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farol n.º 16 - mil novecentos e sessenta e quatro ♦ sessenta e cinco, págs. 22 a 26.

Fases de cristalização


do magma(1)

 

É de admitir que todo o magma fundido compreende 2 partes: a massa mineral que por solidificação dá origem à rocha magmática e os elementos voláteis, dissolvidos no magma fluido e que se libertam logo que a temperatura passa abaixo de certo limite.

A presença de água no magma está provada por numerosos factos: os minerais das rochas eruptivas especialmente o quartzo contêm muitas vezes inclusões líquidas acompanhadas por vezes de anidrido carbónico ou de sais. Alguns minerais das rochas magmáticas como as micas, contêm água na sua constituição e esta água não pode deixar de ser devida senão ao magma; no centro das drusas, isto é cavidades que não estão completamente cheias e atapetadas de cristais, observa-se por vezes a
presença de zeolitos mais ricos de água que os constituintes normais das rochas.

Além disso a acção dos magmas sobre os terrenos encaixantes não deixa alguma dúvida sobre a intervenção dos gases que se escapam da massa de fusão no momento do seu arrefecimento. Ao contacto do maciço granítico de Clifton (Arizona), lindgren observou, em 600 metros de largura aproximadamente, a transformação de um calcário e uma rocha formada de granada por aproximação da sílica e do ferro; Lindgren notou que os cristais de quartzo deste granito contém inclusões microscópicas duma solução concentrada de cloreto sílica e dum composto de ferro. É evidente que o ferro e a sílica provém do magma e foram transportados no calcário para reagir com ele graças aos elementos voláteis.

O material donde deriva uma rocha ígnea, isto é, o magma, pode considerar-se como uma mistura mútua de sílica, anidrido titânico, alumínio, oxido férrico, magnésio, cal, potassa e água, em proporções variáveis. Deste magma fundido, os minerais cristalizam numa ordem determinada pelas leis termodinâmicas das soluções, tendo em conta a temperatura e a pressão.

Numerosas análises puseram em evidência a existência de dois grupos fundamentais de rochas de origem magmática: no primeiro, dominam as alcalinas; o outro grupo é relativamente pobre em alcalinas, sendo a deficiência compensada pelo aumento do teor de cal. O primeiro grupo é o das rochas alcalinas; as segundas são calco-alcalinas.
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PAPEL DOS ELEMENTOS VOLÁTEIS NOS MAGMAS

a) – Reduzem a viscosidade da massa em fusão que na sua ausência seria extremamente viscosa.

Isto pode-se demonstrar por uma observação directa: Day estabeleceu que na cratera do Kilauea (Ilhas Hawai), a lava é ainda susceptível de se mover à temperatura de 600º; para fundir esta lava no laboratório é preciso levá-la a 1.300.º C. A acção dos elementos voláteis está bem manifestada neste caso.

Atente-se ainda que as lavas no momento em que se escapam da cratera perdem uma grande parte dos gases que continham. Se a parte restante desses gases ainda tem uma acção tão notória, imagina-se a importância das substâncias voláteis na fluidez dos magmas profundos.

b) – Provocam a cristalização dos minerais.

Sabe-se que vários minerais constituintes das rochas magmáticas não podem cristalizar por via seca; a água e os outros elementos voláteis são necessários para provocar a cristalização do quartzo, dos feldespatos alcalinos,. da mica, etc. A água pode intervir na constituição dos elementos ou tem simplesmente acção catalítica.

c) – Tem por efeito baixar o ponto de cristalização dos minerais.

Demonstrou-se experimentalmente que por adição de água se obtêm produtos que ficam líquidos abaixo do ponto de fusão dos minerais no estado seco. Assim se explica que as partes dum magma, sendo as últimas a cristalizar o façam a uma temperatura bastante inferior à das primeiras porque o teor de água aumenta à medida que a matéria cristaliza.

FLUIDEZ DOS MAGMAS

Se bem que esta questão tenha sido muito discutida parece que muitos magmas foram dotados duma grande fluidez no momento da sua precipitação na espessura da crusta terrestre.

Logo que se pode observar o contacto do maciço eruptivo com os terrenos encaixantes nota-se que esta superfície é por vezes bastante irregular; da massa principal da rocha magmática separam-se apófises com a forma de fi Iões ou chaminés atravessando a estratificação ou com a forma de folhas intercaladas entre os bancos de rochas e mesmo no estado de veios penetrando nas mínimas ranhuras do terreno encaixante.

