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farol n.º 16 - mil novecentos e sessenta e quatro ♦ sessenta e cinco, págs. 20 e 21.

Um Pioneiro da Aviação

M. S. O.
(6.º ano)
 

PARA que a aviação atingisse o elevadíssimo grau de perfeição que hoje tem, muitos homens deram o melhor da sua vida em prol do progresso da mecânica aeronáutica. Muitos desses homens ficaram numa modesta obscuridade; outros, mais bafejados pela sorte, são aureolados de glória. Destes, quem não ouviu falar nos alemães, irmãos Lilienthal, no americano Langley, no francês Ader, nos americanos Wright, no francês Blériot? Quem não ouviu falar ainda em Santos Dumont?

É dele que se vai ocupar esta resumida biografia.

Descendendo, por um lado, de uma família francesa, há muito radicada no Brasil e por outro de uma família brasileira de ascendência portuguesa, Santos Dumont viu a luz do dia em Arindeúva. Foi aí que ele aprendeu as primeiras letras. Em 1894-95 cursou Mecânica nas Universidades de Brighton e Bristol.

Em 1897 tez a sua primeira ascensão em balão livre. Em 1898 obteve um êxito retumbante no problema da direcção dos balões, empregando um motor de 4 C. V..

Em 1906, construiu um biplano que muniu de um motor de 50 C. V. e denominou «14-Bis», porque o suspendeu do seu balão n.º 14 para ensaios de velocidade e estabilidade.

Pelos próprios meios do aparelho, a 7 de Setembro de 1906, mantém-se 1 segundo no ar; voa 8 metros no dia 13 do mesmo mês; 60 metros são voados a 23 de Outubro.

A 12 de Novembro desse ano, Santos Dumont, cobre-se de glória voando 220 metros na planície de Bagatele.

A comemorar o feito, foi erigido um obelisco pelo Aero-Clube de França onde se pode ler: / 21 / «lci, le 12 novembre 1906, sous le contrôle de l'Aéro-Club de France, Santos Dumont a établi les premiers récords d' aviation. Durée: 21 seg. 1/2 Distance: 220 mètres».

A título de curiosidade acrescento: altura 3 metros.

Lembremos, ainda, Saint-Cloud de cuja praça Santos Dumont levantou voo no seu dirigível n.º 6, para contornar a Torre Eiffel, num circuito fechado de 11 quilómetros, em 30 minutos e meio a uma velocidade média de 6 metros por segundo. Hoje aquela praça chama-se de Santos Dumont. No centro, fica um monumento ao Pioneiro da Locomoção Aérea. E um Ícaro de bronze, do escultor Georges Curlain. Este monumento, consumido pela fúria asselvajada dos nazistas, quando estes invadiram Paris, foi aí recolocado pelo governo brasileiro, com o consentimento do governo francês.

Em Saint Cyr, está ainda de pé o hangar das Demoiselles (monoplanos construídos por Santos Dumont). Actualmente, está transformado em garagem e depósito de margarina. Os empregados e mecânicos entram e saem, sabe-se lá, talvez sem pensarem que as portas corrediças com que eles fecham o casebre são da invenção de Santos Dumont. Contudo, nessa garagem, trabalha o mecânico Jean Croiser que, aos 8 anos de idade, viu pela primeira vez Santos Dumont voar; apanhou tal susto que, durante dois dias não saiu de casa.

Outra faceta a salientar, além do seu espírito criador já citado, é a sua generosidade. Eis um facto que o demonstra: Quando contornou a Torre Eiffel, foi-lhe atribuído o prémio «Deusteh»; para espanto de todos, distribuiu todo, inteiramente todo, pelos seus mecânicos, o dinheiro ganho com o risco da vida. Ora este facto não podia passar despercebido; assim nasceu a imagem de um balão no ar, deixando cair pelo fundo roto, moedas de ouro sobre as ruas.

Para finalizar apresento uma relação dos seus maiores inventos: Construiu 17 balões, 2 biplanos, 3 monoplanos e 1 hidroplano. Projectou um helicóptero; inventou o motor em V e criou uma catapulta salva-vidas.

Este grande homem morreu em Guarujá, a 23 de Julho de 1932, vítima de um colapso cardíaco. Sobre o seu jazigo, existe uma réplica do Ícaro de Saint-Cloud. O seu coração, encerrado em esfera de vidro, pertence à Escola Aeronáutica do Brasil.

Assim viveu S. Dumont, pioneiro da mecânica aeronáutica e da aviação.

 

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08-06-2018