Acesso à hierarquia superior.

farol n.º 20 - mil novecentos e sessenta e cinco ♦ sessenta e seis, págs. 21 e 22.

Falando sobre...

...A Camaradagem

Jorge Abreu
(7.º ano)
 

Século XX: paradigma do desembaraço, da confusão, do desassombro....

Perfeitamente, serei desassombrado.

Uma das maiores qualidades dum curso, algo que perdura pelos anos adiante, que é contado calmamente à lareira, olhar saudoso ao longe, são as questões de camaradagem.

Ficam eternamente na memória de quem quer que seja os momentos em que verifica que não está só, que há uma mão que poisa carinhosamente no seu ombro e uma voz simples que o conforta.

Que isto, meus amigos, é como tudo: as rosas são belas, mas possuem espinhos!

O verdadeiro camarada é aquele que não monopoliza o seu triunfo, é o que o compartilha com todos, principalmente com os que se situam abaixo de si. O verdadeiro camarada não pensa na sua derrota, pensa na dos outros e irmana-se com eles. O bom colega não cria grupos, dá-se com todos e a todos pede e oferece a sua opinião. Por fim, o bom colega procura compreender os outros, criar com eles laços de verdadeira amizade, fazê-los acreditar que o mundo é bom e as esperanças fundadas.

Meu Deus, que Idealista eu sou! Voltemos à terra. O que poderei eu ver? (Sosseguem, amigos, que o que vou dizer é enfermidade geral).

Poderei ver um daqueles eleitos da natureza fechar-se consigo próprio e olhar muito superiormente os seus companheiros / 22 / menos favorecidos ou, ainda pior, formar elites distintas, em que os menos cotados não contam!

Ou então reparar naquele grupo, onde a penetração dum «forasteiro» é uma afronta. Aí nem sequer se procura disfarçar: a mínima intromissão, cessam esses assuntos misteriosos, como que a afirmar ao «estranho».

– Não és bem-vindo! Vai-te!

Mas o que me provoca verdadeiro asco é o novo Feudalismo, ou melhor, a hierarquização sistemática que quantas vezes surge, a separar os colegas em classes, baseadas, ou na cara mais bonita, ou na roupa mais fina, ou nas melhores condições económicas dos respectivos papás!

Meus amigos, parece-me não ser bom isto. Um indivíduo, ou porque a sorte o não bafejou e lhe deu um palminho de cara mais feio, ou porque mercê eu sei lá de que misteriosos desígnios, nasceu pobre e não traja «à Ia mode», poderá ser considerado gato-sapato e posto de lado?

Repito: Não!

Estas ligeiras considerações vieram-me ao bico da pena, baseadas não em factos deste ou daquele estabelecimento de ensino, mas sim em factos que assentam na generalidade. Por isso, o melhor, meus amigos, é cada um meter a mãozinha na consciência e reflectir um pouco.

 

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08-06-2018