didácticas, Rómulo de Carvalho. Entre os muitos poemas que escreveu destaca-se um, musicado com bastante sucesso: "Pedra Filosofal". (Nota apresentada aos alunos.)

(1) – Talvez só os professores de Física e Química o entendam, mas estas respostas (assim como as referentes à pergunta seguinte) estão repletas de incorrecções, isto é, disparates.

(2) – Obviamente que se trata do movimento de "translação" da Terra à volta do Sol, que dum modo geral se pode considerar como um "movimento circular uniforme".
 

Aliás, Escola Secundária José Estêvão

 

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