É provável, portanto, que o magma apresente uma grande fluidez para / 24 / poder penetrar, desta maneira, nestes vazios tão estreitos. No entanto, se considerarmos a pressão, a temperatura e a dureza, a noção de fluidez pode aparecer muito diferente da que é para o observador que não vê senão o resultado final do fenómeno geológico. Bearth, mostrou com um exemplo típico que a presença de finos intervalos de aparência eruptiva no seio das rochas sedimentares não implica necessariamente que este material magmático estivesse realmente no estado fluido no momento da sua precipitação. Nos paragneisses do Monte Rosa (Alpes), nota-se a presença de filões de granito; ou os leitos de cor avermelhada do para gneisses prolongam-se regularmente através dos fiIões graníticos, o que parece excluir toda a possibilidade de injecção do material granítico no estado fluído. No caso em que a fluidez fosse real, a alta temperatura da massa em fusão é incontestavelmente uma das causas principais dessa fluidez, mas a presença dos elementos voláteis, é certamente um dos factores mais importantes nesta matéria.

Nas rochas de profundidade de acidez marcada, como os granitos, a acção da água na fluidez dos magmas põe-se mais em evidência uma vez que os cristais de quartzo destas rochas encerram muitas vezes inclusões líquidas formadas de água com cloreto sádico ou de anidrido carbónico.

Logo que o granito envia apófises nos terrenos encaixantes a com posição da rocha modifica-se progressivamente; passa primeiramente a pegmatito e depois a quartzo; trata-se duma prova indiscutível da intervenção da água, porque o quartzo não pode ter sido transportado no estado de fusão seca, o que exigiria uma temperatura de 1.710º e teria abrandado a fusão das rochas encaixantes; sabe-se por outro lado que a sílica é posta facilmente em solução com a água, logo fica explicada a passagem progressiva do granito a pegmatito e a quartzo puro.

A fluidez dos magmas não é, portanto uma fluidez ígnea; é devida sobretudo à presença de elementos voláteis e notoriamente água; pode ser mesmo do tipo hidrotermal; logo que a fluidez persiste abaixo de um certo limite, é de natureza aquosa.

A diferença entre a fluidez dos magmas profundos e a dos magmas superficiais, acentua-se na seguinte observação; nos granitos cristalizados na profundidade as inclusões são gases ou líquidos; nas rochas vulcânicas superficiais, os vacúolos nos cristais estão muitas vezes cheios de matéria vítrea; nas rochas solidificadas numa profundidade intermédio entre os grandes maciços profundos e os vindos à superfície, as inclusões são de natureza complexa. Explica-se perfeitamente que assim seja: com efeito, logo que uma massa magmática chega à superfície, os gases expandem-se facilmente e a fluidez ígnea toma então a preponderância; na profundidade os elementos voláteis ficam, ao contrário, prisioneiros nos terrenos e exercem melhor a sua acção.

TEMPERATURA DE CRISTALlZAÇÃO DOS MAGMAS

Sabe-se que a temperatura das lavas na cratera do vulcão é provavelmente da ordem do 1.100º C. Deve-se admitir que se produz um arrefecimento progressivo do magma à medida que se caminha da profundidade para a superfície. É pois, perfeitamente correcto supor que na altura da subida através da crusta sólida do globo, um magma fundido está a uma temperatura mais elevada que a das lavas. Nelas, como anteriormente se disse, os constituintes voláteis baixam o ponto de cristalização dos minerais das rochas magmáticas e por conseguinte o ponto de fusão do magma.

Daqui resulta que pode haver uma grande diferença entre a temperatura da massa fundida no momento em que penetra em direcção à / 25 / crusta sólida do globo e a sua temperatura no momento em que solidifica. Quanto a este ponto de vista, os magmas que cristalizam na profundidade encontram-se em condições muito diferentes daqueles que se situam nas zonas superficiais da crusta terrestre ou na superfície (como as lavas).

Com efeito é preciso admitir a pressão suportada pelo magma; esta depende da altura da coluna superior e aumenta com a profundidade; disto resulta que os gases se libertam muito mais facilmente dos afloramentos eruptivos próximos da superfície.

Este libertamento facilita a transformação do magma fundido numa massa sólida. Uma lava pode assim suportar uma temperatura mais elevada que uma rocha profunda.

Como prova do que se acaba de afirmar temos a seguinte: o quartzo transforma-se em tridimite logo que a temperatura se eleva a 870º C.

A observação mostra que a tridimite é um constituinte comum das lavas ácidas; por outro lado este mineral nunca se encontra nas rochas plutónicas cuja cristalização é feita nas zonas profundas.

Em conclusão:

É preciso fazer uma distinção nítida entre a temperatura do magma no momento em que ele penetra na crusta terrestre e a sua temperatura no momento em que solidifica para dar origem às rochas magmáticas, mas não seria certo dizer que os granitos, rochas de profundidade, foram formadas a uma temperatura mais baixa que a das lavas, isto seria exprimir de maneira incompleta um fenómeno complexo, é mais exacto dizer:

A colocação das grandes inclusões em geral, e notoriamente dos maciços graníticos, é feita a uma temperatura pelo menos igual – e mais provavelmente superior – à das lavas uma vez que a temperatura vai aumentando com a profundidade, mas a cristalização dos maciços profundos é feita a uma temperatura inferior à da solidificação das lavas, porque os elementos voláteis desempenham aí um papel capital.

Segue-se um quadro resumo com as condições de temperatura e consoante essas condições os produtos que se formam.

 
 

CONDIÇÕES

PRODUTOS

Temperatura de solidificação elevada acima de 700º.
Água quase nunca presente.

Lavas

Temperatura de solidificação entre 700º - 500º.
Água em quantidades notáveis.

A maior parte das rochas intrusivas.

Temperatura de cristalização modelada 500º - 300º
A água tem papel importante na composição do magma.

Rochas granulares, muitos feldspatos alcalinos e quartzo.

Temperatura de consolidação baixa (inferior a 300º). Solução aquosa quente.

Veios de quartzo e a maior parte dos jazigos metalíferos.

 

A SOLlDIFICAÇÃO DOS MAGMAS ESTRUTURA DAS ROCHAS MAGMÁTlCAS

As rochas magmáticas podem-se distinguir pela sua estrutura: serão holocristalinas quando todos os elementos estão cristalizados; serão criptocristalinas quando a rocha é formada por cristais imperfeitos associados a partes vítreas; a textura diz-se vítrea quando a massa consolidou (e não: cristalizou) à maneira do vidro. Por comparação com o que se observa nas torrentes de lava pode-se pensar que a estrutura duma rocha cristalina depende da velocidade de arrefecimento. As rochas assumirão estruturas holocristalinas para pequenas velocidades de arrefecimento, criptocristalinas para velocidades médias de arrefecimento durante o qual as malhas dos minerais não se puderam individualizar completamente e vítrea para grandes velocidades de arrefecimento.

AS FASES SUCESSIVAS NA SOLlDIFICAÇÃO DOS MAGMAS

Para compreender os fenómenos que se passam no decorrer da solidificação, convém lembrar que um magma no estado de fusão ígnea pode ser considerado como uma solução complexa de silicatos e de sílica com elementos voláteis.

Quando se dá o arrefecimento desta mistura complexa os elementos minerais tendem a cristalizar e à medida que a cristalização se produz, a proporção dos elementos voláteis aumenta em relação à massa em fusão. Ao princípio a sua influência é mínima, consistindo sobretudo em baixar o. ponto de fusão dos minerais. À medida que a sua proporção aumenta a sua influência torna-se preponderante e a fusão transforma-se numa solução.. de silicatos e de sílica nos elementos voláteis. Ao mesmo tempo a tensão do vapor destes últimos aumenta muito rapidamente e eles são capazes de se introduzir nos mínimos interstícios das rochas levando com eles as matérias minerais que contêm em dissolução. Continuando a temperatura a baixar, as matérias cristalizam, tornando-se a mistura cada vez mais fluida ao mesmo tempo que a tensão do vapor diminui.

Segundo Niggli a consolidação dos magmas far-se-ia em 3 fases: ortomagmática, pegmatitica-pneumatolítica e hidrotermal.

a) – Fase ortomagmática – No decorrer da qual cristalizam os elementos que formam a massa principal da rocha magmática; os elementos voláteis, em fraca proporção agem principalmente para diminuir a viscosidade, baixar o ponto de fusão e alterar o equilíbrio químico do magma.

b) – Fase pegmatítica e pneumatolítica – No curso da qual os elementos voláteis têm uma influência muito marcada porque estão a alta temperatura, a sua acção dissolvente é enorme, a sua tensão de vapor considerável.

c) – Fase hidrotermal – Onde o arrefecimento é mais rápido; a maior parte das substâncias dissolvidas pelos elementos voláteis é precipitada. A solução torna-se mais fluida; é uma solução aquosa não contendo senão os minerais mais solúveis.
 

José Manuel Zagallo
Mário Jorge Pinho
Manuel Senos de Oliveira
(Alunos do 6.º Ano - F2)
 

(1) - Palestra feita em 18-1-1965, no Liceu Nacional de Aveiro.

 

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08-06-2018